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Foto: Reprodução/HBO

O jornal The Independent publicou há um tempo um artigo no qual afirma que The Last of Us pode ter derrotado a famosa maldição das adaptações de videogame para o cinema ou para a TV. Supostamente, todas as obras oriundas de jogos seriam péssimas e a produção lançada no Brasil pelo HBO Max estaria contrariando essa tendência.

O assunto abordado pelo artigo levanta uma série de debates possíveis, sendo o principal deles: essa tal maldição das adaptações de games realmente existe?

A resposta imediata seria “claro que existe, os filmes baseados em jogos são péssimos desde sempre”.

De fato, foram muitos anos de adaptações pavorosas, um desgosto para os fãs dos jogos, mas esse tempo ficou para trás. Muitas séries e filmes de qualidade foram produzidos nos últimos anos sobre jogos e se misturam com os flops ao longo do calendário.

A título de comparação, a indústria dos super-heróis também entrega filmes fraquíssimos há uns 25 anos, pelo menos, mas não há “quebra” de coisa nenhuma toda vez que a Marvel lança algo bom.

O que é “ser bom”?

De forma muito pragmática, um filme ou série pode ser classificado como bom se conseguiu um bom retorno em bilheteria, uma boa avaliação da crítica ou uma boa recepção do público.

Então um filme/série precisa dos três requisitos para ser bom? Definitivamente não. Filhos da Esperança (filme de Alfonso Cuarón) foi um fracasso de bilheteria quando lançado, Venom é um baita sucesso de bilheteria mesmo com todos os defeitos e Mindhunter foi cancelada pela Netflix apesar de ser uma unanimidade para a crítica e para o público.

O que pegava nas adaptações de videogames era a falha frequente em todos esses aspectos. O filme Super Mario Bros. (1993) é um grande marco nessa história catastrófica, seguido de muitas bombas por mais de uma década.

Street Fighter: A Batalha Final e A Lenda de Chun-Li, Hitman: Agente 47, Tekken, toda a filmografia do infame Uwe Boll, Need For Speed, Assassin’s Creed Warcraft são exemplos de como os gamers realmente sofreram ao longo dos anos.

Mas será que realmente só houve títulos péssimos até 2023?

cena do filme street fighter
Street Fighter: A Última Batalha. Foto: Reprodução

Outras quebras da “maldição”

Sem desmerecer o que tem sido entregue na série de The Last of Us, a maldição das adaptações de games já foi quebrada há muito tempo.

O que falar de Pokémon: O Filme?! A primeira vez que Ash, Pikachu e cia. foram para as telonas foi em 1998 (no Brasil, só em 2000), arrancando lágrimas e cravando traumas em muitos dos espectadores mirins – quem não se arrepia com o Ash petrificado, não é mesmo?

Recentemente ainda foi lançado Pokémon: Detetive Pikachu (2019). Dirigido por Rob Letterman e estrelado por Ryan Reynolds como dublador do Pikachu protagonista, o filme foi uma grande surpresa positiva. O roteiro é mais sarcástico do que qualquer outra obra da franquia japonesa e agradou bastante. Foram impressionantes US$431 milhões arrecadados em bilheteria – um lucro de US$281 milhões.

Castlevania é outra produção que esbanja qualidade. Lançado em 2017, na Netflix, o anime durou quatro temporadas e é praticamente uma unanimidade entre fãs e especialistas em cultura pop e entretenimento. Tanto que, mesmo com o fim da história principal, já está confirmado que o universo continuará sendo explorado em outras séries derivadas.

A principal “quebra da maldição” antes de The Last of Us foi bastante recente. Em 2021, Arcane esteve em praticamente todas as listas de melhores séries do ano, com avaliações positivas tanto de quem é jogador de League of Legends quanto de quem nunca encostou no jogo.

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Arcane. Foto: Divulgação/Netflix

Bombas, pero no mucho

Lara Croft: Tomb Raider (2001), aquele com Angelina Jolie no papel principal, certamente é um filme fraco. Muito fraco. Apesar disso, conseguiu um belo resultado financeiro: custou US$115 milhões e arrecadou US$274 milhões. Para o estúdio, definitivamente não houve maldição aqui.

No mesmo ano, Final Fantasy: The Spirits Within foi lançado e, apesar de ser um filme visto com afeto pelos fãs, não é muito lembrado apenas porque deu um grande prejuízo comercial. A tecnologia usada era muito boa para a época e foi acompanhada de uma história interessante, mas hoje parecem apenas gráficos ruins e quase todo mundo esquece nas listas de boas adaptações.

Antes disso, houve o incrível Street Fighter II: O Filme (1994). Trata-se daquele filme com a épica luta entre Chun-Li e Vega, uma das animações mais marcantes para os jovens do final dos anos 1990 e começo dos anos 2000. Mortal Kombat (1995) é outro que mora no coração dos fãs.

Mais recentes, temos Angry Birds: O Filme 1 e 2 e Sonic 1 e 2, que não são obras-primas do audiovisual, mas entregam um entretenimento honesto para os seus respectivos públicos.

E Resident Evil?! O primeiro filme da franquia de Paul W. S. Anderson, lançado em 2002, é muito decente e consagrou Milla Jovovich como um dos rostos mais populares em Hollywood por quase uma década. O sentimento é de que a aventura no universo dos zumbis poderia ter sido bem melhor, uma vez que as sequências realmente deixam a desejar, mas o sucesso comercial é inegável.

O mito da maldição

A conclusão mais óbvia é que a tal maldição das adaptações de videogames realmente existiu por um tempo, mas esse papo já se esgotou.

Por falta de recursos tecnológicos ou referências anteriores do que poderia funcionar ou não, houve um período no qual os jogos eram uma mídia difícil de ser adaptada.

No entanto, as histórias dos games sempre foram extremamente desenvolvidas e rendiam mitologias tão encantadoras quanto qualquer livro ou história em quadrinho. Era questão de tempo até a engrenagem encaixar e a indústria entender o que fazer com toda essa criatividade.

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The Last of Us. Foto: Reprodução/HBO

A narrativa de que séries lançadas atualmente quebram essa maldição se tornou, então, uma estratégia de marketing para vender estas produções. O discurso de que todo ano aparece um filme ou série que supera todas as dificuldades para transformar jogos em algo excelente já está batido e, a partir de The Last of Us, parece que não terá mais espaço.

Que os estúdios encontrem outra forma de valorizar o próprio produto, porque esse papo de maldição já teve o seu auge e agora não cola mais.

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