Tony Aiex, Jambu e Cauê Paciornik no PMKT
Créditos: Mercadizar / PMKT

Por Cauê Paciornik

No dia 18 de novembro aconteceu a 11ª edição do PMKT, prêmio voltado à comunicação e à criatividade, e que pela primeira vez incluiu categorias musicais. O Troféu MDZ premiou os melhores artistas do Norte do Brasil.

Em colaboração com o TMDQA!, o Mercadizar conversou com dois vencedores da noite: Tani, do Amapá, vencedora da categoria Música do Ano com “Linha de Limite”, e a banda manauara Jambu, que levou para casa o prêmio de Artista do Ano. Ambos têm criado um som autoral único, ganhando destaque na cena musical nortista.

Confira abaixo o papo com os artistas.

Jambu

Jambu é uma banda de indie rock formada no início de 2020, composta por Gabriel Mar (vocalis a e guitarrista), Roberto Freire (guitarrista), Yasmin Costa (baterista e vocalista) e Gustavo Pessoa (baixista).

Com alguns singles e dois EPs lançados – Seu Tempo Definido e NADA A TEMER, ambos com cinco faixas –, a banda vem cativando o público: são mais de 44 mil ouvintes mensais no Spotify, e mais de um milhão de streamings de suas composições. Em abril de 2022, o grupo abriu o show da banda de indie sueca Boy Pablo, em São Paulo.

Preparando-se para lançar seu álbum de estreia em fevereiro de 2023, a banda revelou ao TMDQA! detalhes sobre suas influências musicais, as expectativas para o álbum, como está sendo o processo de gravação e produção, e muito mais.

Mercadizar e TMDQA!: Quais são as principais influências musicais e inspirações da banda? Como descreveriam o som de vocês?

Jambu: Nossas influências são variadas; cada membro carrega consigo algum gênero musical preferido, desde o rock clássico até o pop, mas entre nós compartilhamos um gosto em comum que é o indie rock australiano (bandas como Spacey Jane, Mako Road e Sticky Fingers).

Mercadizar e TMDQA!: Vocês começaram a lançar músicas autorais ainda durante a pandemia. Como esse período de isolamento influenciou o processo de composição de vocês? E como têm sido os shows ao vivo e o contato com o público?

Jambu: Durante o período da pandemia, nós tivemos a oportunidade de nos aproximarmos mais, já que a única atividade que executávamos juntos era a produção de novas músicas. A gente se reunia na casa da Yasmin (baterista e vocalista) e escutava músicas juntos, assistia a vídeos de bandas e planejava os nossos próximos passos. Quando o isolamento acabou, tivemos a oportunidade de fazer nossa primeira apresentação ao vivo e, pelo fato das pessoas terem ficado tanto tempo isoladas, sentimos que elas curtiram ainda mais, e foi algo incrível poder vê-las cantando nossas músicas e aproveitarem aquele momento juntas.

Mercadizar e TMDQA!: Vocês foram os vencedores do Troféu MDZ na categoria Artista do Ano. A gente viu a reação de vocês ao serem anunciados, e foi realmente emocionante. Qual a importância do prêmio para a banda?

Jambu: Foi uma sensação genuína de orgulho e felicidade. Não fazíamos ideia de que ganharíamos, já que estávamos indicados junto com artistas extremamente competentes e com fanbases muito engajadas. Esse prêmio veio para nos mostrar a força que têm as pessoas que acreditam na gente e curtem o nosso som. Foi um momento único que vai ficar gravado para sempre em nossos corações.

Jambu
Foto por Demi Brasil

Mercadizar e TMDQA!: Como tem sido o processo de gravação e produção do primeiro álbum da banda? Como estão as expectativas para o lançamento da obra?

Jambu: Nosso processo está sendo bem engrandecedor e fluido, já que desde o começo do ano pudemos passar por vários lugares e aprender muito sobre como nossa arte se movimenta. Todas as músicas foram gravadas em momentos e espaços diferentes, e agora, no final do processo, tivemos tempo de absorver e entender o ponto em que todas elas se conectam para compor um álbum coeso. A gente espera alcançar o máximo de pessoas e que elas se sintam abraçadas pela mensagem que procuramos passar, então, durante a concepção da obra, também tivemos a oportunidade de experimentar bastante e aumentar o nosso horizonte sonoro.

Mercadizar e TMDQA!: Com quais artistas vocês gostariam de gravar? Qual seria o feat dos sonhos da Jambu?

Jambu: Tem vários artistas com quem nos identificamos e gostaríamos de colaborar. A principal a nível nacional é a Lagum, e a internacional é a Sticky Fingers.

Tani

O feat dos sonhos também é revelado pela cantora Tani. Ao longo do nosso papo, a cantora contou novidades sobre futuros lançamentos, os próximos passos de sua carreira, inspirações e vivências.

Tani é uma artista independente do Amapá que transforma a Amazônia e o Norte em poesia e música. Em 2021, lançou seu primeiro EP, “O Que Eu Queria Ter Feito Antes”, obra que reúne cinco faixas autorais.

Mercadizar e TMDQA!: Quais são as suas principais influências musicais e suas inspirações?

Tani: A música preta é o que me inspira e me move. Minha infância foi embalada por muito samba e MPB (sigla que gosto de entender como Música Preta Brasileira), então não citar nomes como Jorge Aragão, Alcione, Elza Soares, Jorge Ben Jor e Tim Maia seria um ultraje – já que esses me fizeram entender o que é e como sentir música. Além disso, a chamada “nova MPB” também norteia meu trabalho – Luedji Luna, Xênia França, Luiza Lian, Gaby Amarantos, Liniker, Mahmundi e tantas outras também sonoramente moram em mim. A métrica geniosa do rap brasileiro – e nortista – também mora em mim. Cito alguns nomes como Sabotage, Black Alien, Criolo, N.I.N.A, Tasha e Tracie, Racionais etc., etc., etc. (risos). Além disso, Mc Deeh, Íra, Nic Dias, Mc Super Shock, Bruna BG, Reiner, Máfia Nortista, Arthur da Silva e Ruan Mikael são pessoas que lutam pela visibilidade da música do Norte ao meu lado e que inspiram meu som, tocando quase que diariamente nos meus aplicativos de música – principalmente quando preciso de concentração e de inspiração para produzir algo.

Mercadizar e TMDQA!: Em 2021, você lançou o seu primeiro EP, “O Que Eu Queria Ter Feito Antes”. Como tem sido a recepção do público em relação a este trabalho?

Tani: Trabalho há muitos anos com música, mas a falta de oportunidade financeira para lançar um trabalho acabou atrasando o “parto” do primeiro filho/disco. Esse processo me causou muito medo: será que as pessoas iriam gostar do que eu estava produzindo ali? Será que iriam se identificar com o escrito e cantado por mim? Será que iriam compreender o conjunto sonoro que codificamos por meio de cada faixa presente no EP? Hoje, consigo enxergar um “sim” para todas as perguntas. Lembro até hoje do show de lançamento realizado no Teatro Marco Zero e da minha emoção ao perceber que todas as pessoas ali presentes cantavam com fervor cada sílaba das letras que eu (e algumas eu e Anthony Barbosa) compus(emos). As pessoas relatam grande identificação com o trabalho, explicando que ele as toca em feridas e em questões delicadas que precisam ser trabalhadas. Com isso, sinto que o objetivo está no processo de cumprimento: a arte é feita para libertar de fantasmas, para conversar com a dor e para entender a si mesmo. Meu primeiro EP é um espelho de mim, e fico feliz ao perceber, com o feedback do público, que ele tem sido um espelho de autoamor para outras pessoas também.

Tani, cantora do Amapá
Foto por Eudes Vinicius

Mercadizar e TMDQA!: Quais as principais temáticas que você quis explorar no seu EP e por quê?

Tani: Durante o processo de composição das letras de “O Que Eu Queria Ter Feito Antes”, eu enfrentava um momento muito delicado na minha vida. Eu não sabia quem era direito, sentia não gostar do que eu talvez pudesse ser e, ao refletir sobre isso, percebi que todos esses desafetos comigo mesma tinham relação com a questão racial. Neusa Santos Sousa, ao falar de tornar-se negro, explica que esse é um processo pautado na dor de ser o outro, de ser o diferente, o fora do comum – já que o comum, normal, aceito, é o branco. No EP, ao acolher meu banzo (dor ancestral em ser preto), quis me libertar de diversas amarras impostas pela branquitude. Eu falo do processo de dizer “não” para cada negativa que me foi dita – já que eu era preta demais para diversos padrões – mas falo também sobre a dor de não ser o suficiente em muitos espaços. Falo sobre a fé de caminhar em frente e perceber que meu caminho me faz quem sou e que devo ter orgulho do que me torno a cada dia vivido, falo do meu encontro ancestral com o espelho que mora no Orum e que me mostra de onde vem o amor – do sagrado, de Oxum, de mim.

Mercadizar e TMDQA!: Uma faixa do seu EP, chamada “Linha de Limite”, é a vencedora da categoria Música do Ano do PMKT. Como foi o processo de criação dessa música? Vocês imaginavam que ela poderia ser premiada como música do ano? Qual a importância do prêmio para a sua carreira?

Tani: “Linha de Limite” fala sobre o banzo de existir. Às vezes sinto como sinal de fraqueza, mas hoje não tenho medo de dizer que sou uma pessoa em sofrimento mental, que precisa administrar os caminhos da vida andando de mãos dadas com a depressão e a ansiedade. A faixa expressa como me sinto quando ambas estão muito próximas de mim, fazendo-me sentir indigna de qualquer reconhecimento, como uma impostora tentando tomar lugares que não mereço. É essa a maior ironia: escrevo “Linha de Limite” em um momento de vulnerabilidade e de sofrimento e a faixa vira, para quem acompanha meu trabalho, um ponto de refúgio, uma canção de acolhimento da dor. Mais irônico ainda é eu ser premiada – o que eu jamais imaginava acontecer, já que essa angústia faz questão de me dizer que não sou merecedora de reconhecimento. Além de ter uma importância expressiva para a minha carreira – já que esse é o maior prêmio do Norte do Brasil – e de me fazer sentir orgulho por tê-lo ganhado – principalmente por ter sido por voto popular –, o prêmio é importante para afugentar qualquer sensação de que não posso fazer e viver da minha arte. É um recado das pessoas que acompanham o meu trabalho de que a minha produção de arte tá dando certo e que posso continuar firmando o pé no chão para construir próximos passos, prêmios, histórias. O PMKT me chega como um reconhecimento pelo trabalho árduo que tivemos na produção desse trabalho e como mais uma prova de que é impossível não ser artista, já que eu sou música da cabeça aos pés.

Mercadizar e TMDQA!: Você têm trabalhado em composições novas? Quais os próximos passos/planos para a sua carreira musical?

Tani: Em setembro de 2022, participei de uma imersão na Floresta Amazônica pelo Labverde. Vivi experiências incríveis e muito intensas, que irão culminar em um novo single, que será lançado em dezembro deste ano. Além disso, tenho outras produções em andamento – já temos dois clipes planejados para o ano de 2023, um deles de outra música nova e o outro de uma faixa do EP. Esses são os próximos pequenos passos a serem dados, mas a meta sempre será a dominação mundial. Sonho em cantar em grandes festivais pelo Norte e pelo Brasil inteiro, ao lado de artistas que me inspiram muito. Hoje, infelizmente, as possibilidades de viver somente de arte no Amapá são poucas. Sendo assim, este é o maior plano: conseguir fazer com que a arte seja, além da minha razão de viver – o que já é –, meu sustento, para que eu consiga me dedicar plenamente a ela e produzir cada vez mais.

Mercadizar e TMDQA!: Com quais artistas você gostaria de estar gravando junto? Qual seria o feat dos sonhos da Tani?

Tani: Essa é uma pergunta difícil! São tantos nomes… todas as inspirações vivas citadas na primeira pergunta são sonhos – inclusive, principalmente meus irmãos nortistas. Mas creio que, no momento, meu maior feat dos sonhos é Luedji Luna. Ela é minha maior inspiração, sendo também meu refúgio em momentos de vulnerabilidade. Luedji carrega consigo uma força ancestral que me faz caminhar sempre para frente, e conseguir produzir algo com ela seria uma realização imensurável. O BaianaSystem é também uma colaboração dos sonhos! O som deles embala a minha vida desde o surgimento da banda. Poder enxergar nas plataformas de streaming um BaianaSystem feat Tani… uau! Também não posso deixar de citar outros grandes sonhos de colaboração, como Liniker, Gaby Amarantos e Criolo. E esses são só alguns!

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