Elton John
Foto: Ludmila Joaquina Valentina Buyo, via Flickr

A atual situação de pandemia causada pelo novo coronavírus é sem precedentes em muitos sentidos. Por outro lado, está longe de ser a primeira doença nessas proporções na história da humanidade — são vários outros exemplos durante a existência da nossa espécie.

Sempre que uma pandemia ocorre, a arte vira um refúgio para muitos. Mais do que isso, constantemente se transforma em súplica ou até mesmo resistência; entre todas as suas formas, a música talvez seja uma das que mais se destaca pelo conteúdo muitas vezes literal e expressivo.

Com o novo coronavírus não está sendo diferente: já temos até bandas inspiradas na COVID-19, e artistas têm feito lives ao redor do mundo cantando suas composições e, às vezes, como no caso de Jon Bon Jovi Ben Gibbard, escrevendo faixas sobre o vírus junto com os fãs.

Abaixo, separamos 10 músicas escritas durante épocas que vão desde a Grande Praga de Londres (1665) até o novo coronavírus e marcaram os períodos referentes a essas pandemias.

Guillaume de Machaut – “Nes que on porroit” (Peste Negra, cerca de 1350)

A lista já começa com uma exceção, já que “Nes que on porroit” não trata da pandemia da peste negra que tomou conta do mundo entre 1348 e 1350. Guillaume de Machaut ficou bastante conhecido por suas composições seculares, indo na contramão da arte sagrada da época.

Acredita-se que essa música tenha sido escrita em um período no qual muitos acreditavam que a humanidade estava perdida. Portanto, falava-se até sobre as “festas da peste negra” — sem esperanças, as pessoas se entregavam à pandemia e abriam mão de seus bens para festejar sem medo da morte. Machaut também foi na contramão disso, se isolando e compondo essa belíssima canção de amor.

John Cooke – “Stella celi” (Peste Negra, anos 1400)

Um hino dedicado à Virgem Maria, Stella celi é virtualmente um pedido de ajuda aos deuses para lidar com a famigerada Peste Negra, que à época estava em sua segunda onda. Na canção, fala-se até mesmo em uma “estrela do céu” (Stella celi) que consegue derrotar a praga.

Canção de Ninar – “Ring a Ring o’ Roses” (Grande Praga de Londres, 1665)

É, por mais estranho que pareça, uma canção de ninar bem comum na Inglaterra e até em outros países como Alemanha e Itália faz referência à Grande Praga de Londres, variante da peste bubônica que assolou a cidade britânica em 1665. Em geral, pelo menos, essa é a explicação mais aceita — ainda assim, não se sabe a origem exata da cantiga e se a letra fala realmente da pandemia.

Em tradução livre, a canção diz algo como “Gira, gira, rosas / Um bolso cheio de plantas [medicinais, que supostamente curavam a doença] / Atchim! Atchim! / Todos nós caímos”. Um pouco mórbido, hein? A música ainda ganhou uma espécie de releitura pela incrível  Charlotte Gainsbourg há alguns anos.

Johann Sebastian Bach – “Es ist nichts Gesundes an meinem Leibe, BWV 25” (Grande Praga de Marselha, 1723)

A cantata 25 de Bach surgiu cerca de um ano depois da Grande Praga de Marselha. A última grande contaminação devido à peste bubônica deixou mais de 100 mil mortos, e o texto da obra cita até o “mundo como um hospital” e as “crianças enterradas com doenças”.

Blind Willie Johnson – “Jesus Is Coming Soon” (Gripe Espanhola, 1928)

Lendário nome do blues, Blind Willie Johnson viveu a pandemia da Gripe Espanhola em 1918 e tratou disso na canção “Jesus Is Coming Soon”, que relatava os episódios dos anos em que o surto tomou conta do mundo. Eventualmente, a canção ganharia até versão de Eric Clapton.

Big Bill Broonzy – “Pneumonia Blues” (Pneumonia, 1936)

No começo do século vinte, além da Gripe Espanhola, a Pneumonia também afligiu muitos lares pelo mundo. Isso inspirou o cantor Big Bill Broonzy, que fez um blues carregadíssimo em “Pneumonia Blues”, lançada em 1936. Curiosidade: outra música com o mesmo nome e o mesmo tema, mas bem diferente da de Broonzy, saiu em 1929. Ela foi gravada por Blind Lemon Jefferson e via o músico culpar uma mulher de “má reputação” por fazê-lo adquirir a doença ao ficar na chuva esperando a moça. Aí não, hein?

The Ethiopians – “Hong Kong Flu” (Gripe de Hong Kong, 1970)

Para o The Ethiopians e boa parte da Jamaica, não havia nada melhor para espantar a pandemia da Gripe de Hong Kong — que atingiu grande parte do planeta entre 1968 e 1969, deixando cerca de 1 milhão de mortos — do que dançar. Se funcionava, é difícil saber; o fato é que o reggae/ska de “Hong Kong Flu” é bem contagiante.

Elton John – “The Last Song” (AIDS, 1992)

Após o mundo perder Freddie Mercury para a AIDS, o parceiro de composições de longa data de Elton JohnBernie Taupin, escreveu a belíssima “The Last Song” que viria a ser a primeira música lançada em benefício de sua fundação contra a doença. A letra se trata de um pai que tenta aceitar a sexualidade do filho, que está em leito de morte por complicações da AIDS.

Elton conta que estava “chorando o tempo todo” enquanto escrevia a música, e descreve como “muito difícil” cantá-la.

Vários Artistas – “Plague Songs” (2006)

Única outra exceção nessa lista, Plague Songs está aqui por um motivo. O álbum, iniciativa do projeto Artangel que contou com grandes artistas como Brian EnoImogen HeapRufus Wainwright e muito mais, tratava das Dez Grandes Pragas do Egito descritas no livro bíblico do Êxodo. Cada uma das canções falava de uma praga — “Glittering Cloud”, disponível acima, falava dos gafanhotos.

No entanto, a escolha desse disco é apenas ilustrativa. A verdade é que em épocas que não tínhamos quaisquer registros musicais fala-se de diversos poetas que foram chamados para ajudar a conter pragas em regiões como Esparta e no próprio Egito Antigo. Claro que a sonoridade não deveria ter nada a ver com o disco em questão, mas não seria de se espantar se esses povos tivessem escrito suas canções sobre essas pandemias.

twenty one pilots – “Level of Concern” (Coronavírus, 2020)

twenty one pilots está entre os primeiros grandes nomes da mídia a lançar uma canção escrita durante os tempos de Coronavírus e tratando do tema de alguma forma. O duo formado por Tyler Joseph e Josh Dun aborda temas como a quarentena e tenta promover a união nesses tempos de crise. Mais do que isso, a canção foi um afago para os fãs da banda sofrendo com os efeitos do surto.

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