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Foto: Divulgação

2019 foi um baita ano para o Selvagens À Procura de Lei. Comemorando sua primeira década, a banda cearense lançou um DVD ao vivo e um novo disco de estúdio. Dois golaços!

O novíssimo Paraíso Portátil é voltado para o interior das pessoas, em um som mais psicodélico, mais pop e mais desenvolvido. O álbum contempla composições arriscadas, explorando temas como depressão e ansiedade. Esses foram alguns tópicos da conversa que tivemos recentemente com o vocalista Gabriel Aragão. O resultado deu origem a um dos melhores de 2019.

 

Faixa a faixa do Selvagens à Procura de Lei

Já que o disco conta com composições mais intimistas e pessoais, questionamos a banda sobre a origem de cada uma das 11 faixas inéditas. Quem deu as respostas foram os integrantes Gabriel Aragão, Rafael Martins e Caio Evangelista. Confira abaixo:

“Sem Você Eu Não Presto”

Gabriel Aragão: “Sem Você Eu Não Presto”, por mais irônico que pareça, fala sobre ser você mesmo e ser sincero nas suas escolhas. Foi a primeira que escrevi dessa leva nova. É uma faixa realmente diferente. Talvez choque os fãs mais antigos porque foge muito dos Selvagens que eles cresceram ouvindo, com uma pegada mais pro rock clássico. Nesse sentido, sempre me apego aos versos “bate no peito uma vontade de se permitir”. Foi uma faixa que me trouxe um novo sopro pra compor e puxou boa parte da temática “mude, seja você mesmo” presente no disco.

“Déjà Vu”

Caio Evangelista: “Déjà Vu” retrata as sensações e sentimentos que se repetem varias vezes durante nossa vida: as reflexões sobre as escolhas que tomamos levando aos caminhos que percorremos e a percepção do lugar em que nos encontramos.

Quase como se fosse um ciclo, esses momentos de reflexão sobre nosso presente nos faz questionar o poder de nossas escolhas, a influência que nossos sonhos e desejos exercem sobre nosso futuro. Em momentos difíceis podemos questionar se tomamos escolhas ou se, por ser quem somos, essas escolhas já estavam predeterminadas, indo a vida pelo único caminho possível, como se vivêssemos de uma forma automática. O Déjà Vu mais necessário na vida é sempre lembrar que o mais importante é o presente, onde nos mantemos ativos, senhores das nossas escolhas, respeitando e aceitando o passado que temos, tirando o melhor de nossas memórias e consciente que outro dia está a acabar, sempre em um ciclo ininterrupto. Esse ciclo é nossa vida em si.

“Sede Ao Pote”

Rafael Martins: Essa letra fala basicamente do meu ano de 2017, quando tudo na minha vida pessoal estava um caco e, mesmo assim, ainda encontrava forças para seguir. Tratei “Sede Ao Pote” mais como um sintoma do que uma expressão. Lembro que o Nicholas, quando ouviu, comentou “Rafa, o certo seria ‘Eu vou com sede ao pote’ e só percebi depois que usei a expressão de forma diferente (“eu tenho sede ao pote”), algo relacionado à ansiedade e pressa que eu sentia naquele momento.

A parte que canto em falsete “toda vez que bate o vento meu cabelo voa” encaixou como se fosse um freio na letra e na música como um todo, que segue confessional, expondo minhas feridas e afirmando pra mim mesmo que independente de qualquer coisa eu não iria me entregar tão fácil para as fraquezas.

 

“Eu Não Sou Desse Mundo”

Gabriel Aragão: “Eu Não Sou Desse Mundo” é inspirada em uma matéria que li quando estudava jornalismo, “A tragédia de Felipe Klein”. Demorei muito pra que essa ideia virasse uma canção, mas finalmente rolou. Toca em temas fortes como depressão, suicídio, sociedade e política. É dividida em duas partes. Apesar do peso do tema, a faixa cresce para uma redenção, esperança e paz.

 

“Miragem”

Rafael Martins: Fiz pra minha irmã. Ela passou por maus bocados há um tempo atrás e a família inteira se uniu e se transformou pra ajudar e levantar ela. Acredito que foi um divisor de águas na minha vida e aprendi muito com tudo que passamos. Hoje ela já está bem e graças a muitos “quero te ajudar” consegui entender a profundidade do amor de família, sobretudo de irmão. Nos versos tem uma parte com uma mensagem meio que escondida que acho que pouca gente vai se ligar, escolhi umas palavras figurativas para dar sentido exatamente por que estava acontecendo. Quando compus ela era bem lenta, meio arrastada. Nos ensaios ela ganhou essa levada mais reggae/dub que jogou a música pra frente e criou espaços para explorar a profundidade da música com efeitos.

 

“Paraíso Portátil”

Gabriel Aragão: “Paraíso Portátil” tenta retratar como o ciclo de pessoas à sua volta reage quando você decide mudar a direção da sua vida. A frase que deu título ao disco vem de um guru que diz que quando você aprende a meditar você passa a carregar dentro de si um paraíso portátil.

Selvagens À Procura de Lei
Foto: Divulgação

 

“Sentinelas”

Rafael Martins: Eu e Caio fizemos ela em 2018 num apê onde eu morava ao lado do Minhocão (SP). Naquela tarde a gente conversou bastante sobre liberdade e o momento atual em que todo mundo tá se sentindo com a corda no pescoço, se virando como dá pra viver melhor. Em meio a isso tudo muita gente esquece de viver, ignorando os momentos do dia a dia que alimenta a nossa alma e assim vai morrendo aos poucos. Esse “ouvi um grito de socorro pedindo pra nascer de novo” venho sentindo por todo canto que passo. É como se o momento agora fosse de renascimento, se reinventar. As “sentinelas” são as pessoas/notícias/tudo que contagia a gente com energia tóxica e leva nossa energia embora. Ela é talvez a música mais divertida de se tocar do disco, tem um carisma na batida e guitarras indies.

“Mainha”

Gabriel Aragão: “Mainha” fala sobre uma pessoa comprometida que se apaixona por outra e decide embarcar nessa nova história de amor. O mundo inteiro vai julgar essa escolha. Não existem garantias, apenas que, se for verdadeiro, vai durar. Acho que a letra tem esse sentimento de “nós contra o mundo”.

“Intuição”

Rafael Martins: Sou muito intuitivo, observador,  mas tem dias que tudo parece vir por água abaixo. Nem sempre a culpa é nossa, mas são nessas horas que a auto análise vem com tudo! Gosto da frase “quanto tempo falta pra quebrar essas paredes, sair de dentro, acho que você me entende” por representar a vontade de se desprender de um pensamento ou uma atitude. Essa música teve uma mãozinha do Paul Ralphes durante a produção, que sugeriu juntar “Tranquilo” (que é outra letra/música) com “Intuição”, meio que pegamos o refrão de uma e os versos da outra. Bela sacada. O Nicholas cantando veio pra dar o xeque-mate na carga emocional da música, trazendo aquela força na voz capaz de deixar qualquer refrão um hino nos shows. Ah, “eu finjo estar inteiro mas estou pela metade” é bem meu espírito reservado de ser. Toca o barco!

 

“Ponto & Vírgula”

Gabriel Aragão: “Ponto & Vírgula” foi escrita quando meu filho ainda estava na barriga. Tentei me colocar no lugar dele, como essa pessoa que estava chegando, que ainda vai nascer. Depois que a música estava pronta percebi que estava falando mais de mim mesmo, do nascimento de um pai. Existe um antes e um depois bem definidos na sua vida, daí o título ser ponto e vírgula.

“Sonhos”

Rafael Martins: Fiz em Jericoacoara (Ceará), numa viagem muito alto astral. É uma música de amor pra minha amada dizendo basicamente “tou contigo e não abro”. Tratei a palavra “sonhos” nos dois sentidos. Tanto no sonho que se manifesta enquanto dormimos quanto no sonho que representa as nossas projeções de futuro, nossas expectativas. No refrão, a parte que diz “o sol assanha o céu a tarde” é uma descrição do incrível sunset de Jeri, na duna do pôr do sol, quando os raios de luz laranjas bagunçam as nuvens e deixam o céu “assanhado”. Adorei o caminho que seguimos no instrumental. Acho que essa é uma das músicas mais diferentonas de toda a nossa discografia!

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