Mercado da Música e Carreira

Por Dani Ribas*

Na última segunda-feira, dia 04 de maio de 2020, a IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica) lançou seu relatório anual com as receitas e crescimento global e regional da indústria.

Segundo o relatório, referente ao crescimento em 2019, a receita total do mercado mundial de música gravada cresceu 8,2%, subindo para US$ 20,2 bilhões. A receita de streaming cresceu 22,9%, para US$11,4 bilhões, e pela primeira vez representou mais da metade (56,1%) da receita mundial de música gravada. As assinaturas pagas de streaming cresceram 24,1% com quase todos os mercados relatando crescimento nessa área. Havia 341 milhões de usuários de serviços de streaming pagos no final de 2019 (+ 33,5%), com o streaming pago representando 42% da receita total de música gravada. Pelo quinto ano consecutivo, a América Latina foi a região que mais cresceu (+ 18,9%), com seus três maiores mercados crescendo fortemente: Brasil (+ 13,1%); México (+ 17,1%); e Argentina (+ 40,9%). Os EUA e o Canadá, considerados conjuntamente, cresceram 10,4%, permanecendo a maior região para receitas de música gravada, respondendo por 39,1% do mercado global. A Europa, segunda maior região do mundo, cresceu 7,2% depois de quase estável em 2018, com Reino Unido (+ 7,2%), Alemanha (+ 5,1%), Itália (+ 8,2%) e Espanha (+ 16,3%) apresentando forte crescimento.

Números da música independente

Em 28 de abril, a empresa Midia Research havia publicado artigo que apontava outras maneiras de contabilizar os números do mercado. Usando dados do relatório anual Spotify (e não da IFPI), o artigo diz que há diferenças nesse crescimento dependendo da gravadora ou selo de lançamento. Nesse estudo, selos independentes representados pela Merlin cresceram 11%, as gravadoras Majors (Sony, Universal e Warner) cresceram 27%, artistas independentes cresceram 48% e “outros selos independentes” cresceram 58%. Esta categoria “outros selos independentes” engloba entidades de música que não se encaixam na classificação tradicional de selo, como música gerada por inteligência artificial e empresas de biblioteca musical como a Epidemic Sound. Em artigo também publicado no dia 04 de maio, já utilizando os dados do relatório IFPI, a Mídia Research reafirma que 2019 foi um ano bom para os independentes, e ressalta que os independentes cresceram 39% enquanto majors cresceram 22% – o que significa que a participação global dos independentes na receita de streaming aumentou em cinco pontos inteiros, de 36% para 41%.

Complicado, né? Medir nunca foi fácil, e dependendo de quais variáveis são levadas em consideração os resultados podem ser X ou Y. Ou um alfabeto inteiro.

Mas além de trazer números frescos, quero dizer que há inúmeras formas de medir um mercado, e todas as formas são válidas.

Prejuízos do setor da música

No início da pandemia (antes mesmo do estado de São Paulo publicar o isolamento social obrigatório), o DATA SIM mediu o tamanho do impacto da crise no mercado musical a partir do prejuízo declarado das empresas. Ouvimos 536 empresas, e os resultados declarados por tais empresas (que obviamente não são a totalidade do setor) foram de mais de 8 mil eventos cancelados, que teriam público de 8 milhões de pessoas, mobilizando 20 mil profissionais, e prejuízo de R$483 milhões. Se projetássemos os resultados obtidos com as respostas para as mais de 62 mil MEIs (Micro Empreendedores Individuais) da música ao vivo existentes no Brasil, que englobam apenas empresas de Produção e Sonorização/Iluminação, a projeção seria de 1 milhão de profissionais afetados e R$3 bilhões em prejuízos. Isso tudo sem considerar os CNPJs que não são MEIs. Ou seja: esses números não são o impacto total do setor, mas foi um primeiro termômetro num momento em que ninguém sabia afinal de contas de quanto estávamos falando. O relatório completo está disponível pra download no site do DATA SIM.

Mais prejuízos

Recentemente saíram os resultados de outro levantamento realizado pela UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais, considerando o gasto médio do brasileiro com consumo cultural feito em atividades ao ar livre ou em espaços culturais nos últimos anos (dados do IBGE a partir da PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar). Segundo o levantamento, a paralisação das atividades culturais como cinema, shows, teatro e visitas a museus, causará um prejuízo de R$ 11,1 bilhões em três meses no Brasil. Apesar do número expressivo, ele não contabiliza apenas o setor da música pois não há dados oficias sobre o setor nem mesmo no IBGE. Portanto, os levantamentos como o realizado pelo DATA SIM seguem sendo relevantes para a compreensão do mercado musical em particular.

Como usar os dados

De qualquer maneira, o cenário está dado. O que não tem remédio, remediado está – já dizia o ditado. Não há como voltar no tempo e retroceder a pandemia. Há apenas como “achatar a curva” – termo que mostrou a importância de números para entender até mesmo nossas atitudes cotidianas. O cenário é de crescimento dos independentes no streaming paralelamente aos prejuízos causados pelos cancelamentos e adiamentos de eventos ao vivo.

Ou seja: se você é um artista independente, você não tem outra opção a não ser entender melhor como você se posiciona no ambiente digital. Você conhece seus próprios números? Qual estratégia você já traçou a partir do seu Spotify for Artists, Deezer Backstage, entre outras ferramentas? Como você está planejando seus conteúdos no marketing digital e nas redes sociais? Como está aquecendo sua audiência para os próximos lançamentos? Se você não está fazendo isso, pode apostar que há artistas que estão, e isso fará toda a diferença daqui para frente.

Eu vou dar um curso on-line de estratégias de carreira na música entre os dias 18 a 22 de maio exatamente sobre esses assuntos. Mas se você não puder fazer o curso, não deixe de consultar outras possibilidades que ofereço através da Sonar Cultural.

O importante é aproveitar as chances no momento em que elas surgem, isso certamente faz toda a diferença.

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* Dani Ribas é doutora em sociologia pela UNICAMP, diretora do DATA SIM e da Sonar Cultural, empresa que presta consultoria a artistas e profissionais que querem levantar seus próprios números para otimizar suas estratégias no mercado.

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