Polegar, Xuxa e o Rock para a infância dos Anos 80
Reprodução/YouTube

Por Isis Correia, da Agência 1a1 (@agencia1a1)

Ao longo dos últimos 37 anos desde que Xuxa inaugurou sua carreira de cantora com o lançamento de Xuxa e Seus Amigos, em 1985, reunindo naquele play contatinhos do quilate de Caetano Veloso, Chico Buarque, Erasmo Carlos e uma lista de panteões da MPB que pega desprevenido quem torce o nariz acostumado a taxar sua música de brega, muitos foram os brasileiros dedicados à tarefa de rodar no sentido anti-horário os mais de 28 álbuns de estúdio da loira em busca do pioneirismo em provar a lenda urbana de que suas músicas contêm mensagens subliminares “do mal”  —  na edição ‘só para baixinhos’ — ou, em melhor português, “recados satânicos”.

Mas foi em pleno 2022, enquanto Xuxa se destaca menos pela música e mais por seu ativismo dos direitos animais, tendo recentemente lançado o livro Mimi, a Vaquinha que Não Queria Virar Comida (Editora Globinho), que a banda de rock Studla Bandid, da improvável Islândia, finalmente sacou que, se houve algum pacto no passado, ele nunca teve nada de sutil.

Com sua versão de “Ilariê”, que foi publicada pelo TMDQA! e viralizou nas redes sociais nos últimos dias (veja aqui ou abaixo) eles, além de agitar multidões, revelaram a verdade: a de que o contrato para as músicas de Xuxa foi assinado diretamente com o pai da matéria, já que boa parte do cancioneiro da Rainha dos Baixinhos desde seu segundo disco, o estrondoso Xou da Xuxa (1986), traz o rock and roll como peça fundamental. E todos sabemos quem é o pai do rock, certo?

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Riffs e solos desfilaram em frente às crianças daquela geração em muitas músicas graças à popularidade do rock à época, com a aparição frequente na televisão de gente como Titãs, Os Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho e Cazuza, tendo como arremate a realização pela primeira vez de um grande festival de rock no Brasil um ano antes do disco, o Rock in Rio.

Xuxa, o Rock e o nascimento de “Ilariê”

A proposta da Som Livre, a gravadora da TV Globo, para o LP Xou da Xuxa era a de que as letras fossem para crianças, mas as músicas seriam produzidas por figuras do rock nacional e por isso o produtor do disco, o renomado Guto Graça Melo, optou por colocar na obra compositores que não eram exatamente infantis. Entre eles estavam Rita Lee e Roberto de Carvalho, que fizeram a faixa “Peter Pan”, Ronaldo Bastos (um dos fundadores do Clube da Esquina) que fez “Miragem Viagem”, uma versão em português da música “Black Orchid”, de Stevie Wonder, e Frejat e Gutto Goffi, compositores de “Garoto Problema”, que traz a participação de Evandro Mesquita.

“Ilariê”, o hit em questão, aparece no disco Xou da Xuxa 3, de 1988, e é composição do guitarrista baiano Cid Guerreiro, que apostava bastante nos riffs, elemento sem o qual não se faz rock. A falta de distorção talvez é o que não deixe evidente a verve rock and roll de muita coisa em Xuxa ou nas produções musicais para a criançada de quase 40 anos atrás.

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Mas, os bons ouvidos saberão identificar a guitarrinha também em canções como “Tindolelê”, também de Cid que integra o Xou da Xuxa 4, sem contar o emblemático tema de encerramento de seu programa, “Doce Mel”, que exibiu toda a exuberância das notas de uma guitarra elétrica na cara de todo mundo durante anos nas manhãs da televisão aberta brasileira! À medida que o rock foi deixando de fininho o mainstream, entretanto, a discografia de Xuxa evoluiu para outras pegadas sonoras.

Outras crias infantis do rock

Muitos grupos musicais infantis dos anos 80 beberam da fonte do rock, como o Trem da Alegria, que na capa do disco homônimo de 1986 surge “radical” empunhando uma guitarra e traz Evandro Mesquita como feat no hit “Fera Neném”, numa pegada bem Blitz, além de outras músicas como “He-Man” que hoje passariam facilmente por uma canção de metal melódico ou a la Manowar. O grupo das crianças contou ainda com canções como “Culpado É O Rock’n’Roll” e dois dos ex-integrantes do conjunto, Luciano Nassyn e Juninho Bill, seguiram suas experiências com bandas de rock depois de adultos.

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Outros projetos voltados a agradar crianças e pré-adolescentes do meio dos anos 80 ao início dos 90 também buscaram inspiração no rock and roll e foram os responsáveis — ao menos subliminarmente — por colocar “a música da via esquerda” na vida de muita gente desde cedo.

A boy band Dominó chegou a contar com o brasileiro Kiko Loureiro, hoje guitarrista da multi estrelada Megadeth, na banda de apoio que acompanhava os meninos. Faziam parte também o tecladista Fábio Ribeiro (ex-Shaman) e o baterista Marco Antunes (ex-Angra).

O Polegar, cria direta do Dominó, tinha como missão justamente simular e atuar em cima do palco como uma banda de rock com os garotos empunhando guitarras, baixo, bateria e teclado, usando jaquetas e tentando “pose de malvado para enlouquecer meninas”. No disco autointitulado de estreia, de 1989, aparece uma versão de “Filho Único”, de Erasmo Carlos, “O Tijolinho”, de Bobby di Carlo, sucesso da Jovem Guarda, e hits roqueirinhos como “Dá Pra Mim” e “Ela Não Liga”.

Isis Correia é jornalista especialista em comunicação para a música, pós-graduada em Teoria, História e Prática de Rock pela Faculdade Santa Marcelina e cofundadora da Agência 1a1.

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