Tainy
Foto: Divulgação

Por Nathália Pandeló Corrêa

Quem acompanha os movimentos do reggaeton no continente – e fora dele -, conhece o nome Tainy. Quem não acompanha, já se deparou com sucessos como “I like it”, que uniu Cardi B, J Balvin e Bad Bunny. O denominador comum entre nomes como Jennifer Lopez, Ricky Martin, Daddy Yankee, Anitta e Vibras e X100pre, álbuns que alçaram Balvin e Bunny, respectivamente, ao estrelato, é Marco Masís. Após mais de 10 anos como uma das mentes criativas por trás da expansão mundial do gênero, o produtor porto-riquenho agora se lança como artista com o EP Neon16 Tape: The Kids That Grew Up On Reggeaton, divulgado em março.

O álbum culmina em uma carreira já consolidada. Tanto que, no mesmo mês, Tainy levou o prêmio “Artista Masculino Com Maior Crescimento da Base de Fãs”, na primeira edição do Spotify Awards, que aconteceu na Cidade do México. Além disso, ele foi indicado ao Grammy deste ano, que aconteceu em janeiro, por duas vezes na categoria “Melhor Álbum de Rock, Urban ou Alternativo”, por seus trabalhos com J Balvin e Bad Bunny.

Recentemente, Tainy foi nomeado pela Variety como um dos 10 talentos “Latinx to Watch”, lista criada pela revista norte-americana para destacar as promessas do mundo latino. Além disso, recebeu um total de cinco indicações para o Latin Billboard Awards.

Como artista, ele já havia se destacado em suas participações nos singles “I Can’t Get Enough”, com Selena Gomez, J Balvin e Benny Blanco, “Callaíta”, com Bad Bunny, e “Fuego”, com DJ Snake, Sean Paul e Anitta. Em Neon16 Tape: The Kids That Grew Up On Reggeaton, ele traz sete faixas reunindo nomes em ascensão na música urbana e medalhões, como Dylan Fuentes, Justin Quiles, Lennox & Llane, Sean Paul, Kali Uchis e Lauren Jauregui, ex-Fifth Harmony.

Aos 30 anos, o hitmaker acumula mais de 17 milhões de ouvintes mensais no Spotify e mais de 620 milhões de visualizações totais em seu canal oficial do YouTube. Uma de suas músicas mais famosas, “Adicto”, em parceria com Anuel AA e Ozuna, já ultrapassou a marca de 510 milhões de views de seu videoclipe oficial.

A quarentena por conta do coronavírus pode ter brecado boa parte dos lançamentos e todos os eventos de música ao vivo mundo afora, mas Tainy já fez esse 2020 valer a pena. Agora é de casa que ele segue produzindo e de onde ele conversou com o Tenho Mais Discos Que Amigos! em uma chamada de Zoom onde discutiu o atual panorama do reggaeton no mundo e planos futuros. Confira abaixo.

TMDQA!: Oi Tainy, obrigada pelo seu tempo! Queria falar com você sobre esse lado seu que estamos vendo agora. Estou falando com você do Brasil e nós não nos esforçamos para nos sentirmos parte da América Latina, não falamos Espanhol… e ainda assim, estamos ouvindo artistas de Porto Rico, da Colômbia, assim como o resto do mundo. Alguns anos atrás, o reggeaton poderia ser dado com um fenômeno local apenas. E você teve um grande papel na expansão mais recente que estamos vendo agora. O que você acha que fez o reggaeton explodir dessa forma como nos últimos anos?

Tainy: Há alguns fatores. Acho que ter artistas que não são apenas de Porto Rico ajudou bastante para fazer as pessoas ouvirem em outros países, como na Colômbia, com um estilo diferente mas que ainda é reggaeton. Começou a ter mais diversidade e aos poucos, com Spotify e Apple Music, muita gente que não conhecia o gênero pode só ir conferir o que está bombando mais no momento, e se gostarem de uma música, podem ouvir na hora mais coisas daquele artista com facilidade. Isso ajudou a muitas pessoas conhecerem a nossa música e o nosso som. E gradativamente começou a ser tocado para além de Porto Rico. E as pessoas ouvirem o ritmo é algo que é contagiante. E é só… ritmo. Independente da língua que você fala. Se você ouvir só a música, para dançar ou curtir, isso ajuda bastante aos artistas inserirem esse elemento em suas músicas. Podem ser artistas americanos, do Brasil, da Europa, de onde for. Você pode ouvir só aquele ritmo e combinar com feats de artistas diferentes, e essas combinações e colaborações ajudam bastante e contribuíram para expandir tudo. Acho que estamos num ponto em que temos vários subgêneros debaixo da sombrinha do reggaeton. Há quem seja mais melódico ou mais urbano ou mais comercial. Há um pouco de tudo.

TMDQA!: Mas nada disso é novidade pra você, que cresceu com o reggaeton, como diz o nome do disco. Nesse trabalho você colaborou com os nomes mais quentes da música urbana por aí. Você se vê como a nova geração do reggaeton, junto com essa galera? Se sim, o que estão trazendo de novo que ainda não tinha sido feito?

Tainy: Há algumas coisas… São artistas que ouviram desde onde o reggaeton começou, as raízes e os sons, e que começaram a adicionar a sua própria personalidade e estilo, e é isso que eu mais tenho visto. E como falei, o fato de ter começado em Porto Rico e agora ter pessoas da Argentina, da República Dominicana, da Espanha… Todo mundo tem a sua própria cultura. E ter esses elementos acrescentados ao gênero ajuda a criar novos sons e artistas com visões diferentes. E isso é algo que tem sido feito agora e que eu não via antes. Cada um tem um estilo bem diferente, mas ao mesmo tempo fazem parte de um só gênero. Eu queria mostrar isso nesse EP e acho que conseguimos fazer isso acontecer. Se você ouvir, todo mundo soa super diferente entre si, mas ao mesmo tempo, todos nós crescemos ouvindo as mesmas coisas e somos parte do mesmo gênero urbano latino.

TMDQA!: Com certeza. E falando em novos nomes, você se apresenta agora como um artista também. Imagino que seja uma mudança grande ir de produtor, que fica sempre nos bastidores, para estar na frente dos holofotes. Você acha que isso mudou a percepção que as pessoas tinham de você – como um músico mais completo agora? Ou talvez tenha mudado a sua própria perspectiva sobre o seu trabalho…

Tainy: Acho que sim, é uma oportunidade de mostrar o meu trabalho. Muitos de nós tem influências e ideias, mas como produtor eu sempre tenho de seguir o artista quando estamos criando uma música para seu disco. Em geral ele já chega com uma visão específica que quer seguir. E acontece de ter coisas que eu quero tentar e que não funcionam pra eles ou não é o momento certo. Às vezes como produtor é complicado, porque há um limite do que você consegue fazer em termos de tentar coisas diferentes. E ter essa chance de que eles entrem no meu mundo e vejam que tipo de sons e mescla de gêneros que quero usar, a combinação de artistas… Acho que é um momento especial pra mim. Eu sempre quis fazer algo assim, mas agora pareceu a hora certa. Como produtor, acho que cheguei que em um nível que sinto que minha música está no patamar que precisava estar para fazer isso acontecer, e tinha as equipes à minha volta trabalhando com quase todo artista do gênero e que estavam dispostos a me apoiar nessa jornada. E tem sido bem legal. Não estou fazendo isso há tanto tempo, mas tem sido maravilhoso ter lançado um disco que está chamando a atenção das pessoas, então estou super empolgado pra isso.

TMDQA!: Dá pra imaginar! E acho que colaborar com outras pessoas é intrínseco ao trabalho de produtor. Queria saber o que você procura quando convida um artista para uma das suas faixas, e se há uma colaboração dos sonhos que você ainda não realizou.

Tainy: Quando estou criando uma música, pode começar comigo desenvolvendo algo pensando em algum artista específico, em quem tenho pensado e com quem quero trabalhar. Preciso encontrar um caminho de comunicar o que estou sentindo naquele momento, mas que também combine com o artista em quem estou pensando. Então às vezes é assim, ou às vezes eu começo a criar instrumentações diferentes e ideias e quando o artista está aqui na cidade, a gente começa a ouvir para encontrar algo que possamos fazer. E é assim com as colaborações também, às vezes eu preciso de um artista numa faixa, sentamos e conversamos sobre quem pode ser bom para aquilo, que se encaixaria perfeitamente na ideia da música, ou nos unimos com a equipe e tentamos pensar em quem poderia fazer sentido trazer e que não ficaria forçado. Queremos fazer algo que pareça orgânico e fluido e acrescente à música, ao invés de só juntar dois nomes super famosos, só pela possibilidade de atraírem as pessoas com seu superestrelato, então é algo que sempre tenho em mente quando quero criar uma música ou colaborar com outras pessoas. E como sonho, tem muitos artistas com quem queria trabalhar. Sou fã de diversos tipos de música, então quero ver como mesclar diferentes tipos de línguas ou gêneros… As pessoas sempre pensam no reggaeton como música pra festa, mas eu tenho tentado combinar esse lado dançante com um sentimento, uma vibração. Só pra citar alguém… Quem poderia ser? Sei lá, acho que Frank Ocean é alguém que eu gostaria muito que acontecesse… Talvez uma faixa com Bad Bunny e Frank, eu adoraria fazer acontecer, seria um sonho. Há muitas coisas aí fora, tenho uma lista longa e estou ansioso para trabalhar com todo mundo. Estou me esforçando para me manter produzindo e fazer as coisas acontecerem.

TMDQA!: Não sei se você está em quarentena agora…

Tainy: Estou sim.

TMDQA!: Só sei que a gente está tentando sobreviver a esses tempos loucos em que estamos vivendo, né? E como artista, dá pra trabalhar num momento assim? Tem sido bom ou ruim pra você, criativamente?

Tainy: É verdade que nós produtores temos uma facilidade de trabalhar, porque normalmente ficamos só num cômodo por horas criando música, e é verdade. Em geral estamos fechados em algum lugar, trabalhando em algo e criando. Mas é diferente quando você é obrigado a ficar em casa, sem poder sair. Em geral você consegue ir espairecer em algum lugar, comprar uma comida, ver amigos, e volta a trabalhar. Me ajustar a isso no início foi difícil. Eu não conseguia encontrar criatividade nesse momento, porque tinha isso em mente. Mas aos poucos, fui compreendendo e ficando mais à vontade e acostumado, já voltei a trabalhar de casa, estou falando com artistas, enviando arquivos, enviando ideias e eles me mandando vocais e coisas do tipo… Então estou conseguindo trabalhar, só precisava me ajustar ao que está acontecendo agora.

TMDQA!: Não sei se vamos nos acostumar com isso, mas pelo menos dá pra trabalhar de moletom, né?

Tainy: Exatamente (risos).

TMDQA!: Só pra terminar, sempre perguntamos aos artistas com quem conversamos sobre o que eles têm ouvido. E como estamos falando de ficar em casa, queria saber se tem algum disco que está sendo sua companhia, e que está nas suas playlists direto.

Tainy: Uau… Depende um pouco do meu humor no dia, mas ontem eu posso te falar que estava ouvindo aquelas playlists de artistas no Spotify e fiquei ouvindo Red Hot Chili Peppers, que são uma das minhas bandas favoritas e eles sempre me deixam numa vibração boa, nada muito louco, mas que me deixa no humor perfeito. Depende do dia. Eu posso trabalhar o dia todo ouvindo reggae, então… depende!

TMDQA!: Tá certo! Valeu, Tainy. Quem sabe quando toda essa loucura passar, a gente te vê aqui no Brasil.

Tainy: Seria maravilhoso!

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