Betty Who
Crédito Kate Biel

Por Nathália Pandeló Corrêa

Betty Who é uma artista que carrega o orgulho de ser quem é no próprio nome. A questão da identidade criativa e pessoal norteia suas canções desde sempre, mas é em Big!, seu mais novo disco, que ela assume protagonismo. O álbum é uma potente declaração de quem abraça quem é, que ousa ser do próprio tamanho, sem se encolher para caber em caixinhas ou expectativas alheias.

Embora toque em questões profundas, Big! é um disco para dançar e se divertir. Esse é um dos pilares para a cantora, que na verdade se chama Jessica Newham, foi criada entre Austrália e Estados Unidos e usa sua plataforma para levantar bandeiras do feminismo e da comunidade LGBTQIA+.

Como uma popstar que não se conforma a padrões, a começar pela sua própria altura, Betty Who aprendeu que precisava falar sobre se divertir sendo quem é. Isso foi algo adquirido ao longo do tempo em sua carreira, que já dura uma década e coleciona outros três álbuns antes de “Big!”: Take Me When You Go, The Valley e Betty.

No meio do caminho, surgiram parcerias com nomes como Demi Lovato e Troye Sivan, sem falar na escolha de sua voz para a canção tema do fenômeno da Netflix, “Queer Eye”, na faixa “(All Things) Just Keep Getting Better”. Recentemente ela lançou um remix especial para o Brasil de “SHE CAN DANCE” com Pabllo Vittar. Além disso, se destacou como apresentadora do reality “The One That Got Away”, do Prime Video, e foi participação especial em “Book Of Queer” e “Conjuring Kesha”, ambos do Discovery+.

Agora, Betty Who está pronta para uma nova fase e continuar surpreendendo os fãs. Seja com a sua altura, com os seus gostos pessoais ou com a mesma sinceridade que coloca em suas canções. A artista conversou com exclusividade com o Tenho Mais Discos Que Amigos! sobre os temas do novo álbum, suas atuais paixões e a vontade de vir ao país.

Confira abaixo:

TMDQA!: Oi Betty, obrigada pelo seu tempo! Parabéns pelo disco, está incrível, e claro que quero falar sobre ele. Porque me parece uma declaração, da capa ao título, passando pelos nomes das músicas em caixa alta. Soa algo do tipo “ei, olhem pra mim, eu ainda estou aqui, de pé”. Então minha pergunta é: o que você queria dizer pro mundo, que as pessoas entendessem sobre você como artista?

Betty Who: O disco foi uma exploração sobre o que queria dizer sobre mim mesma, antes de tudo. Enquanto compunha as músicas, eu senti que aprendia coisas sobre mim à medida que escrevia, como uma profecia que se cumpria. Tentava me provar, e ao reouvir as canções, notei que estava tentando me provar para mim mesma, nem sabia que precisava fazer isso. Quando o disco estava concluído, senti que tinha feito tanta reflexão interna até chegar naquele ponto. Então se queria dizer algo para o mundo, era o que você disse mesmo. “Ainda estou aqui. Já faz dez anos, muito da ilusão desse mercado já se foi. Estou apenas tentando fazer o melhor álbum que consigo, a melhor arte, para montar o melhor show possível”. E ser bem específica sobre quem eu sou e o que estou compartilhando com as pessoas, me certificando de que é bem sincero. Agora, quando escuto novamente o álbum, realmente ouço o quanto nos empenhamos nisso.

TMDQA!: Parece terapia, só que mais divertido.

Betty: (risos) É, parece, mas não sei sobre a parte de ser divertido! Foi muito trabalhoso. Passei tanto tempo pensando que todos queriam que eu escrevesse música para eles, enquanto dessa vez, notei que se eu fizer a música para mim, talvez as pessoas tenham uma resposta ainda maior às canções. Foi um experimento. Foi tipo, “ok, vou tentar ser eu mesma, pela primeira vez na minha vida adulta. Talvez as pessoas gostem, talvez odeiem, e eu terei aprendido algo”. Mas as pessoas estão respondendo melhor do que nunca.

TMDQA!: Sim! Porque a sinceridade é passada através da música. Queria falar também da faixa-título, que se destaca muito no disco, porque parece um salve para as mulheres que ousam existir em um mundo que as julga o tempo todo. Não é nenhum segredo que você é grande! (risos) Por que você achou importante colocar isso em primeiro plano agora?

Betty: Eu sinto que é um pouco de segredo! (risos) Quando as pessoas me conhecem, elas dizem “uau, não fazia ideia que você é tão alta”, e eu digo, “é meio que a minha parada, ser alta” (risos), então acho que não me dei conta do quanto tempo passei tentando fazer parecer que sou “normal”. É algo que principalmente nós mulheres fazemos. Ao invés de nos entregarmos às partes de nós que são diferentes e nos tornam individuais, tentamos diminuir e calar isso, para nos tornarmos mais como todo mundo, mais normais, mais homogeneizadas. Precisei de um tempo assustadoramente longo para notar que esse é um dos motivos porque as pessoas gostam de mim, e eu pensava que as pessoas gostavam de mim “apesar” disso, e não por causa disso. Quando notei que esse era o ponto principal, percebi que minha música deveria refletir o que me faz especial e diferente, não ser sobre o que as pessoas têm em comum comigo. Qualquer um poderia contar essas histórias, cantar essas músicas. Eu queria entender quais histórias somente eu poderia contar.

“Big” é muito específica, é realmente a história de uma garota na escola que ouvia que tinha que ficar no fundo da sala, como isso se torna parte da sua vida. Sobre como você constantemente ouve que deve ser menor, ser menos, ser quieta, e como isso é uma metáfora para muita coisa na vida. Você pode ser o palhaço da turma e o professor só sabe te dizer pra calar a boca, quando você só está tentando se divertir sendo você mesmo. Muitas instituições tentam tirar isso de nós, ao invés de encorajar. A música sempre foi uma das melhores ferramentas para artistas falarem sobre as pessoas no mundo que são como nós. Talvez você viva numa cidade pequena onde todos se vestem igual e ouvem o mesmo tipo de música. Você olha ao redor e nota que não tem nada a ver com aquelas pessoas, então pensa, “será que sou o único?”. E aí você ouve uma música da Lady Gaga e nota, “meu Deus, existem pessoas como eu, que querem o mesmo que eu!”. Então esse é o tipo de música que tento fazer agora, para aquelas pessoas que talvez não tenham uma comunidade ao seu redor. A música pode cumprir esse papel.

TMDQA!: E é incrível o que acontece quando você ousa ocupar seu espaço de direito, né?

Betty: Sim! E é engraçado… Tenho uma amiga que brinca que as músicas que a gente canta se tornam realidade. Ela tem uma música que se chama “Sugar Daddy”, então ela diz que vai virar realidade, “vou ganhar todo o dinheiro dele” (risos). Eu penso muito nisso. Quando estou tendo um dia ruim e tenho a oportunidade de subir num palco e cantar uma música como “Big” ou “Blow Out My Candle”, tem vários momentos em que eu estou cantando e noto, “uau, hoje eu preciso ouvir isso”. Às vezes eu não preciso. Sou forte, sinto que posso lidar com tudo. E estou lá para ser forte para todo mundo. Mas tem dias que não consigo, não tenho forças para estar lá para todos, ouço as músicas que eu escrevi e que estou cantando, para encorajar as outras pessoas… aí noto que estou encorajando a mim mesma. Tipo, “acho que eu precisava disso, está me fazendo bem. Ok, acho que consigo ir em frente”. E acende novamente o fogo.

TMDQA!: E a música completa o ciclo de volta para você.

Betty: Exatamente!

TMDQA!: Você comentava sobre fazer as músicas para você e sobre você, mas acontece quando se torna algo profundamente pessoal, também vira universal.

Betty: É! Não é estranho isso?

TMDQA!: Sim! Mas é que dá pra ouvir a sinceridade na voz de quem canta. E você canta muito sobre identidade, seja como mulher, queer, ou o que seja. Mas seu público é diverso, homens, mulheres, crianças, gente de toda parte do mundo. O que você acha que torna essas canções atraentes para pessoas tão diferentes?

Betty: Acho que… sempre quis fazer música que tivesse uma boa energia, alegria. É algo que as pessoas dizem quando vão ao show, “dançamos o tempo todo, foi muito divertido”. Eu ouço música triste tanto quanto todo mundo, há momentos para tudo. Mas às vezes eu olho ao redor e fico tipo “eu sou a única animada aqui? Só estou tentando fazer as pessoas se divertirem” (risos), não quero fazer ninguém chorar. Há uma parte do que eu faço no palco que é necessária. Sempre tem que ter a pessoa que vai ser a primeira na pista de dança de um casamento, e sou sempre eu! Quando eu vejo bebês, crianças, respondendo a essas canções… é porque é divertido, é dançante, faz parte da cultura humana de se juntar com as pessoas. Dividir o pão, abrir o vinho, celebrar juntos, adoro fazer música para essa parte da vida. Acho que algumas pessoas fazem canções tristes e profundas muito bem. E eu quero fazer as músicas que te fazem querer festejar com seus amigos, ou colocar no último volume no carro para cantar aos gritos as músicas que ama.

TMDQA!: Acho que está funcionando! Agora, eu vi que você treinou como violoncelista clássica desde muito jovem, o que é bem surpreendente! Pode me contar algo sobre você que pode ser novidade pra muita gente, que a maioria de nós ainda não percebeu?

Betty: É, isso sempre surpreende as pessoas! Mas… Mesmo que a música “Big” seja sobre isso, as pessoas ainda ficam balançadas quando veem o quão alta eu sou. Acho que isso sempre surpreende as pessoas, independente de elas saberem que eu sou alta. Eu sou alta para uma pessoa, não para uma mulher. Porque a maioria pensa numa mulher alta e imagina até 1,80 metro, por aí. Mas eu tenho quase 1,90, então sou mais alta que muitos homens. Isso sempre choca as pessoas. Outra coisa que é uma das minhas maiores paixões é Formula 1 – que também influencia muito a cultura de vocês brasileiros. Adoro o Senna, obviamente. Nos fins de semana, onde quer que eu esteja no mundo, domingo de manhã eu estou de pé assistindo, porque é dia de corrida. Eu tenho um calendário com tudo de trabalho e todos os fins de semana de Formula 1 estão marcados também, então isso é algo que rege a minha vida.

TMDQA!: Sei como é, aqui em casa também é assim.

Betty: Então, e agora o Lewis Hamilton se tornou cidadão honorário aí no Brasil, né? Recentemente eu estava na Cidade do México, e um dos pilotos, Checo Perez, é do México. Ele é herói da cidade, e as pessoas ficavam surpresas de eu saber quem era o Checo, e eu dizia que adorava ele. Ficamos conversando sobre isso, foi legal.

TMDQA!: É, faz um tempo que o Brasil não tem um piloto de destaque assim, mas vamos entrar de volta no jogo.

Betty: Com certeza, eu acredito em vocês!

TMDQA!: Agora, eu já te vi falar das pessoas que te inspiraram, como Robyn, Kylie… Mas tem alguém que está surgindo nesta nova geração que está chamando sua atenção?

Betty: Eu sou muito fã de k-pop, acho que é porque eu danço e adoro me apresentar assim, e eles são muito militantes, são super ensaiados, sempre tem 25 dançarinos…

TMDQA!: E os clipes, né?

Betty: Sim, os clipes são uma loucura! O BLACKPINK é a minha banda favorita do mundo, sou obcecada por elas, amo sua dança, suas músicas. Especialmente na pandemia, fiquei super inspirada pelas coreografias. Eu não podia ensaiar para o meu próprio show, porque todo mundo estava em casa. Então foi divertido ser uma fã de novo. Me ensinou muito sobre ser fã nessa fase da minha vida, porque acho que não sou fã de alguma coisa de verdade desde a adolescência, é uma época em que estamos obcecados com um tipo de música ou um artista. Parece que é aceito ser tão apaixonado nessa fase, mas aí você se torna adulto e acha que tem que ser “cool”, refinado, não tão obcecado. É muito importante ser fã. Quando você está do outro lado e já sabe muito sobre a indústria da música, é muito fácil deixar isso arruinar tudo, não se divertir mais, só ver como um negócio. Mas o motivo porque entramos nesse negócio para começo de conversa é porque éramos fãs, víamos artistas incríveis que nos inspiravam na infância, que nos fizeram sentir esses sentimentos enormes. Na quarentena, eu lembrei do que era ser fã assistindo vídeos dessas meninas. BLACKPINK é o número um pra mim, e a Rosalía é outra artista que eu poderia assistir vídeos dela cantando e dançando o dia todo.

TMDQA!: Sim, ela é demais.

Betty: Sim, tem muitas mulheres hoje que são incríveis, sendo elas mesmas e abrindo caminho para si numa forma que me inspira. Rosalía faz isso.

TMDQA!: Mas o mais importante: você aprendeu alguma coreografia do BLACKPINK?

Betty: Claro! (risos) Eu aprendi “How You Like That”, “Pretty savage”, eu sei “DDU-DU DDU-DU”… Tem algumas bem boas que eu já sei!

TMDQA!: Tenho que dizer que te admiro por isso, por aprender as coreografias.

Betty: Só pelas coreografias do BLACKPINK (risos), bom que a gente pode ser fãs juntas!

TMDQA!: Isso! Betty, sei que tenho que te liberar. Muito obrigada pelo seu tempo!

Betty: Eu que agradeço. Espero conseguir ir ao Brasil, todos me dizem para ir.

TMDQA!: Sim! No mínimo venha para Interlagos ver uma corrida!

Betty: Nossa, eu ia amar!

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