Vitão
Foto: Reprodução / Instagram

Lembram de quando Vanessa da Mata e Ben Harper cantaram juntos na parceria “Boa Sorte / Good Luck” em 2007? Foi um grande alvoroço no pop brasileiro, porque esse tipo de colaboração era algo raro.

Se olharmos para a frequência com a qual essas colaborações aconteciam, veremos que hoje isso se tornou muito mais comum. Facilitada talvez pelo crescimento da indústria musical brasileira e certamente graças às possibilidades tecnológicas da atualidade, parcerias entre brasileiros e artistas estrangeiros têm se tornado cada vez mais comuns.

A relação entre Brasil e Portugal, nesse sentido, foi bastante fortalecida. Mais do que o idioma em comum, os países começaram a desenvolver interessantes paralelos entre suas sonoridades. Um exemplo recente disso foi a parceria entre Vitão e o cantor português Agir. Eles lançaram a faixa “Mais Que Bom“, reunindo a melhor visão do pop/R&B de seus respectivos países.

Vale notar que lançar essa colaboração em tempos de isolamento social é algo bastante simbólico. Apesar do distanciamento, as tecnologias provam que podemos estar conectados com os outros, sejam eles nossos vizinhos de porta ou colegas em outros países do mundo! Foi uma jogada de mestre(s)!

 

“Dá para continuar produzindo coisas legais”

Conversamos com Vitão sobre a parceria e as cada vez mais constantes parcerias entre Brasil e Portugal. Aliás, as tecnologias encurtaram fronteiras e nos possibilitaram explorar mais a fundo possibilidades de trocas musicais.

Se quer mais um exemplo sobre essa aproximação, confira também a nossa entrevista com a banda portuguesa PAUS, que convidou artistas brasileiros para o seu EP mais recente.

Leia abaixo o papo na íntegra!

TMDQA!: Vocês se conheceram em Portugal, quando você foi divulgar o lançamento do seu disco Ouro. Como foi esse primeiro contato e como vocês descobriram que tinham muitas coisas em comum?

Vitão: Na verdade, a minha sessão de estúdio com o Agir nem estava planejada nessa viagem. Eu ia me encontrar com outro artista de lá, mas acabou que, de última hora, esse encontro caiu. Eu tinha conhecido o Agir dois dias antes. Ele tinha levado a gente para jantar e rolou um papo super maneiro. Tínhamos falado que, se conseguíssemos tempo, poderíamos marcar uma sessão. Já que a sessão com o outro artista acabou não rolando, decidimos nos encontrar. E aí, rolou! A música saiu muito rapidamente.

TMDQA!: E a música ficou bem legal! Achei legal essa ideia de gravar um clipe com cada artista em seu respectivo país, diante das limitações que temos hoje em dia. Você considera que essa experiência toda tenha ampliado as suas percepções musicais? Como você acha que a indústria vai incorporar as consequências desse momento? Estamos descobrindo várias possibilidades maneiras que não explorávamos direito antes.

Vitão: Verdade! Eu acho que isso vai servir como uma forma de mostrar para as pessoas que, por mais que elas estejam em casa e não possam sair, dá para continuar produzindo coisas legais. Eu, por exemplo, achava que um artista não conseguiria ficar de “home office” e, agora, estou percebendo que pode (risos). Dá para gravar clipes e fazer música. Eu estou produzindo e escrevendo bastante coisa nova. Tem sido um período muito criativo para mim.

 

“Eu percebi que a galera de lá consome muito o Brasil”

TMDQA!: Por falar em tecnologias, foram justamente elas que facilitaram esse troca entre Brasil e Portugal. Temos visto cada vez mais trocas entre os dois países. Eu queria que você, enquanto artista que já fez outras colaborações internacionais, falasse um pouco sobre esses limites. A impressão que fica é a de que temos muito mais do que apenas o idioma em comum. Daqui, para onde você acha que vamos?

Vitão: Conhecendo as pessoas e um pouco da cultura de Portugal, eu percebi que a galera de lá consome muito o Brasil. Música, filmes, novelas… Grande parte dos nossos canais de TV passam lá. Eles conhecem nossos cantores e atores. No entanto, a gente não tem muito isso com Portugal. Quem realmente não pesquisa a fundo não tem muita informação sobre o que está rolando lá. Acho que esse diálogo que estamos fazendo através da música pode ser uma ponte entre os dois países, uma porta a mais para que os artistas de Portugal consigam entrar no Brasil. Isso pode ajudar a cena portuguesa a se fortalecer aqui no nosso país.

TMDQA!: Além de Portugal, essa nova visão tecnológica também facilitar trocas entre o Brasil e outros países e outros idiomas. Além do Google Tradutor (risos), essas trocas podem ser feitas de outras maneiras. Aliás, é aquele clichê de que “a música é a linguagem universal”.

Vitão: Exatamente! Eu acho que pode ser algo interessante, culturalmente falando, para qualquer país que fizer uma colaboração internacional. Ajuda um país a se interessar mais pela cultura do outro. A internet aproximou muito todas as partes do mundo.

 

“Minha identidade musical é uma mistura”

TMDQA!: Com que outros artistas você, sendo um dos maiores nomes pop atualmente no Brasil, se veria gravando?

Vitão: Tem muita gente! Eu quero fazer alguma coisa com a IZA e com a Gloria Groove, por exemplo. Também gostaria de realizar parcerias com nomes consagrados da história da nossa música, como Djavan, Gilberto Gil, Caetano, Martinho da Vila… Acredito que vá acontecer algum dia.

TMDQA!: É interessante porque aí veríamos a mistura entre dois estilos diferentes, o que tem se mostrado super benéfico para a nossa cultura. As suas músicas, por assim dizer, trazem um pouco dessa coisa de misturar estéticas diferentes.

Vitão: Eu tenho muitas referências. Escuto muita música brasileira: samba, pagode, bossa nova… Isso tudo acaba influenciando a minha música.

TMDQA!: Para a composição das faixas do seu álbum Ouro, por exemplo, quem você consegue citar como influências mais claras?

Vitão: Djavan é uma das minhas grandes referências nacionais, em termos melódicos e líricos. Também tem Gilberto Gil e o Rael, que apesar de ser um artista muito novo, já é um cara que eu considero “raiz”. Inclusive, o disco tem participação dele, e foi muito legal poder essa contribuição. Um pouco fora desse mundo, tem o Charlie Brown Jr. e vários nomes do rock nacional. Sou muito fã de rap também, desde o rap das antigas até o rap de hoje em dia. Minha identidade musical é uma mistura de tudo isso!

 

“Mesmo não vendo as pessoas, eu sinto a conexão”

TMDQA!: Para você, como está sendo essa rotina de lives que pegou toda a indústria de surpresa? Para lançar “Mais Que Bom”, você fez um show ao vivo no Youtube. Acredito que a pandemia tenha atrapalhado um pouco a divulgação do disco Ouro, lançado no início deste ano. Como está sendo lidar com tudo isso?

Vitão: A gente estava para a começar as filmagens do clipe do próximo single, que seria “Romeu e Julieta”, mas acabou que o período de isolamento começou. Tudo que foi planejado, pelo menos para esse semestre, foi travado. Até por conta disso que eu tive a ideia de lançar um single do nada, sem planejamento nem nada. Mas esse período tem sido, de fato, muito criativo para mim.

TMDQA!: Apesar de não terem o calor da atmosfera presencial de um show, eu sinto que as lives sejam algo muito acessível para a galera. Os fãs gravam e repercutem quase da mesma maneira que fazem durante um show mesmo, fora que é mais confortável por estarem no conforto de suas casas.

Vitão: Mesmo não vendo as pessoas, eu sinto a conexão. A gente sente que existem pessoas vendo a gente e que estão felizes em poder assistir a um show ao vivo mesmo sem poder sair de casa. Acho que é algo muito especial que a internet proporciona para nós.

TMDQA!: Acho que um resultado tão criativo e maneiro quanto esse certamente pode servir de estímulo para artistas que, nestes tempos difíceis, querem continuar contribuindo. Que dicas você daria para essa galera?

Vitão: Acho que o celular, hoje em dia, é a ferramenta que mais facilita muito. O clipe de “Mais Que Bom”, por exemplo, foi gravado com celular. Facilita a comunicação, né? Pela câmera do celular, dá para fazer muita coisa boa. É claro que eu tenho a sorte de ter um estúdio em casa e isso realmente facilita bastante, mas, por mais que não possamos sair de casa, conseguimos produzir bem.

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