Laura Pausini em Sanremo, 2018
Foto de Laura Pausini via Shutterstock

Por Rohmanelli e Tony Aiex

Quando, em 1993, vi pela primeira vez Laura Pausini no Festival de Sanremo cantando “La Solitudine”, ela era uma desconhecida de 19 anos. Parecia uma menina qualquer do interior da Itália que, logo após sair da aula foi estrear em um dos maiores e mais
importantes palcos da musica internacional sem muita produção. Sinceramente, não me chamou muito a atenção, apesar da voz pra lá de afinada.

Com certeza ela tinha uma espontaneidade e simpatia imediatas, o tal do “X Factor”, e uma das coisas que já mostrou logo de cara é que ela comunicava muito. Acabou conquistando todos e ganhando logo de cara na categoria “Giovani” (artistas emergentes). A música virou hit imediato, Pausini assinou contrato com gravadora, vieram milhões de cópias no mundo inteiro, versões em muitas línguas, parcerias com estrelas do pop internacional, os vários Grammys, o Golden Globe e agora o Oscar.

Laura Pausini no Oscar

É claro que de lá pra cá se passou muito tempo, e a talentosa cantora nascida em Faenza, cidade da província de Ravenna com pouco menos de 60 mil habitantes, trilhou uma carreira que já dura quase 30 anos e, agora, chega a outro momento épico.

Amanhã, dia 25 de Abril de 2021, Laura Pausini poderá se sagrar vencedora do Oscar por conta da canção “Io sì (Seen)”, escrita ao lado de Diane Warren e Niccolò Agliardi.

Trilha sonora do filme italiano Rosa e Momo, que conta com outra superstar italiana e planetária, Sophia Loren, a bela canção foi indicada na categoria de Melhor Canção Original, tornando-se a primeira da história a concorrer sendo toda cantada em italiano.

Poderíamos dizer, que citando um certo outro filme famoso, “è Nata una Stella”, ou “Nasce Uma Estrela”, já que os números e feitos de Laura em toda sua carreira até aqui são pra lá de significativos.

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Carreira de Laura Pausini

Seu primeiro disco, Laura Pausini (1993), vendeu 3 milhões de cópias só em seu primeiro ano de lançamento. Em seu segundo álbum, ela gravou canções em espanhol para conquistar o mercado musical da Espanha e da América Latina, onde se tornou quase mais famosa do que na Itália.

Em 1994, foi eleita pela Billboard a segunda maior revelação daquele ano, perdendo
apenas para Mariah Carey. No Brasil, faz sucesso desde 1994 com suas canções lançadas primeiro em castelhano nas rádios e, em seguida, em italiano, sendo que algumas delas foram regravadas por artistas daqui: “La solitudine” e “Strani Amori”, por exemplo, foram eternizadas por Renato Russo. “Non c´è” e  “Incancellabile” foram traduzidas para o português.

Em 02 de junho de 2007, Laura tornou-se a primeira mulher a fazer um concerto no estádio San Siro, em Milão, para um público de 75.000 pessoas.

Até hoje, ela já vendeu cerca de 75 milhões de cópias mundialmente e está nas listas de recordistas de vendas de discos, além de ter inúmeras certificações mundiais por vendagens de álbuns, mais de 170 discos de platina, 50 de ouro e 5 de diamante.

Poderíamos seguir falando sobre os cinco Grammys, Europe Awards, Billboard Awards e mais, porém é preciso falar que o que parece mais importante é essa trajetória única, mas possível, feita de muito trabalho e muita verdade.

A história de Laura Pausini se parece com o clássico “American Dream”, ou seja, aquele/aquela artista que sai da periferia do mundo, do anonimato, e consegue, tijolinho após tijolinho, ascender na escada do sucesso e do estrelato internacional. A star is born: é isso mesmo, não é um filme, não é retórica, não é uma história adolescente, romântica; é a realidade, os sonhos se realizam sim, mas não por acaso.

A vida musical da artista italiana começou ainda criança, com oito anos, nos bares da cidadezinha de Solarolo, minúscula província da região de Emilia-Romagna, quando, acompanhada pelo pai músico, Fabrizio Pausini, se apresentava no formato piano e voz interpretando clássicos da música mundial: de Frank Sinatra a Anna Oxa, exercitando já uma versatilidade musical e linguística (fala fluentemente inglês, espanhol e português) que a levariam, de fato longe, muito longe.

Essa facilidade em comunicar com o outro, essa empatia inata, é típica dos habitantes da Emilia-Romagna, região de origem da nossa Laura, assim como de muitos outros grandes artistas internacionais como Pavarotti, Lucio Dalla, Raffaella Carrá, Vasco Rossi, Ligabue

É uma simpatia quase ingênua, uma filosofia de vida genuína, imediata, concreta… e aqui está a receita do sucesso poderoso e consistente dessa trabalhadora incansável.

Grande parte desse sucesso advém também da popularidade adquirida em formatos televisivos e também graças a apoiadores ilustres como Barbra Streisand que se apaixonou pela voz da italiana e a introduziu ao showbizz hollywoodiano; ou como Madonna, que escreveu música para ela.

Laura fez duetos e parcerias com o melhor do pop internacional: Bocelli, Kylie Minogue, Ivete Sangalo, Ennio Morricone, Michael Bublé, James Blunt, Charlez Aznavour

Laura tem sucesso pois encarna a italianidade, aqueles valores do italiano que são amados no mundo inteiro, espalhados pelos milhões de italianos que emigraram, buscando trabalhar e sobreviver, pulverizando fronteiras de todo tipo: a melodia italiana, o bel canto, a simpatia, a genuinidade, a família, a sinceridade… a falta de estrelismo, mesmo sendo uma estrela planetária.

Só o fato da indicação ao Oscar já é uma vitória, e essa vitória não é somente muito importante para a cultura italiana no mundo, porque reaviva a influência da música italiana que vem de Domenico Modugno, Rita Pavone, Pavarotti e que tinha se apagado um pouco até ela chegar; essa vitória representa, também, uma vitória da língua italiana, uma vitória das línguas não hegemônicas, num domínio total da cultura anglo-americana.

Uma vitória dos outsiders que não se contentam com a vida limitada da província, dos que sonham grande sem se tornar arrogantes, que trabalham duro para lapidar o próprio talento e se entregam a ele totalmente.

Lembro que numa entrevista, Laura comentou sobre essa sua constante produtividade, sobre o fato de se entediar depois de dois dias de férias, de como não consegue entender como uma pessoa pode passar tantas horas deitada na praia fazendo nada, algo impossível para ela, que tem tantas ideias, projetos e vontade de criar arte.

Laura Pausini é tudo isso e merece tudo o que alcançou e que ainda vai alcançar. É um exemplo motivador para muitos jovens artistas.

Esse Oscar significa muita coisa e sua música é realmente bonita e tocante. Eu a admiro muito e a agredaço muito, apesar de não ser fã de carteirinha dos seus hits, pois não precisamos gostar da música de alguém como um grande fã para torcer por ele/ela.

Será que amanhã a estatueta vai para a Europa?

Oscar 2021

Laura Pausini está concorrendo com H.E.R. (“Fight For You” / Judas e o Messias Negro), Daniel Pemberton (“Hear My Voice” / Os 7 de Chicago), Rickard Göransson, Fat Max Gsus e Savan Kotecha (“Husavik” / Eurovision Song Contest) e Sam Ashworth e Leslie Odom Jr. (“Speak Now” / Uma Noite em Miami…).

De qualquer forma, poderemos vê-la nos palcos virtuais do Oscar 2021, já que Laura Pausini e Diane Warren farão uma apresentação cantando “Io sì”.

 

Rohmanelli é artista há dez anos. Italiano, vive no Brasil desde 1998 e nos últimos meses lançou o album [Brazil’ejru] . Atualmente se prepara para gravar seu novo disco no Rio de Janeiro com produção de Jonas Sá e Thiago Nassif. 

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