Princess Nokia
Foto: Divulgação

Na química, centrifugação é o processo de separação de misturas em diferentes componentes. Separa o que é mais denso do que é menos denso. É um processo muito utilizado na área para se entender as peculiaridades de uma determinada substância.

Agora vamos tentar trazer isso para o mundo da música. Se um artista bebe de diversas influências para gerar sua sonoridade, é interessante destrincharmos isso para entender mais sobre aquele som. Assim conseguimos assimilar melhor sua proposta, assim entendemos melhor sua proposta artística. Mas não temos uma centrífuga para isto, certo?

De uma forma diferente, eis que a rapper norte-americana Princess Nokia “centrifugou” sua sonoridade para o lançamento de dois discos no mesmo dia. Ela botou em paralelo suas diferentes visões sobre o mundo e sobre a música em seus mais novos lançamentos, intitulados justamente Everything Is Beautiful (“Tudo é Belo”) e Everything Sucks (“Tudo é Uma Porcaria”).

Ambos os discos, que somam um total de 22 faixas, foram lançados na última quarta (26). No entanto, o conceito dos álbuns vai além da proposta de um disco duplo qualquer. A ousadia principal está em fazer discos completamente diferentes em termos musicais. Caso não tenha se familiarizado ainda com a voz de Nokia, talvez um desavisado possa até entender que são discos de artistas diferentes.

 

Tudo é lindo na leveza do neo soul

Destiny Frasqueri, a Princess Nokia, deixou sua essência mais romântica, leve e solar tomar conta de Everything Is Beautiful. Sobre instrumentais mais melódicos que passeiam pela delicadeza do neo soul, a rapper fez questão de versar sobre temas cotidianos e mais divertidos, a exemplo da abertura “Green Eggs & Ham“.

Além disso, fica clara ao longo do disco a utilização de referências da cultura musical latino-americana. Faixas que exemplificam isso são “Soul Food Y Adobo” e “Gemini“. Mas existe mais além dessa veia latina. Em termos instrumentais, o disco pode ser associado às sonoridades de nomes como Chance The Rapper e Alicia Keys.

 

Tudo é péssimo na brutalidade do trap

O outro lado de Nokia protagonizou Everything Sucks. Mais agressiva e crítica, a rapper usou os graves do trap e elementos do rock para apontar o dedo e criticar. Logo em “Harley Quinn“, primeira faixa do disco, a ouvimos repetir incessantemente o termo “fuck you”.

Enquanto Everything is Beautiful nos transmite a sensação de uma manhã e de uma tarde ensolarada, este outro disco nos leva para uma tensa noite ou madrugada. Isso, é claro, não é ruim, já que expõe a outra faceta da musicalidade de Nokia (justamente a que ficou faltando no primeiro).

O que era solar vira trevas. Em “Welcome to the Circus“, por exemplo, a cantora nos apresenta o “mundo que a faz nervosa”. Vários temas mais reflexivos são apresentados ao longo das letras do disco, desde a obsessão por smartphones até relacionamentos abusivos.

 

Dualidade

O disco abre discussões a respeito de personalidades. Aliás, como você deixa o mundo te ver? Já parou para refletir que as pessoas podem ter uma visão unilateral da sua pessoa?

Os humores e os comportamentos de uma pessoa podem variar dependendo de momentos. Nokia é verdadeira ao mostrar seu lado feminino enquanto artista de gênero fluido em Beautiful. Por outro lado, ela também se mostra verdadeira ao não poupar palavras para dizer o que pensa em Sucks. São perspectivas diferentes, mas uma não anula a outra em momento algum.

A paleta colorida à qual o primeiro disco nos remete mostra um lado da cantora, enquanto o lado mais “dark” do segundo nos remete a outro. É como qualquer forma geométrica. Um lado pode ofuscar o outro, mas não descarta sua existência. Se não havíamos percebido essa pluralidade contida em Nokia antes, foi por conta de seus discos anteriores (Metallic Butterfly, de 2014, e 1992 Deluxe, de 2017), que misturam suas influências como se colocassem ingredientes em um liquidificador.

É bom conhecer esse lado “centrifugado” da cantora, que bebe de diferentes fontes e mostra que tem muito assunto para falar sobre.

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