Entrevistas

“É muito fácil ser honesto”: CeeLo Green expõe intimidade em novo disco e conversa com o TMDQA! sobre álbum

A marcante voz de CeeLo Green, que você certamente conhece pelo seu hit solo “Forget You (F**k You)” ou pela gigante “Crazy”, do seu projeto Gnarls Barkley, ganhou um novo significado em seu mais recente álbum.

Com produção de Dan Auerbach (The Black Keys, The Arcs), …Is Thomas Callaway faz jus ao nome e traz o artista em sua presença mais honesta, completamente sincero e aberto em relação à sua intimidade. É um disco de Thomas Callaway, interpretado por CeeLo Green.

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Explorando fortemente as raízes de CeeLo no Soul e no Gospel, o tradicional som do Sul dos Estados Unidos é facilmente identificável através das músicas. Ele é o sucessor de Heart Blanche (2015), e definitivamente recoloca Green em merecida evidência consolidando sua posição como a maior voz moderna do Soul.

Com uma pegada positiva e inspiradora, o álbum como um todo parece uma jornada de redenção e é daqueles que prende o ouvinte até chegar ao fim — tanto pela qualidade da história contada como pela forma em que ela é narrada, além de ser extremamente agradável de ouvir.

Felizmente, pudemos conhecer um pouco mais dos bastidores desse incrível trabalho em um papo exclusivo com o artista, e você confere essa entrevista completa logo abaixo!

Entrevista com CeeLo Green

TMDQA!: Oi, CeeLo! Queria começar te agradecendo por seu tempo e espero que esteja tudo bem por aí. O novo álbum está realmente incrível e nos mostra um retorno às suas raízes. O que te inspirou a expor esse lado da sua música agora?

CeeLo Green: Olá! Bom, para ser totalmente honesto eu acho que é algo que eu sempre fiz. Acho que a questão é que agora eu adicionei coisas a isso e fiz isso com mais frequência. Mas no fim das contas, independente das circunstâncias, você tem que se expressar, sabe? Ser verdadeiro e tratar a música como uma espécie de oração, eu diria. Eu sinto que é quase uma obrigação me expor de variadas formas, às vezes de um jeito até um pouco grandioso. [risos] Assim, eu tenho noção da realidade, mas na minha cabeça é grandioso, sabe? Os sentimentos, as emoções, a possibilidade de trazer qualquer coisa que seja culturalmente relevante… algo que pode ser apreciado por anos a fio.

Eu acredito que daqui 150 anos, esse álbum vai soar como se tivesse 150 anos de idade, porque ele representa uma realidade de agora. E isso é muito bom!

TMDQA!: Sim, entendo! E esse disco também mostra uma versão muito crua do CeeLo Green. Até no título, que remete à pessoa por trás — o Thomas Callaway. E isso é muito sentido nas músicas, fazendo com que muitas pessoas se identifiquem com tudo que está nesse álbum. Como foi essa abordagem? Foi difícil expor esses sentimentos de forma tão crua?

CeeLo: Não, é muito fácil! É muito fácil pra mim ser honesto. Eu não escondo nenhum segredo das pessoas que me ouvem, sabe? Eu quero que elas me conheçam na minha totalidade. Eu não quero que haja nenhuma dúvida, porque eu acredito no que eu sou! E você precisa mostrar provas se você quer que as pessoas acreditem em você, e é isso que eu tento fazer, sabe? E eu acho que a minha música, o meu som, é um chamado para que as pessoas façam mais. Então eu vou continuar, periodicamente, dizendo às pessoas: isso é possível. Sabe? Porque as pessoas muitas vezes marginalizam o que é possível sendo um homem negro, uma pessoa negra.

E acho que as pessoas muitas vezes tentam se reduzir — se resumir às nossas experiências urbanas e coisas do tipo. Eu acredito que nós somos seres muito etéreos. Mesmo! Eu sinto que em grande parte dessas experiências, nós somos apenas os hospedeiros dessas experiências, por isso que vira essa coisa etérea. E se você se focar, se você quiser, você consegue transformar essas experiências em orações, meditações. E antes que você mesmo perceba, tudo isso toma forma e você passa a ter um ser vivo. Por isso que esse álbum é tão genuíno e autêntico, me entende? Não é uma paródia, não é uma coisa nostálgica, não é uma coisa que remete ao passado. É o aqui e agora.

TMDQA!: Muito disso que você estava falando me leva a uma outra questão. Temos um mundo hoje com muita tensão, com muita coisa pesada acontecendo que, torcemos, vai trazer muita mudança nos próximos tempos. Sinto que o novo álbum é o tipo de música que ajuda a aliviar essas tensões e traz um pouco de paz e esperança para as pessoas. O que você sente com isso?

CeeLo: Eu sinto propósito. Eu me sinto feliz que o meu chamado está sendo ouvido e está fazendo a diferença na experiência de alguém, levando um sorriso a alguém ou até mesmo estabilidade. Eu sei que todos nós dependemos de música para nos ajudar a ficar de cabeça erguida, seguir em frente.

Então, eu não quero ser o elemento que perpetua negatividade ou destruição. Eu quero ser a voz da música, da alternativa, que motiva o movimento progressivo pra frente e a construção, me entende? É real.

CeeLo Green… Is Thomas Callaway

TMDQA!: Bom, em questão de sonoridade, acho que o Dan Auerbach tem uma mão forte no seu novo disco. Ele tem realmente se estabelecido como um dos grandes produtores dos últimos tempos, né. Como foi trabalhar com ele e com a equipe que ele trouxe para o álbum?

CeeLo: Eu nunca tinha trabalhado em um projeto tão tranquilo na vida. Eu nem sabia que estávamos fazendo algo formal, que teria o meu nome, entende? Eu fiquei em choque, porque o Dan — como ele mesmo disse — me deu essas músicas como um “presente”. Ele disse: “Esse é o meu presente pra você, porque eu acredito que você é um dos melhores cantores vivos de Soul”, sabe? E você tem que entender o quanto isso é grande, porque em questão de propriedade intelectual, todo indivíduo tem seu próprio território. Então o Dan ter me dado isso foi demais.

E eu acho que você tem que entender também que um produtor tem essa capacidade de transformar um território em uma casa. E é como se eu tivesse ido — e de fato fui [risos] — a uma grande terra rural e transformado tudo aquilo em casa com o Dan. É um bom jeito de enxergar isso. Você tem que apreciar a audácia disso.

TMDQA!: Apreciamos demais! Olha, além do Dan, você tem colaborado com tantas pessoas ótimas nos últimos anos. Mac Miller, Tyler, the Creator… Tantos jovens talentosos. E sempre há uma grande conversa sobre a música não ser a mesma há tempos, “o velho é melhor”, essas coisas. Mas não parece que você acredita nisso, pois você tem estado ali com essa nova geração. Como é a sua relação com essa nova leva de músicos?

CeeLo: Eu… olha… eu tenho uma relação de amor e ódio, eu acho. [risos] Porque você não pode não apreciar e amar a forma como essa geração conseguiu se apropriar e controlar e ditar o curso da música profissional. Seja entendendo a tecnologia que está sendo usada, porque eles são muito bons em entender as técnicas, as coisas sistemáticas mesmo, o campo de jogo, os termos e condições, a matrix. Eles decodificaram tudo. [risos] Então, sei lá… é conteúdo e não composição, sabe?

E assim, quando eu digo isso, eu entendo que existe uma grande linha de pensamento por trás das progressões de acordes, de todos os panos de fundo para essas canções, então você não tem como não apreciar tamanha dedicação e atenção ao detalhe, sabe? A indústria é como uma bolsa de valores — uma coisa que eu aprendi assistindo ao Lobo de Wall Street é que isso tudo é muito arriscado e caro, então a indústria é uma coisa um pouco mais acessível, com uma linha de lucro maior. E eu acredito que o que puxa a indústria hoje, tipo, não haveria outros gêneros hoje sem o Hip Hop. Vivemos em uma era onde o Hip Hop domina o mundo.

Há prós e contras para isso. Eu queria… eu traria de volta grandes grupos, como o Earth, Wind & Fire, essas grandes bandas, sabe? Mas não dizendo que isso deve rolar, porque se você consegue imaginar o quão caras eram essas produções… agora o Hip Hop pode ser feito em um laptop, sabe? É a forma de arte mais barata de fazer que existe, e digo isso de um jeito positivo. E ao mesmo tempo é mais do quatro vezes mais lucrativo! Então os jovens têm mais à sua disposição, mas a arte é muito descartável, até por isso.

Essa é a grande sacada. A música não é histórica. Ela não vai se transformar e ser lendária, durar uma vida inteira — mas esses jovens não estão nem preocupados, não sabem nem se vão viver uma vida inteira. Todo mundo está vivendo pelo momento, fazendo o corre pelo momento. A música é um produto de um certo tipo de ambiente, mas não precisa ser necessariamente isso. Poderia ser o produto da sua imaginação também, me entende? A sua mente é um território também, é sua propriedade intelectual.

Essa é a minha única preocupação. Então, assim, se eu continuar recebendo o apoio e o sucesso que venho tendo, eu me comprometo a manter a música que eu tanto amo viva. Tudo isso vai continuar vivo através de mim. E espero que os outros se juntem nas formas como acreditam. E aos jovens, todo poder a eles! Eu espero que eventualmente aconteça alguma epifania e que eles possam interagir com a música de verdade, com as emoções, com as cores. Mas é aquilo, você só tem uma vida e tem que achar um significado nisso.

Futuro e possibilidade de novo disco do Gnarls Barkley

TMDQA!: É isso, né? CeeLo, o papo está ótimo mas infelizmente estamos ficando sem tempo. Queria primeira agradecer por ter nos atendido e, pra fechar, te perguntar sobre o Gnarls Barkley. Os rumores de um novo disco tem se intensificado. Tem alguma novidade?

CeeLo: Olha, a gente se fala o tempo todo — eu e o Danger Mouse — e ele me ligou outro dia e ele estava muito feliz com o novo projeto com o Dan. Porque ele e o Dan também estavam trabalhando juntos, enfim. E eu achei isso bem legal porque o Danger Mouse é super hiper crítico de tudo. Sei lá, ele se acha o maioral da porra toda. [risos] Então ele leva um tempo para sair da sua proteção e da sua própria forma de ver as coisas às vezes, sabe?

E há muitos artistas assim, é verdade, já trabalhei com vários assim. E é difícil, mas é aquela coisa: quando eles estão certos, eles estão certos. Então eu acredito nas opiniões dele, na tenacidade dele, então é algo que vale a pena esperar — e eu sou uma pessoa paciente! [risos] Eu só quero me manter ativo, e vou encontrar várias formas de fazer isso enquanto espero.

Mas, pra responder a sua pergunta, a gente já trabalhou em algumas várias músicas. Acontece que ainda não tivemos a oportunidade de simplesmente sentar e dar a devida atenção ao Gnarls, porque até agora tem sido sempre uma coisa meio “Beleza, fizemos isso, agora eu preciso ir lá fazer outra coisa”, uma coisa meio multitarefa.

É uma questão realmente circunstancial, não é como se não quiséssemos fazer algo ótimo, sabe? Claro que queremos, mas ao mesmo tempo também tem toda a questão de que parece que estamos tentando nos superar e isso é algo complicado, ter ciência disso e de todo o sucesso que tivemos nos faz ficar com essa pulga atrás da orelha. As expectativas são tão grandes que são meio fora da realidade, tanto de nós mesmos quanto dos outros.

Published by
Felipe Ernani