The Clash - Sandinista

O movimento Punk foi um dos mais importantes na música e na sociedade dos Anos 70 e 80 e não há como negar a influência das bandas britânicas e norte-americanas do período no mundo todo.

Pois os ingleses do The Clash, na opinião deste que aqui escreve, foram os mais criativos e sólidos entre os maiores do gênero, e hoje falaremos sobre um clássico que completa 40 anos de lançamento em Dezembro de 2020.

 

The Clash e London Calling

Em 1979 a banda liderada por Joe Strummer havia lançado seu disco de maior sucesso com London Calling, que além da faixa título ainda conta com pérolas como “Train In Vain”, “Spanish Bombs”, “Clampdown” e “Revolution Rock”.

Apesar de várias dessas canções terem grande apelo comercial, o álbum já tinha um formato que não era lá dos mais fáceis a ser comercializado pela gravadora da banda, já que se tratava de um disco duplo.

Vale sempre lembrar que na época isso significava prensar o dobro de discos de vinil e vender o lançamento por um preço parecido com os outros, já que para o fã de música em geral, nem sempre mais músicas significavam um investimento maior.

Pois um ano depois, enquanto esperava-se que o grupo voltasse com um formato mais tradicional e outros hits, o Clash mostrou que mesmo estando em uma major label e sendo seguido por milhões, carregava o Punk em suas veias.

Sandinista!

Foi em 12 de Dezembro de 1980 que o quarto disco da carreira da banda veio ao mundo, mas o processo até ali não foi nada fácil por vários motivos.

Primeiro deles: a banda fazia questão de carregar seu posicionamento político na capa e no nome do álbum, fazendo alusão aos Sandinistas da Nicarágua.

Foi com esse nome que ficaram conhecidas as pessoas que seguiram e se afiliaram à Frente Sandinista de Liberacíon Nacional, partido político socialista batizado para homenagear Augusto César Sandino, homem responsável pela resistência contra a ocupação dos EUA no país nos Anos 30.

O número de catálogo de Sandinista!, inclusive, é “FSLN1”, carregando as iniciais do partido.

Não bastasse a resistência dos executivos da CBS para lançar um álbum com essa mensagem logo de cara, o The Clash ainda decidiu que gostaria de disponibilizar o disco ao mundo em formato triplo.

É isso mesmo, caro leitor: após ouvirem reclamações sobre um álbum duplo, os colegas de Strummer, Mick Jones, Paul Simonon e Topper Headon bateram o pé dizendo que gostariam que todas as músicas que gravaram para o registro fossem disponibilizadas.

Quando a gravadora falou que isso não seria possível, eles usaram um exemplo caseiro, inclusive, para “tirar sarro” da gravadora.

Isso porque após sofrerem para convencer os chefes de que London Calling deveria sair em disco duplo, viram isso acontecer facilmente com The River, de Bruce Springsteen, menos de um ano depois.

Quando ficaram sabendo disso, avisaram que o próximo disco seria triplo e ainda havia outra demanda: vendê-lo pelo menor preço possível.

É claro que isso não foi bem recebido pelo selo, que teria que triplicar a produção e baixar o preço, e a lenda diz que um acordo foi feito para que a banda não recebesse quaisquer royalties das vendas das primeiras 200 mil cópias do álbum e 50% do restante dos lotes.

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Gêneros Musicais e Ausência de Hits

Por fim, há outra grande questão envolvendo Sandinista! que é a sua adequação ao “mercado” e o caldeirão de influências que podemos ouvir por ali.

Com 36 faixas, foram lançados três singles com “The Call Up”, “Hitsville UK” e “The Magnificent Seven”, sendo que é possível cravar que só o último tinha caráter comercial e, mesmo assim, não muito.

Para “ajudar”, uma versão reduzida chamada “Sandinista Now!” foi enviada para as rádios e à imprensa, contendo canções como a cover de “Police On My Back”, “Junco Partner”, “Ivan Meets G.I. Joe” e mais. A primeira chegou a virar single nos EUA também e teve certo sucesso comercial.

O álbum é repleto de elementos diversos como reggae, experimentalismo, dub, rockabilly e até uma belíssima valsa chamada “The Rebel Waltz”, uma das tantas canções de Sandinista! que carregam um aspecto sombrio nada difícil de digerir pelo público médio.

Fato é que tanto ela como outras canções como “Charlie Don’t Surf” vinham carregadas de ambientações pesadas mas tinham melodias incríveis e alguns dos melhores trabalhos de toda carreira do grupo. Aqui, é preciso quebrar a barreira da primeira audição para entender elementos que não estão à mostra logo de cara.

 

O pacotão estava completo, e aqui o Clash lançava seu manifesto punk, político, social, contra a ganância das gravadoras e do jeito que queria, mostrando que estava explorando uma sonoridade pra lá de diferente daquela que caracterizou a banda anos antes.

E é possível inclusive dizer que acabou “ficando bom pra todo mundo”, já que o sucessor de Sandinista! viria dois anos depois com Combat Rock, agora sim em disco “simples” e com sucessos comerciais que definitivamente agradaram os irritados empresários da gravadora da banda, já que “Rock The Casbah” e “Should I Stay Or Should I Go” se tornaram hits globais.

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Recepção

Sandinista! foi muito bem recebido pela crítica, entrou em listas de melhores do ano em 1980 e chegou a ser comparado com The White Album, dos Beatles.

Nas paradas, é claro, não teve posições de extremo destaque por conta do formato, mas definitivamente entrou para a história do Punk e da música como alguém que misturou ativismo e visibilidade como poucos.

Como curiosidade, para quem quiser visitar o local após a pandemia, a foto da capa foi tirada na Camley Street, atrás da estação de trem St. Pancras.

LEIA TAMBÉM: em 1978, The Clash tocava para um mar de gente na luta contra o racismo

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