Kanye West em 2004
Foto: Theo Wargo

É impossível um artista não possuir referências. A maioria, por sinal, decide seguir caminho na música justamente por conta de canções que ouvia quando menor ou de influências familiares. Nada é por acaso.

Mas nessa trajetória, e especialmente se você quiser ganhar destaque, é preciso encontrar  a sua própria identidade. É claro que isso vale para tudo na vida, mas o universo musical é prova clara de que achar sua própria voz (literalmente) é a receita para o sucesso.

Um exemplo disso é Kanye West. Influente figura para as cenas do hip hop e do pop, ele começou a carreira como produtor musical e se destacou no meio. Após produzir hits de nomes como Jay-Z, Ludacris e Alicia Keys enquanto flertava com diversas estéticas, foi chegada a hora de Kanye entrar de cabeça como intérprete e compositor para lançar seu primeiro disco.

O resultado foi o aclamado The College Dropout (2004), lançado em meio à curiosidade do público e ao pessimismo de figuras da indústria fonográfica que não conseguiam ver Kanye como artista — algo que ele ignorou solenemente para conseguir finalmente encontrar sua sonoridade. O exemplo mais claro disso está em “All Falls Down“, o mais elogiado single daquele disco.

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Separamos abaixo (após o vídeo) algumas curiosidades sobre esse sucesso. Confira abaixo:

 

Lauryn Hill

Kanye West é conhecido por entender muito bem da arte dos samples e da interpolação, ressignificando trechos de outras músicas. Foi o que aconteceu em “All Falls Down”. Para essa canção, o rapper tinha a intenção de samplear “Mystery Of Iniquity“, uma canção de Lauryn Hill tocada durante uma live session. Afinal, quem não é fã de Lauryn?

No final das contas, a equipe da cantora não autorizou Kanye a utilizar a amostra da música em questão. A solução foi replicar a melodia vocal através de um outro intérprete. Não foi por acaso que um dos versos de “Mystery Of Iniquity” se tornou o refrão do hit, dando origem também a seu título. Lauryn também é creditada como co-autora da faixa.

Dito isso, boa sorte para parar de cantarolar “I’m telling you all, it all falls down”!

 

Syleena Johnson

Após ter que decidir entre algumas intérpretes, a escolhida para cantar o refrão foi Syleena Johnson.

Apesar de ser mais reconhecida pela colaboração com Kanye, Syleena já conta com uma discografia encorpada de nove discos de estúdio. O último deles, intitulado Woman, foi lançado no ano passado.

Ela coleciona até o momento dois Grammys e prêmios de destaque como VMA e BMVA.

 

Versões anteriores

Assim como a carreira musical de Kanye como um todo, “All Falls Down” não nasceu da noite para o dia. E existem registros que comprovam isso.

Na mixtape Freshman Adjustment, encontramos uma versão da música com o sample original (ou seja, com a voz de Lauryn Hill). Que feat dos sonhos, né?

Mas saiba que ainda antes, em 2001, antes mesmo de “Mystery of Iniquity” aparecer nos planos do cantor, uma versão muito mais animada foi lançada em The Prerequisite, outra mixtape. Na época, a música era chamada de “Dream Come True“.

 

Materialismo econômico

Liricamente, os versos de Kanye em “All Falls Down” fazem uma análise sobre a insegurança social e sobre os reflexos que isso promove. Um dos exemplos disso é o materialismo econômico, um problema que o próprio rapper admite ter.

A mensagem principal da letra é que fortuna e bens materiais não necessariamente garantem felicidade. Todos os versos trazem à tona essa questão e estabelecem críticas, especialmente no que se refere à visibilidade social dos negros.

Para fomentar seu discurso, Kanye usa também o verso “On the road to riches and diamond rings, real niggas do real things” (“na estrada da riqueza e dos anéis de diamante, negros de verdade fazem coisas de verdade”, em tradução livre). A frase foi dita originalmente por The Notorious B.I.G. na canção “Real Niggas” e também veio a ser usada por nomes como Jay-Z e Nas.

 

Ué, cadê a câmera?

Parte do sucesso da música se deu por conta de seu clipe oficial, muito veiculado na MTV na época de seu lançamento e até hoje carinhosamente lembrado por fãs e até pelos não fãs de Kanye.

A adaptação audiovisual acompanha a perspectiva do personagem interpretado pelo rapper enquanto leva a sua companheira ao aeroporto e se depara com situações estressantes. Só vemos o rosto de Kanye em cenas que mostram objetos refletivos.

O clipe conta com a direção de Chris Milk, que também já dirigiu nomes como Avicii, Johnny Cash, The Chemical Brothers e Courtney Love. Sobre a técnica da gravação em primeira pessoa e a conciliação com cenas de espelho sem que a câmera apareça, Chris contou, em depoimento destacado no livro “Reinventing Music Video”, do autor Matt Hanson:

“A explicação mais simples é que existe uma camada para o ponto de vista dele [de Kanye], uma camada para a imagem que é refletida e mais uma camada para as mãos dele em frente a uma tela verde, para bater com as mãos dele no reflexo.”

 

“Quem gosta de Kanye West? Kel adora Kanye West!”

O clipe também conta com participações especiais que podem passar despercebidas enquanto acompanhamos a visão em primeira pessoa de Kanye. Os rappers Common e Consequence, além de Syleena, aparecem brevemente.

Para fechar o time de convidados com chave de ouro, o ator e comediante Kel Mitchell (conhecido por seu papel no seriado Kenan & Kel) aparece como um carregador de malas, a partir do segundo 25.

Sobre sua participação imprevisível no vídeo, Kel contou certa vez, em entrevista ao HuffPost:

“Eu sou do sul de Chicago e Common morava em uma vizinhança perto da minha. Kanye também morava no sul de Chicago e era fã da série [Kenan & Kel]. O time dele ligou para o meu e eu lembro da ligação até hoje. Eu estava dirigindo em L.A. e eles falaram que eu teria que ir gravar no dia seguinte, às 5h da manhã. […] Até então, nem sabia direito do que se tratava, mas pensei ‘É o Kanye? Estou dentro’.”

 

É hit!

A influente revista SPIN definitivamente virou os holofotes para Kanye em 2004. Em suas aguardadas listas de fim de ano, o veículo colocou não apenas The College Dropout como o melhor álbum do ano, como também deu a “All Falls Down” o título de terceiro melhor single.

Para fins de ambientação, apenas artistas de vertentes diferentes do rock completaram o top 5 daquele ano. “American Idiot“, do Green Day, foi considerado o melhor single de 2004, enquanto Yeah Yeah Yeahs, Franz Ferdinand e Modest Mouse também ganharam destaque.

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