The Heavy Heavy, Demob Happy e the GOLDEN DREGS no SXSW 2023
Fotos por @2beck_

Por Gui Beck

O Festival South By Southwest, que acontece todos os anos desde 1987 em Austin, Texas (Estados Unidos) é conhecido mudialmente por dar palco a tendências e novos talentos, seja através do seu braço dedicado ao cinema, aos talentos da comédia, às novidades tecnológicas, ou, acima de tudo, a novos talentos da música. Nada mais justo e natural, uma vez que o festival começou apenas ligado à música lá nos anos 80 e evoluiu para o megaevento multifacetado que é hoje.

A cada edição que nossa modesta equipe tem a oportunidade de estar presente, vamos percebendo mais nuances sobre esse festival e penso que, naturalmente, para a maioria das pessoas, é meio vago quando apenas colocamos várias experiências bem distintas embaixo do mesmo guarda-chuva chamado “festival”. Por isso, cabe apontar de que forma ou formas este em particular se destaca.

Sobre o SXSW, é legal entender que se trata de um evento que acontece ao longo de 10 dias simultaneamente em vários lugares diferentes da região central da cidade de Austin. A parte musical em si dura cerca de uma semana, e traz músicos de vários lugares do mundo para se apresentarem em shows que acontecem em mais de 70 palcos diferentes na cidade, indo desde grandes casas de show e palcos temporários ao ar livre até bares de menor porte. E alguns destes espaços já se consolidaram como espaços tradicionais dentro do festival por conta da agenda e curadoria de eventos programados.

Na minha percepção, a British Music Embassy, organização temporária e residência oficial do Reino Unido no SXSW, é justamente um desses exemplos. Nos anos em que estivemos por lá, frequentamos a “Embaixada da Música Britânica” já estabelecida em um bar e casa de shows tradicional da região central da cidade, chamado atualmente de “Courtyard at Fourth”, e vimos vários artistas que fizeram a visita valer muito a pena.

No total, o palco da “Embaixada” no SXSW, que une várias instituições para promover a música e os profissionais britânicos em suas carreiras no exterior desde 2008, já recebeu mais de 500 shows diferentes.

Na edição de 2023, duas das atrações de maior renome internacional participando do South by Southwest eram precisamente grupos do Reino Unido, importantíssimos em épocas distintas: o New Order, de Manchester, pioneiro da mistura da música eletrônica com o Rock nos anos 1980, e o The Zombies, de St. Albans, lendas da chamada Invasão Inglesa nos anos 1960, quando os Estados Unidos foram tomados de assalto pelo Rock que vinha do outro lado do Oceano.

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A peculiaridade desta importante escalação britânica nesta edição do festival nos motivou a prestar uma atenção especial a alguns dos novos talentos vindo daquelas pequenas ilhas. Não temos nenhuma grande tese sócio-cultural pra apresentar aqui, mas tivemos o prazer de conhecer e conversar com alguns desses talentos e, de forma absolutamente subjetiva, ainda que criteriosa, selecionamos 3 bandas que certamente merecem uma olhada e uma escutada carinhosa.

Confira a seguir ou pelo vídeo ao final da matéria!

Demob Happy

Demob Happy no SXSW 2023
Demob Happy no SXSW 2023. Foto por @2beck_

Matthew Marcantonio é o vocalista e baixista do trio Demob Happy, de Newcastle, e incidentalmente era o cara mais elegante do pátio da cervejaria Zilker, em Austin, onde conversou conosco e também pudemos assistir ao curto mas poderoso set do trio, composto ainda por Adam Godfrey na guitarra e Thomas Armstrong na bateria.

Numa inspirada definição da sua banda, Marcantonio soltou:

As pessoas sempre dizem que a gente soa como os Beatles, mas só que os Beatles depois de descobrirem pedais de Fuzz no deserto.

Ele acrescenta, no entanto, que essa definição, por mais apropriada que seja aos dois primeiros álbuns, talvez não defina muito bem o terceiro. Divine Machines, que será lançado no dia 26 de Maio pelo selo Liberator Music, traz uma versão da banda que se permitiu ampliar os horizontes, abrindo espaço para baladas e sons mais meditativos conviverem com os sons mais pesados pelos quais já eram conhecidos.

A Demob Happy já fez turnê abrindo para Jack White no Reino Unido e por vezes tem Queens of the Stone Age sendo citada como uma influência — basta dar uma sentida no vocal de Marcantonio pra entender a relação.

the GOLDEN DREGS

The Golden Dregs no SXSW 2023
The Golden Dregs no SXSW 2023. Foto por @2beck_

Também tendo lançado recentemente seu terceiro disco On Grace & Dignity pela 4AD (selo britânico que conta com os Pixies, entre outros, em seu catálogo), a banda the GOLDEN DREGS, baseada em Londres, é liderada pelo simpático Benjamin Woods, que se inspira muito em literatura para escrever suas músicas.

“Eu tento colocar bastante foco em criar narrativas e aí dar suporte a elas com melodias”, explica Woods. Sua voz grave de barítono, que não combina absolutamente em nada com os olhos gentis e a aparência inofensiva, por vezes mais conta histórias do que canta; mas a instrumentação e o show em forma de sexteto a que tivemos o privilégio de assistir em 3 ocasiões diferentes é tudo menos simples. John Cale é citado por Woods como uma influência e, mais do que a voz grave, dá pra sentir também a melancolia de Leonard Cohen.

Os integrantes do the GOLDEN DREGS sobem ao palco vestindo variações da cor branca de figurinos próprios. Em mim, produziu de cara um estranhamento positivo, que me fez prestar até mais atenção no que eu estava ouvindo. O efeito visual do figurino monocromático só foi prejudicado pelas baixas temperaturas no show ao ar livre que vimos em Boise, estado de Idaho, durante o Festival Treefort, pois casacos e cachecóis de cores diversas tiveram que entrar em cena.

The Heavy Heavy

The Heavy Heavy
The Heavy Heavy. Foto por @2beck_

Encontramos ainda em Austin o duo Will Turner e Georgie Fuller, que fazem parte do The Heavy Heavy, mas foi só alguns dias depois, no mesmo Festival Treefort mencionado anteriormente, que conseguimos sentar para conversar de verdade com eles.

Nas palavras de Georgie, eles são “uma banda de Brighton, Reino Unido, meio difícil de definir”. Ele tenta, no entanto:

Rock psicodélico com infusão de Soul e toques de Folk, talvez?

Brinco que, afinal, não foi tão difícil assim e que foi uma ótima definição, ainda mais com o complemento sucinto de Will, que acrescentou se tratar de um “Rock com inspiração retrô.” A partir daí, conversamos um pouco sobre essa coisa de ser uma banda que automaticamente faz lembrar de sons de outros tempos.

Na visão de Will e Georgie, o som que eles fazem é uma continuação destas sonoridades nas quais tanto se inspiram. Eles citam unanimidades como os Rolling Stones, Led Zeppelin e The Who enquanto exemplos de artistas que fizeram músicas que mais de 4 ou 5 décadas depois ainda continuam sendo ouvidas e amadas, e destacam que esse é o tipo de excelência de gravações que buscam.

Ouvindo a música deles, muitas referências podem vir à cabeça. Desde representantes daquela Invasão Britânica original, como The Hollies, até uma banda icônica anglo-americana, como Fleetwood Mac, passando por um sem número de bandas americanas dos anos 60 que influenciaram e foram influenciadas pela música britânica naquele momento: The Mamas & The Papas, The Byrds, Buffalo Springfield

Para mim, pessoalmente, algumas das músicas do The Heavy Heavy soam como aquelas músicas dos anos 60 que, por uma razão ou outra, você ainda não conhecia e que de repente aparecem na trilha sonora do novo filme do Tarantino ou no novo Guardiões da Galáxia, soando completamente atuais ao mesmo tempo.

Ao contrário das outras duas selecionadas da nossa lista, o The Heavy Heavy tem apeans um álbum lançado: o EP extendido Life and Life Only. Apesar disso, já passaram por programas de TV dos EUA de grande alcance, como os de Jimmy Kimmel e Stephen Colbert.

A “invasão inglesa” de 2023 no SXSW

As três bandas compondo a pequena Invasão Inglesa de 2023 resultante da nossa própria curadoria não poderiam ser mais diferentes na forma, por assim dizer. E, bem, no conteúdo também, se estivermos falando do tipo de música que cada grupo faz.

Mas existem qualidades bonitas que tangenciam forma e conteúdo e que são traços comuns nos três casos: todos parecem estar em momentos próprios de genuína apreciação daquilo que chamamos de “viver da sua arte”.

Ben Woods nos falou da adrenalina de tocar um set curto, sem passagem de som, em um festival como o SXSW. Matthew Marcantonio mencionou o privilégio de poder viajar o mundo — sem ganhar muito, é verdade, mas sem perder também. Georgie e Will falaram do êxtase de receber um recado de alguém que contava que ouviu uma de suas músicas tocando em um café de Buenos Aires.

Todos eles, aliás, se mostraram extremamente empolgados com a possibilidade de que o sucesso futuro de seus projetos os traga à América do Sul, e ao Brasil em especial, onde poderão sentir toda a intensidade da energia do caloroso público brasileiro. Da minha parte, espero que isso aconteça nos três casos e que sejamos invadidos.

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