Rafael Bittencourt e Andreas Kisser, do Angra e Sepultura
Reprodução/YouTube

Em 1996, Angra e Sepultura lançaram, respectivamente, os álbuns Holy Land e Roots, dois dos maiores discos já realizados pelo Metal brasileiro. Agora, os trabalhos de estúdio entraram em pauta durante participação de Andreas Kisser no Amplifica, programa apresentado por Rafael Bittencourt.

Na conversa, os dois ícones do Rock nacional explicaram a importância de ambos os trabalhos e Andreas falou sobre as primeiras reações ao Roots, incluindo um discurso preconceituoso dos próprios brasileiros:

O ‘Roots’, quando saiu, muita gente torceu o nariz. Porque tinha batucada, tinha Carlinhos Brown… ‘Cadê o Thrash, cadê as músicas rápidas?’. A própria gravadora não entendeu muito bem o que a gente tava fazendo na época, mas é um disco falado até hoje. O Dave Grohl e tantos outros que mencionam esse disco de uma maneira muito especial.

Depois da dupla destacar a importância de Roots para bandas como Slipknot, KoRn e afins, algo que apontamos por aqui na nossa lista de bandas nacionais mais influentes dos anos 90, Rafael destacou o vício do brasileiro em atribuir mais valor ao que vem de fora:

O Angra também estava soltando o ‘Holy Land’ mais ou menos na mesma época, e já me perguntaram muito se existia uma influência de uma banda pra outra. A gente não fazia ideia o que vocês iam lançar, porque o ‘Holy Land’ também é um resgate da cultura brasileira e tal. […] O que eu acho, e agora vou esclarecer contigo, é que ao sair do Brasil a gente olha o Brasil de maneira diferente. E eu acho que os produtores, os outros músicos, notam na gente algo diferente no jeito de tocar ou de sentir a música que a gente não percebe até sair. Tem muita coisa que é o nosso diferencial, que a gente fica tentando esconder. É como se a gente estivesse tentando esconder o nosso ponto forte. Tentando imitar o de fora você está na verdade podando ou mutilando o seu ponto forte.

Bittencourt conta, então, a história de um professor de guitarra que teve nos EUA que lhe sugeriu estudar a obra de artistas brasileiros, como João Bosco e Baden Powell, enquanto ele procurava saber mais sobre músicos como Steve Vai Yngwie Malmsteen.

Neste sentido, e concordando com a importância de “olhar de fora”, Andreas reforçou que foi com o álbum Arise, de 1991, que o Sepultura começou a incorporar ao seu som traços mais fortes da música brasileira:

Por isso que viajar é tão fundamental. Você falou sobre olhar o Brasil de fora… [o Sepultura] começou a viajar e foi como um astronauta vendo o planeta Terra da Lua. Você tem uma outra perspectiva do lugar de onde você vem, você vê as coisas de outra maneira. Você vê o quão respeitado ou admirado o Brasil é fora do Brasil, em vários aspectos. E a gente começou a perceber que o Brasil é um país único, muito diferente de qualquer outra coisa que tem por aí, principalmente culturalmente —de música, de ritmos, enfim.

Aos poucos a gente começou a incorporar isso; começou ali no ‘Arise’, em 1991, quando a gente fez a introdução para ‘Altered States’, música que abre o Lado B. […] A gente montou uma intro com elementos de percussão, com flautas peruanas, uma coisa mais América do Sul. A gente já tava começando a querer colocar aquele tempero brasileiro ali no ‘Arise’, que é uma coisa bem Thrash ainda, bem influenciada pelas coisas de fora. No ‘Chaos A.D.’ você já vê a diferença: uma música mais groovada, com muita percussão; uma música como ‘Kaiowas’, falando de uma tribo brasileira, ‘Manifest’ falando do Carandiru, as coisas do Brasil. E o ‘Roots’ explodiu, né. Então foi um processo, desde o ‘Arise’ até o ‘Roots’, de 1991 a 1995, 1996, onde a gente realmente foi a fundo.

Importante! Confira esse trecho da entrevista de Andreas Kisser ao final da matéria.

Sepultura e os 30 anos de Chaos A.D.

No papo, Andreas aponta ainda que foi com Chaos A.D. que o Sepultura realmente começou a trazer seus elementos brasileiros e isso culminou com o lançamento de Roots em 1996.

Como te contamos aqui na semana passada, o ex-integrante Max Cavalera também falou sobre a relevância do álbum lançado em 1993, que está completando 30 anos.

O músico, atualmente lider do Soulfly, ainda conversou sobre o fato de, nos últimos sete anos, ter comemorado através de turnês mundiais os aniversários dos já citados Roots e Arise (1991), além de Beneath the Remains (1989), dando a entender que uma nova turnê comemorativa pode surgir eventualmente.

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