Adam Duritz
Foto por Mark Seliger

Pra muita gente, o Counting Crows é “aquela banda dos hits dos anos 90” ou algo do tipo. Mas, na realidade, o grupo comandado por Adam Duritz é muito mais do que isso e se provou mais uma vez na indústria com seu novo lançamento, o incrível EP Butter Miracle Suite One.

Pensado para ser ouvido do começo ao fim como uma única música, quase que como uma opera rock, o trabalho explora diversos lados da banda que domina como poucos a fórmula do Pop Rock mas, ao mesmo tempo, não tem medo de ousar e experimentar com novas ideias e produzir resultados pra lá de inusitados.

É exatamente isso que aconteceu neste novo trabalho, que atinge a marca de 19 minutos de duração de uma forma quase que imperceptível. A transição perfeita entre uma faixa e outra é um atrativo fantástico, resultado de um período de imersão em uma fazenda em 2019.

Mais ainda, o EP terá um curta-metragem estrelado por Clifton Collins Jr. (Westworld, BallersEra Uma Vez Em… Hollywood) que vai ao ar no dia 9 de Junho através deste link.

Tivemos o prazer enorme de bater um papo com Adam Duritz sobre essa nova obra, bem como sobre os hits do passado e a experiência do vocalista com a indústria musical de forma geral. No final, deu até tempo de palpitar sobre NBA e falar um pouco da icônica participação da banda em Shrek.

Você pode conferir essa conversa na íntegra logo abaixo!

TMDQA! Entrevista Adam Duritz (Counting Crows)

TMDQA!: Oi, Adam! Como estão as coisas por aí?

Adam Duritz: Olá! Por aqui tudo bem, e por aí?

TMDQA!: Tudo certo também! Primeiramente, queria te dar os parabéns pelo novo EP que está muito legal, e é bom demais ver uma banda experiente se reinventando e fazendo algo tão diferente depois de sete anos. O que inspirou essa nova fase e, principalmente, o que te inspirou a voltar a compor? Foi diferente de alguma forma depois de ficar tanto tempo sem?

Adam: Não! Eu acho que eu só não quis escrever por um tempo porque eu só não queria fazer um disco, e eu sei que se eu começo a escrever eu entro nessa “febre” e eu quero continuar escrevendo e gravando e quero lançar… Eu queria ficar um tempinho sem lançar discos. A gente ainda fez turnês e tocou, sabe, mas eu não sei…

Foi interessante porque eu estava na fazenda de um amigo e eu vinha passando muito tempo lá — muito desse tempo sozinho — no meio da floresta, e eu me encontrei querendo tocar piano. E eu aluguei um teclado e dias depois eu já estava escrevendo “Tall Grass”, e quando eu terminei essa canção eu a toquei novamente no dia seguinte e estava tentando ver se eu adicionaria mais alguma coisa ao final… Eu estava pensando se viraria uma música bem maior, tipo “Palisades Park”, que iria crescer e virar algo grande, porque [a ideia era] construir essa música.

E eu comecei a mudar a música no final e eu ainda estava cantando os “I don’t know why”, e aí eu cantei esse verso “Bobby was a kind from ’round the town” e eu pensei “Uau, isso é bem legal, o que é isso?”. Por um tempo eu pensei que seria o começo de um novo “movimento” em uma música maior, como em “Palisades Park”, mas eu logo pensei, “Não, isso é uma outra música. Quão legal seria escrever uma série de músicas onde o final de uma é o começo da outra? Eu poderia escrever uma suíte de quatro ou cinco músicas que fluem juntas assim”.

E eu fiquei muito empolgado com isso. E foi como em outras vezes que eu comecei a escrever, sabe; às vezes é preciso uma razão, algo que me faz querer fazer um disco, e aí eu não consigo parar depois disso. E eu toquei sem parar até escrever todas essas músicas.

TMDQA!: Então assim que você escreveu a primeira música e já engatou essa segunda, todo o resto já foi pensado para se encaixar nessa suíte, é isso?

Adam: Sim, assim que surgiu esse verso que se tornou “Elevator Boots”, isso era tudo que eu queria fazer, escrever a suíte. E cada música levava à próxima música e meio que “informava” o que a próxima música seria, tipo, o final daquela música era algo que servia como causa para a próxima música acontecer.

Elas realmente surgiram naturalmente a partir uma da outra — eu não diria que facilmente, mas naturalmente. Eu estava realmente focado em fazer isso acontecer.

TMDQA!: É bem divertido quando chegamos em “Angel of 14th Street”, porque dá pra sentir que a coisa vai ficando maior, vai incluindo mais elementos e a gente consegue perceber a banda mais engajada com o instrumental. Como foi pra você conceber isso e eventualmente ver tudo tomando forma com a banda?

Adam: Eu meio que tinha muito disso já na minha cabeça. Quando eu estava escrevendo, eu tinha alguns conceitos que eu explicava para os caras; conforme eu mandava as músicas para eles, eu tocava as músicas e tocava também um pedaço da próxima música, pra que eles entendessem para onde aquilo iria. E, sabe, “Tall Grass” parecia uma coisa bem esparsa inicialmente; meio que música Folk britânica que se abria para virar algo diferente, e aí eu realmente achei que com “Elevator Boots” tinha elementos de Mott the Hoople, algumas coisas da carreira do Mick Ronson, do começo de carreira do [David] Bowie, sabe?

E aí… “Angel of 14th Street” foi estranha, porque ela foi inspirada por… Eu estava em um caminhão, indo comprar coisas no mercado um dia com um dos caras que trabalha na fazenda. E eu ouvi a [rádio] BBC tocar uma música nova do Bombay Bicycle Club, que era meio que uma faixa dançante com um sintetizador tocando uma linha melódica, e eu realmente curti a forma como essa melodia ficava por cima de uma batida dançante. É engraçado porque depois, alguns meses antes de agora, eu voltei para tentar descobrir que música era essa — porque eu ouvi no carro, com as janelas abertas, eu só ouvi um pouquinho — e, sabe, eu não conseguia encontrá-la. [risos]

Porque não havia nada no disco do Bombay Bicycle Club que soava como “Angel of 14th Street”! Havia algumas coisas que meio que soavam como o que eu me lembrava — uma melodia sobrepondo uma batida dançante — mas de alguma forma ouvir isso me fez querer fazer essa coisa expansiva, com palhetadas fortes por cima de um groove, sabe?

Eu não tinha nenhuma ideia de onde iríamos com isso, no sentido de o que faríamos, tipo, eu queria que houvesse instrumentos de sopro fazendo [canta a melodia do sopro na música] e fazer algo quase que orquestrado, mas eu ainda fiquei totalmente bobo e surpreso com o que o Charlie [Gillingham] fez com todas as coisas de Mellotron, e as cordas, a flauta, ele me derrubou com isso tudo!

E nós todos contribuímos, enquanto o Charlie estava ali sentado tocando as coisas nós estávamos dando sugestões; “tente este instrumento”, sabe, foi bem colaborativo. E quando eu escrevi… Eu gravei todas as demos [do disco] com o meu iPhone, só com o celular deitado em cima do teclado, de um jeito que dava até pra ouvir os alto-falantes. Mas quando eu gravei a demo de “Angel of 14th Street”, eu deixei uma seção de solo no meio e no final; só que no meio eu estou cantando — e soa ridículo — a parte do trompete [canta a melodia do solo de trompete] e eu pensei que seria trompete, porque parecia certo.

Mas eu não achei que realmente iríamos fazer isso! Porque quando estávamos no estúdio e discutindo sobre o que fazer ali eu disse, “Eu não sei, caras, não precisa ser trompete”, sabe, e eles ficaram, tipo, “Não, não, não, tem que ser trompete!”. A banda insistiu, sabe. [risos] E, sabe, quando cheguei no final dessa música e estava pensando em como seria a próxima música, eu queria algo com grandes power chords, sabe?

A forma como “Bobby [and the Rat-Kings]” começa, sabe, eu nunca sou o caso que escreve músicas… Elas são sempre cheias de palavras, sabe? [risos] As pessoas sempre têm dificuldade pra cantá-las, eu não escrevo aqueles “hinos” com muita frequência, e eu definitivamente não escrevo aqueles hinos de power chord que você vê as pessoas na plateia tocando guitarra aérea. E eu sempre quis escrever algo bem estimulante assim! Uma coisa bem Pete Townshend [guitarrista do The Who], então em “Bobby” eu tinha isso em mente, esses acordes enormes, como o Pete Townshend faria; não como o Tommy [disco do The Who], mas como o Who’s Next, como “Won’t Get Fooled Again”.

Mesmo que a música finalizada me lembre mais da era “Wild and Innocent” do Bruce Springsteen, eu estava pensando no The Who.

TMDQA!: Eu definitivamente consigo sentir o The Who ali!

Adam: E eu acho que o The Who está ali mesmo nas guitarras! Mas a música eu acho que acabou soando mais como “Rosalita” ou “Incident on 57th Street” [canções de Springsteen], pra mim, mas eu tinha esses conceitos todos na cabeça. Era essa a profundidade deles, mas acabou nos dando uma direção para seguir para juntar tudo.

Mas, dito isso, a banda superou e muito as minhas ideias e é tão mais legal do que eu achei que seria! Quando a gente finalmente fez o corte e eu ouvi a coisa toda e funcionou — porque, sabe, é só na sua imaginação essa ideia de uma suíte, você não toca por 19 minutos para gravar, você toca uma música com a banda e um pedacinho da música seguinte e para, sabe — mas quando eu a ouvi [inteira], foi provavelmente o momento mais satisfatório de toda a minha carreira. Eu fiquei tão feliz.

É engraçado. [risos] Quando ouvimos pela primeira vez, éramos eu, o Brian Deck, nosso produtor, e o Immer [David Immerglück, guitarrista da banda] no quarto. Todo mundo tinha ido embora. Quando entrou nos power chords de “Bobby”; quando saímos de “Angel of 14th Street” e veio essa explosão de “Bobby”, eu fiquei tão empolgado que eu só gritei: “BOBBY!!!!”. [risos] Até hoje, quando nos telefones, os caras — o Immer ou o Brian — só me ligam e gritam “BOBBY!!!!” no telefone. [risos]

TMDQA!: [risos] Sensacional! E legal você falar do Brian, porque eu achei que esse disco tem vários elementos que me lembraram bastante o Modest Mouse, com quem ele já trabalhou também — e acredite, isso é um elogio, eu adoro! 

Adam: Ele é muito criativo com eles!

TMDQA!: Sim! E sinto que isso entrou no EP também. Como foi a parte dele, se somando à banda para resultar nessas canções?

Adam: Tem sido ótimo, sabe. Durante toda a minha carreira, eu sempre senti que eu não queria trabalhar com ninguém mais de uma vez. Porque você aprende tanto com cada produtor que eu sempre queria aprender mais. E a primeira vez que trabalhamos pela segunda vez com um produtor foi em Saturday Nights, quando o Gil Norton voltou [depois de Recovering the Satellites] e aí o Brian fez Sunday Mornings.

Eu amei de verdade trabalhar com o Gil de novo — ele é uma das minhas pessoas favoritas, ele fez 60 anos outro dia e eu falei com ele inclusive, ele é incrível — mas o Brian, eu realmente desenvolvi um relacionamento com o Brian. E ele é realmente muito bom com a banda, ele é tão criativo e ele está sempre disposto a experimentar, mas ele também é muito sobre “fazer do jeito certo” e “acertar o som”, tipo, “Vamos encontrar um groove“, “Vamos encontrar uma bateria que funcione”, e ele próprio é um baterista, ele era daquela Red Red Meat e ele é realmente um ótimo músico, muito criativo e muito aberto.

É engraçado porque esse já é o terceiro disco com ele [o terceiro é Somewhere Under Wonderland] e ele também mixou o Underwater Sunshine. Então eu sinto que na última década eu não fiz nada além de trabalhar com o Brian! [risos] E eu realmente amei, virou realmente uma parceria entre todos nós, a banda, o Brian… é tudo muito, muito colaborativo.

TMDQA!: Tudo parece realmente bem encaixado entre vocês, né.

Adam: Sim, e também não parece estagnado! Aqui estamos nós nesse disco, é o quarto que fazemos juntos, e é tão inovador quanto qualquer outra coisa que fizemos; é tão inovador quanto o [This] Desert Life, que foi o disco realmente peculiar e inovador e tem sido simplesmente tão ótimo criativamente, tocar com o Brian. A banda toca de forma muito livre com ele.

Eu acho que em alguns discos a banda ficou um pouco restringida, mas eles realmente tocam de forma bem livre com o Brian de uma maneira muito boa.

Indústria da música, sucesso do passado e importância de Shrek

TMDQA!: Interessante você falar isso, porque já se liga na minha próxima pergunta. Você já mencionou anteriormente que tem uma relação complicada com a indústria da música, porque não é um lugar exatamente fácil para trabalhar. Isso tem a ver por exemplo com alguma pressão ou restrição que tenha surgido depois de vocês terem conquistado alguns hits gigantes? E isso mudou de alguma forma agora que vocês já têm mais anos de estrada, estão mais experientes e tudo mais?

Adam: Não, não! A gente sempre teve o controle criativo completo, e a gente manteve isso implacavelmente. E, honestamente, a única coisa que o sucesso fez — pra mim, pessoalmente — foi nos dar mais controle criativo, tipo, “Se você não nos disse o que fazer no nosso primeiro álbum, você realmente precisa calar a boca no nosso segundo álbum”. [risos]

Mas eu sempre quis fazer só o que eu queria fazer. Não é a parte sobre o sucesso e a pressão que eu vejo como um problema na indústria da música, é o oposto, é toda a frustração que vem quando você fode tudo. Não é sempre a melhor coisa para lidar. Algumas gravadoras são ótimas com isso, outras nem tanto; as regras burras sobre a internet que me deixaram maluco… mas, sabe, a coisa principal é o seguinte.

Escrever e fazer discos é algo incrivelmente pessoal pra mim. Eu coloco minha vida toda nisso. Quando eu escrevo músicas sou só eu; talvez eu e a banda, ou seja, eu e seis dos meus melhores amigos. Quando eu faço um disco, sou eu e seis dos meus melhores amigos. Talvez um produtor do qual eu também sou bem próximo, como o Brian ou o Gil.

Lançar um disco… agora você está trabalhando com um monte de gente na gravadora que não se importa tanto quanto você. Que não faz um trabalho tão bom quanto o seu. Agora você envolve o mundo inteiro e a resposta dele; eu nem sempre quero saber o que o mundo pensa, eu sei o que eu penso. [risos] E eu amo! Eu sei que eu coloquei tudo da minha vida ali, então eu não quero ouvir que você acha que é um pedaço de merda. [risos]

Mas ao mesmo tempo, são muitos humanos! Eu sou estranho perto de outras pessoas, fico desconfortável com outras pessoas, e lidar com todas as pessoas que vêm até você quando você é famoso, isso é desconfortável. Mas o principal é que é algo que é tão pessoal e que de repente pertence ao mundo todo, sabe. É a melhor forma que eu tenho de explicar.

E especialmente nas relações de trabalho que vêm com isso. Quando temos que depender de outras pessoas… Eu poderia depender nessa banda até a porra do inferno congelar, eu sei que eles não iriam me decepcionar. Eu me sinto da mesma forma com os meus produtores, com a minha equipe de estrada, eles nunca me decepcionaram. Eles sempre resolvem.

Quando você faz um disco, de repente, na hora de lançá-lo, muito mais gente acaba envolvida. E isso é muitas vezes bem, bem frustrante. Como por exemplo no outro dia; esse disco não teve nada além de positivos com a gravadora, eles têm sido ótimos. Mas houve uma confusão. Quando eles lançaram o disco, a suíte que nós fizemos — que é sobre quatro músicas que se completam — eles lançaram as quatro versões que acabam!

Porque nós voltamos e pensamos, a gente deveria colocar alguns finais nessas músicas, para o caso de alguma delas virar um single ou caso alguém queira colocá-las em playlists, seria bom ter uma versão que acabasse. Então nós colocamos finais nas músicas, mas eles só servem pra isso: para a rádio e se você quiser colocá-las em playlists, eram faixas bônus.

TMDQA!: Esses são os “single edits”, né?

Adam: Sim! Os single edits deveriam estar ali como faixas bônus, para que as pessoas pudessem colocar em playlists e coisas do tipo. Bom, eles não lançaram a suíte; eles lançaram só os single edits. [risos] E eu fiquei tipo, “Ah, meu Deus”, eu estou esperando esse tempo todo para que as pessoas ouçam essa bela e única coisa que fizemos e ao invés disso o que foi lançado foi algo que soa como o disco de todas as outras pessoas!

Eu fiquei simplesmente… Eu queria me dar um tiro! Eu fiquei tão triste. Eu não dormi por quatro noites. O disco saiu à meia-noite de uma quinta-feira; um minuto depois eu percebi, [eu tinha ido] no Twitter falar, “Ei, pessoal, o disco sai em dois minutos, não deixem de conferir!” e, no minuto seguinte, eu fui lá conferir e estava errado. Eu fiquei simplesmente horrorizado!

É isso que eu quero dizer. Foi só uma falha de comunicação, mas nunca teria acontecido internamente. Mas aconteceu, e não é completamente culpa deles, mas se todos nós tivéssemos… Foi só frustrante.

TMDQA!: Como você disse, por mais que seja tudo ótimo, não são as pessoas que têm as mesmas ligações com as músicas que vocês.

Adam: E nem foi realmente tudo culpa deles, sabe? O Brian ficou confuso com o que entregar pra eles, se nós tivéssemos discutido tudo teria sido consertado. Mas não fizemos isso e aconteceu. E eles têm sido muito bons! Eles fizeram todo o possível para arrumar isso na hora, e daqui um dia ou dois todos nós vamos ter esquecido que isso aconteceu, mas entende o que eu quero dizer?

É a diferença entre sermos só nós e ter mais pessoas. Mesmo pessoas — como eu disse, é uma das melhores gravadoras com quem que já trabalhei. Esses caras [BMG] e a Capitol, em Somewhere in Wonderland, eles foram fantásticos, é inacreditável o quão bom foi trabalhar com eles, as duas vezes. Mas ainda assim são outras coisas, uma corporação que não é você nem seus melhores amigos.

TMDQA!: Voltando um pouco nessa questão dos hits, vocês tiveram dois pontos muito altos da carreira. O primeiro, claro, foi “Mr. Jones”, mas o segundo foi bem curioso por ter sido com a música do Shrek! “Accidentally in Love”, um clássico. Como foi lidar com isso, em especial por ter sido tanto tempo depois de “Mr. Jones”? E outra coisa… foi um pouco estranho ter o nome de vocês associado ao filme — por mais que seja sensacional?

Adam: É interessante que eu não tinha percebido isso. [risos] Esse disco é a primeira vez que eu fiz várias entrevistas com o Brasil e o que eu percebi nos últimos dias com essas entrevistas do Brasil é que realmente houve dois pontos altos na nossa carreira, com “Mr. Jones” e Shrek!

Porque nos EUA não foi assim, sabe! A gente teve uma carreira de sucesso — e o Shrek foi muito grande, claro — mas pra mim, quando me pediram pra fazer, eu disse que queria ver o filme mas já aceitei, por vários motivos. E aí eu fui lá e eles me mostraram tipo três quartos do filme, e aí me mostraram storyboards e me contaram o resto.

E eu disse “sim” porque o negócio é o seguinte: você quer fazer coisas que são atemporais, que duram pra sempre. Nada dura mais do que um ótimo filme de animação. Minha avó viu Branca de Neve, minha mãe viu, eu vi, se eu tiver filhos eles vão ver; essas merdas duram cem anos! É tipo Poochini, essas coisas duram pra sempre, sem falar em quão bom era.

O primeiro filme já tinha sido ótimo, o segundo parecia ainda melhor. Eu achei que era melhor ainda do que um dos — além da Pixar, o Shrek era o melhor filme animado que alguém tinha feito em sei lá, 30 anos. Tirando os da Pixar que são todos brilhantes. Mas enfim, a oportunidade de ser parte disso, de algo que vai durar pra sempre, era boa demais para recusar.

E foi bem difícil, porque eu não escrevo dessa forma. Eu nunca escrevo com um tema em mente. Mas eu tive que escrever com algo em mente porque eles precisavam de algo específico naquele momento, e eu tive bastante dificuldade com isso; mas ao mesmo tempo eu fiquei intensamente orgulhoso disso. É uma música tão boa! Ela é incrivelmente alegre e também um pouco amarga, sobre como às vezes essas coisas não são certas, mas ainda é uma música bem carinhosa sobre o amor.

Não é o tipo de coisa que eu normalmente escrevo, mas é muito boa! Mas não, eu nunca tive um momento em que… Bom, eu recebi críticas sobre isso, mas fodam-se eles. Eles queriam poder fazer isso! [risos] Se você vai criticar o Shrek, vai lá você criar algo na sua vida que seja minimamente comparável ao quão bom aquilo é, porque ninguém fez. É tão bom. Sabe, filmes inteligentes que todas as idades podem ver? Boa sorte! [risos]

Então, digo, eu tenho um orgulho intenso disso, a gente recebeu sim críticas por isso, mas meu sentimento era de “Ah, vá se foder”, você vai nos criticar por qualquer coisa e é isso. Vá pro inferno. [risos]

Futuro do Counting Crows e apostas sobre os campeões da NBA

TMDQA!: Bom, esse novo disco é chamado de Suíte Um. Então quer dizer que vamos ter uma Suíte Dois também?

Adam: Eu acho que vai ter sim. Eu não escrevi com isso em mente, eu só queria tentar e ver se dava certo, e eu amei. Eu acho que quando estava pronto eu mandei para alguns amigos, tipo… acho que foi o Chris Carrabba, do Dashboard Confessional, e o David Le’aupepe, do Gang of Youths, são dois dos meus melhores amigos e eu tenho quase certeza que mandei pra eles bem antes de qualquer outra pessoa além da banda — quando eu escrevi as músicas, não quando acabamos, mas também quando acabamos.

E em algum momento eu acho que foi um deles que disse, “Você vai fazer outra suíte?”, e eu falei, “Sim”. Só porque eu decidi que iria naquele momento. [risos] Quando a gente terminou [esse disco] eu estava tão feliz que quando alguém me perguntava se ia rolar outra suíte, eu dizia que sim. Eu não terminei nenhuma música ainda, mas eu tenho grandes pedaços de duas delas prontos e alguns pedacinhos de outras também e eu vou voltar para a fazenda em algumas semanas e vou tentar terminar por lá.

TMDQA!: Agora eu queria mudar de assunto porque você participou do podcast do Bill Simmons sobre a NBA outro dia e eu preciso saber: quem você acha que vai ganhar esse ano?

Adam: Ah, eu não sei, o [Golden State] Warriors está fora e eu não ligo mais. [risos] Os meus dois times preferidos são os Warriors e o [Boston] Celtics, e os Celtics até estão nos playoffs agora mas deve perder para o Brooklyn Nets. Mas, ao mesmo tempo, o meu amigo Sean [Marks] — que eu conheço desde os 18 anos de idade quando ele veio da Nova Zelândia para jogar basquete na Universidade da Califórnia, Berkeley, onde eu estudei — virou o gerente dos Nets, então eu acho que vou torcer por eles.

E eu também amo o Kevin Durant. Amo o KD. Ele é o melhor. Então se não vai ser nem os Celtics nem os Warriors, eu vou com os Nets.

TMDQA!: Alguma chance de eu te convencer a entrar na onda do Luka Dončić e do Dallas Mavericks? [risos]

Adam: Eu na verdade amo o Luka Dončić, eu acho que ele é fantástico! Ele é um baita jogador! Eu nunca fui fã do Dallas Mavericks, mas eu também amo o [Kristaps] Porziņģis, eu acho que ele é tão bom. E eu também gosto bastante do Mark Cuban [dono da equipe], eu acho que ele é um cara legal.

Sabe, agora eu sou meio que só um fã; os Warriors e os Celtics estão fora então eu estaria perfeitamente feliz… A última vez que o Dallas venceu [em 2011], meu amigo Jason Kidd estava jogando no Dallas e eu o amo, e eu amo o Dirk [Nowitzki].

TMDQA!: Eu comecei a assistir à NBA por conta do Dirk, por isso acabei virando torcedor de Dallas. E agora temos o Luka e eu não poderia estar mais feliz. [risos]

Adam: O Dirk é o cara mais legal, sério. Ele vai aos nossos shows de vez em quando, ele é um cara muito gente boa. Eu tenho um pouco de carinho pelo Dallas por conta dele e por ele ter jogando com meu amigo Jason, lá de Cal. Eu ficaria feliz com os Mavericks. Eu só não quero que sejam os [Los Angeles] Lakers. [risos] Se os Lakers não ganharem, tudo bem por mim.

TMDQA!: [risos] Acho que podemos concordar nessa! Adam, o nosso tempo acabou mas muito obrigado pelo papo sensacional. Espero que possamos nos falar de novo em breve!

Adam: Eu que agradeço! Tenha um bom dia e até mais!

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