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The Smashing Pumpkins: um ranking do pior ao melhor disco

Conhecida como uma das bandas mais icônicas dos anos 90, o Smashing Pumpkins é também um exemplo de resiliência por conta de seu líder Billy Corgan.

Passando por inúmeras formações, confusões internas (e externas) e mudanças de sonoridade, a banda continua ativa depois de tanto tempo e até nos presenteou com um disco em 2023, o inovador ATUM, uma Ópera Rock dividida em três atos que entra na discografia do grupo com muita complexidade a ser explorada.

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Esse catálogo, aliás, é imenso não apenas em quantidade de álbuns — principalmente se comparado a outros nomes da época — mas em diversidade de gêneros e influências, já que os Pumpkins sempre se propõem a fazer coisas diferentes.

O resultado disso é uma grande dificuldade para chegar a consensos na hora de elencar os trabalhos da banda, mas resolvemos tentar fazer isso e justificar cada uma das nossas escolhas, como você pode conferir a seguir.

Machina II/The Friends & Enemies of Modern Music (2000)

Com uma banda como o Smashing Pumpkins, é difícil pensar em momentos nos quais houve verdadeiramente um “erro”, musicalmente falando. Machina II é o último colocado dessa lista simplesmente por ser o resultado de uma turbulência interna insustentável, que levou os Pumpkins a problemas legais e fez o álbum ficar marcado por sua confusão (e por ter sido lançado gratuitamente na internet).

Ainda que soe pouco encaixada, a obra tem bons momentos: “Let Me Give the World to You”, uma sobra das sessões de Adore que foi incluída por aqui, teria se destacado até mesmo no disco antecessor. “Glass” é também um outro destaque, sendo um dos momentos mais intensos da trajetória da banda.

Zeitgeist (2007)

Falando em peso, Zeitgeist é um ótimo exemplo de como os Pumpkins foram capazes de explorar esse lado e simplesmente acabaram incompreendidos por boa parte dos ouvintes. Sem dúvidas o disco mais cru da banda, Zeitgeist traz uma sonoridade que vai direto ao ponto e definitivamente exala uma sinceridade com relação ao momento vivido por eles.

Na época, vale lembrar, os únicos remanescentes da formação clássica eram o próprio Corgan e o baterista Jimmy Chamberlin, que saiu logo depois. Chama atenção também a produção de Terry Date (Deftones, Limp Bizkit, etc.), bastante perceptível em músicas como o single “Tarantula” e a ótima “Doomsday Clock”, que merece ser mais tocada ao vivo.

CYR (2020)

Se reconectando com seu lado oitentista, Billy Corgan trouxe uma direção diferente e muito necessária quando lançou CYR. Apesar de ter passado batido por muita gente, em grande parte devido à sua duração e ausência de grandes singles chamativos, o álbum soa bem completo e faz sentido do começo ao fim.

Com forte presença de sintetizadores, CYR traz canções como a faixa-título, “Ramona”, “The Colour of Love” e “Anno Satana” resgatando alguns dos melhores momentos da carreira dos Pumpkins, em especial quando se pensa no lado mais próximo do Shoegaze explorado por eles.

A grande diferença aqui é a ausência de riffs marcantes, substituídos em grande parte por linhas de sintetizadores e às vezes até mesmo pelo baixo, que ganha mais destaque aqui do que em muitos outros momentos da carreira da banda.

SHINY AND OH SO BRIGHT, VOL. 1 / LP: NO FUTURE. NO PAST. NO SUN. (2018)

O maior defeito de SHINY AND OH SO BRIGHT é ser extremamente curto, com apenas 32 minutos de duração — algo bem pouco característico para o Smashing Pumpkins.

É uma pena visto que esse álbum é o que mais se aproxima da sonoridade clássica da banda, como fica claro na excelente “Silvery Sometimes (Ghosts)”, muito provavelmente a melhor música dos Pumpkins nos últimos 10 anos.

Em outros destaques como “Solara” e “Marchin’ On” temos a presença mais forte de guitarras, remetendo a alguns dos períodos mais pesados da banda de um jeito bastante louvável. Merecia mais atenção!

Oceania (2012)

Primeiro álbum gravado por Billy Corgan com o nome Smashing Pumpkins sem qualquer um dos integrantes da formação clássica, Oceania foi uma surpresa para muita gente. A turbulência interna e o peso que muito possivelmente vinha dali deram lugar para uma sonoridade reflexiva, profunda e espiritual, que mostrava que ainda havia muito espaço para Corgan no cenário musical.

A sequência inicial do disco (“Quasar”, “The Celestials” e “Panopticon”) segue como uma das melhores da banda até hoje, ainda que ao mesmo tempo tenha uma pegada totalmente diferente do que se esperaria de um disco dos Pumpkins. Uma surpresa muito positiva!

ATUM: A Rock Opera in Three Acts (2023)

Vamos falar logo do problema: ATUM é um disco enorme, tanto em duração quanto em quantidade de músicas e até mesmo em informação, já que explora várias direções diferentes o tempo todo. Esse é o único motivo para o novo trabalho dos Pumpkins não ser o melhor de sua era pós-2000, porque os destaques são muitos.

Fortemente influenciado pelo Metal que sempre esteve presente em sua vida, Billy Corgan parece finalmente ter recuperado a sintonia necessária com James Iha Jimmy Chamberlin para não apenas replicar o sucesso do passado, mas criar facetas novas para os Pumpkins com muita personalidade, como fica claro em “Beguiled” e “Empires”.

Monuments to an Elegy (2014)

Não é exagero dizer que Monuments to an Elegy é o disco mais improvável da carreira do Smashing Pumpkins. O trabalho de 2014 é o segundo (e último até o momento) a não ter nenhum integrante da formação clássica, tendo sido gravado como um duo por Corgan ao lado de Jeff Schroeder, complementados por… Tommy Lee. Sim, o do Mötley Crüe.

A parceria super inusitada deu certo demais e o álbum, que aliás foi o último a trazer a banda ao Brasil até agora, é recheado de refrães marcantes pareados com guitarras intensas mesmo em seus momentos mais suaves, como “Being Beige” e “Drum + Fife”, dois enormes destaques de toda a discografia dos Pumpkins.

Adore (1998)

Entramos na reta final desta lista e, daqui pra frente, a preferência pessoal muito provavelmente fala mais alto. Apesar de ser inquestionavelmente um clássico, Adore tem alguns problemas estruturais que transparecem na gravação e fazem com que o disco, ainda que maravilhoso, acabe ficando no quinto lugar desse Top 5.

O principal deles é a ausência de Jimmy Chamberlin, muito sentida até mesmo no principal single “Ava Adore”, que poderia ser a melhor música dos Pumpkins com a bateria dele. Além disso, a aversão da banda à expectativa de seguir pelo caminho do Rock, ainda que tenha seus méritos e resultados excelentes por aqui, acabou impedindo que o lado eletrônico fosse explorado de maneira mais concomitante ao peso das guitarras.

Nada disso, é claro, tira o mérito de Adore e não seria nenhum absurdo vê-lo em posições mais acima. Mas a disputa é acirrada…

Machina/The Machines of God (2000)

Amado por muitos, odiado por outros, Machina é um disco controverso. Se os Pumpkins já estavam caindo aos pedaços em Adore, a situação aqui já era praticamente insustentável e, como exemplo disso, temos a saída de D’arcy Wretzky e o retorno de Chamberlin, que havia deixado a banda pouco antes.

Jimmy de volta às baquetas foi um presente e tanto para os Pumpkins, e potencializou muito a força de Machina. A chegada de Melissa Auf der Maur (Hole) também foi algo que deu energia para as performances ao vivo e até mesmo para o clipe de “The Everlasting Gaze” — que, aliás, entra tranquilamente para um Top 10 de músicas do Smashing Pumpkins junto com “Stand Inside Your Love”.

Gish (1991)

Poucas bandas têm um impacto tão grande em seu primeiro disco como o Smashing Pumpkins teve com Gish. É praticamente impossível definir a sonoridade da banda naquele momento: havia uma clara influência de nomes do Rock Alternativo, como Jane’s Addiction, mas o grupo trazia uma pegada meio Shoegaze, meio Dream Pop que expandia horizontes.

Apesar de não ser nem de longe tão popular quanto os outros integrantes do Top 3, Gish nos presenteou com canções como “Siva” e “Rhinoceros” que também poderiam estar em um Top 10 de músicas da discografia de Corgan e companhia.

A influência do álbum também é sem precedentes, abrindo caminho para toda uma cena que viria nos anos seguintes misturando Rock, Pop, sons psicodélicos e tantas outras sonoridades que até então viviam separadas.

Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995)

Não adianta discutir: Mellon Collie and the Infinite Sadness é o auge da sonoridade que veio a ser conhecida como própria dos Pumpkins. Naturalmente, isso por si só não garante um lugar perto do topo de uma lista como essa; no entanto, o álbum acerta em absolutamente tudo que se propõe a fazer.

Olhar o microcosmo apenas dos hits que saíram daqui é suficiente para entender a dimensão em que Mellon Collie se encontra. “1979” é um hino noventista, com forte queda para o lado mais Dream Pop/Shoegaze, conversando com o “jovem incompreendido” que já estava emocionado desde o começo com “Tonight, Tonight”.

Por outro lado, havia espaço também para o peso e a revolta. “Zero” e “Bullet with Butterfly Wings” são os exemplos mais claros dessa identidade tão própria construída pelos Pumpkins, onde uma guitarra que caberia tranquilamente em qualquer disco de Metal pode preceder ou suceder uma das melodias mais belas e espirituais que você já ouviu.

Siamese Dream (1993)

O único motivo para Mellon Collie não ocupar o primeiro lugar dessa lista é a existência de algo tão perfeito quanto Siamese Dreams. O fato do álbum de 1993 ter sido lançado antes também pesa a seu favor para chegar ao topo, assim como a densidade e duração — aqui, Corgan e companhia soam muito mais diretos, tanto em cada música especificamente quanto de forma geral.

A abertura de Siamese Dreams com “Cherub Rock” é uma das melhores da história. Dali pra frente, a banda nos entrega hits como “Today”, que claramente viria a influenciar alguns dos maiores sucessos daquela década (inclusive dos próprios Pumpkins), e viagens emocionais que levam qualquer um às lágrimas, como “Disarm” e “Mayonaise”. Isso sem falar no peso de “Geek U.S.A.”, uma das mais subestimadas dessa discografia.

Prova da importância desse disco é que ele vem sendo redescoberto pela nova geração, que se conecta tanto quanto seus antecessores à força de músicas como as citadas acima. “Mayonaise”, especificamente, ganhou nova vida nos últimos anos e tem sido responsável por apresentar essa banda para muita gente.

Sem dúvidas, um clássico atemporal!

Published by
Felipe Ernani