Arctic Monkeys
Foto: Divulgação

A discussão sobre uma hipotética morte do rock é presente há décadas no mundo da música. É inquestionável que o gênero perdeu sua influência comercial, mas ele sempre está por aí, com ótimas produções. Não à toa, suas constantes reinvenções e adaptações permitem ocasionalmente destaques no mainstream e dão nova vitalidade ao tema.

Em 2013, quem protagonizou isso foi a banda britânica Arctic Monkeys. Seu interessante e épico disco AM, o quinto da carreira, foi um estrondo no mundo inteiro e levou o grupo a alcançar um impensável prestígio para uma banda de rock na época.

Apesar do relativo sucesso de todos os singles, foi o carro-chefe do disco, a faixa “Do I Wanna Know?“, a principal responsável por esse repentino sucesso. Com essa repercussão, vieram posições de prestígio nas paradas da Billboard e uma indicação ao Grammy.

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Confira alguns detalhes sobre a história desse hit e algumas curiosidades interessantes logo após o vídeo abaixo!

 

Invadindo a América

Não é qualquer artista britânico que consegue penetrar em território norte-americano, especialmente quando falamos de rock. A cada fenômeno mundial como Oasis ou Beatles, uma outra dezena de bandas de sucesso na Europa não consegue garantir sucesso na América. Blur, The Libertines, The Stone Roses e outras são exemplos que acabaram concentrando seu sucesso apenas na Inglaterra. Assim aconteceu também com o Arctic Monkeys, até uma certa virada de chave mudar o rumo dos acontecimentos.

Esse acontecimento foi o AM, mais especificamente “Do I Wanna Know?”. A música, claramente o maior sucesso comercial da banda até hoje, se afastou do caminho trilhado pela banda até então, mostrando um novo jeito de se compor e produzir.

Para o baixista Nick O’Malley, a receita para a penetração nos Estados Unidos e um consequente destaque mundial seria evitar fazer “a mesma merda indie velha”. Acreditando que tenham se desprendido desse “lugar comum”, o Arctic Monkeys deu origem ao aclamado disco que, de fato, invadiu a América e colocou o grupo nos holofotes da música mundial.

 

Timbaland e os backing vocals

Em entrevista à Q Magazine, em 2013, o vocalista Alex Turner falou sobre o que considera o “ingrediente secreto” desse hit:

“Tivemos a ideia de uma gravação onde você assume a perspectiva de composição de um produtor de R&B e aplica isso para uma banda de rock de quatro integrantes. Assim, você manipula os instrumentos para criar blocos para as músicas. É assim que imagino Timbaland construindo uma música.”

Sob essa nova orientação, a banda passou a explorar outros elementos em prol de uma musicalidade ainda mais completa. Em “Do I Wanna Know?” percebemos a ênfase na contribuição dos backing vocals, especialmente no refrão. O trio de vocalistas de apoio, formado pelos demais integrantes da banda, criou quase que um novo personagem na música. Esse, por sinal, é um elemento muito explorado na produção de Timbaland.

Turner também já falou publicamente que é fã do trabalho da cantora de R&B Aaliyah, cujo maior sucesso, “Try Again” (2000) foi uma produção de Timbaland. Assim como em “Do I Wanna Know?”, os vocais de apoio caracterizam-se quase como uma voz à parte, fazendo uma espécie de dueto com a cantora.

 

Extraindo o suco do single anterior

Muitos encontram similaridades entre “Do I Wanna Know?” e “R U Mine?“, single anterior lançado em 2012 e o primeiro da era AM. Além dos riffs e das temáticas semelhantes, o próprio Alex Turner admite que uma canção surgiu da outra.

Em entrevista ao radialista Zane Lowe, Turner falou que toda a direção tomada pelo álbum surgiu por conta do primeiro hit:

“O disco todo meio que começou com ‘R U Mine?’ na verdade. Nós descobrimos algo ao longo da gravação que nos dizia que aquela era uma canção que valeria a pena explorar. ‘Do I Wanna Know?’ foi a primeira coisa que encontramos nesse caminho.”

Interessante é notar que, mesmo sendo “filha” do primeiro single, “Do I Wanna Know?” foi quem se tornou não apenas o maior sucesso do disco, mas da carreira da banda como um todo. É a canção mais reproduzida nas plataformas de streaming, ultrapassando sucessos anteriores como “Fluorescent Adolescent” e “When The Sun Goes Down”.

 

Clipão

É impossível desassociar a canção de seu clipe envolvente (que também remete à icônica e simples capa do AM). O vídeo assume o formato de uma icônica animação com um tom psicodélico, mas minimalista. Resumidamente, ondas de som se transformam em desenhos imprevisíveis que vão desde uma águia até uma corrida de carros.

O responsável pela direção do vídeo é David Wilson, íntimo do território indie graças a trabalhos com nomes como Metronomy, Tame Impala e Arcade Fire (de quebra, ele também dirigiu “Titanium”, de David Guetta).

 

Clube dos “1 bilhão de visualizações”

Na era do streaming, o sucesso de uma música é medido por cliques e visualizações. Bom, mesmo que esse fosse o único parâmetro, podemos considerar “Do I Wanna Know?” um hit estrondoso.

Mesmo em uma época em que o rock deixou o mainstream, esse clipe atingiu uma marca avassaladora em tempos de muita informação e conteúdo disponível. A música passou de 1 bilhão de visualizações no Youtube, marca atingida por muitos poucos hits categorizados como rock.

Entre os poucos “privilegiados” do mundo do rock a alcançar seu primeiro bilhão em um único clipe estão Nirvana, System of a Down, Linkin Park e Queen.

 

No Grammy

O Arctic Monkeys acumula até o momento 5 indicações ao Grammy, mas sem nenhuma vitória. Na edição de 2015 do evento, lá estava a banda britânica concorrendo, graças ao sucesso de “Do I Wanna Know?”, à categoria Melhor Performance de Rock, uma das mais recentes da premiação.

Por lá estavam também Beck, The Black Keys, Ryan Adams e Jack White (que efetivamente levou o prêmio). No entanto, o fato de que todos os citados são americanos comprova talvez um padrão do maior evento do mundo da música.

Desde 2012, quando a categoria foi criada, apenas um artista britânico levou o gramofone dourado nesse quesito: foi David Bowie com sua icônica “Blackstar“, em 2017.

 

O pior dia da vida das irmãs Haim

Imagine que doido seria se você negasse participar da música de um ídolo? Bom, foi mais ou menos isso que aconteceu com o trio Haim. As irmãs foram convocadas por James Ford, produtor do AM, para fazer backing vocal em “Do I Wanna Know?”.

A ideia era ótima e daria ainda mais visibilidade para o trio, mas elas precisaram declinar a proposta por motivos de timing e, como sabemos, as vozes de fundo ficaram por conta dos próprios integrantes da banda.

Na época, as Haim estavam produzindo o material para seu disco de estreia Days Are Gone. Para elas, esse comprometimento extra, que envolveria todo um tempo de estudo e ensaios, poderia atrapalhar o lançamento do álbum, agendado para setembro de 2013.

Em entrevista, a baixista Este Haim lembrou o episódio, do qual lamenta:

“Cantar em um disco dos Arctic Monkeys seria a realização do nosso maior sonho. Eu lembro quando ‘I Bet You Look Good On The Dancefloor’ saiu e eu e Danielle assistimos ao vídeo, pensando ‘Isto é incrível!”. Foi um dos piores ‘não’ que já dissemos. Talvez esse tenha sido o pior dia da minha vida.”

 

Outras versões

O sucesso esmagador de “Do I Wanna Know?” não poderia passar ileso por tentativas de homenagens, vindas de artistas dos mais diversos estilos.

Só no famoso Live Lounge da BBC Radio 1, dois artistas de peso fizeram interessantes versões ao vivo para a música. A também britânica Dua Lipa se rendeu a uma versão mais intimista do hit, guiada apenas por um piano. Por outro lado, quando Hozier fez sua releitura, o irlandês optou por uma versão mais preenchida, com pegadas de folk e soul.

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