Popload Gig anuncia show de Pixies no Rio de Janeiro
Foto por Travis Shinn

Quando pensamos nos gigantes do Rock dos anos 90, é impossível não lembrar de nomes como NirvanaRadioheadSmashing Pumpkins Weezer. O que todas essas bandas têm em comum e nem todo mundo sabe é uma forte influência do Pixies, que está desembarcando no Brasil muito em breve.

A banda formada atualmente por Black Francis (vocal e guitarra), Joey Santiago (guitarra), Paz Lenchantin (baixo) e David Lovering (bateria) passou por diversas fases mas, além de se estabelecer como referência para inúmeros outros artistas, também mostrou que consegue continuar se atualizando e se manter relevante nos dias atuais.

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Prova disso é o recém-lançado disco Doggerel, sucessor de Beneath the Eyrie (2019) e quarto a ser revelado pelo grupo desde a reunião em 2004, que deu fim a um hiato de 11 anos.

Com uma sonoridade renovada, com muita influência do cinema e dando uma pegada única ao Rock tradicional, o Pixies desembarca no Brasil para shows no Rio de Janeiro, neste dia 11 de Outubro, e em São Paulo como atração principal do Popload Festival, no dia 12 de Outubro.

Antes de chegar ao país, no entanto, Joey Santiago bateu um papo com o TMDQA! sobre essa nova fase da banda e a expectativa para os shows. Confira na íntegra abaixo!

TMDQA! Entrevista Joey Santiago (Pixies)

TMDQA!: Oi, Joey! Como você está? É um prazer estar falando contigo hoje. O Pixies é uma banda lendária e eu não poderia estar mais empolgado pra esse papo.

Joey Santiago: Olá! Por aqui tudo certo, e com você?

TMDQA!: Tudo ótimo também. Eu queria começar falando um pouco mais sobre esse novo disco. Estamos fazendo essa entrevista antes do lançamento mas, pelo que já ouvi até agora, é um álbum super diferente do que poderíamos esperar. Um grande destaque pra mim é “Dregs of the Wine”, que tem uma história bem legal de você ter escrito enquanto testava um violão em uma loja. No fim das contas, você comprou esse violão?

Joey: Ah, sim, eu comprei!

TMDQA!: Você pode falar mais pra gente sobre ele? Que violão é esse?

Joey: Cara, eu acho que é um velho… deixa eu ver aqui. É um Martin O-15, de 1956.

TMDQA!: Que demais. E, bom, a sua guitarra em “Dregs of the Wine” eu sinto que é exatamente o que faz uma música tão diferente assim soar como uma música do Pixies, o que é fantástico. Você sabe explicar o que é que faz uma música soar como algo do Pixies?

Joey: Sabe, eu acho que obviamente tem aquela nota com um pouco mais de bend, que é instantaneamente algo reconhecível. Tem a voz do Charles, obviamente. Mas musicalmente falando, eu acho que simplesmente tenho um jeito de tocar e escolher as notas que soam certas para o meu ouvido. E eu tento fazer com que isso não soe tão… eu tento fazer com que soe imprevisível em alguns momentos, mas ao mesmo tempo eu simplesmente aceito e faço a coisa mais previsível, se soar certo. Mas o que eu tento fazer é evitar que soe básico demais.

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TMDQA!: Na mesma música, vocês têm um trecho que diz “Back to Brazil in 66”. De onde veio isso? Sei que você não escreve a letra, mas sabe qual foi a referência?

Joey: Não é o nome de uma banda? Brasil 66 ou algo assim?

TMDQA!: Nossa! Eu esqueci completamente. É a banda do Sergio Mendes, né.

Joey: Isso! Exatamente.

TMDQA!: Não tinha associado. Adorei que descobrimos juntos. [risos] Voltando ao disco, eu sinto que ele explora bastante uma sonoridade épica, bem cinematográfica, com muita influência de Ennio Morricone, especialmente ali em “Vault of Heaven”. De onde veio a ideia de incorporar isso nesse disco?

Joey: Olha, eu acho que deve ser justamente esse gosto que temos pelo Morricone, só porque a forma como eu enxergo as coisas deles, essa coisa meio Surf Rock, essa coisa do Spaghetti Western, é como se fosse uma versão mais madura da Surf Music. Sabe, ainda é instrumental, mas tem um pouco mais de sofisticação nisso e conforme nós fomos ficando mais velhos, eu já estava meio de saco cheio da Surf Music; eu não necessariamente escuto isso mais.

Antigamente eu escutava muito, eu tive um período onde eu ficava muito, tipo, “Isso é legal, isso é bom, bem bom” com relação à Surf Music. Mas até hoje eu adoro ouvir Morricone, seja aqui na Califórnia dando uma volta de carro ou qualquer coisa do tipo. É como se fosse um estado de espírito, mais do que a música.

TMDQA!: Faz sentido. E o álbum está realmente bom demais. Mudando de assunto, agora em Outubro vocês vão vir ao Brasil pela primeira vez em oito anos, e eu queria saber se você tem alguma memória preferida das passagens anteriores por aqui.

Joey: Putz, eu preciso te dizer que tudo é meio que um borrão pra mim. Mas eu me lembro de tocar em Curitiba, dentro dessa cúpula, sabe… quando pegamos o elevador pra subir no palco, isso foi memorável. E também teve o fato de termos ficado 24 horas presos no aeroporto de São Paulo, eu me lembro disso.

TMDQA!: [risos] Uma experiência verdadeiramente brasileira. Mas agora vocês estão voltando para o Popload Festival, e vocês são a última atração do evento, o que é diferente de como foi no Lollapalooza anteriormente. É possível esperar um setlist mais completo? Tenho visto que os sets dessa turnê estão bem longos!

Joey: É, vai depender de quanto tempo tivermos. Sabe, os festivais são muito rigorosos com a programação, e de fato têm que ser, porque qualquer coisa pode estragar tudo. E a gente sempre obedece. Se nos pedirem para parar às 21:43, vamos parar exatamente às 21:43. Então depende de quanto tempo nos derem. Se nos derem duas horas, nós daremos duas horas a vocês.

TMDQA!: Ainda sobre essa turnê, sinto que as novas músicas aparecem bastante por ali, claro, mas o Doolittle tem sido tocado mais do que o normal até. Tem algum motivo específico para ele estar tão presente nessa turnê? Como foi a montagem desse setlist?

Joey: Bom, para além das pessoas gostarem dele e ser um disco muito admirado, a gente sabe tocá-lo. [risos] Ele meio que não envelheceu nem um pouco, e é isso que as pessoas querem ouvir. A gente sabe disso. É o que as pessoas querem ouvir, é o que nós queremos tocar, então nós vamos dar às pessoas o que elas querem. Essa é a regra número um do showbiz: dê às pessoas o que elas querem.

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TMDQA!: Justo. Falando em festivais, a gente teve há algum tempo a turnê da Miley Cyrus onde ela aparece tocando trechos de “Where Is My Mind”, e acho muito legal que isso se reflete nas plateias dos shows de vocês, que agora voltam a ter outros jovens fãs por ali. Como tem sido observar isso?

Joey: Cara, sabe, quando eu olho para os fãs mais jovens ali na plateia a primeira coisa que eu penso é: “acho que ainda vamos fazer isso por mais um tempo”. Porque o nosso som vai sendo passado de geração em geração. Sabe, o meu filho nasceu em 2004, quando nós nos reunimos como banda. E agora que ele tem 18 anos, os colegas de classe dele querem ir pro show. Que diabo é isso, sabe? [risos]

TMDQA!: E ao mesmo tempo, você é uma influência para artistas enormes, como a própria Miley ou como o Jack White, que vai tocar com vocês no Popload. Isso é legal demais, né?

Joey: Sim, sempre que você influencia algo, eu acho que é bom. A gente é parte disso, sabe? Da linguagem da música. É muito bom, mas acontece tão rápido que a gente nem percebe e quando vê já foi.

TMDQA!: Você mencionou a reunião ter começado em 2004, mas havia ainda algumas questões pra resolver e foram 10 anos até voltar para o estúdio, praticamente. Agora, vocês já estão no quarto álbum pós-reunião. Já é natural pra vocês novamente, isso de estar no estúdio e fazer discos? É algo que vocês pretendem seguir fazendo?

Joey: Com certeza absoluta. Sim, demais. É parte do que nos diverte, e a gente curte fazer isso. É o que bandas fazem, sabe? Se a gente não fizer isso, a gente não pode só… é o que a gente curte fazer, porque sabe, quando a gente toca ao vivo, a gente tem que conversar com o público, certo? Mas quando estamos no estúdio, a gente pode ser super egoísta, podemos fazer tudo que quisermos.

A gente realmente não pensa em mais ninguém, se as pessoas vão gostar disso ou não. Só estamos pensando se nós mesmos vamos gostar. Então é o nosso momento, é o nosso tempo particular, para que a gente se divirta e se entretenha. E a gente definitivamente se diverte no estúdio.

TMDQA!: Bom, vocês divertem os outros também! Sem dúvidas.

Joey: É, mas é muito o nosso momento mesmo.

TMDQA!: Faz sentido. Eu queria trazer uma reflexão que eu estava fazendo esses dias: eu nasci em 1993, então eu não peguei o auge do Pixies e é muito louca pra mim a ideia de que, entre 1988 e 1991, vocês lançaram um disco por ano e todos foram fantásticos e viraram clássicos. Quando você pensa nisso hoje, rola aquela coisa meio, “Como a gente fez isso”? Ou você sabe explicar o que rolou nesse período?

Joey: A gente simplesmente achava que era o que tinha que ser feito uma vez por ano, sabe? As bandas faziam isso nos anos 60 e tudo mais, então a gente pensava tipo, “Ok, vamos fazer a mesma coisa”. E sabe, é aquela coisa de você estar em um ciclo de 365 dias de turnê e, uma vez que a gente faz o giro completo, o que você vai fazer depois? É aquela sensação de precisar fazer outra coisa.

É a nova temporada, e aí logo em seguida já vêm os novos festivais, e a gente não vai voltar pra tudo com os mesmos álbuns, a gente quer apresentar algo novo.

TMDQA!: Mas, hoje, o formato de fazer música é mais confortável pra vocês?

Joey: Sim, com certeza. É a quarta vez que fazemos isso, a terceira vez com o produtor Tom Dalgety e com a baixista Paz Lenchantin. Então é algo natural pra gente, é verdadeiramente confortável, é simplesmente o que fazemos.

TMDQA!: E a Paz foi uma adição e tanto pra banda, né.

Joey: Sim, ela é incrível. Tudo sobre ela é maravilhoso. A personalidade, sabe, eu sinto que conosco ela realmente encontrou uma casa.

TMDQA!: Pra fechar, eu estava lendo um pouco mais sobre a sua biografia e eu não sabia de um detalhe que achei super legal. Lá nos anos 90, onde isso não era nem um pouco comum, você já estava estudando softwares de áudio, algo que se tornou bem popular atualmente. Sinto que hoje é mais fácil do que nunca fazer música, e muito disso se deve às pessoas que estudaram isso dessa forma que você fez lá atrás. Qual a sua visão sobre essa facilidade pra fazer música?

Joey: É o motivo pelo qual eu entrei nisso! Eu gostava do fato de poder me gravar sozinho, e eu já fiz essas coisas com aqueles gravadores de quatro faixas, com fitas cassette, mas agora é tão mais fácil e divertido. E, sabe, tudo soa tão bem agora.

Nós costumávamos ser aqueles esnobes que defendem a tecnologia análogica, dizendo que a gente nunca iria usar coisas digitais nem nada assim. E hoje em dia é a regra. É um saco gravar em fita. Sabe, cada fita soa diferente, tem muitos detalhes chatos que entram nisso. As pessoas não percebem que é simplesmente mais fácil ir pro digital, sabe?

TMDQA!: Faz todo sentido. Joey, muito obrigado pelo seu tempo! Tenho certeza que os shows do Pixies serão inesquecíveis e mal posso esperar para vê-los. Um abraço e até a próxima!

Joey: Obrigado, nos vemos em breve!

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