Death
Foto via Wikimedia Commons

A cena proto-punk e garage rock de Detroit é bastante reconhecida como uma das mais proeminentes, com bandas como MC5 The Stooges liderando o caminho para a grande revolução sonora que veio de lá. Mas, ali por volta de 1971, três jovens negros formaram o que seria uma das bandas mais revolucionárias e subestimadas que a cidade já teve.

Em uma época em que esperava-se que todos os negros tocassem R&B, funk ou coisas do tipo, o trio de irmãos BobbyDavid Dannis Hackney se juntou para fazer exatamente o que todos queriam. Acontece que a banda que começou no funk logo se encantou com o som de nomes como The Who e Alice Cooper e, assim, surgiu o Death.

Mas os caras não viraram simples cópias do que haviam escutado. Naquele momento, dois anos antes do surgimento dos Ramones, o Death desenvolveu músicas que soam não apenas como precursoras do movimento Punk mas sem dúvidas como algumas das melhores canções do gênero.

Em 1975, a banda finalmente recebeu uma oportunidade. Clive Davis, presidente da Columbia Records, teria financiado (há relatos que apontam outra gravadora e outro produtor) uma sessão de gravações no estúdio United Sound, com o engenheiro Jim Vitt. Porém, com apenas sete músicas (de doze planejadas) gravadas, Clive — ou quem quer que tenha sido — desistiu do projeto supostamente por um único motivo: o nome.

Escolhido em homenagem à morte do pai dos irmãos, a ideia de chamar a banda de Death foi algo do qual o trio não quis abrir mão e, portanto, acabou ocasionando a perda do contrato. No ano seguinte, Bobby, David e Dannis — respectivamente baixista/vocalista, guitarrista e baterista — lançaram de forma independente o single “Politicians in My Eyes”, que ainda trouxe “Keep on Knocking” como lado B.

A redescoberta do Death

“Keep on Knocking”, aliás, é uma canção que definitivamente mostra bem o espírito do Death. Segundo Bobby Hackney, a música surgiu depois de seguidas reclamações de seus vizinhos sobre o barulho que faziam — por isso, o próprio título diz “Continue Batendo” na porta.

Ainda de acordo com Bobby, “aquilo é pura raiva, nós estamos lutando […] para manter nossa identidade”. Eventualmente, a banda desistiu da caminhada e anunciou seu fim em 1977, sem muito mais do que uma série de demos como registro de uma das sonoridades mais pioneiras do Punk.

Poucos anos após a morte de David Hackney em 2000 por câncer no pulmão, porém, o inesperado aconteceu. Foram anos circulando apenas em meios de colecionadores, com o single “Politicians in My Eyes” chegando a custar mais de 800 dólares, mas por volta de 2008 a revista Chunklet recebeu as canções em MP3 e as divulgou.

Uma coisa levou a outra e, de repente, Julian Hackney — filho de Bobby — recebeu de um amigo a recomendação de ouvir aquela canção. Na hora, ele reconheceu a voz do pai e a coisa foi logo se espalhando até chegar na Drag City Records, que operou um verdadeiro milagre: finalmente, todas as faixas gravadas pelo Death seriam disponibilizadas em CD e LP e o mundo poderia conhecer aquela obra-prima.

Legado e influência

É claro que o lançamento de …For the Whole World to See em 2009 não apaga a injustiça que a banda sofreu. Quem descreveu muito bem a situação foi Questlove, baterista da lendária banda The Roots, em um documentário chamado A Band Called Death lançado em 2013:

Os Ramones tiveram toda a glória pelo que existia bem aqui. Isso é o Ramones dois anos antes.

Outro músico célebre que ficou impressionado com a banda foi Jack White, que também veio da cena de Detroit com o White Stripes. Em um artigo, ele relata:

Eu não conseguia acreditar no que eu estava ouvindo. Quando me contaram a história da banda e em que ano eles gravaram essas músicas, só não fazia sentido. À frente do Punk, e à frente do seu tempo.

Com uma mistura da técnica do Funk com a angústia, a velocidade e o poder que viriam a ser características do Punk anos depois, o Death poderia ter construído uma carreira duradoura e dado uma nova cara ao gênero.

É impossível deixar de falar sobre como as expectativas de que o povo negro fizesse uma música específica, apenas reproduzindo um comportamento que já era esperado deles, atrapalhou uma banda que poderia ter sido a influência para milhares, se não milhões, de jovens negros se juntarem ao movimento Punk.

É impossível também não mencionar o respeito enorme pelos músicos não terem aberto mão de suas convicções — afinal, sabemos que a mudança do nome muito provavelmente seria apenas o primeiro passo em uma carreira regida por gravadoras.

Ainda que David não esteja aqui para ver suas músicas sendo aclamadas, a dupla de irmãos que segue viva resolveu se reunir em 2009 e Bobbie Duncan, guitarrista que já tocava com eles na banda de reggae Lambsbread, assumiu o posto do outro irmão.

E, com essa formação, já foram lançados outros três discos. Spiritual • Mental • Physical (2011) reúne demos que precederam as gravações de …For the Whole World to See e mostram que a banda realmente era Punk antes do Punk; enquanto isso, III (2014) e N.E.W. (2015) deram continuidade ao legado dos caras.

Você pode conferir toda a discografia do Death no perfil oficial do Spotify.

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