Denzel Curry e Santigold desabafaram sobre saúde mental
Imagens: Divulgação

Embora as nossas canções preferidas nos confortem nos momentos mais difíceis, os artistas que as compuseram nem sempre encontram acolhimento na indústria da música. A saúde mental dos músicos foi negligenciada historicamente, com tantos talentos que nos deixaram cedo demais, mas foi amplamente discutida neste último ano de 2022.

Só no ano passado nós noticiamos por aqui os afastamentos dos palcos e das redes sociais de Daniel Johns (Silverchair), Bert McCracken (The Used) e, no Brasil, Tico Santa Cruz (Detonautas). Mais recentemente, Mike Patton (Faith No More), um dos maiores vocalistas do Rock nas últimas décadas, voltou a se apresentar depois de dois anos em tratamento.

A profissão já é de natureza cansativa por conta das constantes viagens, performances, contratos e pressões de todos os lados. Mas no mundo pós-isolamento causado pela pandemia de COVID-19, a dificuldade financeira de realizar turnês se tornou um fator determinante. E quem iniciou essa discussão foi Santigold, cantora americana de Dance e Indie.

Em setembro de 2022, depois de lançar seu quarto disco, chamado Spirituals, ela cancelou todos os shows e divulgou um duro comunicado que terminava dizendo:

Eu não vou continuar me sacrificando por uma indústria que se tornou insustetável para – e desinteressada no – bem-estar de seus artistas.

O portal Pitchfork publicou um longo artigo intitulado “Confrontando a crise de saúde mental na música”, em que ouviu fortes desabafos do rapper Denzel Curry e de Jeff Tweedy, vocalista do Wilco, além de mostrar dados que comprovam que os artistas sofrem mais com a saúde mental do que a população geral.

“Estresse financeiro” na música

Os relatos que ouvimos este ano vieram de todos os níveis da cadeia musical, de artistas independentes a estrelas headliners de festivais. As bandas Garbage, Animal Collective e Against Me! também cancelaram shows citando combustíveis caros, competição por datas e locais, dificuldades de logística e valores abusivos cobrados por empresários.

Isso se somou a antigos problemas financeiros de todo artista, como os modelos de negócio exploratórios de streaming ou venda de ingressos. Tanto que Lorde, cantora neozelandesa sensação do Pop, manifestou apoio a artistas pequenos, dizendo que o “estresse financeiro” é o principal responsável pela onda de cancelamentos por saúde mental.

Um estudo publicado em 2019 nos Estados Unidos mostrou que 73% dos músicos independentes no país sofriam de ansiedade e depressão com relação ao trabalho. Em 2021, outra pesquisa revelou que os índices de suicídio entre profissionais da música eram cinco vezes maiores que os da população em geral.

A falta de plano de saúde é um problema antigo entre os artistas, que dirá o apoio financeiro para fazer terapia. Mas quem deve pagar a conta pela saúde mental dos músicos? O rapper Denzel Curry tem uma ideia.

O papel das gravadoras

Na cadeia de produção musical, quem tem os recursos para pelo menos iniciar a discussão sobre a falta de planos de saúde são as gravadoras e as empresas que firmam outros contratos com os artistas. No disco Melt My Eyez See Your Future (2022), Denzel Curry falou sobre seu processo de cura através da terapia.

Depois, em entrevista à Pitchfork, ele disse que pensou em desistir do álbum porque estava “se matando de trabalhar”. Curry não espera que a ajuda venha dos selos e gravadoras, dizendo que eles se beneficiam do “trauma preto”:

Eu sei que eles não vão pagar. Artistas estão morrendo todos os dias, e gravadoras não dão a mínima pra isso. Eles pensam no próximo lançamento de um artista morto antes de pensar na saúde mental dele. Gravadoras lucram em cima do trauma preto. Por que você acha que a maioria dos rappers têm álbuns póstumos, e as gravadoras não param de remasterizar, relançar, adicionar parcerias? Eles estão apenas lucrando em cima de quem morreu pelas coisas que deveria estar tratando na terapia.

O líder da banda de Rock alternativo Wilco, Jeff Tweedy, começou a tratar o vício em opioides em 2004, e descobriu no hospital que também sofria de depressão e ansiedade. Hoje, ele acredita que toda a indústria da música precisa elevar seus padrões de saúde:

Eu só achava que outras pessoas eram mais felizes que eu, e não sabia o motivo. Mesmo depois que me tornei mais estável financeiramente, eu nunca consegui pagar um plano de saúde. Existem planilhas de seguradoras que dizem que não há uma chance muito grande de que alguém com a minha profissão vá sobreviver por muito tempo.

Pandemia escancarou a crise

Quando a pandemia interrompeu o mercado do entretenimento no Brasil, em poucos meses surgiram as lives arrecadando dinheiro para os trabalhadores do setor que estavam parados. O que a gente não sabia era que 2020 viria para escancarar outras dificuldades que artistas vivem há décadas por conta do estresse financeiro.

Assim, somando o desgaste físico e os riscos de contaminação, o resultado é uma grande crise global de saúde mental na indústria da música. Mas o que será que vai chegar primeiro, a erradicação da COVID por completo ou a adoção de plano de saúde com terapia para artistas?

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