Do outro lado do telefone, o cantor, compositor e produtor musical Bruno Morais parece um dos seres humanos mais calmos do mundo. Mas não seria uma calma que explicaria o modo meticuloso como ele cria e deixa o tempo de maturação de cada coisa, fazendo com que seu novo trabalho, Poder Supremo, chegue 13 anos após o ótimo A Vontade Superstar. A calma é daquelas de alguém que atingiu uma paz interna.

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“Desde meu último álbum, eu vinha trabalhando com singles e compactos. Eu comecei a trabalhar neste disco há um bom tempo, as primeiras gravações datam de abril de 2014 e não tinha um projeto muito certo na cabeça. O que era novo pra mim, não ter um mapa do disco na minha cabeça. Todas as ideias mais elaboradas que tinha, que guardo pra mim, acabaram se perderam num momento em que um computador foi roubado. Eu passei por aquele momento de tentar lembrar das músicas sem saber se elas estavam renascendo como fênix ou se era algo novo. Mas mesmo assim, para as ideias de produção eu ainda estava na busca, pensando que aquelas ideias iriam me devolver um cerne do álbum. Era curioso que pra mim era muito claro, mas não sabia explicar. E eu ficava pensando ‘cadê a minha força aqui? Cadê meu super poder?’”, conta ele.

Poder Supremo, novo álbum do artista, não é um mergulho fácil, mas é recompensador. Ao longo de suas 17 faixas (muito para o padrão atual), o artista pega na sua mão em um mergulho por uma jukebox pessoal onde a MPB se mistura com funk, neo soul, afro jazz e um samba que beira a pilantragem para caminhar em uma jornada quase teatral e de ficção científica sobre o que é maior que a existência. É um disco que dialoga muito com uma espiritualidade não necessariamente em um quesito religioso.

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Acho que é, além de uma paz interna, uma busca por uma compreensão. Uma força que aplaque a tristeza, que é algo que todos passamos nos últimos anos. É uma expansão do sentimento das coisas que marca o conceito do disco”, conta ele.

Chegou um momento do projeto onde aconteceu uma ruptura. Havia uma expectativa de um patrocínio que não se cumpriu. O que poderia ser a pedra no caminho, acabou se tornando uma incomum força motriz.

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“A partir dali, eu relaxei. Eu pensei que queria fazer o álbum sempre que tivesse uma boa ideia ou que tivesse uma grana legal para fazer uma mixagem boa, para investir na arte da capa. Por isso acabou se arrastando por esses anos, pois foi feito com esmero e cuidado para ser o mais verdadeiro possível”, conta Morais. “Com isso, o disco acabou absorvendo todo esse ambiente apocalíptico que passamos a viver nos últimos anos. Foi uma gestação muito longa, mas fico feliz de estar colocando no mundo essa energia que dialoga tanto com o momento que vivemos”.

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Para um trabalho solo, o álbum de Morais surpreende pelo seu poder coletivo. Ele reúne Bixiga 70, Juçara Marçal, Thiago França, Kika e Anelis Assumpção, Roberto Barreto (BaianaSystem), Russell Elevado (Erykah Badu, D’Angelo, Kamasi Washington), Leon Ware (Marvin Gaye, Michael Jackson, Ike and Tina Turner), Riley Mackin (Childish Gambino). Mas as colaborações mais surpreendentes acontecem com a escritora espanhola Rosa Montero – que foi uma das inspirações para o álbum – e a atriz Júlia Lemmertz, nos interlúdios “Rosa” e “A Louca”, que amarram o disco em suas multiplicidades.

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“Nesse processo de buscas, eu fui atrás de tudo que me inspirou e tocou. E lembrei de uma peça com a Júlia que vi muitos anos atrás, quando tinha acabado de chegar em São Paulo. Eu escrevi para ela no Facebook, contando isso e perguntando se ela tinha algum registro da peça, pois gostaria de usar como sample. Quase um ano depois, ela me respondeu fascinada e disse que não tinha um registro mas que adoraria gravar”, conta Bruno.

Pensado e gravado em um período de vários anos, o disco parece um registro desse período pós-pandêmico, de reaproximações e conexões. Vivenciando um momento curioso na carreira, onde viu sua música “Há de Ventar” virar hit em “Verdades Secretas” (Globo), Bruno se prepara para trazer esse disco para os palcos.

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“Ao longo do processo, o disco foi criando essa estrutura teatral. E desde 2019 eu já pensava em um espetáculo, mas agora estamos em busca de como transpor ele pro show. Acho que lá pro começo do segundo semestre, com um tempo para as pessoas absorverem esse meu ‘filme de três horas’ em forma de álbum”, conta ele.

Com produção e direção geral de Bruno e coprodução de Guilherme Kastrup e Maurício Fleury, Poder Supremo está disponível em todas as plataformas de música digital. Confira a seguir!

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