Beyoncé, Muddy Waters, Beatles, Rolling Stones e The Mamas and the Papas

A cultura é um organismo vivo que, assim como nós, está sujeito ao tempo e, logo, a mudanças. Hábitos deixam de ser hábitos de uma hora para outra, assim como novos tendências surgem e passam a ditar padrões. Tudo acontece de forma muito rápida, especialmente desde o surgimento da internet.

Tome como exemplo a lista da Rolling Stone com os 500 maiores discos de todos os tempos. Em uma atualização recente, oito anos após a última versão divulgada, novos personagens surgiram e outros sumiram. Alguns tiveram seu merecido reconhecimento enquanto outros perderam a relevância. Afinal de contas, muita coisa mudou em quase uma década.

Vale enfatizar, é claro, que trata-se da opinião de um veículo influente a partir de um time especializado que não é o mesmo de 2012. Mas, considerando-se o impacto que a lista e suas atualizações tiveram ao longo dos últimos anos para a indústria, revolvemos destrinchá-la com o objetivo de descobrir algumas informações.

Alguns pontos facilmente perceptíveis são a consagração de What’s Going On, de Marvin Gaye e a queda de discos influentes dos Beatles (especialmente Revolver e Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band). Também receberam holofote nomes relativamente jovens na história da música, como Frank Ocean, Drake, Adele e Fiona Apple. No entanto, diante de todas as alterações da polêmica lista, quem mais se deu bem? Quem mais saiu prejudicado?

 

A lista atualizada da Rolling Stone

Para chegar a essa conclusão, calculamos a diferença entre as posições das listas divulgadas em 2012 e 2020 para cada um dos 666 (sim) discos contemplados. Caso determinado disco não esteja em uma das listas, consideramos a posição imaginária 501, para facilitar os cálculos. Por exemplo: se o álbum X ficou na 498ª colocação em 2012 e não foi incluído na versão de 2020, consideramos a diferença de 3 posições.

Aqui, vamos destacar os cinco maiores saltos e as cinco maiores quedas, de acordo com o time escalado pela Rolling Stone. São os lançamentos que mais se afastaram de suas posições em 2012. Isso pode ajudar a chegar a conclusões sobre a atemporalidade e a pontualidade de determinados álbuns, ou até mesmo sobre a confiabilidade uma lista. Confira abaixo:

 

5ª maior queda – Trout Mask Replica (Captain Beefheart & His Magic Band, 1969) – 441 posições

O terceiro disco da banda experimental Captain Beefheart & His Magic Band é o típico disco subestimado. Isso porque teve vendas baixíssimas na época de seu lançamento, em 1969, falhando em ganhar espaço nas principais paradas musicais. No entanto, de acordo com o levantamento feito em 2012, Trout Mask Replica ganhou prestígio ao aparecer na 60ª posição, à frente de trabalhos de bandas como Guns N’ Roses, Radiohead e U2.

Muito disso se deve ao uso não convencional de elementos musicais que questionam padrões tonais e rítmicos (isso sem falar na duração de mais de uma hora). Mas, passados oito anos, a tal “obra prima incompreendida” acabou sendo deixada de lado da nova versão da lista. Uma pena!

 

5º maior salto – Hounds of Love (Kate Bush, 1985) – 433 posições

Por falar em experimentações, o art rock proposto pela cantora britânica Kate Bush ganhou o merecido destaque dentre as seleções para compor a lista de 2020. Lançado em Setembro de 1985, há pouco mais de 35 anos, Hounds of Love é, de fato, um de seus melhores discos.

Após uma ótima repercussão na época de seu lançamento original, o disco (assim como todo o trabalho de Bush) não tinha ainda conquistado esse reconhecimento de ser considerado importante para a história da música. Isso tudo mudou com a atual lista, que põe este disco na  68ª posição.

 

4ª maior queda – Chronicle: The 20 Greatest Hits (Creedence Clearwater Revival featuring John Fogerty, 1976) – 442 posições

Podem ficar calmos! O Creedence Clearwater Revival continua sendo uma das bandas mais influentes da história. O que a Rolling Stone fez, nesta atualização da lista, foi remover o disco Chronicle: The 20 Greatest Hits, lançado em 1976.

O álbum deu as caras na revisão de 2012 do ranking, na 59ª posição, mas desceu a ladeira literalmente para a nova versão. Talvez o fato de ser um compilado de grandes sucessos, sem a narrativa convencional de um disco, possa ter contribuído para isso.

A edição de 2020 da lista contempla o CCR com outros dois discos. Willy and the Poor Boys, de 1969, subiu mais de 100 posições em comparação ao último levantamento. Já Cosmo’s Factory, de 1970, é uma nova adição que estreou na 413ª posição.

 

4º maior salto – Aquemini (OutKast, 1998) – 451 posições

Lançado em 1998, Aquemini, do duo OutKast, já estava inserido na lista de 2012, mas literalmente na última colocação. A nova equipe responsável pelo ranking, no entanto, tratou de levar o disco para o topo. Agora, na visão do veículo, este é o 49ª melhor disco de todos os tempos.

O álbum foi guiado pelo grande hit “Rosa Parks“, mas também conta com os singles “Skew It on the Bar-B” e “Da Art of Storytellin’ (Pt. 1)“. No mais, a obra ajudou a consolidar Atlanta no mapa do hip hop norte-americano, o que já vinha sendo feito pela dupla nos dois discos anteriores.

 

3ª maior queda – The Anthology (Muddy Waters, 2001) – 445 posições

Podemos dizer que Muddy Waters, o “pai do Chicago blues moderno”, foi um dos artistas que mais sofreu com a atualização da lista. Em 2012, ele tinha três discos em destaque: Muddy Waters at Newport (1960), Folk Singer (1964) e o disco póstumo The Anthology (2001).

Na nova versão, apenas o terceiro é contemplado, e em uma posição bem abaixo do esperado. De 38º, The Anthology caiu para 483º. No entanto, o legado permanece vivo. De fato, caso as novas gerações queiram conhecer mais sobre o trabalho de Waters, este disco duplo é um ótimo resumo de suas influentes composições.

 

3º maior salto – Voodoo (D’Angelo, 2000) – 453 posições

Ao contrário do lendário Muddy Waters, o cantor D’Angelo ganhou ainda mais visibilidade na nova versão da lista. Em 2012, ele marcou presença graças ao seu elogiadíssimo disco Voodoo, lançado em 2000. O álbum ficou na 481ª posição, mas a nova versão o colocou várias posições à frente. Agora, trata-se do 28ª melhor disco de todos os tempos, à frente de discos influentes de nomes como Beatles, Jimi Hendrix e Michael Jackson.

Brown Sugar, disco anterior na cronologia da carreira de D’Angelo, também ganhou destaque no ranking atualizado, estreando na 183ª posição. Na internet, alguns criticaram e outros concordaram com o “enaltecimento” do cantor.

 

2ª maior queda – Please Please Me (The Beatles, 1963) – 462 posições

Todos que comentaram sobre a lista (inclusive a gente) logo repararam na brutal queda do disco Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, que foi da 1ª para a 24ª posição. Se isso significa que, pelo menos sob o critério do time responsável pela atualização da lista, os Beatles estão perdendo sua relevância, não sabemos. Mas um fato é que o “Sargento Pimenta” não foi quem mais caiu com a lista.

Dos 10 discos da banda que marcaram presença em 2012, todos desceram posições, com exceção do Abbey Road, que foi da 14ª para a 5ª. Um deles, por sinal, sequer deu as caras na versão de 2020. Estamos falando de Please Please Me, o disco de estreia do quarteto. Antes na 39ª posição, o álbum simplesmente desapareceu do ranking atual.

 

2º maior salto – Lemonade (Beyoncé, 2016) – 469 posições

Hoje, Beyoncé é, sem dúvidas, um dos maiores nomes da música mundial. E talvez já fosse em 2012, na época da última versão da lista, mas seus álbuns aparentemente ainda não tinham o status de “obra de arte”. Bom, se alguém ainda tinha dúvidas sobre isso, o álbum visual Lemonade provou o contrário.

E não foi só ele! A lista ainda deu grande destaque para o disco homônimo de 2013, que estreou na 81ª posição. De fato, Beyoncé é uma artista que certamente merecia maior espaço dentro da lista, dada a sua importância cultural. De uns tempos para cá, qualquer lançamento de sua autoria já nasce lendário!

 

Menções honrosas

Antes de revelar os que mais se distanciaram de suas posições na lista de 2012, confira mais alguns discos que se deram muito bem ou muito mal na avaliação do ranking atualizado.

  • Queda – Out of Our Heads (The Rolling Stones, 1965) – 385 posições
  • Salto – Back to Black (Amy Winehouse, 2006) – 418 posições
  • Queda – If You Can Believe Your Eyes and Ears (The Mamas & the Papas, 1966) – 389 posições
  • Salto – Blonde (Frank Ocean, 2016) – 422 posições
  • Queda – Back to Mono (Phil Spector,  1991) – 424 posições
  • Salto – Jagged Little Pill (Alanis Morissette, 1995) – 432 posições

 

1ª maior queda – The Complete Recordings (Robert Johnson, 1990) – 479 posições

Mais um compilado de sucessos que não se deu muito bem na revisão da lista, e mais uma lenda do blues que perdeu espaço. Estamos falando de Robert Johnson, o homem que ficou conhecido por vender sua alma para o diabo para conquistar uma carreira de sucesso, que serviu de inspiração para nomes como Muddy Waters e Howlin’ Wolf.

The Complete Recordings, gravado entre 1936 e 1937 e lançado oficialmente em 1990, era a sua única contribuição para a lista de 2012, na respeitada 22ª colocação. No entanto, o álbum ficou de fora da nova versão. Para fazer jus ao legado de Johnson, a lista ganhou uma nova representação de sua obra no ranking. King of the Delta Blues Singers, de 1961, entrou na lista ao ocupar a 374ª posição.

 

1º maior salto – To Pimp a Butterfly (Kendrick Lamar, 2015) – 482 posições

Impacto cultural não é algo que se mede facilmente como uma unidade de medida em uma conta matemática. Quando avaliamos um disco, diversas variáveis estão envolvidas, desde a produção técnica das músicas até o contexto e o impacto social do período em que foi lançado. Felizmente, Kendrick Lamar é um dos poucos artistas que fazem todos darem as mãos em concordância.

Seu talento é inquestionável e certamente serviu de inspiração para várias artistas que estão surgindo atualmente. Não à toa, seus três discos mais recentes entraram na atual versão da lista da Rolling Stone, desde good kid, m.A.A.d city (2012) até DAMN. (2017). O destaque aqui, no entanto, fica com o avassalador To Pimp a Butterfly (2015), que estreou na 19ª posição.

Em uma década cheia repleta de questões políticas e sociais, Kendrick se mostrou um dos mais poderosos nomes da nova cena, em músicas empoderadoras, inteligentes e críticas, cultivadas com beats envolventes e com um flow afiadíssimo. Máximo respeito!

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