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10 bandas que mostram por que o Hardcore sempre foi político

Dizer que música e política não se misturam é um grandíssimo absurdo. Para além de todo o papel contestador da cultura por si só, a música sempre assumiu um papel único no que diz respeito ao posicionamento político. E, se há um estilo que se destacou por essa conexão entre os dois mundos, é o Hardcore.

Derivado da cena Punk, que também sempre teve sua forte ligação com a política, o estilo musical não economiza na agressividade tanto nas partes instrumentais, sempre aceleradas e diretas, quanto em suas letras afiadas e que buscam falar de forma explícita, sem rodeios, sobre temas que fazem parte do cotidiano de tantos de nós.

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Para provar isso, o TMDQA! separou uma lista com 10 bandas que exemplificam essa força política do Hardcore. Confira abaixo, em ordem alfabética!

Anti-Flag

Foto: Divulgação

Basta conhecer um pouco do patriotismo estadunidense para entender a potência do Anti-Flag, a começar pelo seu próprio nome. A banda se posiciona logo de cara como inimiga de um símbolo do que há de pior, na sua visão, em seu país de origem; com isso, segue firme até hoje encontrando formas de expressar sua insatisfação com os movimentos conservadores que existem por lá.

O ideal progressista é fundamental para o Anti-Flag. Tanto que, lá nos anos 90, a banda já falava de temas como aborto, racismo, fascismo e brutalidade policial — tão midiáticos atualmente — em suas canções. Além disso, em alguns de seus álbuns é possível encontrar comentários políticos nos livretos, assinados por professores geralmente ligados ao pensamento socialista.

Bad Brains

Reprodução/YouTube

Verdadeiramente revolucionário, o Bad Brains influenciou não apenas uma geração como, muito possivelmente, a maioria das bandas dessa lista independente da época em que surgiram. A ligação com a política veio desde muito cedo; afinal de contas, ocupar os espaços que o Bad Brains ocupou sendo um grupo formado por pessoas negras já era uma afronta dado o contexto em que eles surgiram, no meio de um país totalmente racista.

Além disso, levar estilos como o Reggae para dentro do Hardcore também foi algo político por si só e abriu caminho para outras fusões de gêneros, como o Rap e Punk que marcou a carreira dos Beastie Boys. Em questão de letras, é difícil interpretar de outra forma o significado de faixas como “Big Take Over”:

  • Understand me when I say / There’s no hope for the USA / This world is doomed for its own segregation / Just another Nazi test (“Me entenda quando eu digo / Não há esperança para os EUA / Esse mundo está fadado à sua própria segregação / Apenas outro teste nazista”)

Black Pantera

Foto: sete777sete

A gente sempre ouve falar que a mera existência é política, e não há como desvencilhar as duas coisas quando se fala do Black Pantera.

Pouco a pouco conquistando cada vez mais palcos do Brasil, a banda vem se impondo enquanto uma das mais importantes com sua sonoridade única (que nem deve ser reduzida a apenas Hardcore, que fique registrado) e letras afiadas, muitas vezes sem qualquer tipo de filtro como em “Fogo Nos Racistas” e “Padrão É o Caralho”. A primeira, por exemplo, ilustra exatamente o que dissemos no parágrafo acima:

  • “Eu sei, a nossa simples existência já é uma afronta / Os demônios em você / Não aguentam ver um outro preto que desponta”
  • “Fogo nos racistas / Eu disse fogo nos racistas / Expõe pra queimar / Deixa queimar”
  • “A ascensão do império preto / O império contra ataca / O lado negro da força aqui / Só fode com reaça”

Não à toa, o grupo tem se tornado um favorito do público em festivais e feito muita gente chegar cedo para acompanhar os shows que contam com mensagens politizadas e alguns momentos super legais que buscam, acima de tudo, incluir todos os que estiverem dispostos a se aliar aos ideais da banda na experiência.

Death by Stereo

Em vários dos casos dessa lista, temos bandas que preferem usar mensagens indiretas para fazer suas críticas. O Death by Stereo talvez seja a mais literal por aqui, a começar pelos títulos de álbuns como Black Sheep of the American Dream e We’re All Dying Just in Time, que se traduzem respectivamente para Ovelha Negra do Sonho Americano e Estamos Todos Morrendo Bem a Tempo.

Como se não bastasse, temos faixas que também vão completamente direto ao ponto. É o caso de “WTF Is Going on Around Here?”:

  • This system that holds us down / Choke the right, force them down / Let’s fight! (“Esse sistema que nos deixa presos / Sufoque a direita, force-os para baixo / Vamos lutar!”)
  • This country that’s fallen apart / Left to the fucking oligarchs / Stab the heart, let’s start! (“Esse país que caiu aos pedaços / Deixado para os malditos oligarcas / Esfaqueie o coração, vamos começar!”)

Fugazi

Precursor do chamado Post-Hardcore, o Fugazi é uma banda que não poderia faltar nessa lista. Com o seu olhar especial para as questões que permeiam a sociedade, o vocalista Ian MacKaye sempre encontrou formas de fazer críticas inteligentes, mas a verdade é que as políticas que permeiam a banda vão bem além das músicas.

Com diversas ressalvas em relação ao capitalismo, o grupo sempre viveu dentro do estilo que se propôs e seus shows eram reflexos disso. Em sua última turnê, por exemplo, além de vender os ingressos por preços bastante acessíveis (geralmente menos de 10 dólares), o Fugazi trazia discursos impactantes entre músicas de suas apresentações.

Algo que, sabemos bem, se repete com alguns artistas até hoje e gera muitas reclamações por parte do público que ainda acha que o artista tem que ficar calado e só cantar suas músicas…

Minor Threat

Foto por Jim Saah

Se colocamos Ian MacKaye e o Fugazi aqui, é claro que o Minor Threat também não poderia faltar. Além de ter sido pioneiro na pegada DIY que foi tão importante também para a próxima banda de Ian, o Minor Threat era bem mais intenso em sua sonoridade e, inclusive, um dos motivos que levou o grupo a acabar foi a necessidade de MacKaye de se afastar um pouco do Hardcore.

Ainda assim, a influência da banda é tão grande e basta olhar para o título da música “Straight Edge” para entender isso. Com suas letras afiadas, o Minor Threat criou toda uma subcultura de resistência política e acreditava que, por se libertar dessas armadilhas, era capaz de pensar sobre os problemas que assolam nosso cotidiano, influenciando toda uma geração a fazer o mesmo.

Point of No Return

Ativa entre 1996 e 2006, a banda paulista Point of No Return foi um marco do Hardcore por aqui e ganhou até lançamentos internacionais por sua importância. Unir o português e o inglês foi uma sacada genial e deu origem a ótimas letras em ambas as línguas. “Resposta a Sangue e Fogo”, por exemplo, é um tiro certo na nossa língua-mãe:

  • “Vidas levadas ao inferno / Peças que sobram na engrenagem / A elite se isola da miséria / Por ela mesma criada”
  • “Direito à dignidade / Confrontar o opressor / Conquistar o que nos pertence / Que os punhos se fechem! / Que o ódio ferva em nosso sangue / E queime esse cenário! / Preparando o solo para a revolução”

Da mesma forma, “Casa de Caboclo”, apesar do título em português, traz reflexões sensacionais em inglês:

  • Violence is always a tool in so called democracy / Agents of the State allowed to spread terror / Seeking to eliminate sparks of political resistance (“Violência é sempre uma ferramenta na chamada democracia / Agentes do Estado podem espalhar o terror / Procurando eliminar faíscas de resistência política”)

É só pedrada!

Ratos de Porão

Foto por Marcos Hermes

O Ratos de Porão dispensa apresentações, e já no seu primeiro álbum veio com um título potente que representaria tudo que a banda acredita: Crucificados Pelo Sistema. Depois, claro, vieram outros sucessos da carreira como Brasil e Anarkophobia que também estão recheados de críticas sociais, em alguns momentos aliviados pelo humor característico do Ratos.

Em 2022, a banda de João Gordo mostrou que ainda estava totalmente afiada ao lançar o aclamado disco Necropolítica, fundamental na existência contemporânea e para reafirmar a trajetória de um dos grupos mais importantes do Hardcore nacional. E que continue sempre assim!

Refused

Foto: Wikimedia Commons

Diretamente da Suécia, o Refused poderia ser apenas mais uma (ótima) banda vinda de um país que não costuma ter tantas bandas que trazem manifestações políticas em suas letras. No entanto, o grupo faz questão de ressaltar seu posicionamento em boa parte de suas músicas, e talvez até principalmente, em seus shows que costumam ter discursos carregados entre as canções.

A banda começou intimamente ligada à cena Hardcore do seu país e rapidamente passou a criar uma sonoridade própria, tanto que o lendário álbum The Shape Of Punk To Come (1998) influenciou bandas que vão do Punk ao Heavy Metal no mundo todo.

Bastante ligada à esquerda, a banda traz ideias do socialismo e até do anarquismo em suas letras, como em “Protest Song ‘68”:

  • Fixed dogmas can’t substitute / Creative thoughts and action (“Dogmas fixos não podem substituir / O pensamento criativo e a ação”)
  • We could be dangerous / Art as a real threat (“Nós Podemos ser perigosos / Arte como uma ameaça real”)

Rise Against

Foto por Nedda Afsari

Uma das bandas mais populares do Hardcore nos últimos anos, o Rise Against é definido pelo próprio vocalista Tim McIlrath como o resultado de uma criação nos subúrbios de Chicago que se viu indo por água abaixo depois que ele conheceu a realidade que sua vida pacata escondia. Não à toa, a banda aborda diversos temas politizados em várias de suas músicas.

Desde questões bem intrínsecas à cultura de guerra dos EUA em faixas como “Hero of War” até o bullying em outras como “Make It Stop (September’s Children)”, o Rise Against parece estar sempre disposto a falar sobre o que incomoda e, claro, também de cumprir o seu papel de incomodar aqueles que não querem abrir mão dos privilégios.

Published by
Felipe Ernani