Radiohead -

Há exatos 20 anos, em 2 de Outubro de 2000, o Radiohead dava um passo gigantesco para a música moderna.

Kid A chegava ao mundo com um viés fortemente experimental e vindo de uma banda que, poucos anos antes, havia se estabelecido como queridinha do Rock alternativo inglês graças a sucessos como “Creep” (do Pablo Honey, 1993) e “Karma Police” (do OK Computer, 1997).

O grupo liderado por Thom Yorke não se encantou com o sucesso, no entanto, mas sim com a possibilidade de usá-lo para se arriscar de vez em uma sonoridade ainda nova — pelo menos no mainstream, já que nomes como Boards of Canada Aphex Twin já serviam como fortes influências ao que viria no Kid A.

Kid A e o experimentalismo no mainstream

Basta ouvir as primeiras notas de “Everything in Its Right Place” para saber que o novo trabalho do Radiohead não iria se assemelhar em quase nada às obras anteriores. As guitarras foram substituídas por sintetizadores, as melodias vocais foram se tornando mais repetitivas e sem grande coesão e por aí vai.

Mas isso não era novidade para os fãs. Kid A foi um dos primeiros discos a “sofrer” com o Napster e o compartilhamento de arquivos online — entre aspas porque, para Yorke, ver fãs fazendo downloads ilegais e curtindo versões ao vivo das músicas enquanto jornalistas brigavam por cópias do disco para resenha era bastante divertido.

A forma como o grupo lidou com essa situação, aliás, diz muito sobre a pegada vanguardista que foi explorada no álbum. Um verdadeiro prenúncio do futuro próximo e não-tão-próximo, a obra abordava temas que inicialmente eram vistos como absurdos mas que logo foram se tornando cada vez mais realidade.

O mais curioso, no entanto, é que o disco passou a ser conhecido como um ícone da cena cult. Mas isso é mais um delírio coletivo do que qualquer outra coisa: logo que chegou ao mundo, Kid A atingiu o primeiro lugar das paradas e seu sucessor Amnesiac (2001) teve vendas até melhores, de tanto que os fãs curtiram a nova pegada do Radiohead.

A crítica também o aclamou, entregando o Grammy de Melhor Álbum Alternativo ao grupo e o indicando à prestigiada categoria de Álbum do Ano.

Ainda que algumas de suas canções não sejam tão fáceis de digerir, como “The National Anthem” e sua repetitividade ou “Treefingers” e sua rápida transformação em som ambiente, o fato da banda estar surfando na onda de seu próprio sucesso ajudou a criar um contexto em que mais pessoas se esforçassem para ouvi-lo mais de uma vez e entender tudo que está por trás dessa concepção.

20 anos de Kid A

Olhando para os dias atuais, é difícil imaginar um mundo em que Kid A não exista.

Certamente uma geração de pessoas foi apresentada a um mundo completamente novo quando o escutou pela primeira vez — novamente, graças ao sucesso de seus trabalhos anteriores, o Radiohead atingiu um público com o qual os outros vanguardistas da época (como os já citados acima Boards of Canada e Aphex Twin) não conseguiam ter contato.

O experimental passou a ser aceito e, mais do que isso, cobrado: o público, em grande parte, não se satisfaz mais quando uma banda entrega dois, três, quatro discos com material extremamente semelhante. Claro, há exceções, mas se reinventar virou praticamente uma regra para garantir longevidade na música.

É engraçado que Kid A vive uma espécie de dicotomia existencial em relação ao seu próprio sucesso.

Um disco concebido com a intenção de afastar o Radiohead da atenção comercial virou não apenas um dos mais vendidos do grupo, como também um ícone cult daqueles que se tornam tão populares que geram rejeição entre os mais puristas — o que é descolado às vezes deixa de ser quando chega ao público geral, afinal de contas.

Mas foi justamente essa transição que permitiu que ele se estabelecesse não apenas como um disco de uma banda que buscava experimentar coisas novas mas também como uma influência para tantos outros artistas da época e até hoje.

Com Kid A, o Radiohead provou que nem sempre você precisa saber muito bem o que está fazendo para fazer. Talvez, o amadorismo (quase) intencional seja o grande charme desse histórico e eterno trabalho.

Aproveite para relembrá-lo neste dia especial!

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