MC Fióti

O Brasil, com sua poderosa cultura antropofágica, foi capaz de ressignificar símbolos em algo completamente novo, de acordo com a nossa peculiar realidade social. Isso se aplica com força no mundo da música e não nos faltam exemplos. Vai desde a incorporação de elementos do jazz norte-americano ao samba da bossa nova até a curiosa mistura entre hardcore e forró no chamado forrocore.

Não existem regras ou limitações: tudo é válido e ajuda na imagem do Brasil como um país plural. Uma dessas felizes misturas aconteceu com o funk, que hoje é parte importantíssima do nosso vasto universo musical.

Você pode até já ter optado por não dançar esse estilo em alguma festa, mas, em plenos anos 2020, chega a ser um mico ignorar a relevância de um movimento cultural que lançou centenas de artistas relevantes, criou uma indústria, deu voz a quem não tinha e que, cada vez mais, projeta o Brasil no cenário internacional da música.

A partir da mistura de estilos e temas, deu-se origem a algo completamente novo e inovador para a realidade musical brasileira.

De DJ Marlboro a MC Fioti, são mais de 30 anos do funk brasileiro, e vamos resumir
para vocês um pouco dessa história. Solta o som, DJ!

O Funk de James Brown versus O Funk Brasileiro

A primeira confusão que vem à mente de qualquer gringo (ou mesmo brasileiro) quando falamos de funk diz respeito ao que seria o funk “original”, como aponta estudo conduzido pela Betway, site de roleta online.

Criado em meados dos anos 60, o gênero, que bebeu das águas do soul, do jazz e do R&B, deu origem a nomes consagrados como James Brown, Miles Davis e mais. Tem como principais características o baixo dominante, o ritmo sincopado e batida marcante, criando uma atmosfera facilmente dançável.

Mas é notável que existem muitas diferenças em relação ao funk que nós adotamos por aqui. Antes de seu sucesso radiofônico, o movimento era totalmente concentrado nas comunidades cariocas desde a década de 70. Os famigerados bailes funk, nessa época, incorporavam o funk e o soul em setlists dançantes. O passar do tempo fez com que outros gêneros se destacassem nessas sets, como a onda da disco music mais na parte final da década.

A coisa toda ganhou mais “corpo” na década de 80, quando os bailes passaram a ser influenciados pela dançante onda do Miami bass, vertente do hip hop à qual muitos associam o poder rítmico pelo qual conhecemos hoje o nosso funk. É também dessa época que datam as primeiras gravações oficiais de funk no país.

Um dos principais nomes para a popularização desse movimento é Fernando Luís Mattos da Matta, também conhecido como DJ Marlboro. Ele produziu e lançou, em setembro de 1989, o disco Funk Brasil. Foi um marco não apenas para o funk, como também para a música brasileira. Se conhecemos, cantamos e amamos os hits atemporais de nomes como MC Leozinho, MC Sapão, Mr. Catra e mais, devemos muito a este momento.

Em entrevista exclusiva para a Betway, Marlboro falou sobre como, desde o início, visualizava o gênero ganhando proporções nacionais:

O meu plano para o funk era que ele fosse um movimento nacional, com visibilidade internacional, para gerar emprego no Brasil inteiro. Queria que cada região colocasse características locais nas suas músicas, que espelhasse aquilo que as pessoas respiram, seu cotidiano, seu dia a dia. A cultura local está entranhada no funk.

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A questão social: “ter a consciência que o pobre tem seu lugar”

O papel fundamental do funk na nossa cultura não é à toa. Afinal, não estamos falando apenas de ritmo e melodia. Como toda vertente musical, o funk também tem seu papel social importante. Dando voz a classes menos favorecidas (visto que o movimento surgiu em comunidades), o funk foi uma forma fiel para que pessoas antes sem voz registrassem suas vivências. Dilemas, pensamentos, dificuldades, alegrias…

Um funk de papel importantíssimo nesse contexto foi “Eu Só Quero É Ser Feliz”, interpretado pela dupla Cidinho & Doca. Ao mesmo tempo que tem a rítmica do funk, a música faz uma crítica sobre a desigualdade social e o abismo entre as oportunidades enquanto é dito o desejo de “andar tranquilamente na favela onde eu nasci”.

A violência, presente no cotidiano de moradores dessas localidades, é o tema principal do “Rap do Silva”, do MC Bob Rum. Não à toa, ambos esses hits envelheceram como grandes clássicos da história do funk brasileiro.

A crítica social permanece como um dos grandes temas do funk. No ano passado, por exemplo, MC Cabelinho lançou o interessantíssimo disco Ainda, recheado de retratos da realidade.

Até por conta disso, muitos comparam o surgimento e a ascensão do funk com o que aconteceu com o samba décadas antes. Ambos os gêneros sofreram preconceito das classes mais abastadas por terem sua origem em lugares mais pobres. Bom, o samba se tornou um dos maiores legados da cultura brasileira. Se o funk seguir o mesmo caminho…

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Outros temas: do humor ao empoderamento feminino

O funk tem sido um espaço para se falar sobre os mais diversos temas, que podem ser usados como “carteiradas” para quem argumenta que o movimento só fala sobre sexo.

Algumas músicas, por exemplo, geram boas gargalhadas. Quem não lembra da “Dança do Quadrado”, música que, de forma despretensiosa, viralizou no final da década de 2000?

Até um humor mais politicamente incorreto teve seu momento de holofote, quando a “Dona Gigi”, d’Os Caçadores, se tornou uma emblemática personagem do cancioneiro nacional. A descontração pode vir até na forma de uma letra mais simples, como aconteceu com MC Bin Laden na divertida “Tá Tranquilo, Tá Favorável”.

O funk também tem sido um lugar importante para que mulheres possam se afirmar. Isso vem, na verdade, desde que Tati Quebra-Barraco, ao longo dos anos 2000, se tornou uma potência do funk nacional.

Muitas vezes registradas como objetos de desejo dos homens (inclusive em alguns funks bem famosos), hoje elas são responsáveis por boa parte (se não a maioria) dos hits. MC Carol, em meados da última década, lançou o grande sucesso “Meu Namorado É Maior Otário”, MC Mirella, outro nome de reconhecimento, também usa a temática feminista em suas letras de sucesso. Isso sem falar de Valesca Popozuda, primeira vocalista a fazer sucesso com um grupo de funk (a Gaiola Das Popozudas), conhecida por falar abertamente de sexo do ponto de vista feminino.

Mas as temáticas não param por aí. O funk é deixa para se falar sobre qualquer coisa. Afinal, o maior hino pró-vacinação não é justamente a adaptação de, pasmem, um funk? Obrigado, MC Fioti!

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Liberdade corporal: “eu não quero ninguém parado”

O Miami bass, desde sua origem, sempre foi associado à erotização, por conta de sua batida e letras provocativas. Ao incorporar o gênero na fórmula do funk brasileiro, as músicas, quase de forma natural, evocavam dança e movimento. Mesmo que indiretamente, também traziam consigo uma ideia de liberdade.

Mais profundo do que simplesmente a ideia de “mexer a raba” ou as insinuações sexuais, o funk sempre foi visto como uma forma de tirar o ouvinte do maçante cotidiano. E isso se dá das mais variadas formas, desde a coreografia divertida e intuitiva de “Um Morto Muito Louco” (Jack e Chocolate) até o acelerado beat 150bpm que caracteriza boa parte dos hits atuais.

Como se a contribuição com o mundo da música não bastasse, o funk também tem sua importância na vertente artística da dança. Seja o famoso quadradinho, a febre do passinho, a icônica “serrada no ar” ou até mesmo as coreografias pré-prontas, é tudo um reflexo da incrível capacidade do funk de mexer com nossas almas e mentes.

Sabendo dançar ou não, o gênero vai te consumir.

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Comercialização e subgêneros: “ritmo agressivo, 150 fluiu”

Ok, mas como o funk cresceu e tomou as proporções que tem hoje? Como que ele desceu o morro, chegou no asfalto e “reasfaltou” a música brasileira?

Diversos são os motivos além, é claro, do talento de seus intérpretes e compositores. Ao longo do tempo, algumas mídias de sucesso ajudaram a propagar artistas e canções. Foi o caso da Furacão 2000, que ao longo dos anos 90 teve espaço em emissoras de rádio e televisão. Também foi o caso da Kondzilla, produtora focada em funk que é hoje o maior canal brasileiro no Youtube.

Não tardou para as grandes gravadoras começarem a investir no funk, apesar da maioria absoluta dos hits surgir de forma independente. Com o tempo, assim como todo gênero influente, o funk ganhou subgêneros. O funk melody foi um ótimo exemplo disso, com letras mais românticas e beats mais leves. É o contrário do proibidão, que retrata a realidade violenta das favelas e que hoje também é associado a canções com uso excessivo de palavrões. Em meados da última década, o funk ostentação, mais centrado em São Paulo, impulsionou uma nova cena, que conta com nomes como MC Guimê e MC Gui. Mais recentemente, o brega funk e o eletrofunk surgiram para dar uma refrescada na estética do gênero. Mas nenhuma revolução, pelo menos até hoje, foi tão grande quanto a que vem sendo proporcionada pelas batidas aceleradas do funk 150bpm.

Isso tudo sem falar, é claro, que o novo pop brasileiro tem utilizado o funk como uma de suas principais raízes. A prova disso é o holofote em nomes relevantes como Ludmilla, MC Rebecca, Pedro Sampaio, Lexa e, é claro, Anitta. Novos nomes pop, que incluem Luísa Sonza, Gloria Groove e Pabllo Vittar, podem até não ser categorizados como artistas do funk, mas suas obras certamente pescam na dançante estética do gênero.

Enfim, a expansão mercadológica e a importância cultural do funk só aumentam a cada dia que passa. É como dizia Tati Quebra-Barraco: “Quem gostou bate palma. Quem não gostou, paciência”.

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