Documentário de Nick Cave está disponível no Brasil pela Mubi

A newsletter de Nick Cave, The Red Hand Files, segue chamando atenção pela sinceridade e afeto com que o autor dialoga com seus fãs.

Um leitor em específico, no entanto, pode não se encaixar mais nessa categoria: usando a caixa de perguntas do site, onde Cave recebe sugestões de temas para suas “cartas”, um americano acusou o músico de ter se tornado “sentimental”. A resposta do australiano traz a sua já característica candura e, além disso, uma possível lição de como encarar a vida.

Ermine, de Grand Marais, em Minnesota, escreveu:

Quando você se tornou um hippie saído de um cartão Hallmark [marca famosa por mensagens consideradas bregas]? Alegria, amor, paz. Que nojo! Onde estão a fúria, a raiva, o ódio? Ler essas respostas ultimamente é como ouvir um velho pregador falando sem parar na missa de domingo.

Em sua resposta, Nick Cave diz que tudo mudou para ele após a perda de seu primeiro filho – isso porque, após a morte de seu filho Arthur, em 2015, o músico também sofreu o luto por Jethro, de 31 anos, em 2022:

Para o bem ou para o mal, essa raiva da qual você fala perdeu seu apelo e sim, talvez eu tenha me tornado um hippie saído de um cartão Hallmark. O ódio deixou de ser interessante. Esses sentimentos eram como peles mortas velhas que eu descamei. Elas eram sua própria forma de nojo. Ficar sentado na minha própria bagunça, puto com o mundo, desdenhando das pessoas nele e pensando que o meu descaso com as coisas de alguma forma tinha alguma função, tinha algum tipo de nobreza, odiar essa coisa aqui e aquela coisa ali e aquela outra coisa ali, e me certificando de que todos ao meu redor soubessem, e não apenas soubessem, mas também sentissem, desdém pela beleza, desdém pela alegria, desdém pela felicidade dos outros… bem, toda essa atitude me pareceu, no fim, meio burra.

Nick Cave diz ainda que a morte do filho o fez conhecer a devastação de verdade, e sem qualquer esforço essa postura passou a perder a força.

Ele começou a compreender a situação vulnerável e precária do mundo, e veio a temer por ele, se preocupar com ele. Essa sensação deu lugar à vontade de estender uma mão para ajudar, ao invés de apenas encontrar vilões e julgá-los:

Talvez você esteja certo, Ermine, que por bem ou por mal, eu tenha me transformado de um sujeito agressivo em um cartão Hallmark ambulante. Mas bem, cá estamos nós, você e eu, mandando sinais de fumaça um para o outro em meio a uma divisão ideológica entediante. Olá Ermine, eu digo de forma monótona, olá. Com amor, Nick.

Classudo, não?

Nick Cave em obra cinematográfica

Nick Cave é conhecido por ser um poeta, um trovador que transforma seus versos em canções.

Em This Much I Know to Be True, documentário dirigido por Andrew Dominik, a relação criativa de Cave com o também australiano Warren Ellis surge sob um microscópio, com performances intensas e um mergulho profundo em suas obras. O filme está disponível no Brasil na plataforma MUBI.

Além disso, Cave aparece em duas trilhas sonoras da Netflix: Blonde e Dahmer – Um Canibal Americano.

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