Aquiles Priester
Foto por Alex Solca (via aquilespriester.com)

Conhecido como um dos maiores bateristas do Brasil, Aquiles Priester teve uma passagem icônica pelo Angra e gravou alguns dos trabalhos mais aclamados da banda como Rebirth (2001) e Temple of Shadows (2004).

A relação entre Aquiles e os outros integrantes rendeu muitos frutos musicalmente, isso é incontestável. Mas, pelo menos pelo que explicou recentemente o baterista, surgiram diversos problemas nos bastidores que o fizeram deixar o grupo em 2007.

Em uma nova transmissão ao vivo da TV Maldita, Priester avisou que contaria a história de sua conturbada saída com detalhes caso algum fã doasse R$500 para a campanha de arrecadação que beneficia trabalhadores do backstage da indústria musical, o que aconteceu em poucos minutos.

O músico cumpriu a promessa e citou nominalmente outros integrantes como o guitarrista Kiko Loureiro e o baixista Felipe Andreoli, expondo todas as tretas internas daquele momento na sua visão.

Segundo ele, o principal problema era que ele estaria tendo mais atenção do público do que o restante do Angra, e os shows da banda estariam virando “workshop do Aquiles”.

Você pode ler o relato completo do baterista, que promete desenvolvê-los ainda mais em um documentário sobre sua carreira, logo a seguir. A transcrição foi feita pelo Whiplash, e a fala foi publicada inicialmente nesta matéria.

Ao final, você confere o vídeo em que tudo isso foi falado — o trecho em questão está por volta da marca de 1h26min.

Explicação de Aquiles Priester sobre saída do Angra

Me chamaram para uma reunião do Angra, no Fran’s Café, na rua da Agência Produtora. Falaram que a gente iria sair da Rock Brigade Records para trabalhar com essa empresa e me chamaram para fazer a reunião e falar sobre os próximos passos da banda.

Na época, na feira da música, que foi em setembro de 2007, eu estava lançando meu livro, ‘Inside My PsychoBook: 100 Double Bass Patterns’. Lembro que o Kiko chegou na mesa, viu, e conversamos sobre o livro. Enfim, vou direto ao assunto – e isso eu nunca falei, estava planejando falar somente no meu documentário, que possivelmente vou falar com mais detalhes.

O Kiko disse: ‘então, a gente está pensando em fazer um acústico’. E eu falei: ‘porra, legal, a gente já fez um acústico outra vez’. A gente fez só um show acústico, no Teatro do Sesi, na Paulista, e estourou a boca do balão.

Aí o Kiko falou: ‘só que eu acho que se a gente fazer um acústico, você sempre vai querer botar uma bateria maior no palco, aí gera estresse com roadie, que não consegue montar as coisas em tempo… então, acho que a gente deveria fazer uma votação para ver quem quer que você fique na banda’. Eu falei: ‘mas vocês deveriam falar antes, pois eu vim em uma reunião para a gente pensar no futuro’.

E ele: ‘pois é, mas está foda, o show do Angra virou workshop do Aquiles; você se levanta, as pessoas gritam seu nome, a gente fica parecendo coadjuvante no palco, sendo que estamos há mais tempo na banda; então, vamos fazer uma votação para ver quem acha que você deve ficar’.

O Felipe estava puto comigo na época porque eu não iria ficar no Almah, que era a banda do Edu [Falaschi, vocalista] na época. O Edu me chamou e eu falei que ficaria até lançar o disco do Hangar, ‘The Reason of Your Conviction’ [2007]. Quando lançou, eu coloquei todas as forças do Hangar entre o final de 2007 ao início de 2012. Nessa época, o Hangar era a fonte principal de renda – ou de despesas – da minha vida.

O Kiko começou a votação e disse que votava para eu sair. O Felipe também votou para eu sair. O Edu votou para que eu ficasse. Então, a escolha ficou para o Rafael [Bittencourt, guitarrista]. Ele disse: ‘mesmo se eu votasse para ficar, ficaria empatado, mas eu acho que poderia dar outra chance para o Aquiles, então, acho que é uma decisão de cabeça quente’.

O Kiko começou a martelar, dizendo que já sabiam como seria, por eu já ter minha carreira, fazer workshop, ter merchandising à venda nos shows. Ele disse para o Rafael: ‘você tem que pensar bem nisso, você e eu estamos na banda desde o começo’. Então, o Rafael votou para eu sair.

Eu falei: ‘então tá’. Levantei da mesa, apertei a mão de cada um, desejei boa sorte e saí. Quando eles falaram aquilo, vi que a mentalidade era muito tacanha e pequena. Os caras não entendem que uma banda é formada por… uma banda.

O Kiko, no momento em que percebeu que as pessoas começavam a gritar meu nome mais, ficava puto. Ele falava: ‘não levanta da bateria antes do show; agita, mas agita no seu lugar’.

Muitas vezes, teve briga no backstage, na hora da montagem, porque os caras falavam: ‘abaixa o praticado da bateria do Aquiles’. Estava tudo ligado a isso. A gente tinha um praticado que a gente levantava até um metro. Chegava em show [maior] tipo Via Funchal, o praticado estava em 40 centímetros. Eu pedia para levantar um metro. Na passagem de som, reclamavam, mas ninguém vinha falar comigo.

Pediam para tirar meu mascote [polvo], porque não tinha nada a ver com o Angra. Antes do show, o Marquinhos [provável responsável pela montagem] chegava e dizia que o polvo não estava lá. Eu dizia para ele falar para o tour manager: ‘ou o polvo volta, ou o Aquiles volta para o hotel’.

Comecei a bater de frente, porque era coisa de muito filho da puta. Na minha cabeça, acho que o Iron Maiden é o Iron Maiden porque tem as cinco pessoas. Tem um brilho maior no Bruce [Dickinson, vocalista] e no Steve [Harris, baixista], mas os outros caras são fundamentais para que a banda seja o Iron Maiden. Essa mentalidade [de achar ruim que um integrante está brilhando] é muito burra.

Chegaram a falar para o empresário que deveria contar os pratos que eu tinha da Paiste, microfones, caixas, porque a banda tinha que ter um percentual daquilo, pois eu estava ganhando tudo de graça. Já estava tudo fodido.

Quando falaram que iria votar [pela saída], eu já sabia, porque o Edu já tinha me falado que na turnê do ‘Aurora Consurgens’ [2006], quando foram fazer a viagem, a promo trip, o Kiko já tinha falado: ‘será que a gente não deveria arrumar outro baterista?’. O Edu falou: ‘você é louco… o Aquiles é um puta batera, carismático, as pessoas gostam dele’. Esse foi o principal problema: as pessoas gostavam de mim.

Pediam para eu não me levantar, para as pessoas não gritarem meu nome, mas eu sentava, acabava ‘Angels and Demons’ ou ‘The Temple of Hate’, que são músicas para um baterista de verdade tocar ao vivo, eu levantava só a mão – não levantava do banco, só a mão. Quando viam aquilo, começavam a levantar a mão. E aí eu perguntava: ‘e aí, o que eu faço, fico abaixado ou me levanto?’. Os caras ficavam se olhando e aí eu me levantava. Aí rolava um desgosto [risos].

É por isso que eu falo o seguinte… quando as pessoas perguntam se eu voltaria para o Angra, eu digo que não. Mas… não vou falar mais nada [risos].

[…]

Não sei por que, mas o Angra é o tipo de banda que parece que eles querem que o humor seja aquele: ninguém feliz. Tem que estar foda. Aquilo foi a gota d’água. Falaram para eu sair e eu: ‘beleza, vou fazer minhas coisas’. E tenho feito. Graças a Deus, minha carreira está super bem, vivo bem de música, consegui vir para fora do país. Amo o Brasil, amo os meus fãs, mas para dar um passo adiante na carreira, tive que fazer isso. Mas os 4 anos que estou morando aqui, não teve um ano que deixei de ir ao Brasil.

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