Riad Awwad gravando
Foto via Bandcamp/Majazz Project

Por causa da quarentena, o ator e cineasta palestino Mo’min Swaitat, que mora em Londres, ficou isolado por muito tempo em sua cidade natal de Jenin, na Cisjordânia.

Por lá, ele caminhava em ruas tranquilas e, em uma dessas andanças, encontrou fechada a loja de música e gravadora que lhe lembrava da infância, a Tariq Cassettes. Intrigado, Swaitat entrou em contato com o ex-proprietário, que o deixou passar os dias da pandemia vasculhando o arquivo empoeirado de fitas no segundo andar.

Depois de comprar várias das peças que estavam guardadas na loja e levar cinco malas cheias delas para a cidade inglesa, Mo’min se incubiu da missão de digitalizar e relançar o material separado, como contou ao The Guardian:

Eu ouvi 10 mil fitas ao longo de oito meses – muita coisa de sintetizadorez e funk e disco, música de casamento, faixas revolucionárias. Eu até encontrei gravações feitas pelo meu tio, que estava em uma aliança de casamento beduína.

Talvez o mais interessante, no entanto, é que no processo o homem de 32 anos descobriu uma música de protesto gravada durante a primeira revolta que estourou na região da Palestina. O nome do artista que registrou a canção era Riad Awwad, um engenheiro eletricista especializado em equipamentos musicais.

Detido após lançar seu álbum em 1987, ele viu todo o material ser confiscado e passou meses na prisão sendo torturado:

Uma das descobertas mais especiais foi esta fita amarela brilhante sem nenhuma informação, exceto um adesivo com a palavra ‘intifada’ escrita à mão.

Swaitat diz que ouviu o álbum várias vezes, cativado pelas letras poéticas que descrevem uma pátria perdida e a luta pela liberdade.

Apesar de não conseguir encontrar nenhuma informação sobre Riad online, Mo’min entrou em contato com a irmã dele, Hanan, famosa escritora e ativista. Hoje com mais de 70 anos, ela contou ao cineasta mais sobre como a fita, chamada The Intifada Album, surgiu:

Meu irmão era um músico muito talentoso. Ele ficou muito comovido com a intifada e na semana em que começou [em 1987] ele nos reuniu em família na sala de estar em Jerusalém e nos pediu para ajudá-lo a ‘cantar a canção da intifada’. Ele tinha um estilo único e fazia música sobre identidade, o que repercutiu muito em nosso povo. Se você descesse a rua Salah al-Din na cidade velha, todo mundo estava tocando [a música].

À medida que a rebelião popular palestina se tornava cada vez mais sangrenta, Awwad pagou um alto preço por sua arte, já que as letras mencionando coquetéis molotov e arremesso de pedras não agradavam as forças israelenses, que temiam que as canções incitassem as pessoas à violência.

Majazz Project e lançamento digital de The Intifada Album

Ao receber financiamento da Jerwood Arts para iniciar o Majazz Project, uma plataforma virtual dedicada a restaurar a herança musical palestina, Swaitat lançou digitalmente no final de 2021 o The Intifada Album através do selo. A versão em vinil, com lançamento previsto para Abril deste ano, já vendeu metade de sua tiragem. Ele celebra:

A resposta foi incrível. Recebi mensagens de jovens palestinos e da diáspora me dizendo que adoraram ou compraram como presente para seus pais que eram jovens quando [o álbum] foi lançado originalmente.

Riad Awwad morreu em um acidente de carro em 2005. Hanan, sua irmã, lamenta que ele não esteja vivo para ver sua música sendo redescoberta, mas falou que está feliz por saber que o trabalho de Riad agora alcança novos públicos.

Após sua libertação, Awwad fundou uma escola de música para crianças na Cisjordânia e chegou a formar uma banda cujo nome se traduzia para União Palestina.

Que história incrível, né?

Confira a seguir a faixa “I’m From Jerusalem”, de Riad Awwad, no YouTube. Se quiser ouvir o álbum inteiro, basta ir ao Bandcamp do Majazz Project ou conferir o link logo após o player de vídeo.

The Intifada 1987 by Riad Awwad, Hanan Awwad and Mahmoud Darwish

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