Iggy Pop e Flea
Reprodução/YouTube

Em conversa com Flea para o curta Bitten by Flea, disponível no YouTube, Iggy Pop revelou que uma carta de fã de Bono, vocalista do U2, inspirou a última faixa de seu novo álbum Every Loser (2023).

Intitulada “The Regency”, a música foi composta em parceria com o produtor Andrew Watt, a dupla Dave Navarro e Chris Chaney, ambos do Jane’s Addiction, e o saudoso Taylor Hawkins, baterista do Foo Fighters.

Como explicou a Loudersound, a letra da canção foi diretamente inspirada por uma carta aberta a Iggy que Bono publicou no site do U2 em meados de 2000. “Recebi uma carta aberta de Bono… nunca recebi uma carta aberta antes,” disse o ex-vocalista do The Stooges a Flea.

“O que diabos é uma carta aberta?”, perguntou o baixista confuso, ao que Iggy respondeu:

Significa que eles estão escrevendo uma carta para você em público, para que todos vejam. A essência da carta era… ele apresentou a proposta. Ele disse, ‘No rock ‘n’ roll, há uma espécie de regência, na qual certas pessoas ocupam o castelo, e puxam a ponte levadiça, e me parece que quando você se lança de cabeça na multidão, você está jogando fora sua coroa, etc.’ Então, ‘The Regency’, é a minha resposta… que é foda-se a regência!

Basicamente, a ideia de Iggy foi reafirmar o que Bono havia dito em sua carta: enquanto artista, ele sempre cruzou os limites do que o palco oferece, abandonando a todo tempo a ideia de estar em um pedestal e “jogando fora a coroa” para estar junto com o público.

Incrível, né?! Confira a seguir o conteúdo do texto, que aparentemente não está mais disponível no site do U2, e assista ao final da matéria à conversa entre os dois ícones do Rock.

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Carta aberta de Bono a Iggy Pop

Caro Iggy,

A imagem com saúde com a qual você aparece na capa do álbum ‘Lust For Life’ foi muito inspiradora para mim e para meus amigos. Nós pensamos, ‘se Iggy conseguiu, todos nós conseguimos’… isso acabou não sendo verdade. Mas dentro e ao redor do culto à morte que segue o rock, parecia tão ousado e revigorante ouvir você cantar…

‘Cansei de dormir na
Calçada – não estou mais batendo no meu cérebro
Chega de bater no meu cérebro’

…E o que levava a isso era tão perfeito:

‘Lá vem Johnny Yen novamente
Com a bebida e as drogas
E a máquina de carne
Ele vai fazer outro strip-tease’

Aquela voz que carrega essas palavras carregou tantos de nós. O intelecto tão afiado quanto punhos de pedra… mas se você fosse burro o suficiente para não enxergar o intelecto de Iggy Pop, o instinto estava ali pra você… parte animal/parte ânimo, era um pico de adrenalina ver você pular do palco em nossa direção, quebrando a quarta parede com a sua cabeça.

Há algo irritante sobre a distância segura que separa os artistas de sua plateia, mas ninguém trouxe tanta violência para cruzar este fosso quanto você.

O palco geralmente é uma situação de ponte levadiça que oferece regência, uma coroa… o Rock é feudal. Parecia, para nós, que você se revoltava contra si mesmo, você jogava fora sua coroa… ou algo assim.

Acho que há menos de uma dúzia de artistas que eu já senti que ficam tão infelizes com a hierarquia do palco e sua separação, a ponto de poderem deixar o palco a qualquer momento e entrar na sua vida, te seguir até em casa… que é o desejo de todos os dramaturgos, que a peça durma com você, que você acorde com ela no dia seguinte.

Eu testemunhei isso com Steven Berkoff e Olwen Fouéré em Salomé, de Wilde. Eu testemunhei isso com Mark Rylance em Jerusalém, de Jez Butterworth. Daniel Day-Lewis de fato saiu andando do palco durante Hamlet. Sean Penn fez isso no cinema, Ben Mendelsohn também. Robert De Niro talvez tenha inventado isso. No Rock’n’Roll, Eddie Vedder definitivamente divide um táxi até sua casa. Patti Smith costumava empurrar sua própria plateia para chegar ao palco.

Mas você, Iggy, pode ter pulado fora de sua própria pele para chegar até nós.

Obrigado pelo sangue, pelo suor, e por nos poupar as lágrimas.

Do seu fã,
Bono.

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