Injetores
Divulgação

Por Eduardo Ribeiro

O punk nunca morreu e no Brasil ele continua se reinventando. Nos últimos tempos, em meio à renovação da cena com a chegada de boas safras de bandas em praticamente todas as vertentes filiadas ao punk-hardcore, merece atenção especial o som Oi!/street punk. Motivados pela tradição do estilo surgido nos idos de 1979/80 na Inglaterra, grupos como Bellare, Última Classe, Inomináveis, Brigada 16, Ratas Rabiosas, Os Mandriões, Onda Errada HC, The Breed e as Refugiadas sopram ar fresco ao ritmo com abrangentes referências.

É daí que desponta o Injetores, conjunto paulistano formado no início de 2015, com letras que retratam a dificuldade da classe trabalhadora e as pautas de uma geração marginalizada.

Conhecido pela forte mensagem antifascista, presente em toda a sua discografia, o trio lançou há pouco um clipe para a nova música “Vida Fudida”. Em paralelo, os músicos aprontam para o streaming o single “Brindemos” e três faixas que sairão em coletânea com o The Breed (São Paulo) e o Resistentes (Piracicaba/SP). Além disso, está a caminho outra coleta, com bandas do Brasil e do México, ao lado da Bellare, 30-30 e Hellfish – ambas as obras previstas em vinil pelos selos Grito Antifascista e Unite and Win, respectivamente. Nesta última, a Injetores entrará com uma música. E os caras também seguem lapidando o repertório de um álbum com dez composições.

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O primeiro disparo dos Injetores é uma demo, com “Explorando”, “Esquecidos” e “Nada Mais”. Em 2018, veio o EP de estreia, autointitulado, com seis faixas. A mais legal é “1979”. Nela, Deh (guitarra, voz), Junior (baixo, voz) e Tulio (bateria) abordam declaradamente a cultura Oi! e o posicionamento antifascista. “Cabeça Erguida” é mais um som que se destaca aqui. No mesmo ano saiu o split com a banda Mandriões, Libertar e Resistir e, em 2019, um novo EP, com mais três gravações.

Os lançamentos de 2020 foram o single “Meu Camarada”, com a participação das bandas Bellare e Mahkinario, que fala sobre a importância da amizade nos momentos mais difíceis da vida, e o projeto em vinil Oi! Oi! Oi! Antifa!, ao lado, novamente, da Bellare e da Última Classe. Fora isso, o ano passado ainda teve espaço para mais quatro músicas, presentes em Ao Chegar ao Fim.

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Assim, os Injetores seguem no auge de sua produção criativa e só evoluindo, em resultados energéticos e contagiantes. Cada obra, todas disponíveis nas plataformas digitais, representa uma fase da gradual evolução, tanto em quesitos técnicos como na mensagem, que vai ficando mais explícita em seu posicionamento político libertário.

Colei no ensaio dos manos, onde pude conversar com o Junior sobre a atual fase da banda, um pouco de sua história e das ideias que querem passar.

Entrevista com Injetores

Como e quando surgiu a vontade de formar a Injetores?

Para ser bem sincero, não houve um planejamento ou idealização pré-concebida para montar a Injetores. Acredito que a banda se deu devido a tempos de vivência e, consequentemente, à não desistência de tocar por parte dos integrantes. Viemos de outras bandas que não seguiram em frente por diversos motivos, e acabou que, arrisco dizer, em uma última tentativa de se expressar, montamos a Injetores. Um dia, conversando com o Deh (guitarra), ele me disse que deveríamos continuar, eu acreditei e acabou dando nisso. Encontramos um batera (Tulio) disposto a levar a sério as poucas músicas que tínhamos na época, e assim foi, trocamos ideia num boteco pelo Centro e firmamos o lance todo. Uma coisa foi certa, ninguém ia entrar em campo de pé quebrado. O que tem acontecido até o momento, no que podemos chamar de proposta da banda, é que, independentemente de ter banda ou não, nós somos assim, como diria a Última Classe: a luta antifascista nunca terá fim!

Poderia falar sobre o posicionamento ideológico do grupo?

O nosso pensamento político é libertário e contra as opressões que vivenciamos diariamente. Nos identificamos com anarquismo e o comunismo; e a democracia, mas não essa, burguesa, que vivemos, e sim aquela que deveria ver a necessidade da população e atendê-la. Temos um pensamento crítico, fazemos parte da classe trabalhadora e sabemos o quanto a burguesia nos passa para trás com suas políticas. Acreditamos na liberdade do indivíduo desde que esta não fira e oprima o outro, e, por isso, somos sempre antifascistas.

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Quais são as principais preocupações sociais da banda?

Em nossas letras, abordamos o cotidiano dos que fazem parte da classe trabalhadora e proletária, as dificuldades do povo periférico. Falamos também sobre temas pessoais, tudo misturado e sem poesia.

O que vocês pensam das bandas apolíticas? É válido, desde que não professem ideias de discriminação e opressão?

Acredito que não tem essa de apolítico. Não se posicionar já é uma demonstração política. Para mim, é covardia. É aquele lance: cada um dá o que tem, cabe a cada um decidir o que quer ouvir ou não. Penso que você pode falar o que quiser, e aí você responde por isso.

Com que tipo de bandas e em quais lugares vocês costumam tocar?

Tocamos com diversas bandas, punks, skins, hardcore, street, metal, rap e por aí fora… Desde que sejam libertárias e não sectárias, estamos para somar. Cada gig é legal do seu jeito, mas a gente sempre preferiu o boteco apertado às grandes casas, traz mais a essência do que vivemos, é libertador, tudo o que compõe cada gig. Só quem frequenta sabe o que é.

Na opinião de vocês, qual é a importância do visual para uma banda de punk/Oi!?

Achamos importante o visual, e isso em qualquer cena, mas não é o que mais importa. É algo que se adquire com o tempo, e cada um a seu jeito. Os melhores panos são bem fora da nossa realidade econômica, por exemplo os coturnos originais da Doc Martens, ou as camisas da Fred Perry, Ben Sherman, isso está bem distante. A realidade não nos permite. É legal tudo isso? É, sim, mas isso não lhe define, pois qualquer pessoa com dinheiro pode ter esses artigos.

A nossa cultura vai além do visual. Com criatividade, damos um jeito. Antes de tudo, somos de classe proletária, e nem tem como fugirmos disso. Não é algo que escolhemos ser, mas temos consciência de classe e nos orgulhamos disso, no sentido de que não temos vergonha do bairro onde moramos nem de fazer parte da classe trabalhadora. Tudo o que temos foi conquistado por nós mesmos, sem papai, sem mamãe e sem herança.

Nossa realidade é bem diferente, somos o que somos e não dá para explicar isso direito, tem que viver para saber. Para muitos isso não é nada, mas pra quem se fode trampando e nunca sobra nada, vivendo sempre no aperto e as contas nunca fechando, um baile reggae, uma gig Oi!, com os seus iguais em volta e uma boa cerveja gelada é libertador. A nossa cultura é muito rica em som, estética e mensagem. Uma cultura rica, que surgiu dos desafortunados e que, por meio da luta antifascista, está voltando ao que deveria ter sido desde o início aqui no Brasil: antirracista, antifascista e consciente de sua classe. Ah! E eu adquiro minhas roupas no Brás [risos].

Durante o ensaio de vocês, notei umas inserções de Cólera e “Asa Branca” nuns sons, além de uma hora ali que o Deh mandou um riffzinho de “Alternative Ulster”, do Stiff Little Fingers. Isto me dá a deixa para perguntar: quais são as principais influências musicais da Injetores? Tanto nacionais como de fora.

Essa música que traz a referência de “Asa Branca” é nova, e a letra dela fala sobre luta e perseverança. Isto remete às origens de onde nascemos e familiares. Sou pernambucano, de família nordestina, assim como o Tulio, de família baiana, e o Deh, com parentes em Pernambuco. Daí a ideia de trazer nesse som essa alusão. Não somos uma banda de forró, mas gostamos, então demos uma pitada daquilo que faz e fez parte de nossa criação. Nossas influencias são basicamente punk rock 77, música Oi!, reggae e ska, mas sempre uma coisa ou outra diferente disso acaba aparecendo em nosso som.

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