Freya Ridings
Freya Ridings (Crédito: Josh Shuner)

Quando despontou para o mundo em 2017, Freya Ridings não poderia imaginar a montanha russa que se seguiria.

Mesmo para alguém que carrega a ideia de jornada no próprio sobrenome, a artista foi surpreendida por ser considerada o novo grande nome da música britânica, turnês pelo mundo e, logo em seguida, por uma pandemia que fez tudo desaparecer. Amores e amigos eram coisa do passado para uma jovem promissora que se viu de volta à casa dos pais, realizando lives da sala onde passou tanto tempo apenas para conseguir se conectar ao mundo lá fora.

Foi assim que ganhou forma Blood Orange, segundo álbum de estúdio de Freya Ridings que será lançado em 05 de maio. Antecipado pelo single “Weekends”, o trabalho promete trazer as duas metades da mesma artista – seu lado otimista convivendo com a parte melancólica. O repertório foi todo testado e escolhido com os fãs ao longo de mais de três meses de sessões ao vivo direto no Instagram.

Essa conexão faz parte da própria música de Freya Ridings, que pode ser descrita como emotiva, poderosa e cativante. Sua voz potente, combinada com arranjos intensos, cria uma atmosfera envolvente. Suas letras muitas vezes falam de amor, perda e superação, adicionando um toque pessoal já indissociável do seu trabalho, calcado em uma mistura de pop, indie e alternativo.

Tal qual no primeiro álbum, autointitulado e lançado em 2019, ela mostra que é possível abraçar o caos interno e lidar com as emoções ao mesmo tempo em que busca momentos solares. Em Blood Orange, a inspiração da disco music e dos anos 70 deve guiar a artista por novos caminhos.

O primeiro single já é um dançante hino pop sobre a solidão, com um clima disco no estilo de Nile Rodgers enquanto a letra de “Weekends” desabafa: “Eu realmente não tenho amigos, não saio nos fins de semana. Não tenho mais um amor para mim”. Agora, “Face in the Crowd”, canção inédita lançada nesta sexta-feira (17), a reconecta às baladas de piano que fizeram de Freya uma referência vocal.

É um longo caminho desde que seu maior sucesso, “Lost Without You”, começou a tocar na rádio e estourou de fato com o reality show Love Island. A canção rapidamente chamou a atenção do público e ganhou popularidade, atingindo o topo das paradas musicais no Reino Unido. Além disso, foi usada em vários programas de televisão e filmes, aumentando ainda mais sua exposição. 

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O single fez de Ridings a primeira artista feminina a ter um hit Top 10 no Reino Unido que foi inteiramente escrito por ela desde o lançamento de “Running Up That Hill”, de Kate Bush, em 1985. Nos cinco anos que separam “Lost Without You” aos dias de hoje, Freya Ridings acumula mais de um bilhão de streams e impressionantes 47 certificações de platina e ouro em todo o mundo. 

Não veio tudo de “Lost Without You”, claro. Desde então, Freya Ridings lançou outros sucessos, incluindo “Castles”, “Holy Water “Love Is Fire”, consolidando sua posição como uma das vozes mais interessantes a brotarem no soul, R&B e pop do Reino Unido.

Agora, Freya está pronta para compensar o tempo perdido – quem sabe, até vindo ao Brasil pela primeira vez. A artista conversou com o Tenho Mais Discos Que Amigos! e deu detalhes sobre sua nova fase.

Confira abaixo!

TMDQA! Entrevista Freya Ridings

TMDQA!: Eu me lembro de ouvir suas primeiras coisas, deve ter sido em… 2018.

Freya Ridings: 2018? Você estava lá no início então!

TMDQA!: É! Era bem recente.

Freya: Fico muito feliz! Tenho muito amor pelo Brasil, é louco que nunca estivemos aí antes. Estou sempre falando com minha gravadora e perguntando, “quando vamos para o Brasil? Quero ir ao Brasil!”. Não vou desistir!

TMDQA!: Você sabe que tenho que te perguntar sobre isso, né? (risos) Mas primeiro, queria te agradecer pelo tempo e falar sobre “Weekends”! Porque é uma música pra dançar, mas também é sobre solidão – porém, que curiosamente que faz a gente se sentir menos sozinho. Isso era algo que você tinha em mente ao compor?

Freya: Obrigada! Foi uma das primeiras músicas que compus para o álbum e eu estava num momento mental bem diferente, foi o início da jornada desse disco. Estava passando por um dos piores términos de relacionamento da minha vida, estava sofrendo e com dificuldade de admitir essa solidão. Depois que você passa por um término… é algo que te isola. Mesmo que você pareça estar saindo e se divertindo, quando você volta pra casa e tem que lidar com esse sentimento, quer ligar para a pessoa e não pode… Eu estava com vergonha de dizer, ficava como um sussurro no meu inconsciente, era um sentimento muito puro. Simplesmente saiu, numa gravação de voz no meu celular, que ficou guardada por muitos meses.

Estava fazendo uma sessão com Steve Mac, que é um dos meus produtores favoritos de todos os tempos, e eu estava bem nervosa. Mas ao invés de me perguntar o que eu queria tocar, musicalmente, ele só falou: “o que você falou pra você ultimamente que te assustou?”. E eu fiquei tipo, “ah não, não posso mostrar essa gravação pra ele!”. Fiquei com vergonha. Meu irmão falou, “você tem que mostrar ‘Weekends’ pra ele”, e eu achava muito embaraçoso. Mas quando mostrei, ele falou “nossa, que triste! Mas podemos transformar em algo eufórico, sabe? Podemos misturar a letra melancólica com algo eufórico”.

Eu falei que queria que o disco fosse bem inspirado nos anos 70, que era o que eu vinha mais ouvindo, e que fosse bem orgânico, mas ele perguntou: “você já fez uma música disco?”. De novo, saindo da minha zona de conforto. Mas eu pensei em correr em direção a esse medo, ao invés de fugir dele, e ver o que acontece. Agora parece que é algo bem poderoso, a sensação de superar essa solidão e essa tristeza. E ouvir isso no rádio é muito surreal, porque era uma gravação de voz no meu celular por três anos. Recebo DMs de pessoas dizendo que estão passando por isso agora e meu coração só dói, porque quero dar um abraço neles, lembro como era algo visceral. É onde começa a jornada do disco, “Weekends”. Mas há muito mais em “Blood Orange” que apenas isso. 

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TMDQA!: Ah, com certeza. Mas é assim que as melhores músicas começam – vindo de um lugar muito pessoal, certo?

Freya: Eu não consigo escrever a não ser a partir de uma experiência pessoal, então basicamente o primeiro disco foram os primeiros dez anos da minha vida musical. E esse novo são os últimos três anos da minha vida. Mas você pode ver claramente que são duas metades, por isso até quis o nome “Blood Orange”. Aquela sua metade de coração partido e azeda, em que você está lutando com muitas coisas; e juntar seus caquinhos, estar feliz e se permitir estar feliz, se tornar alguém que supera as desconfianças e os medos. Eu só queria dizer as coisas que eu achava mais difícil de falar através das letras. As coisas que mais me assustavam. Na música, queria que fosse bem orgânico e eufórico. Esse era meu objetivo. Quer dizer, é bem orgânico ainda, mas certamente é eufórico! Tem muitos instrumentos reais nele, isso sem dúvida.

TMDQA!: Afinal, é um disco de Freya Ridings.

Freya: É!

TMQDA!: Então, eu li sobre você ter ido pra essa inspiração disco, anos 70, mas mesmo “Weekends” é muito moderna e fala muito sobre algo que a gente lidou coletivamente ao longo dos últimos dois anos. Você é uma pessoa nostálgica com relação a músicas do passado? E como elas inspiram você agora?

Freya: Eu sou insanamente nostálgica! Às vezes tem algo acontecendo, mas eu não presto atenção até poder olhar pra trás e lembrar “ah, eu amei muito aquilo”. Estou trabalhando em estar mais presente, porque adoro olhar para o passado. A música de décadas passadas, especialmente antes de ter tanta coisa eletrônica – eu amo instrumentos e música feita por pessoas. E as canções feitas nos anos 60, 70 e começo dos 80 traziam muito sentimento, porque não havia edição como hoje, era preciso fazer ao vivo, direto do fogo das suas almas. Eu consigo me identificar muito com isso. E há artistas hoje que fazem isso hoje – Hozier, Adele, pessoas que me impressionam até hoje. Mas nos anos 70, tudo gênero parecia ter esse som muito único, e hoje há um espectro maior de coisas que soam mais parecidas. Eu queria voltar a um tempo em que isso era um pouco proibido e tentar fazer coisas com músicos de verdade e instrumentos de verdade. Boa parte do disco foi gravada ao vivo e foi assim que essa música se tornou realidade.

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TMDQA!: Falando em passagem do tempo, você estourou há pouco tempo, mas parece que realmente importava ter uma música em Love Island, por exemplo. Hoje, as músicas viram sucesso no TikTok primeiro, então você precisa ter um hit lá. Esse tipo de coisa passou pela sua cabeça quando você pensou na divulgação do disco, a necessidade de ficar mais “descolada”?

Freya: Ótima pergunta, porque é muito interessante. Quando eu escrevi “Lost Without You”, era a coisa menos descolada que eu poderia fazer, que era cantar uma balada ao piano. Todo mundo ficava tipo “meu Deus, você precisa escrever uma música feliz. Que negócio é esse? É muito triste”, e eu só resisti por quem eu sou. Minha mãe falava, “se mantenha firme, você tem algo, mas não vai ser pela moda do momento. Se você esperar tempo suficiente, um dia vai se conectar com as pessoas”. O programa Love Island nem existia quando eu escrevi “Lost Without You”, então pra isso ser o momento certo… foi tipo um relâmpago que só cai uma vez. As estrelas se alinharam. Foram 10 anos de compor e cantar em noites de microfone aberto, e ter as pessoas dando de ombros e dizendo “é, maneiro”. Esse momento foi quando tudo explodiu. Foram anos de querer muito essa conexão com o público e acho que ainda é isso que as pessoas querem.

Eu amo o TikTok, sou obcecada. Francamente, acho que deveria passar menos tempo lá! Amo a criatividade e a musicalidade que muitos criadores do TikTok têm, é louco. E o fato de que eles conseguem condensar em um formato tão curto… Amo o fato de que as pessoas estão envolvidas na criação das músicas. No início da pandemia, o TikTok nem tinha estourado tanto. Mas lembro de me sentir bem isolada e não tinha nenhum retorno da minha gravadora sobre quais músicas deveriam ser trabalhadas. Então virei para os meus fãs e falei, “vou estar no Instagram fazendo uma live todas as semanas. Se quiserem entrar, vai ser ótimo”. Toquei algumas músicas antigas, como “Lost Without You” e “Castles”, mas também inseri algumas novas que eu estava bem nervosa para mostrar.

E eles me davam seu feedback, estavam lá toda semana – foram 14 no total. Eles ajudaram de verdade a escolher basicamente todas as músicas desse disco. O que é louco dizer, porque eles realmente estavam lá, durante o processo. Agora, talvez eu faça lives no TikTok. Mas ainda é o mesmo, é a conexão humana, a música que todos buscamos. É só uma ótima forma de descobrir músicas incríveis, eu amo o TikTok para isso. E se está dando aos novos artistas uma chance de estourar de um modo justo e democrático, super apoio. Acho demais.

TMDQA!: Falando em ajustes, você estava tendo um ótimo momento na carreira quando a pandemia começou. E todos tivemos que nos ajustar, mas você teve de lidar com essas expectativas frustradas. Agora que esse disco vai sair, você quer compensar o tempo perdido?

Freya: Sim! 100%, sinto que todos estamos assim. Parece que tivemos dois anos tirados da nossa vida, só queremos recuperá-los. Mas tento só viver o momento e agradecer que tivemos nossa saúde. Minha família ficou bem. Para os humanos do planeta todo, foram anos bem traumáticos, mas sinto que do isolamento surgiu algo bonito, porque nos permitiu valorizar os momentos que temos juntos. E sabe, estar ao lado das pessoas nos shows, cantando juntos, batendo palmas juntos… Olhar e ver outros rostos é um privilégio, não é algo dado. Ter isso tirado por uma força externa…

Eu tive sorte de não precisar cancelar nenhum show, mas tive amigos que iam começar suas turnês. Foi bem difícil ver o trabalho duro que colocaram em seus discos e não poderem brilhar, mas agora que eles estão tendo a chance de fazer turnê e está tudo voltando. Para mim, me dá um novo respeito pelo que fazemos. É um trabalho dos sonhos. Não é fácil, mas sempre serei grata de poder fazê-lo, quando puder.

TMDQA!: Com certeza. Bom, sei que nosso tempo está curto, tenho só mais duas perguntinhas. Primeiro: seu novo single está saindo no início do Carnaval aqui no Brasil. Dá pra dizer que vai ser a trilha sonora da folia ou é mais pra baixo?

Freya: É mais uma balada. Se “Weekends” foi disco, “Face in The Crowd” é mais de volta às minhas raízes de baladas tipo “Lost Without You”, basicamente. Tem várias similaridades com “Lost Without You”, porque eu escrevi completamente sozinha, em um momento em que eu estava procurando pela pessoa que eu amava em todas as multidões. Então talvez, no contexto do Carnaval, seja mais pra alguém de coração partido procurando o rosto do seu ex na multidão. Mas eu não diria que é uma música de Carnaval (risos), com certeza. Talvez possam sair e ouvir “Weekends”, aí voltam pra casa e ouvem “Face in The Crowd” tristes (risos). Mas eu sinto uma conexão com essa música, porque foi muito pedida pelos fãs online, toda semana eles entravam na live e faziam centenas de pedidos por “Face in The Crowd”. Minha mãe ficava somando e dizia, “esse tanto de gente pediu ‘Face in The Crowd’”. E foi uma música que eu só sentei aqui, no piano, e eles abriram seu coração pra ela tão rapidamente. Os fãs estavam nessa jornada comigo, mal posso esperar para entregar a eles uma versão gravada dessa música depois de alguns anos. 

TMDQA!: E por fim: como estamos na campanha “come to Brazil”? Precisamos dobrar a meta dos comentários no Instagram?

Freya: 100%! Eu estou constantemente em cima da minha gravadora agora. Eu não fazia ideia da relação do Brasil [com a minha música], quantos discos de ouro e platina viriam, não imaginava o amor que viria do Brasil no meu primeiro álbum. Fiquei chocada que não conseguimos ir, estou obcecada por ir e dar um oi pela primeira vez. Tenho amigos que fazem muitos shows no Brasil e eles dizem que o público é o mais caloroso e simpático de todos, e eu só queria ir dar oi! Então estou colocando pressão na gravadora para conseguir ir esse ano.

TMDQA!: Dedos cruzados! Obrigada pelo seu tempo e até em breve.

Freya: Obrigada a você! Dedos cruzados!

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