Emma Stone em Pobres Criaturas

No dia 10 de março, a Academia do Oscar irá entregar suas já tradicionais e cobiçadas estatuetas. Um forte favorito em muitas categorias, o filme Pobres Criaturas está dando o que falar desde que estreou na gringa em setembro do ano passado. Agora, os brasileiros estão também pegando carona no hype, amplificado por uma semana de promoções nas principais redes de cinema. Isso ajudou a levar muitos a darem uma chance de R$12 para a produção.

Resultado: entre críticos e espectadores, as redes sociais e os cadernos de Cultura são dominadas por fotos de Bella Baxter, a personagem de Emma Stone. Ela aparece em meio aos cenários estonteantes traduzidos pelo diretor grego Yorgos Lanthimos a partir do livro de Alasdair Gray.

Mas não há filme que agrade a gregos e troianos. Embora a cotação no Rotten Tomatoes, o agregador de críticas, esteja em 92% (“frescor garantido”), tem muita gente ficando incomodada com as cenas de sexo, com as experimentações visuais ou mesmo com a própria premissa da história.

Pelo visto, o único consenso é que os pasteis de nata portugueses são mesmo maravilhosos – talvez a única parte do filme não contestada por aí.

Conheça abaixo uma lista de pontos polarizantes do filme e entenda por que é impossível assistir a Pobres Criaturas e ficar imune a ele. Aproveite e confira também a nossa crítica!

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Pobres Criaturas: Frankenstein 2.0?

A trama de “Pobres Criaturas” se desenrola na Era Vitoriana inglesa e segue a jornada de uma jovem mulher ressuscitada após seu cérebro ser substituído pelo de seu filho ainda não nascido. O experimento é conduzido pelo doutor Godwin Baxter, interpretado por Willem Dafoe, um cientista brilhante, porém pouco convencional. Movida pelo desejo de explorar mais do mundo, Bella Baxter foge com um advogado e embarca em uma jornada pelos continentes, buscando igualdade e liberdade. Além de Emma Stone e Dafoe, o elenco inclui Mark Ruffalo, Jerrod Carmichael, Ramy Youssef e Christopher Abbott. Fãs de música podem reconhecer ainda Margaret Qualley (The Leftovers, Era Uma Vez em Hollywood), estrela do último clipe do Bleachers; e a portuguesa Carminho, que aparece cantando fado em uma cena.

A trama lembra Frankenstein, mas só até a página 2: a Bella renascida até tem dificuldade com as palavras e não tem muita coordenação motora, tal qual um bebê. Porém, logo ela começa a se desenvolver e a amadurecer seus desejos e necessidades. Dessa forma, Pobres Criaturas é um filme sobre crescer, mas de uma forma nada tradicional.

As polêmicas envolvendo Pobres Criaturas

Ninguém pode negar que Pobres Criaturas está sendo aclamado pela crítica. As 11 indicações ao Oscar estão aí para provar: Melhor Filme, Atriz (Emma Stone), Ator  Coadjuvante (Mark Ruffalo), Direção (Yorgos Lanthimos), Trilha Sonora Original, Fotografia, Roteiro Adaptado, Direção de Arte, Figurino, Maquiagem e Penteado e Melhor Montagem. Stone já levou pra casa as estatuetas de atriz no Bafta, Critics Choice Awards e Globo de Ouro, tornando-se uma das favoritas a faturar também o careca dourado.

Porém, o filme tem se mostrado polarizante em variados aspectos. Confira abaixo algumas das polêmicas, com spoilers moderados da trama:

Cenas de sexo

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Emma Stone protagoniza um número considerável de cenas íntimas, com múltiplos parceiros, inclusive consigo mesma. Ela busca uma sexualidade sem amarras, o que choca a sociedade vitoriana. A ironia da coisa toda é que a sua libertinagem segue incomodando em 2024. Curioso, não?

Um dos pontos sensíveis é que, durante suas cenas mais intensas com Mark Ruffalo, Bella Baxter está em uma fase de desenvolvimento ainda infantilizada, o que deixa a dúvida: apesar do corpo maduro da personagem, essa relação não constituiria pedofilia ou abuso? Este é um debate que Lanthimos e o roteirista Tony McNamara (o mesmo de A Favorita, outro premiado longa do diretor) não estão dispostos a colocar na tela. 

Visão exagerada das grandes cidades

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Com uma clara influência steampunk, o design de produção de Pobres Criaturas distorce cenários que muitos dos espectadores irão reconhecer. A própria Londres aparece com cores destoantes, com ângulos exagerados pelas lentes olho-de-peixe e mais gótica que o costume.

Mas a ideia exótica para além do mundo anglófono tende a amplificar ainda mais esses visuais. Em Lisboa, os tradicionais bondinhos agora voam. Os amores são mais intensos, com brigas nas ruas. Em Alexandria, no Egito, o visual é árido e de pura miséria. 

Experimentos Médicos

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O personagem de Willem Dafoe é apelidado de God (“Deus”) não à toa. Ele remete mais a um açougueiro, que lida com peles e órgãos sem o menor asco ou constrangimento. Ele é um cirurgião que passou por experimentos no próprio corpo, por isso seu visual é grotesco – a maquiagem é certamente um dos pontos altos do filme.

Embora não fique claro se ele também faz experimentos em animais, já que trata-se de um mundo distópico, é fato que aparecem na tela uma galinha com cabeça de porco e uma cabra com cabeça de pato, por exemplo.

Romantização da prostituição?

O filme trata a descoberta sexual de Bella como um direito de liberdade das mulheres, por isso muitos o veem como um manifesto feminista. Porém, uma das escolhas da personagem de Emma Stone é pela prostituição, já que não possui renda e, por outro lado, tem um desejo sexual acima da média. 

Os debates em torno do assunto levantam a possibilidade de Bella ter sido “forçada” à situação de prostituta justamente por sua vida ser constantemente limitada por homens e pela vulnerabilidade social das mulheres na época que Pobres Criaturas busca retratar.

“Não ressuscite”

O filme explora o tema do suicídio de forma explícita, mostrando exatamente como a protagonista foi parar na mesa do cirurgião Godwin. Embora não seja uma prática incomum no cinema, a personagem de Emma Stone não tem o direito de decidir sequer sobre sua morte.

A forma como foi revivida é claramente ficção científica, porém a coloca na posição de transformar-se em uma boneca de testes para os homens à sua volta.

Visual de outro mundo

Nem só de temas pesados vive Pobres Criaturas. O filme é uma exaltação da arte, com inspirações que vão da pintura ao cinema de forma reverente.

É possível remontar aos filmes experimentais de George Meliès e sua estética visionária para o século XIX. A combinação de técnicas da Hollywood antiga com equipamentos de ponta ajudaram a criar o visual pretendido por Yorgos Lanthimos. 

Roma pode não ter sido construída em um dia, mas a Lisboa de Pobres Criaturas foi erguida em muito poucos, com direito a uma pintura de fundo em um estúdio. O céu que parece um algodão doce? É pura tela de LED.

Atuações brilhantes

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Embora os holofotes fiquem sobre Emma Stone e Mark Ruffalo, ambos indicados ao Oscar, vale citar o elenco estelar completo. O próprio Ruffalo se reinventa em seu papel mais ousado pós-Hulk, enquanto Ramy Youssef mostra outro lado para além da sua série de comédia, Ramy

Willem Dafoe sabe amplificar a sua própria estranheza – uma de suas forças – em um ambiente que a premia e faz com que sobressaia. Para ficar nos temas de heróis coloridos, não seria exagero dizer que este é um dos seus papeis mais ousados desde o Duende Verde!

Pobres Criaturas arrasa nas bilheterias

Independente da recepção do público e da crítica, o filme vem colecionando ótimas bilheterias mundo afora. O que prova que há espaço para obras que fogem ao convencional, podendo inclusive chegar ao grande público com a ajuda de uma poderosa campanha de marketing para as premiações. Pobres Criaturas está pagando com folga seu orçamento de produção de US$35 milhões, chegando a US$100 milhões arrecadados em todo o mundo.

Independente do gosto pessoal de cada um, a frase que estampa os cartazes do filme se torna verdadeira: “ela é diferente de tudo que você já viu”. De fato, é mesmo.

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