Editorial

Em 2014, U2 colocava novo disco em todos os iPhones do mundo e causava furor

O dia 9 de Setembro é um dia marcante para o U2 e para a Apple, que fez uma de suas manobras mais controversas até hoje.

Nessa data em 2014, a gigante dos eletrônicos realizava seu evento de lançamentos e, logo após anunciar o iPhone 6 e a primeira edição do Apple Watch, Tim Cook apresentava uma surpresa para o mundo todo: um novo single da lendária banda irlandesa.

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Uma matéria da AppleInsider relembra o discurso de Cook para introduzir os músicos:

Uma década atrás, nós começamos uma profunda colaboração com uma das melhores bandas de todos os tempos, e essa banda é o U2. O U2 concordou em tocar para vocês hoje, e nós não poderíamos estar mais empolgados com isso. O U2 está entre os artistas mais respeitados do mundo, entre os mais vendidos, e eles ganharam mais Grammys do que qualquer banda no mundo.

Essa colaboração de uma década citada por Tim é em referência à relação próxima do vocalista Bono com Steve Jobs, sendo que o músico é creditado por ter apoiado a ideia de uma loja do iTunes e ainda tendo participado de um comercial, justamente em 2004, para o iPod.

Até ali, a noite corria bem: a banda tocou “The Miracle (of Joey Ramone)”, foi elogiada por Cook e aí começou o desastre. O anúncio de um novo disco, que viria a ser Songs of Innocence, veio logo em seguida e Bono afirmou que gostaria de fazê-lo chegar “ao maior número possível de pessoas”.

O desastre de Songs of Innocence

A ideia final foi, então, revelada ao público. Todos os mais de meio bilhão de pessoas que usavam o iTunes na época iriam receber, naquele exato dia, o disco de forma gratuita em sua biblioteca.

Acontece que isso não foi exatamente bem recebido por todos — até porque várias pessoas não queriam nem saber do U2, e sentiram que seus espaços pessoais foram invadidos pela manobra. Já os fãs que não possuíam produtos Apple também tinham dificuldades, já que o disco ficou exclusivo na plataforma da empresa por mais de um mês.

Estima-se que a Apple tenha gasto cerca de US$100 milhões para convencer a banda, já que essa estratégia envolveu fazer o grupo abrir mão de tudo que eles venderiam de forma gratuita por um álbum extremamente aguardado.

Os números mostram que cerca de 33 milhões de pessoas ouviram o disco em sua primeira semana, o que certamente é uma bela marca. Ainda assim, é fato que muitas pessoas simplesmente estavam tentando entender o que acontecia, e em especial em países como os Estados Unidos a repercussão foi bastante negativa.

De uma forma ou de outra, o que aconteceu foi que Songs of Innocence foi (musicalmente) deixado de lado e tomado por outros debates, como o da privacidade. A situação é uma pena, já que o trabalho é sem dúvidas um dos melhores da fase moderna dos irlandeses e as canções foram ofuscadas por tudo isso.

Tanto o U2 quanto a Apple resolveram fazer essa manobra arriscada e, possivelmente, os dois lados saíram perdendo — ainda que a empresa tenha sido provavelmente a maior perdedora. E você, o que achou disso tudo na época e agora?

Por Felipe Ernani e Tony Aiex

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