Tommy Vext, vocalista do Bad Wolves
Foto: Wikimedia Commons

Em 2018, um supergrupo de heavy metal dos EUA ganhava grande notoriedade depois de uma história melancólica. O Bad Wolves estava prestes a lançar seu primeiro disco de estúdio e apostava em uma cover de “Zombie”, do The Cranberries, que havia recebido a bênção da vocalista Dolores O’Riordan — que inclusive estava se preparando para gravar uma participação na faixa.

Infelizmente, Dolores faleceu antes de conseguir deixar esse registro. Ainda assim, a versão ajudou a lançar uma das bandas mais interessantes da nova cena heavy metal (que fez questão de doar todos os lucros da canção).

Formado por Tommy Vext (Divine Heresy, Snot), John Boecklin (DevilDriver), Doc Coyle (God Forbid), Chris Cain (Bury Your Dead, For the Fallen Dreams) e Kyle Konkiel (In This Moment, Scar the Martyr, Vimic), o Bad Wolves acaba de se estabelecer de vez na cena com o disco N.A.T.I.O.N., apostando 100% nas músicas próprias e em uma sonoridade mais madura.

Misturando uma sonoridade vocal melódica com um instrumental pesado, o novo álbum vem para mostrar que ainda há muito o que explorar dentro do Rock.

Exibindo um lado bastante consciente, explorando pontos de vista diferentes como a perspectiva familiar das vítimas de alcoolismo (em “Sober”) ou a dor da mulher que é traída (em “Killing Me Slowly”), a obra rendeu uma conversa bem interessante com Vext. O vocalista nos atendeu por telefone e você pode conferir o papo logo a seguir!

Entrevista com Tommy Vext (Bad Wolves)

TMDQA!: Oi Tommy! Como você está, cara?

Tommy Vext: Estou bem, um pouco cansado, fiquei até tarde filmando ontem à noite e daqui a pouco tenho que ir pro ensaio. Mas tudo certo!

TMDQA!: Correria! Bom, queria começar justamente parabenizando pelo trabalho, especialmente o novo álbum, N.A.T.I.O.N.. É um disco que soa mais maduro do que o anterior, e ao mesmo tempo já ouvi você dizer que foi mais fácil fazê-lo. Você acha que isso aconteceu porque as canções foram fluindo ou por já ter tido uma experiência de gravação com o Bad Wolves?

TV: Eu acho que foi uma combinação da experiência de ter feito um álbum junto com esses caras com a experiência de estrada. Em 2018, nós fizemos 200 shows. [risos] Nós ficamos muito próximos o tempo todo, e acho que quando fomos para o estúdio a gente não precisou ficar conversando muito. Todo mundo sabia o que queria. Foi um processo muito mais leve e focado.

TMDQA!: Você falou de fazer muitos shows e isso ter ajudado no disco, e foi uma coisa que eu percebi. Os shows de vocês são muito intensos, e parece que o novo trabalho conseguiu traduzir isso melhor do que nunca. Acho que muito disso, inclusive, vem da sua capacidade vocal de variar entre as melodias e os gritos de forma muito balanceada. Como vocês exploram esse equilíbrio para continuar mantendo o peso?

TV: Eu acho que isso acontece porque a música tem muita intensidade, é muito percussiva, a afinação é baixa. Mas, assim, eu canto e grito em bandas há 20, 20 e poucos anos. Eu já estive em bandas de metal extremo, e acho que com o tempo eu fui aprendendo que as coisas ficam mais bonitas quando têm mais cores. E aí a gente aprende a colorir as linhas melódicas, e usar o grito enquanto recurso quando fizer sentido.

Acho que essa variação dá um belo recurso emocional às músicas. Os Deftones são muito bons nisso. E sei lá, acho que outra coisa é que muitos dos vocalistas que gritam não têm nenhuma subjetividade nas vozes. Existem alguns caras que gritam e você sabe exatamente quem são. Você sabe exatamente quando é Randy Blythe (Lamb of God), quando é Phil Anselmo (Pantera), quando é o Max Cavalera (Sepultura, Soulfly), sabe? Mas algumas das bandas da nova geração eu não consigo ver nenhuma diferença entre os gritos deles. Então, pra mim, é mais importante que a minha voz seja identificável. Eu quero que as pessoas ouçam e pensem “Ah, isso é Bad Wolves”.

“Sober” e a luta contra as drogas

TMDQA!: Ouvindo o disco novo, por mais que as músicas mais pesadas tenham sido bem chamativas, “Sober” foi a faixa que ficou mais em evidência pra mim. A mensagem que ela passa parece ser muito sensível e necessária nos dias de hoje. Pode me contar mais sobre?

TV: Claro! Bom, a maioria das pessoas que me conhece sabe que eu tenho estado em recuperação de drogas e álcool há quase 11 anos. Eu acho que foi importante contar não apenas a história do viciado em álcool, não só da primeira pessoa, porque vários dos meus artistas preferidos ao longo dos anos, desde a era do grunge, eles falavam sobre seus vícios e tudo mais. Mas várias pessoas, os familiares, as pessoas queridas, eles sofrem também. E foi muito importante pra mim meio que ilustrar esse alcoolismo e esse vício dentro da família.

É a única doença que afeta todas as pessoas ao redor do alcoólatra ou do viciado.

Nós trabalhamos muito pra fazer um vídeo que representasse bem essa situação, que saiu recentemente. É um clipe muito emocionante, e as pessoas que aparecem são baseadas em pessoas que eu conheci na vida real. Então, essa música, o clipe, tudo é parte de uma história real sobre como essas pessoas e suas famílias tiveram dificuldades para superar o alcoolismo e o vício.

O fenômeno de “Zombie” e o Rock atualmente

TMDQA!: Vocês estouraram por conta de uma história completamente inesperada envolvendo uma cover de “Zombie”, do The Cranberries, que foi aprovada pela saudosa Dolores O’Riordan e teria até vocais dela se não houvesse acontecido aquela triste fatalidade. Você acha que, apesar de ter sido uma versão, essa música gerou toda uma comunidade de fãs pra vocês?

TV: “Zombie” foi todo um fenômeno, e gerou de fato toda uma comunidade que ficou conosco. Eu acho que foi uma combinação do fato da Dolores ter falecido, sendo que ela iria gravar uma participação na música, e de termos decidido doar todos os lucros da faixa. Acho que isso, por si, virou uma grande notícia que não estávamos prevendo.

E a música, cara, eu acho que nós fizemos um trabalho bom o suficiente pra ela gostar. E as pessoas gostaram também, o suficiente para nós sabermos que as pessoas ainda querem ouvir guitarras e solos e vozes e baterias e instrumentos de verdade, sabe? O Rock não está morto, cara. Nós vimos isso em primeira mão quando saímos em turnê com bandas como Breaking BenjaminShinedown Five Finger Death Punch. Nós tocamos em festivais na Europa com o TOOL, o Killswitch Engage, o Slayer

TMDQA!: Como você enxerga esse momento do Rock? Acha que essa comunidade como um todo está mais forte do que nunca?

TV: Eu sinto que em uma escala global, o Rock nunca irá morrer. Eu acho que a gente não vai ser celebrado, sabe, nessas premiações e festas e tudo mais. Nós não somos mais os caras legais. Os rappers passaram a roubar nossas roupas. (risos) Eles querem usar nossas roupas [se referindo aos rappers que usam camisas de banda de Rock] mas não querem nos chamar pra festa, cara. [risos] Mas, ao mesmo tempo, eu entendo que não dá para você levar o povo do heavy metal na TV, porque a gente pode falar coisas reais! [risos] Eles ficam com medo, porque nós podemos articular algo que esteja errado no sistema.

E por mim está tudo bem. Eu acho que a gente faz música de verdade para pessoas de verdade. E tá tudo bem. Tem muita gente de verdade por aí.

Tommy Vext e as novas “atitudes de rockstar”

TMDQA!: É legal você falar isso de mostrar o que está errado no sistema, porque vi em uma entrevista recente você contando sobre o trabalho que fez com pessoas sem-teto em Los Angeles. Você acha que essa é a nova “atitude de rockstar” ou ainda há espaço para a mentalidade “sexo, drogas e Rock and Roll”?

TV: Olha, cara… Eu acho que a mentalidade de “sexo, drogas e Rock and Roll”, do glam metal e tudo mais, foi adotada pelo hip hop e pelo pop. Eu acho que dentro do gênero do rock, nós perdemos tanta gente [para essa mentalidade] que as pessoas em geral já têm seus próprios problemas, então a gente se foca, como um gênero, em tentar ser positivo.

Várias bandas como a gente, o Disturbed, o Five Finger Death Punch e o KoRn, estão falando sobre essas coisas. Estão falando sobre problemas de saúde mental. E vários artistas… o motivo verdadeiro pelo qual artistas abusam de drogas e álcool é a saúde mental. Tudo começa no desbalanceamento químico, sabe? E nós aprendemos a nos “medicar” através da música e da droga e do álcool, e muita gente morreu e tipo… eu entendi o recado. Eu pensei tipo, “eu não quero fazer mais isso”. Eu já tive uma overdose antes de ficar sóbrio, e é algo que eu não quero nunca mais.

Mas se eu acho que tem espaço pra isso no Rock? Talvez, cara. Mas não pra mim. A geração mais jovem, sei lá, talvez eles ainda precisem aprender. Mas pra mim não dá mais. Eu não vou a boates, não faço essas coisas há anos.

Apoio do Five Finger Death Punch

TMDQA!: Bom, para finalizar, eu sei que vocês tiveram um grande apoio do Five Finger Death Punch nesse começo, e eles já fizeram isso por diversas bandas. Você sente que em breve será a sua vez de fazer isso? Essa ideia te empolga?

TV: Cara, a gente meio que já começou esse processo! Tem algumas bandas que a gente já meio que empurrou pra gravadora e eles devem lançar coisas ainda este ano. Eu trabalho bem próximo a alguns dos artistas, e eu acho que existe uma mentalidade positiva nesse meio e com bandas como essas nós estamos olhando um pouco pra fora do nosso gênero. Porque tradicionalmente, as bandas de Rock sempre olharam umas pras outras e acaba envolvendo muito ego e tudo mais…

Aí você vê um cara como o Dr. Dre assinando o Eminem, e o Eminem assinando o 50 Cent, e o 50 Cent assinando o The Game. Essas pessoas do hip hop contrataram outras pessoas que eles julgaram talentosas e os ajudaram, ao invés de tratá-los como concorrentes. Foi isso que o Five Finger fez com a gente, e é isso que vamos fazer com as outras bandas. Esperamos que seja uma reação em cadeia!

TMDQA!: Também esperamos! Muito obrigado pelo seu tempo e até a próxima.

TV: Até mais!

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