Emicida no Rock In Rio 2019
Foto por Marta Ayora / TMDQA!

Quando o rapper Emicida fala, todos nós escutamos.

O músico não apenas é certeiro em suas letras, rimas, canções, clipes e discos, como também tem um papel importantíssimo na sociedade como formador de opinião.

E lidar com as palavras é um dos talentos mais expressivos do cara que semanalmente fala a respeito de diversos temas no programa Papo de Segunda, do canal de TV a cabo GNT.

É claro que ontem (01) o assunto não poderia ser outro e a discussão que teve Pedro Bial como convidado entre os participantes habituais (Fábio Porchat, João Vicente, Francisco Bosco) se deu a respeito de racismo e violência policial.

Tudo foi motivado pelo assassinato de George Floyd nos Estados Unidos, e Emicida traçou um paralelo entre como o brasileiro lida com os casos de lá e os daqui.

Declarações de Emicida

Contundentes, diretas ao ponto e muito verdadeiras, as declarações de Emicida repercutiram hoje mais cedo e você pode tanto ver o vídeo quanto ler o que ele disse logo abaixo:

Eu acho que a gente vive uma série de situações insustentáveis, né? A gente agora tá com pouco mais de 15 ou 20 minutos de programa, não sei. Olha a quantidade de coisas que a gente elencou e a gente está falando da história recente desse país. Se a gente for se aprofundar em questões estruturais, tem muito mais morte, muito mais violência, muito mais destruição que tá afetando as vidas de outras pessoas que estão longe dos meios de comunicação.

O que aconteceu desde a semana passada, né meu. Pensa que semana passada a gente estava aqui falando sobre o quão destruidor de futuro, não só das pessoas pretas, mas do futuro desse país, era viver em um lugar onde uma criança de 14 anos que tá cumprindo a sua quarentena em casa é alvejada por uma bala de um grupo de outras 72 que arrebentaram a sua casa, sacou?

Eu fiquei pensando aqui antes que eu nem sou o cara mais antigo desse programa, o João tem esse título, sacou? Mas só no tempo que eu estou aqui, quantas crianças pretas foram mortas pelo estado brasileiro? Ágata, Davi, João, semana passada o João Pedro.

E esses são os casos que a gente vê ganhar visibilidade. Se a gente vai pro Norte, se a gente vai pro Centro-Oeste e pega a situação das tribos indígenas, a gente vê situações mais desesperadores do que essa que já faz a gente chorar.

Sabe o que acontece, mano, com quem mata um inocente desses nesse país? Principalmente quando veste uma farda? Nada, mano! Entendeu?

Aliás tem uma outra coisa que eu achei extremamente triste. A gente entrou aqui falando sobre imprensa mas é muito triste que a imprensa brasileira quando vai cobrir um caso de racismo internacional se refira à cor da pele da vítima, se refira que ele foi assassinado por um policial… Quando a gente trata de caso doméstico, toda essa percepção some, e aí se trata esse tipo de assunto como se fosse uma grande suposição. E se alguém levanta esse ponto e fala: ‘existe uma situação que estruturalmente assassina pessoas pretas’, a gente recebe colunista dizendo que a gente é vitimista, político imbecil reverberando esse mesmo tipo de discurso…

Até nisso o vira-latismo do Brasil impera, saca mano? A gente só aceita debater o racismo se a gente for pautado pelos Estados Unidos. O racismo do Brasil pode seguir matando, à vontade, nadando de braçada. Eu não tenho mais nem palavras pra descrever a situação que a gente vive. Eu sou pai de duas meninas pretas, mano.

E aí eu repito pra você, respondendo sua pergunta, o que eu falei quando aconteceu o caso Ágata, que a gente tava gravando o programa aqui em São Paulo: era pra esse país estar pegando fogo. E o fato de ele não estar fala tudo que uma pessoa preta tem que saber sobre ele. A gente está em solo inimigo, a gente tem que se proteger como a gente puder porque a gente está por nossa conta e risco nesse grande projeto assassino de pretos que é o Brasil.

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