LANY
Foto por Stefan Kohli

Fenômenos do Pop mundial e acumulando centenas de milhões de reproduções em suas canções, o trio LANY se prepara para dar um passo ainda maior em sua carreira com seu terceiro disco de estúdio, Mama’s Boy.

O trio, formado por Paul Jason Klein (voz, teclados e guitarra), Jake Clifford Goss (bateria, samples) e Charles Leslie “Les” Priest (teclados, sintetizadores, guitarra e voz) já deu sinais da nova direção com o recém-lançado single “good guys”.

Depois de seu primeiro ano sem um disco — a banda lançou seu homônimo de estreia em 2017 e o ótimo Malibu Nights em 2018 —, os três integrantes buscam um retorno às origens e isso se mostrará não apenas na sonoridade dos caras, como também na escolha de compositores para completar o time, que incluem nomes como Dan Wilson, conhecido por seu trabalho com Adele.

Em plena quarentena, Paul Jason Klein nos recebeu virtualmente em sua casa e, rodeado de pôsteres de ídolos como Kurt Cobain Bruce Springsteen, nos levou a um passeio pela composição desse trabalho e a reconexão com suas principais influências, como os dois citados, para resgatar o sentimento caseiro de alguém que nasceu e cresceu no interior dos EUA.

Entrevista com Paul Jason Klein (LANY)

TMDQA!: Olá, Paul! Muito prazer!

Paul Jason Klein: Olá! Você é o que tem mais discos que amigos, né?

TMDQA!: [risos] Isso mesmo!

PJK: Bom, agora que a gente vai conversar eu espero que te ajude a equilibrar um pouco mais essa balança. [risos]

TMDQA!: Vamos nessa! [risos] Queria começar te perguntando obviamente sobre o novo single, “good guys”. Você sente que ele é uma boa prévia do que vem por aí no álbum ou teremos algumas surpresas?

PJK: Definitivamente vocês terão algumas surpresas. Ela não deveria ter sido o nosso primeiro single, na verdade; seria outra música… Tipo, ela sempre seria um single, mas não era pra ser o primeiro. Tinha outra música que tínhamos planejado mas não conseguimos fazer o vídeo para ela como queríamos por causa da COVID, então tivemos que nos virar. E, bom… esse ano inteiro tem sido sobre se virar e ser flexível, né? Temos novas informações todos os dias que contradizem as informações dos dias anteriores, ninguém parece saber o que está acontecendo. Mas, bom, eu acredito que esse é um álbum muito coeso e todas as músicas parece se encaixar nele. Então, eu acho que “good guys” é um bom indicativo do que vem por aí; é a primeira vez que colocamos um violão em uma música do LANY, e o próximo single também começa com um violão. Então acho que é uma boa representação, sim.

TMDQA!: Eu ia te perguntar sobre isso também. Essa música realmente soa um pouco diferente do que estamos acostumados a ver com o LANY, e não só pelo violão — os timbres e a sonoridade em geral remetem um pouco ao passado. E, bom, vendo que você está cheio de pôsteres de ídolos do passado atrás de você, queria saber se vocês andaram revisitando influências mais antigas para esse disco.

PJK: Meio que veio naturalmente, na verdade. Cara, mesmo no começo, quando a gente começou lançando os nossos EPs, as pessoas eram tão… elas amavam falar sobre como o nosso som era anos 80, sabe? E eu mal estava vivo nos anos 80. [risos] Eu nem sei, na verdade. Eu não ouço muita coisa dos anos 80, mas eu sou um pianista e por isso eu gastei muitas horas em sintetizadores e teclados e coisas do tipo. Então é um pouco natural pra mim gravitar em direção a esses sons. Mas eu levo isso sempre como um elogio, porque a música era muito boa antigamente. Então, obrigado! [risos]

“good guys”

TMDQA!: [risos] E é um elogio mesmo! Uma coisa que me chamou a atenção em “good guys” foi a letra [o título da música traduz para algo como “caras legais”], porque eu sinto que ela não fala só sobre ser um cara legal e se dar mal, mas sobre como todos nós somos treinados a suprimir nossos sentimentos para agir como as pessoas querem que a gente aja. É por aí? Você acha que as pessoas precisam ser mais abertas com seus sentimentos?

PJK: Sim, senhor! Eu fico feliz que você esteja falando sobre isso. Porque enfim, eu me identifico como um cara, então eu estava escrevendo essa música sob a minha perspectiva — mas é claro que isso acontece dos dois lados. Na verdade, ela é meio que sobre o amor não-recíproco, sabe. Eu acho que se você é uma pessoa que sai com outras pessoas, acontece várias vezes de você perceber que aquela pessoa com quem você está saindo só queria saber que ela poderia ter a sua atenção e que ela consegue te ter se quiser. E aí, uma vez que ela te tem, ela se move para o próximo desafio ou qualquer coisa do tipo. Isso é só uma parte infeliz da existência humana, não é? É só uma parte da existência, da vida humana; muitas vezes você acaba percebendo que quanto mais você ama, quanto mais você dá, mais as pessoas tiram vantagem de você. E, bom, apesar disso ser uma merda, é o que é. E no fim das contas eu acredito, sim, que caras legais e pessoas legais vencem. Eu também acho que é uma forma muito melhor de viver a vida se você decide fazer as coisas certas e tratar as pessoas da forma como você quer ser tratado e, eventualmente, eu acho que as coisas se encaixam para aqueles que fazem isso corretamente.

TMDQA!: E vocês — quer dizer, o Jake, fez uma versão de quarentena para “good guys” que ficou muito legal e foi para um projeto mais legal ainda. Eu vi muita gente comentando sobre como ficou diferente a sonoridade, já que foi basicamente uma versão “caseira” da música. Isso deu algumas ideias pra vocês, já que em geral suas músicas são super bem produzidas e elaboradas?

PJK: Cara, o Jake é tão incrível e talentoso. E ele é tão bonito, ele tá tão descolado naquele vídeo. [risos] Mas é legal você dizer que as músicas são super bem produzidas, porque sério, nos primeiros anos da banda a gente gravou tudo em um computador Dell na cozinha. [risos] Até nesse novo álbum mesmo tem algumas músicas que eu só estou literalmente batendo palmas perto do microfone e a gente usou isso como chimbal. A gente sempre incorporou esses elementos… na real, em “I Don’t Wanna Love You Anymore”, tem uns “estalos” que são eu mesmo estalando meus pulsos. [risos] Então a gente meio que… olha, cara, tem tanta coisa sobre ser uma banda que é difícil. De vez em quando a gente só curte tornar as coisas divertidas e a gente precisa mantê-las assim. Então é sempre bom ver o Jake pegando um microfone e fazendo um remix de uma música ou estalar meus pulsos e deixar isso ser a caixa [de bateria] de uma música. [risos]

Parcerias, passagem frustrante pelo Brasil e Mama’s Boy

TMDQA!: Super entendo! [risos] Inclusive, sobre deixar as coisas divertidas, no último ano vocês lançaram duas parcerias incríveis — “Okay”, com Julia Michaels, e “Mean It”, com Lauv — e tiveram resultados maravilhosos. Vocês têm mais planos de ter participações no novo disco ou em um futuro próximo?

PJK: Bom, primeiramente obrigado, que bom que você curtiu as parcerias! A gente, sério, a gente trabalharia com qualquer um. Na real, bom… ninguém sabe disso mas talvez vocês curtam saber. Eu tinha essa ideia de que eu adoraria que a ROSALÍA fizesse um novo segundo verso para “good guys”, falando da perspectiva feminina, e eu mandei uma mensagem pra ela mas ela definitivamente não a viu — ou definitivamente nem sabe que eu existo. [risos]

TMDQA!: [risos] Bom, nesse caso estamos no mesmo barco.

PJK: Mas, sério, a gente é muito aberto. Estaríamos dispostos a colaborar com basicamente qualquer pessoa; infelizmente, nesse disco, não vai ter mais nenhuma parceria e não temos nada planejado por agora.

TMDQA!: Poxa! Mas já fica o aviso para quem tiver interesse, hein? Queria falar sobre um outro episódio triste que foi a passagem de vocês pelo Brasil, no Lollapalooza do ano passado. Vocês chegaram a tocar em um show solo, mas na hora do festival, o show de vocês foi afetado pelo clima e vocês acabaram não conseguindo terminar o set. Como foi pra vocês lidar com isso? Você ficou muito chateado?

PJK: Eu fiquei TÃO chateado, cara. A gente é tão apaixonado pelo Brasil e pela América do Sul em geral; eu acho que estar aí no ano passado me mostrou não só quanto vocês valorizam a música mas também as bandas. É realmente inspirador e encorajador e nós estávamos tão empolgados de estar aí. A gente mal podia esperar para esse show. E aí, de repente, uma música e meia depois do início… e, tipo, o que me machuca de verdade é que a gente estava vendo milhares e milhares de pessoas, tipo, correndo para o palco, subindo por aqueles morros. Provavelmente teria sido uma das maiores plateias que teríamos tido, se tivéssemos finalizado o set. Não tem outro jeito de falar: foi uma merda. A gente ficou chateado demais. Mas tudo tem uma razão, e acredita em mim, a gente tem toda a intenção de voltar e tocar.

TMDQA!: Eu tenho certeza que logo mais vocês voltam e vai ser incrível! Aliás, vocês estão preparando o novo álbum, mas até agora não há uma data de lançamento. Sei que há muitas incertezas com a COVID-19, mas você já pode adiantar algo sobre esse planejamento?

PJK: A gente tem uma espécie de janela que queremos manter. A gente falou sobre isso mais cedo, sobre essas incertezas e informações novas todos os dias. Pra falar a verdade eu estou muito feliz que a gente não divulgou uma data de lançamento porque eu odiaria desapontar as pessoas por ter que acabar mudando a data já que muito disso, aliás, tudo isso está completamente fora do nosso controle. Mas, sim, nós temos uma janela — acho que ali por volta de Setembro é a nossa meta, e isso é provavelmente o melhor que posso falar agora.

TMDQA!: E como lidar com o fato de não poder sair em turnê para promover esse trabalho?

PJK: Sabe, a gente tinha uma turnê mundial marcada para Setembro, para tudo isso, e nós tivemos que remarcá-la completamente. Mas, como eu disse, de que adianta eu ficar chateado por algo que eu não posso controlar? Ao mesmo tempo, mano, a gente lançou o Malibu Nights em 5 de Outubro de 2018 e nós fizemos só uma pequena turnê — foram tipo sete cidades na América do Norte e sete cidades na Europa, mas no fim das contas a nossa turnê mundial só foi começar mesmo no dia 4 de Fevereiro do ano seguinte, na Rússia. Honestamente, acho que vai ficar tudo bem.

Influências

TMDQA!: Cara, eu nem tinha pensado em perguntar isso, mas me surgiu aqui agora. Você está aí em um quarto cheio de pôsteres de ídolos como Kurt Cobain, Bruce Springsteen… mas vocês são vistos como uma banda Pop, e eu acredito que muita gente que consome esses caras teria um certo preconceito com relação ao som de vocês, o que é uma besteira enorme. O que você acha disso?

PJK: Cara, sim, eu acho que obviamente Pop é uma abreviação de popular, sabe? E o Nirvana foi a banda mais popular da história! Eles eram música Pop. O Bruce Springsteen é música Pop. Essas são pessoas que moldaram as vidas de dezenas, centenas de milhares de pessoas, então eles são artistas incrivelmente populares. E é isso, sabe? Eu não posso ser o Kurt Cobain porque eu não sou o Kurt Cobain; e eu não posso ser o Bruce porque ninguém pode ser o Bruce. Mas eu sei quem eu sou e sei no que eu sou bom — e, bom, eu não sou tão bom assim mas eu tento melhorar todos os dias — e caras como o Kurt e o Bruce e o próprio Chris [Martin, do Coldplay], todos esses caras são músicos que eu estudo, e respeito, aprendo, valorizo. E no fim do dia, eu não quero ser esses caras, porque eu não sou esses caras. Eu quero ser a gente, e espero que isso funcione.

TMDQA!: Esses dias eu vi o Post Malone falando sobre as suas bandas preferidas de Heavy Metal — e não foi a primeira vez, mas as pessoas continuam pegando no pé dele sempre que ele se mostra fã de Rock ou Metal.

PJK: Ah, eu amo o Posty!

TMDQA!: Pois é, ele é demais! Você acha que algum dia essa ponte vai existir de forma plena? Tipo, as pessoas vão entender que ter uma influência não é simplesmente repetir o que aquela pessoa fez?

PJK: Cara, eu acho que as pessoas amam destruir aquelas pessoas que estão fazendo coisas boas, o que é mais uma parte infeliz da vida, não é? Tipo, parece que quanto maior você fica, mais as pessoas querem te destruir. E, tipo… um salve pro Post, que é um artista incrível; eu nunca o conheci, mas eu o amo e o respeito profundamente e claramente ele é um fã tão grande da música, sabe? E claramente isso está trazendo resultados! O cara escreve músicas incríveis e o Nirvana é uma influência enorme pra ele, mas você nem percebe… até que você meio que percebe, sabe? Você ouve essa angústia e isso é incrível.

TMDQA!: No fim das contas, sinto que as pessoas gostam desse sentimento saudosista e o passado sempre vai ser melhor, né. Bom, pra fechar, queria te lembrar que eu tenho mais discos que amigos [risos] e fazer uma pergunta que estou fazendo a todos que entrevisto: que disco tem sido seu melhor amigo durante esse período de isolamento?

PJK: Ah, ótima pergunta! Eu acho que o álbum que tem sido meu melhor amigo durante a maior parte da minha vida é o Continuum, do John Mayer. Eu diria que, tipo… essa é meio que uma opinião impopular, mas eu acho que o Ghost Stories, do Coldplay, do começo ao fim é uma obra sensacional. Acho que eu escolheria esses dois.

TMDQA!: Legal! Bom, Paul, muito obrigado pelo seu tempo e espero que a gente se veja em breve em um show sem interrupções aqui no Brasil!

PJK: Eu que agradeço! Até a próxima!

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