Karinah e Alcione
Reprodução/YouTube

Cada vez mais, felizmente, temos visto espaços anteriormente ocupados majoritariamente por um tipo de pessoa se abrindo para ganhar novas caras em um processo que gera renovação e, claro, representatividade. No Pagode, Karinah é muito possivelmente o maior nome brasileiro nesse sentido.

Não à toa chamada de Rainha do Pagode, a cantora já coleciona parcerias com nomes como Mumuzinho Belo, mas eleva tudo a um novo auge com o seu lançamento mais recente. “Tô de Partida” é uma composição belíssima que ganhou a participação de ninguém menos que Alcione, alguém que a própria artista descreve como “musa inspiradora”.

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Em papo exclusivo com o TMDQA!, Karinah nos contou um pouco mais sobre sua trajetória para chegar onde está hoje, seu flerte com outros gêneros musicais e, claro, detalhou todo o processo do feat com a lendária Marrom.

Confira na íntegra a seguir!

TMDQA! Entrevista Karinah

TMDQA!: Começando muito cedo na música, você trilhou um caminho nada
convencional até ser nomeada como a “Rainha do Pagode”. Conta pra gente um
pouco de como você se encontrou na arte e quais são as suas maiores
influências?

Karinah: Foi bem cedinho, ouvindo música em casa com a família, que veio essa vontade de viver fazendo música. Eu cantava muito em casa mesmo, pra conhecidos, até começar a entrar em festivais e competições, daí pra frente tudo foi acontecendo.

Tive algumas experiências maravilhosas e outras não tão boas, mas que me moldaram muito. Posso citar como minhas grandes influências o Arlindo Cruz, o Carlinhos Brown, a Alcione, o Xande de Pilares, o Zeca Pagodinho, o Fundo de Quintal e o Dudu Nobre. Só gigantes!

TMDQA!: Apaixonada pelo samba, pelos discos de Clara Nunes e com fortes referências femininas em casa, como foi pra você se enxergar como cantora e que tipo de apoio você teve para perseguir o sonho?

Karinah: O apoio dos meus familiares foi muito importante pra eu entender que eu tinha esse potencial. Eu já fazia tudo quanto é tipo de som com o que dava em casa, mas esse incentivo vinha mesmo quando me ouviam cantar. Principalmente minha tia e umas vizinhas que já vinham de apresentações em festivais. Um tio avô também, que trazia fitas cassete de artistas do samba quando passava em casa, e eu ficava maravilhada com tudo o que envolvia o gênero. Isso me fez entender que era esse o caminho que eu precisava seguir.

TMDQA!: A “descoberta” da tua carreira veio por acaso, envolvendo a música sertaneja e o clássico “Evidências”, com o qual você ficou em segundo lugar em um festival. Quão importante foi pra você não ter barreiras na música e entender que havia espaço para vários gêneros e vários tipos de trabalho diferente, como o de locução e os jingles?

Karinah: Sempre tive um pouco de receio de sair da minha zona de conforto, e olha que já fiz isso diversas vezes, como você bem mencionou. Mas o grande desafio mesmo foi quando coloquei os pés no pagode. Ali eu entendi que muita coisa precisava ser mudada, que o machismo estava enraizado, coisa de décadas atrás em pleno século 21.

Mas não por culpa dos artistas da atualidade, que foram sempre muito queridos e me acolheram super bem. Mas essa questão sempre foi motivo de incômodo pra mim em todas as áreas pelas quais passei, todos esses trabalhos. Tive sorte de ser bem recebida, mas também lutei muito, e continuo lutando. A luta é diária pra todas nós.

TMDQA!: Hoje em dia, você tem uma força importante dentro de um gênero que
historicamente foi dominado por homens. Como se sente em relação ao lugar
onde chegou e onde está mirando para o futuro?

Karinah: Não só no pagode como na indústria musical como um todo, estamos acostumados com uma realidade em que os homens cantam e as mulheres só são permitidas a aplaudir. Minha grande meta é ajudar pra que isso mude, não só com eu mesma ocupando esse espaço, mas com muitas outras que estão arrasando agora e que virão no futuro também.

Ainda tem um longo caminho pra percorrer e muitos obstáculos, mas as mulheres estão tendo cada vez mais coragem pra bater de frente com essa realidade imposta pelo patriarcado. Espero servir um pouco de inspiração pra essas mulheres também, pra todas as artistas que sonham grande e lutam pros seus sonhos virarem realidade.

TMDQA!: “Tô de Partida” é uma parceria com outra mulher forte, a lenda do samba Alcione. Como surgiu a ideia do feat. e como foi gravar a canção?

Karinah: Essa força que você mencionou foi crucial pra essa música existir. Porque desde o começo ela foi concebida pra transmitir essa mensagem de empoderamento que tem sido cada vez mais importante.

As mulheres precisam sentir essa força vinda de diversas formas, principalmente da arte. E uma música tão potente assim só poderia ser com uma mulher forte como eu, que também é uma inspiração tremenda pra mim. Conversando com o compositor, o Valtinho Jota, eu insisti que só gravaria se ela topasse essa parceria comigo. E vibrei demais quando ela aceitou meu convite.

Gravamos com uma energia muito serena, e com a potência que essa composição pedia, isso ficou marcado no videoclipe que lançamos.

TMDQA!: Você pode contar alguma história de bastidores desse processo pra gente?

Karinah: Então, uma curiosidade que acho legal contar é que a música foi gravada em Lá bemol. Inicialmente, nós pensamos em diminuir o tom para ficar mais confortável para a Marrom, mas ela disse: “Que nada! Eu vou cantar lá em cima do coqueiro (risos)”. Então, aqueceu a voz, criou bastante intimidade com a música e cantou lá em cima, numa região muito aguda. E, isso só reforçou que ela é uma fonte de inspiração. Linda, maravilhosa!

TMDQA!: Por fim, o nome do nosso site é Tenho Mais Discos Que Amigos! Quais foram os discos que exerceram o papel de verdadeiros amigos nos momentos mais difíceis da tua vida?

Karinah: Eu tenho alguns discos que basicamente me moldaram pra ser quem eu sou hoje. Brasil Mestiço e outros da Clara Nunes foram a trilha sonora da minha juventude, da felicidade de uma jovem que estava descobrindo tudo o que tinha pra descobrir. Tem também o terceiro álbum da Gal Costa, que foi um dos que me incentivou a querer conhecer melhor ritmos e instrumentos, e entrar pra música de vez. E, claro, tantos álbuns da Alcione, minha musa inspiradora, como E Vamos à Luta e Simplesmente Marrom.

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