Spike Jonze é um dos maiores nomes no rol de diretores em atividade, principalmente por estar envolvido em tantas empreitadas diferentes.
Ele começou sua carreira como adolescente, fotografando skatistas e praticantes de BMX para revistas especializadas. A paixão pelos esportes radicais o levou a fundar a revista Dirt, e eventualmente ao influente filme de skate de rua Video Days, em 1991.
Com isso, Jonze (que na verdade se chama Adam Spiegel) passou a ser contratado para dirigir clipes de bandas e solidificou sua presença no meio. O primeiro trabalho assinado por ele é a faixa “Hush”, do modesto Wax.
Desde então, o cara não parou mais e tem uma das filmografias mais extensas e diversificadas: ele é, ao mesmo tempo, criador da série Jackass e diretor dos conceituados filmes Her (nomeado ao prêmio de Melhor Filme no Oscar e vencedor da estatueta por melhor roteiro original, escrito pelo diretor) e Quero Ser John Malkovich.
Entre trabalhos de atuação (como em O Lobo de Wall Street), produção e direção, é possível dizer que seus clipes ainda se destacam como algo pra lá de especial. Ainda assim, resolvemos assumir a (dura!) missão de escolher apenas 10 que representem sua carreira e você pode conferir abaixo!
Não poderia começar diferente: “100%”, do Sonic Youth, foi o primeiro grande projeto assinado por Spike Jonze e tem uma história ótima.
Como falamos acima, Video Days se tornou um clássico na comunidade do skate e acabou chegando às mãos da lendária Kim Gordon. Ela ficou impressionada com a fita que recebeu de Mark Gonzales, co-fundador da Blind Skateboards, e foi atrás de Jonze para dirigir um vídeo recheado de skate. O resultado é o que você vê a seguir.
James Murphy, líder do LCD Soundsystem, co-dirigiu o clipe de “Drunk Girls” e explicou que a canção é “idiota” – mas também afirmou que gosta de coisas “idiotas e curtas”. A proposta da produção é bem conectada com sua percepção da música, já que mostra integrantes da banda tentando se apresentar enquanto pessoas vestidas de panda os perturbam.
Acabou ficando divertido pra caramba!
Muito antes de virarem desafetos, Jay-Z e Kanye West uniram forças para o incrível disco Watch the Throne. Para divulgar a faixa “Otis”, que contava com participação do icônico Otis Redding, eles resolveram recrutar Jonze.
Em um trabalho impecável, o diretor capturou a essência da amizade da dupla naquele momento. O vídeo complementa perfeitamente a canção que mistura ritmos clássicos americanos e o rap moderno, traduzindo essa disparidade em elementos visuais.
O Yeah Yeah Yeahs é uma banda constantemente subestimada e esquecida, mas merece muito respeito. Uma das canções mais legais da banda é “Y Control”, do disco de estreia Fever to Tell (2004).
Último single do álbum, a faixa ganhou um vídeo no mínimo controverso dirigido por Jonze, na época namorado da vocalista Karen O. Incluindo imagens de crianças carregando um cachorro morto, dando dedo e participando de cenas de mutilação, a polêmica foi bem justificada. Apesar de ter sido classificado à época como “amador” e “conto de fadas que deu errado”, o clipe ganhou status de clássico.
Histórico por ter sido um dos últimos “azarões” a ganhar o Grammy de Álbum do Ano, o The Suburbs do Arcade Fire também contou com o dedo de Spike Jonze. O clipe da faixa-título, aliás, uniu o útil ao agradável para o diretor: o tema se encaixou com o curta Scenes from the Suburbs (Cenas dos Subúrbios, em português), dirigido por Jonze e inspirado no disco dos canadenses. Daí, o clipe foi montado com excertos do filme.
De acordo com críticas da época, a obra de Spike foi avaliada como uma “mistura da paranóia dos filmes de Terry Gilliam com a nostalgia clássica de Steven Spielberg“. Vale a pena conferir ambos!
“Da Funk” foi um dos primeiros sucessos do Daft Punk e o clipe que a acompanha também virou um clássico. Aproveitando-se do fato de ser uma música instrumental, Spike transformou a canção em trilha sonora de uma espécie de curta chamado Big City Nights (“Noites na Cidade Grande”, em português).
Seguindo a história do homem-cachorro Charles (retratado pelo ator Tony Maxwell), o clipe mostra a vida do ser antropomórfico em seu primeiro mês na gigantesca e caótica Nova Iorque, vivendo momentos de bullying e decepção amorosa. Mas a mensagem é bem simples, como explicou Thomas Bangalter (do Daft Punk):
Não tem história. É só um homem-cachorro andando com um som em Nova Iorque. O resto não deve significar nada. As pessoas ficam tentando explicar: É sobre a tolerância humana? Integração? Urbanismo? Não tem nenhuma mensagem na verdade. Algum dia haverá uma sequência.
Ainda estamos esperando…
Até hoje o maior sucesso da incrível Björk, “It’s Oh So Quiet” é cover de uma canção de 1951 (de Betty Hutton) e ganhou um vídeo bem condizente, com formato de musical da Broadway e trabalhado na estética dos EUA cinquentista.
O vídeo foi nomeado a diversos prêmios, inclusive a um Grammy de Melhor Clipe em Formato Curto (onde perdeu para “Scream”, de Michael Jackson). O fato é que é sensacional e vale a pena relembrar!
Gravado como se a banda fosse se apresentar no seriado Happy Days (Dias Felizes, no Brasil), o clipe de “Buddy Holly” talvez tenha sido o grande responsável por lançar de vez o Weezer.
Com uma pegada bem sitcom, a obra foi extremamente bem recebida e ficou no ar por meses na MTV. Além disso, foram diversos prêmios como o de Melhor Direção no MTV Video Music Awards de 1995 e até uma indicação a Vídeo do Ano.
Outra história pra lá de curiosa — e que certamente ajudou na divulgação — foi a inclusão do vídeo no CD de instalação do Windows 95! Na época, a estratégia não foi nem comunicada aos integrantes da banda, e o baterista Patrick Wilson eventualmente veio a descrever sua incredulidade com o impacto que isso teve:
Eu fiquei furioso porque na época eu estava tipo, ‘Como eles podem fazer isso sem a nossa permissão?’ No fim das contas foi uma das melhores coisas que poderia nos ter acontecido. Você consegue imaginar isso hoje? É tipo, só tem um vídeo no YouTube, e é o seu vídeo.
Que loucura!
O primeiro trabalho de Jonze com o Fatboy Slim foi para o icônico vídeo de “Praise You”, mas ali ele apenas participou como ator. A história, no entanto, já é sensacional: depois de não conseguir participar do clipe de “The Rockafeller Skank”, o diretor mandou um vídeo de sua própria dança ao DJ inglês como um “presente” de compensação.
O músico adorou a gravação e deu o aval para que ele comandasse as coreografias de “Praise You”. 2 anos depois, a parceria voltou a acontecer em “Weapon of Choice” e dessa vez Spike esteve atrás das câmeras. Quem roubou os holofotes foi o sensacional Christopher Walken, que usou todo o seu passado em companhias de dança para uma performance inesquecível.
Walken já citou, inclusive, que o envolvimento de Jonze foi um dos principais motivos de sua participação. Valeu a pena: a obra foi premiada com um Grammy de Melhor Clipe em Formato Curto!
Não poderia faltar! A parceria entre os Beastie Boys e Spike Jonze é uma das mais legais e vai até render um livro assinado pelo diretor contando bastidores dos caras.
Apesar de ter trabalhado em diversos clipes do grupo como “Time for Livin'” e “Sure Shot”, o vídeo de “Sabotage” é simplesmente lendário. A produção serviu ao mesmo tempo como homenagem e paródia às séries de drama criminal dos anos 70 como Hawaii Five-O e Starsky and Hutch, trazendo os integrantes da banda como personagens do seriado fictício Sabotage.
A influência do trabalho é tanta que, em 2018, a atriz Amy Poehler disse:
Não haveria “O Âncora”, não haveria Wes Anderson, não haveria Lonely Island, e não haveria um canal chamado Adult Swim se esse vídeo não existisse.