Corey Taylor em 2023
Foto por Pamela Littky

Pronto para completar 50 anos no final de 2023, Corey Taylor já tem mais de 30 de carreira como vocalista em uma trajetória que, ao contrário do que muitos pensam, começou com o Stone Sour antes de levá-lo ao Slipknot para se tornar a voz de uma das maiores bandas de Metal da era moderna.

Nos últimos anos, Corey tem expandido cada vez mais suas fronteiras e abraçado novas iniciativas, como sua carreira solo que já começou a todo vapor com o lançamento do disco CMFT em 2020. Agora, em 2023, ainda em turnê com o Slipknot e com o Stone Sour em pausa, Taylor vem trabalhando em um novo (e mais elaborado) álbum solo, CMF2.

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Previsto para ser lançado em 15 de Setembro, o disco será o primeiro resultado de uma parceria com a gravadora BMG, que ofereceu ao músico o seu próprio selo, chamado de Decibel Cooper. Empolgado com a parceria que pode render lançamentos até de outros artistas, Corey vem divulgando singles e mostrando uma sonoridade que vai além do que costumamos esperar do cantor ao longo dos anos.

Do lado do Slipknot, a situação também tem a pegada de um “recomeço”. Isso porque chegou ao fim um contrato de longa data com a Roadrunner Records, com a qual o grupo teve uma relação turbulenta nos últimos anos. Agora, o vocalista revela uma sensação de liberdade musical e contratual, que pode trazer bons frutos.

Enquanto esperamos para ouvir CMF2 e outras novidades de Corey Taylor, o TMDQA! bateu um papo com o vocalista para falar sobre essa nova e empolgante fase de sua carreira, e ainda deu tempo de tocar em assuntos como a influência do Sepultura para o músico norte-americano e até a sua relação hilária com a música tema de Bob Esponja.

Confira a íntegra da entrevista logo abaixo!

TMDQA! Entrevista: Corey Taylor (Slipknot, Stone Sour)

TMDQA!: Oi, Corey! Como você está? É um prazer estar falando com você hoje.

Corey Taylor: Olá! Eu estou bem. E por aí?

TMDQA!: Tudo certo também. Corey, queria começar falando sobre “Post Traumatic Blues”, seu novo single que é sensacional. Eu achei engraçado porque ela soa muito como algo que você faria, mas também tem uma vibe muito Hard Rock dos anos 80, que é bem diferente do que você já fez. Você acha que estar em um projeto solo te ajudou a explorar essa criatividade e seguir por direções que você não tinha seguido antes na carreira?

Corey: Olha, essa é uma boa pergunta, cara. Sabe, pra mim, não é diferente das coisas que eu meio que só escrevo quando estou sozinho! Eu já escrevi tantas músicas… [risos] Eu já esqueci mais músicas do que alguém deveria escrever, pelo amor de Deus! [risos] Então, acho que é uma boa pergunta… Eu acho que, de várias maneiras, essa plataforma me permite simplesmente compartilhar mais [das coisas que escrevo] e meio que mostrar um outro lado meu.

Acho que isso me dá a oportunidade de exibir algumas coisas mais obscuras que eu quis fazer ao longo dos anos, seja essa pegada mais Hard Rock ou as coisas mais pesadas, ou coisas mais Punk, ou até coisa acústicas, sabe? Tipo, nesse novo disco eu coloquei uma música antiga chamada “Breath of Fresh Smoke” que tem uma vibe irlandesa, meio Country, aquela coisa que te faz querer beber. [risos]

Então, pra mim, é simplesmente uma coisa meio “o melhor dos dois mundos”. E, de novo, sou só eu sendo ganancioso porque eu amo fazer música, sabe?

TMDQA!: Entendo demais! O outro single que já ouvimos, “Beyond”, também me surpreendeu bastante. Achei que ele me pegou desprevenido porque eu esperava algo mais parecido com o primeiro álbum solo, e definitivamente não é o caso. Então, o que te levou a esse disco? Qual é o objetivo, digamos assim, do CMF2? Ou você realmente só escreveu músicas e foi isso? [risos]

Corey: Olha, o primeiro disco definitivamente foi assim. Foi meio que só, tipo, vamos jogar a porra toda pro alto e ver o que vai dar certo. Mas com esse álbum eu queria ter algo um pouco mais focado, sabe? Eu queria realmente me aperfeiçoar em um… não um certo tipo de música, mas definitivamente uma certa vibe, um certo estilo. Então, esse álbum é definitivamente mais sombrio do que o primeiro.

Enquanto no primeiro foi meio que uma coisa tipo, “Bom, eu tenho todas essas músicas que eu escrevi ao longo dos anos, vamos só lançar isso e ver se alguém gosta”, esse é meio que o que vem depois, não apenas no sentido das pessoas terem abraçado o álbum anterior quanto também de terem vindo aos shows e visto como essas músicas meio que se encaixam, de certa forma, com as coisas do Slipknot, com as coisas do Stone Sour, com todas as covers que eu faço, como se fossem peças de um quebra-cabeças, sabe?

Com esse álbum, eu meio que quis continuar isso mas realmente tornar tudo ainda mais forte, sabe? Só queria ter certeza de que haveria um certo tom pelo qual tudo se encaixaria com esse álbum; havia uma jornada definitiva em mente. Havia um começo, um final bem definido, algo que realmente levasse as pessoas por uma jornada emocional. E isso, eu acho, foi muito por causa do sucesso do primeiro álbum que me encorajou a seguir em frente com essa ideia e falar, tipo, “Ok, eu tenho a atenção das pessoas, as pessoas estão curtindo, então agora é hora de tirar as luvas e mostrar o que eu realmente posso fazer”, sabe?

TMDQA!: Sim! E esse é um momento bem interessante não só da sua carreira solo mas também do Slipknot, porque você vive uma situação diferente com relação às gravadoras, né? Na carreira solo, você está com a BMG e tem o seu próprio selo, e o Slipknot está sem contrato depois de muitos anos com a Roadrunner que, segundo vocês em outras entrevistas, acabaram sendo bem frustrantes…

Corey: Cara, em relação à carreira solo, a coisa mais legal de estar com a BMG é finalmente estar com uma gravadora que sente tanta paixão por isso quanto eu. Eu não sentia isso há muito tempo, desde os primórdios da Roadrunner. Aquela gravadora teve tantas mudanças — pra pior, na minha visão — que meio que destruíram o próprio legado do que ela deveria ser.

Então, chegar na BMG onde eles querem ter certeza de que estão fazendo de tudo para espalhar a palavra e querem trabalhar de mãos dadas com você, porque eles estão tão empolgados quanto você sobre lançar isso ao mundo e porque eles não fazem questão de esconder essa paixão por isso, é algo tão refrescante. Definitivamente pareceu como uma volta pra casa, de um jeito estranho. Sabe, tipo, foi como se eu tivesse dado a volta completa de um jeito esquisito, especialmente no sentido de me darem a oportunidade de ter o meu próprio selo, me darem a oportunidade de lançar coisas que podem ou não ser lançadas por mim. Pra mim, isso é enorme. Me faz ficar bem empolgado com o futuro desse trabalho.

Com relação ao Slipknot, a melhor coisa do Slipknot é que, por conta da situação da Roadrunner, ao longo dos anos nós tivemos que criar, de diversas formas, todos esses departamentos diferentes que preencheram as lacunas do que a Roadrunner estava deixando a desejar naquele momento, ao ponto de que a gente só ia na Roadrunner pra pedir dinheiro. Era tipo, “De acordo com o nosso contrato, vocês nos devem isso; só nos paguem e a gente vai fazer o resto”, porque eles faziam muito pouco.

E, pra mim, por termos tido que preencher essas lacunas, isso criou uma oportunidade pra nós no sentido de que, agora que estamos fora da gravadora e meio que por conta própria, o futuro realmente está bem aberto pra nós. Hoje temos o luxo de poder dizer, “Beleza, vamos seguir em frente sozinhos? Vamos lançar só digitalmente? Ou procuramos empresas que vão, sabe, nos oferecer as estruturas físicas desde que a gente retenha os direitos?”. É meio que uma carta branca nesse momento, nós podemos escolher o que quisermos e seguir em frente, e isso é algo que nós sempre quisemos fazer, desde o primeiro dia.

A melhor coisa é que não há nenhuma resposta errada, sabe? A gente pode realmente se concentrar na questão da criatividade, em fazer algo sensacional para o mundo. E não há nenhum filtro de merda pelo qual a gente tenha que se preocupar em passar, não há necessidade de navegar um sistema que foi desenhado desde sempre para ser contra nós. É muito libertador de diversas formas, poder andar com as próprias pernas e dizer, “Ok, o futuro realmente está à nossa disposição, e nós vamos fazer o que quisermos fazer”.

TMDQA!: Com relação a este futuro, é interessante porque vários integrantes do Slipknot têm revelado planos diferentes. A gente vê o Shawn falando de tentar fazer mais singles, enquanto o V-Man disse que vocês ainda pensam em álbuns… O que eu entendi de tudo isso é que vocês estão abertos pra qualquer coisa. [risos] É por aí?

Corey: Com certeza absoluta. A coisa mais legal é que, sabe, eu e o Jim [Root, guitarrista do Slipknot e Stone Sour] temos conversado muito sobre música recentemente, estamos escrevendo coisas novas, e tem sido muito legal vê-lo se empolgar novamente. Porque passou um bom tempo desde que todos nós estávamos meio que nessa mesma pegada de estarmos empolgados com algo. Então, o que quer que venha daqui pra frente, vai vir do coração, sabe?

Não importa se for um EP de quatro ou cinco músicas, de repente a gente vai lá e grava isso bem old school, simplesmente ao vivo e juntos em uma sala ficando totalmente malucos como costumávamos fazer, ou se for algo bem grande e cheio de detalhes, algo que é pensado para ser multimídia e contar uma história.

É definitivamente algo que passa pelas nossas cabeças. Tudo está pra jogo, e vai depender de onde estão as nossas paixões em primeiro lugar, sabe? A melhor coisa é que todos nós estamos olhando para isso de uma forma muito colaborativa; estamos todos empolgados para contribuir, empolgados para ser parte desse mecanismo, de qualquer que seja essa chave maluca que o Slipknot vai pegar e girar para detonar a porra da bomba. [risos] É só isso que vamos fazer. Realmente é ótimo que todos estamos com a mesma mentalidade.

TMDQA!: Sinto que, falando de você especificamente, ter uma carreira solo é algo que ajuda bastante, deve ser bem saudável…

Corey: Totalmente!

TMDQA!: Dá pra ver nos vídeos desses shows solo que você está se divertindo demais! E é engraçado, porque é o Corey sem máscara, fazendo coisas do Slipknot, do Stone Sour, coisas solo, e até cover de Bob Esponja…

Corey: [risos] Essa porra dessa música! Eu não consigo escapar dessa música, cara. É tão ridículo. Sabe, eu aprendi essa música 15 anos atrás para o Griff [Taylor, filho de Corey]. E agora é uma música que, toda vez que eu pego um violão, as pessoas começam a gritar pra que eu toque e eu fico tipo, “Jesus amado, o que está acontencendo aqui?”, sabe? [risos]

Mas é, é um exemplo de como é bom poder chegar no palco e mostrar outros lados da minha personalidade depois de todos esses anos, sabendo que a plateia pode ou não esperar algo do tipo de mim. Alguns esperam, outros não, e é realmente legal saber que eu posso sair por aí e jogar um setlist diferente praticamente toda noite e as pessoas vão ficar tipo, “Jesus Cristo, o que mais eles sabem fazer?”, sabe? E nós vamos nos divertir pra caramba, cara.

TMDQA!: Sim! [risos] Corey, eu estava tão empolgado que esqueci até de me apresentar no começo. [risos] Eu sou o Felipe, e o nome do nosso site é Tenho Mais Discos Que Amigos…

Corey: Ah, eu também tenho esse problema. [risos]

TMDQA!: Todos nós! [risos] Falando em discos, eu queria falar de um especificamente que é o Roots, do Sepultura. Algum tempo atrás você o colocou no seu Top 10 da vida e eu queria saber qual a importância desse álbum pra você e, claro, se ele ainda está no seu Top 10.

Corey: Nossa, sim, está. Cara, esse álbum… tem algo tão visceral e tão grosso nesse álbum, sabe? Foi um dos primeiros discos que eu ouvi que realmente me fez pensar, “Porra, cara, algum dia eu quero gravar um álbum que tenha essa sonoridade”. E aí, obviamente, trabalhar com o Ross [Robinson, produtor de Roots e dos dois primeiros discos do Slipknot] foi meio que a chave pra gente.

Mas esse álbum, cara… é tão pesado, e é tão feroz, você quase consegue ouvir o sangue na garganta do Max [Cavalera], pelo amor de Deus! É definitivamente o disco que cimentou o meu amor pelo Sepultura, porque obviamente eu já curtia eles desde o Arise e só observar como eles se transformaram completamente em outra coisa…

Tipo, eles começaram quase que como uma banda de metal técnico, e aí assisti-los construírem a própria trajetória passando pelo Chaos A.D. e depois chegando no Roots, que foi a pura culminação de riffs absolutamente nojentos e, o que eu acho que as pessoas deixam passar despercebido às vezes, o groove que veio nesse álbum. Sabe, ele te faz querer dançar, querer bater cabeça, querer gritar, querer pegar uma bateria e tocar junto!

É um álbum bonito pra caralho e eu amo o fato de que também é uma valorização sensacional da cultura deles, de vocês, da música brasileira. É demais como eles foram capazes de pegar isso e criar algo realmente incrível que nunca tinha sido feito antes, na minha opinião.

TMDQA!: Corey, pra fechar a nossa entrevista, você tem falado bastante sobre o Slipknot eventualmente continuar quando o seu tempo lá acabar e dado sinais de que não tem nenhum problema com isso, inclusive com uma certa linha do tempo de uns 5 anos pra que isso aconteça. Isso me levou a pensar se você já tem algum nome em mente, ou alguma direção — tipo, você escolheria alguém que já seja famoso? Prefere alguém que seja desconhecido?

Corey: Honestamente, cara, não é algo que eu já tenha pensado sobre. Naturalmente, quando eu falei sobre isso pela primeira vez, todo mundo apontou para o Griff e eu disse não, de jeito nenhum! [risos] Eu não vou fazer ele se sujeitar a essas pessoas malucas com as quais eu tive que lidar por tipo 30 anos. [risos]

Não, mas sério, acho que a questão é que, e eu digo isso respeitosamente, eu acho que nós somos parte de um movimento musical que inspirou muitas pessoas — para o bem ou para o mal, é bom esclarecer. [risos] Nós já vimos tantas pessoas sendo inspiradas por esse movimento em tantos gêneros e tipos de música diferentes, que eu meio que quase posso dizer que gostaria que fosse uma pessoa desconhecida. Tipo, um jovem apaixonado que viesse do nada. Eu não iria querer ninguém com um nome [já estabelecido]. Eu iria querer alguém que fosse tão maluco quanto eu era quando comecei isso!

Agora, honestamente, cara… isso [que eu falei sobre sair da banda] veio porque de vez em quando a carne é fraca. [risos] Mas não significa que a vontade não esteja ali 100%. Então, vou corrigir o que eu disse: não vão ser só 5 anos, eu digo que vão ser 5 a 10 anos. Que tal? [risos]

Eu sei que todo mundo surtou quando eu disse cinco anos, então eu acho que é bom dizer tipo, “Ok, pera aí”. Eu me cuido, eu faço exercícios, eu estou fazendo o melhor que consigo. Em algum momento eu preciso pendurar a máscara, porque eu garanto que não vou sair por aí todo decrépito, cambaleando! Não vou deixar isso acontecer. Então, vamos ver quantos anos vão ser. Pode ser que sejam 20, pelo amor de Deus! É o tanto que eu sou maluco. [risos]

Mas se chegar ao ponto em que eu esteja pronto para pendurar a máscara, eu gostaria de ter 100% de certeza de que a banda está em boas mãos, sabe? E eu os ajudaria a escolher a dedo alguém que eu pudesse ter certeza de que o futuro da banda está 100% garantido, porque é algo especial demais, cara.

TMDQA!: Sensacional. Corey, muito obrigado pelo seu tempo! Foi um prazer. Espero que a gente possa se ver em breve no Brasil!

Corey: Muito obrigado! Parece bom, cara.

TMDQA!: Até a próxima!

Corey: Se cuida!

CMF2 será lançado no dia 15 de Setembro via BMG. Faça o pré-save do novo disco de Corey Taylor clicando aqui!

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