Editorial

Arthur Alexander e a triste história do único músico a ser regravado por Beatles, Stones e Bob Dylan

Há uma grande e quase despercebida semelhança entre Please Please Me (1963), álbum de estreia dos Beatles, e o disco December’s Children (And Everybody’s) (1965), dos Rolling Stones.

Em ambos os casos, os dois grupos considerados os mais influentes do universo da música — ou pelo menos do Rock — fizeram covers de Arthur Alexander, artista que é considerado um verdadeiro gênio. Porém, ele só se viu nos holofotes quando essas (e outras) bandas gravaram suas canções.

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“Anna (Go to Him)” foi a primeira canção dele a realmente estourar na voz de algum dos grupos da época. Lançada por Arthur em 1962, a faixa mal teve tempo de entrar nas paradas antes de John Lennon se apaixonar por ela e regravá-la com os Beatles; outros grupos, como o também influente Humble Pie, também fizeram sua própria versão.

Mas, possivelmente, seu maior hit foi a incrível “You Better Move On” — gravada em um estúdio que surgiu de um antigo armazém de tabaco e sendo pioneira na mistura entre o Country e o Soul.

“You Better Move On”

Segundo single de Arthur, lançado como lado A junto da também ótima “A Shot of Rhythm and Blues”, a canção chegou a atingir as paradas de Soul e R&B mas, novamente, só transcendeu o nicho quando chegou a bandas com integrantes brancos.

Tendo versões de nomes como The Hollies Gene Clark (The Byrds), a cover “definitiva” veio por meio dos Rolling Stones, que sempre defenderam a influência da música negra em seus trabalhos.

Daí pra frente, isso foi bastante recorrente na carreira de Alexander, que nunca encontrou sucesso comercial mesmo com suas composições incríveis e influentes. Seu maior (e talvez único) hit de fato foi a canção “Every Day I Have to Cry Some”, lançada em 1975, mas ainda assim a fama não foi duradoura.

“Soldier of Love”, “Sharing the Night Together” e Legado no Rock

Mesmo depois do sucesso relativo de “Every Day I Have to Cry Some”, o single subsequente teve o mesmo destino de todos os anteriores. “Sharing the Night Together” foi lançada e mal entrou nas paradas de R&B, mas anos depois virou um hit Top 10 em versão do Dr. Hook & the Medicine Show, sendo inclusive usada em um episódio de Uma Família da Pesada em 2012.

O resultado de tudo isso é que Arthur Alexander passou boa parte de sua vida no ostracismo, inclusive trabalhando como motorista de ônibus enquanto bandas como o Pearl Jam, por exemplo, regravaram “Soldier of Love”, outra obra que passou despercebida em seu catálogo e que também foi tocada ocasionalmente pelos Beatles em apresentações ao vivo.

No fim das contas, a oportunidade de Arthur Alexander finalmente parecia ter surgido: em 1990, ele foi induzido ao Hall da Fama da Música do Alabama, e foi traçado todo um plano para que ele ressurgisse naquele novo período.

Em Maio de 1993, ele assinou um novo contrato que podia ter compensado todo o apagamento dos anos anteriores. Infelizmente, no mês seguinte — três dias após se apresentar com sua nova banda —, Arthur sofreu um ataque cardíaco fatal e nos deixou aos 53 anos de idade.

Para a surpresa de ninguém, Arthur Alexander é mais um que até hoje segue esnobado pelo Hall da Fama do Rock and Roll. Mesmo tendo sido o único artista da história a ganhar versões de estúdio de Beatles, Rolling Stones e Bob Dylan, isso não parece ser o bastante para reconhecer um legado pioneiro e que, sem dúvidas, merecia um final melhor.

Ele ainda nos deixou com o disco Lonely Just Like Me em 1993 e você pode conferir a faixa-título abaixo.

Published by
Felipe Ernani