The Darkness
Divulgação

Ter um grande hit na carreira é sempre interessante, mas muitas vezes pode trazer mais problemas do que você imagina. O The Darkness viveu isso na pele depois do sucesso de “I Believe in a Thing Called Love”, que disparou a banda ao mundo em 2003 junto com o aclamado disco Permission to Land.

O sucesso foi tão grande que a estrutura não resistiu, e o fim chegou em 2006. Anos depois, Justin HawkinsDan HawkinsFrankie Poullain e Ed Graham se reuniram e voltaram a fazer o que faziam melhor: boa música. Em 2014, Graham deixou a banda e eventualmente Rufus Tiger Taylor, filho de Roger Taylor (Queen), assumiu as baquetas na formação que dura até hoje.

Em 2019, a banda consolidou de vez a nova fase — mais madura — com a ótima ópera rock Easter Is Cancelled. Narrando uma história que metaforiza o rock and roll como Jesus por meio de sua morte e renascimento, o álbum passeia por diversos sentimentos e pegadas diferentes do gênero dentro das 10 faixas que o compõem. Nas versões mais completas (inclusive no streaming), ainda existem 5 outras canções que não fazem parte da trama principal.

Com a Páscoa realmente cancelada em meio à quarentena pelo novo Coronavírus, ouvimos o baixista Frankie Poullain contar todas as histórias desse novo trabalho, do período de maior sucesso e ainda dar conselhos a bandas jovens. Confira a seguir!

Entrevista com Frankie Poullain (The Darkness)

TMDQA!: Oi, Frankie! Tudo bem por aí? Como está a sua quarentena?

Frankie Poullain: Olá! Estou um pouco confuso com essa tecnologia, é a primeira vez que uso o Zoom. [risos] Mas tudo bem, eu me sinto até um pouco culpado porque estou curtindo esse período. Sentir o ar puro, ouvir os pássaros cantarem… tudo tem um cheiro melhor, especialmente [aqui] em Londres.

TMDQA!: Eu imagino! Bom, essa entrevista me parece bem irônica porque viemos falar sobre o disco Easter Is Cancelled [“A Páscoa Está Cancelada”, em português] e, de algumas formas, a Páscoa foi realmente cancelada. Mas eu sei que na verdade não era bem essa a mensagem, trata-se de uma metáfora para a morte e ressurreição do Rock and Roll, certo? Pode contar um pouco mais pra gente sobre essa ideia?

FrankieSim, é algo que sempre curtimos fazer. A gente conseguiu usar um pouco de iconografia, pegar algo que é bem tradicional e “fechado” e se divertir com isso. A crucificação é, geralmente, associada com algo negativo e nós pegamos esse fato e o usamos para imaginar algo diferente… Aliás, é algo que também gostamos de fazer, essa coisa do multiverso. Imaginar uma sequência diferente dos fatos, uma realidade separada, como o que aconteceria se não houvesse Páscoa, se Jesus Cristo estivesse vivo.

No fim das contas, a nossa maior referência foi A Vida de Brian [filme de Monty Python], sabe? Acho que todo inglês quando vai trazer um tom bem-humorado a algo que envolve religião se vê influenciado por isso. [risos] No fim, é tudo uma diversão, estamos nos divertindo e não temos intenção de ofender ninguém porque se quiséssemos ofender alguém a gente teria ido por um caminho mais violento.

Também foi uma forma da gente zoar com o Império Romano, que ok, teve muitas conquistas e glórias, mas também vários elementos sinistros e de crueldade que nos levaram a esse caminho de industrialização e capitalismo.

A morte e ressurreição do Rock and Roll

TMDQA!: Ainda sobre esse tema do disco, a faixa que abre o trabalho se chama “Rock and Roll Deserves to Die” [“O Rock and Roll Merece Morrer”]. Isso me levou a pensar que é o que temos visto, pelo menos dentro do mainstream. O Rock como conhecíamos teve que ser abandonado para voltar renovado, inclusive com artistas Pop puxando muito do gênero. Como você vê essa situação?

Frankie: Bom, eu não ouço muita coisa do Pop, então não posso falar muito sobre isso. [risos] Mas eu concordo com o que você disse sim, e acho que ele teve que renascer, ser repensado. Nós vivemos em uma realidade muito diferente do que o final dos anos 70, e mais ainda dos anos 60. Então acho que é uma oportunidade para qualquer artista se desafiar e não lançar algo clichê; nada é mais desanimador para mim do que quando vamos tocar em alguma cidade e nos levam para um “bar de Rock”, e aí chegamos lá e tem umas garrafas de Jack Daniels, um pôster do KISS na parede, e todo mundo parece ter as mesmas tatuagens, com as correntes penduradas nos cintos, os crucifixos no pescoço… Virou um uniforme. E isso é a última coisa que o Rock and Roll deveria ser! Nós temos que nos distanciar o máximo possível da uniformidade.

E talvez até essa palavra [Rock] tenha perdido o sentido. Agora as pessoas associam isso com museus, coisas antigas, e é a herança disso tudo. Quando começou, era algo que parecia um trovão — era algo que energizava tudo, era algo sexual, primitivo, era sobre assumir riscos. Hoje parece que os riscos são outros.

Sucesso tardio e conselhos para músicos jovens

TMDQA!: Uma coisa que eu percebi enquanto preparava a entrevista e que eu nunca tinha me tocado é que apesar do Permission to Land ter sido o álbum de estreia de vocês, vocês não eram exatamente novos. Na época, todos já tinham mais de 30 anos! Como foi esse caminho pra vocês, entre a adolescência tentando viver de música por anos até finalmente conseguir lançar um disco e ser tão aclamado?

Frankie: Acho que é o que acontece sempre na vida: você colhe o que plantou. Mas foram dez anos de batalha para lançar o disco, e foram anos de irmandade, de companheirismo e ficamos todos muito próximos — quando você passa dificuldades com alguém, você desenvolve laços com eles. Então é por isso que foi particularmente chato quando tivemos um enorme sucesso e essa irmandade meio que se desfez. Isso foi difícil. [Nota: Frankie foi o primeiro a deixar o The Darkness em 2005, um ano antes de declararem o fim]

Mas devo dizer que foi essa mesma proximidade que nos permitiu reunir a banda. E agora nós já estamos juntos há mais tempo desde que voltamos do que estivemos na primeira vez; já são nove anos desde 2011. Essa segunda “onda” da banda já durou mais que a primeira e provavelmente está sendo mais divertida.

TMDQA!: Com certeza temos diversos músicos em situações parecidas atualmente, buscando ter sucesso o suficiente para viver da arte. Mesmo antes do The Darkness, foram anos até conseguir isso; como você conseguiu se manter firme, sem desistir?

Frankie: Eu me divertia, no fim das contas. Foi o que me manteve em frente. A gente se diverte demais, e na verdade isso já nos fez sofrer com algumas coisas. As pessoas muitas vezes acham que somos uma banda de piadas, mas só somos bem-humorados. O Permission to Land dividiu entre metade das pessoas nos vendo como uma banda de comédia e metade nos levando a sério.

Com o tempo, acho que chegamos em um ponto no qual a maioria das pessoas nos entende. Bom, os que ficaram — que obviamente não são tantos assim. [risos] A coisa boa disso é que quem ficou já entendeu o que somos, porque já são sete álbuns e nós somos representados por todos eles. Aliás, não ser representado pela sua música é a pior coisa. Se você está em uma banda ou é artistas, a pior coisa é ser influenciado demais por uma gravadora ou qualquer coisa assim. Pode ser estressante demais, sabe? Se você vê que alguém te influencia demais em uma coisinha que seja, uma capa ou um título de disco, que você entende depois que passou despercebido. É bem desapontante. Então a coisa mais importante é se sentir empoderado e ser responsável pela sua própria criatividade.

A pressão de um hit

TMDQA!: Você falou sobre essa questão de enxergarem o Darkness como uma banda de comédia. Acho que isso tem muito a ver com “I Believe in a Thing Called Love”, né? E ao mesmo tempo, essa música deve ter ocasionado uma grande pressão por parte da gravadora, já que foi um sucesso estrondoso. Como foi lidar com isso?

Frankie: Da nossa parte não havia nenhuma pressão, mas na época estávamos em uma grande gravadora. E dava pra sentir que a gravadora estava em pânico… era uma época, lá em 2004, 2005, que as pessoas estavam ficando malucas porque as vendas de CDs estavam começando a cair de fato, todos estavam assustados. E as gravadoras começaram a se fundir umas com as outras, e a Atlantic, que era a nossa, se fundiu com a Elektra, então foi uma grande confusão. E meio que a nossa campanha, que estava indo muito bem, ficou presa no meio de tudo isso.

Para responder sua pergunta, nós definitivamente não sentimos nenhuma pressão para continuar fazendo sucesso ou qualquer coisa do tipo, mas as gravadoras sim. E quando você tem gravadoras em pânico respirando no seu cangote… não é a melhor coisa que eu já vivi. [risos]

TMDQA!: Bom, para finalizar, o nosso site se chama Tenho Mais Discos Que Amigos. Nesses tempos de isolamento, qual disco tem sido seu melhor amigo?

Frankie: [risos] Adorei a pergunta! Eu acho que eu poderia escolher um que sempre esteve ao meu lado, como o Purple Rain, do Prince. Mas acho que eu vou escolher o What’s Going On, do Marvin Gaye, porque é o que faz eu me sentir melhor em tempos difíceis!

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