KT Tunstall
Reprodução/YouTube

Por Nathália Pandeló Corrêa

Parece que foi ontem que “Suddenly I See” se tornou uma música impossível de não ouvir. Das rádios aos comerciais na TV, a canção da escocesa KT Tunstall anunciava uma nova e empolgante voz acompanhada, ao mesmo tempo, de uma sensibilidade lírica e de uma guitarra rock n’ roll com irresistível pegada pop e folk.

Mas não foi ontem — foi em 2004, como parte do disco Eye To The Telescope, que trazia também sucessos como “Black Horse and the Cherry Tree” e “Another Place To Fall”. A estreia foi seguida de Drastic Fantastic (2007) e Tiger Suit (2010). 2013 foi um ponto de virada com Invisible Empire // Crescent Moon, um álbum gravado em Tucson, no Texas, com dois lados distintos. A primeira parte lida de forma melancólica com a morte do seu pai adotivo, um ano antes, e a segunda assume um tom mais etéreo para refletir sobre o fim de seu casamento após 4 anos.

Já radicada nos Estados Unidos, em 2016 KT anunciou seu projeto mais ousado até o momento: uma trilogia de discos que lidaria com mente, corpo e alma. Naquele ano viria KIN, um disco de aura pop, seguido do recente WAX, lançado em 2018. Se o primeiro se conectava com a temática do espírito, o novo trabalho é mais visceral e corporal. Um dos motivos para isso é a produção de Nick McCarthy, ex-Franz Ferdinand, em algumas canções, cujo estilo de gravação ao vivo ajudou a traduzir a sonoridade de KT de forma menos polida e mais urgente.

É com essa turnê que a artista retorna ao Brasil em novembro, 11 anos após sua última visita, prometendo um setlist com sucessos de todos os trabalhos e fazendo a sua mescla de rock, folk, pop e country. Os ingressos já estão disponíveis em até 3X sem juros aqui e nas bilheterias, sem taxa de conveniência. Com shows anunciados em São Paulo e Curitiba, o giro brasileiro ganha uma nova data no Rio de Janeiro, que acaba de ser anunciada. Aliás, a própria KT descobriu junto com a gente, quando conversava com por telefone sobre esse novo momento de vida e carreira, amadurecimento e retorno ao país.

Confira a entrevista exclusiva abaixo do serviço.

Serviço – KT TUNSTALL – TOUR BRASIL 2019

SÃO PAULO
Data: 07/11/2019 (quinta-feira);
Local: Teatro Liberdade (Rua São Joaquim, Numero 129 – Liberdade);
Horário: 21h
Classificação: Livre – Maiores de 14 anos podem entrar desacompanhados;
Ingressos aqui
Valores:

Meet&Greet + Plateia: R$230,00 (Valor Único);
Plateia: R$110,00 (Meia-Entrada); R$220,00 (Inteira);
Balcão A: R$80,00 (Meia-Entrada); R$160,00 (Inteira);
Balcão B: R$60,00 (Meia-Entrada); R$120,00 (Inteira).

RIO DE JANEIRO
Data: 08/11/2019 (sexta-feira);
Local: Espaço Kubrick (Avenida Mem de Sá, 66 – Centro);
Horário: 20h
Classificação: Livre – Maiores de 16 anos podem entrar desacompanhados;
Ingressos aqui
Valores:

– Meet&Greet + Plateia: R$250,00 (Valor Único);
– Pista: R$100,00 (Meia-Entrada); R$200,00 (Inteira).

CURITIBA
Data: 10/11/2019 (domingo);
Local: Ópera de Arame (Rua São Joaquim, Numero 129 – Liberdade);
Horário: 20h;
Classificação: Livre – Maiores de 16 anos podem entrar desacompanhados;
Ingressos aqui
Valores:

Meet&Greet + Plateia: R$230,00 (Valor Único);
Plateia 1: R$100,00 (Meia-Entrada); R$200,00 (Inteira);
Plateia 2: R$90,00 (Meia-Entrada); R$180,00 (Inteira);
Camarotes: R$110,00 (Meia-Entrada); R$220,00 (Inteira);

TMDQA!: Oi KT, obrigada por seu tempo! Estamos animados que você vai voltar ao Brasil.

KT Tunstall: Nossa, eu também, finalmente!

TMDQA!: Pois é! Quero falar sobre isso já já, mas queria também falar de WAX. Sinceramente, adoro suas coisas antigas, mas eu acho que esse é o seu melhor trabalho até hoje. Você cresceu como cantora e compositora, digamos, diante do olhar do público e isso fica evidente. É um disco intenso e cru. Você diria que ele é fruto de uma versão sua mais madura e segura, agora que você está no sexto álbum?

KT: Muito obrigada! Acho que é exatamente isso. É uma experiência estranha crescer como pessoa enquanto você vai acumulando discos, como se cada um fosse um degrauzinho e você olha para trás e já tem alguns. É como se eu estivesse fazendo a trilha sonora da minha vida, gravando essas canções e de certa forma pintando as gravuras das experiências que eu tenho tido nos últimos 15 anos, com as músicas que venho fazendo.

Há alguns fãs que ficam surpresos com algumas das composições novas, porque eles estão passando pelas mesmas coisas que eu, sabe? Eu tive um grande sucesso, depois nem tanto, perdi meu pai, passei por um divórcio, vendi tudo que tinha, me mudei pra Los Angeles porque nem sabia se queria fazer música mais… E cá estou eu, fazendo uma trilogia de discos e com muito mais vontade do que já tive de fazer música e turnê. Estou na parte mais excitante da minha vida, nos meus 40 anos. Sinto que estou em uma segunda fase. Quando as coisas ruins acontecem com você, você vai ficar só vendo a vida passar? Ou você vai ser como o Keanu Reeves no Matrix — olhar a vida nos olhos, enxergar a verdade e fazer alguma coisa?

Tem sido uma grande experiência, sinto que consegui tocar no que é o poder e a força do feminino nesse disco. Na verdade, nunca me senti mais mulher na vida. É uma conexão muito importante que eu consegui estabelecer com esse lado meu, porque sempre me considerei meio moleca e masculina por estar ali com a guitarra. É curioso porque você não precisa colocar rótulos em nada, eu componho assim e sou mulher. Esse poder e essa força fazem parte de mim. E esse é um disco mais sensual também, e isso parte da confiança. Para qualquer um que esteja preocupado em envelhecer, não fique. A vida fica muito mais fácil.

TMDQA!: Jura? Isso é reconfortante!

KT: É sério. Porque isso vem de não se importar com o que as outras pessoas pensam sobre você ou o que você faz. Então é algo que você vai aperfeiçoando à medida que fica mais velha.

TMDQA!: É algo que vem com o tempo.

KT: Com certeza.

TMDQA!: Agora, falando em tempo, até onde sei, você o Nick McCarthy nunca tinham trabalhado juntos, apesar de serem contemporâneos ali na cena de Edimburgo.

KT: É verdade, eu acho que nossos primeiros discos saíram no mesmo ano ou próximos, ali por 2004 e 2005.

TMDQA!: Como os caminhos de vocês se cruzaram depois de tanto tempo e qual foi o papel dele em atingir o som que você queria naquele momento?

KT: Eu acho que ele era a pessoa perfeita para embarcar comigo nessas músicas que queria fazer. Nós temos amigos em comum, da banda $au$age$ — é assim, com os cifrões no lugar do S. Meu amigo Andy era muito próximo do Nick e ele disse: “vocês precisam fazer algo juntos, acho que vão amar colaborar um com o outro”. E o Nick é um compositor fenomenal. A gente ia escrevendo junto e amava as músicas que fazíamos, quase que como num estilo antigo de compor mesmo. Nós gostamos do tradicional, mas aí dobramos à esquerda e saímos num lugar diferente. Meu objetivo era fazer um disco rock n’ roll e cru. E sendo um músico indie, o Nick não tinha essa necessidade de deixar tudo polido e perfeito. O estúdio dele é basicamente uma garagem e parecia que estávamos gravando nos anos 70, sem fone, tudo ao vivo, e o amplificador de guitarra ficava na porta do banheiro (risos). Tocávamos como se fosse um show e essas gravações são o mais próximo que eu tenho do que é a minha energia ao vivo.

TMDQA!: Eu li que você se mudou pra Los Angeles alguns anos atrás porque precisava de um recomeço e queria compor para cinema, o que você ainda faz. Foi uma forma de sobreviver a essa indústria, ou de se reconectar com o que você amava na música?

KT: Foi mais meu jeito de cuidar de mim mesma. Fazer turnê é pesado para o corpo, mas a vida é pesada nas almas de todos nós! Eu descobri que não sabia mais quem eu era, tirando minha música; minha carreira tinha assumido toda a minha identidade. Eu sabia que se retirassem a música, eu realmente não saberia quem eu era, e sabia que isso não era bom. Então eu precisava me desconectar completamente e saber que eu poderia um dia abandonar isso. Não a música, eu sabia que criaria para sempre, mas mais eu ser a cara da marca ‘KT Tunstall’.

Quando eu retornei a isso, meu propósito tinha mudado; ao invés de buscar afeto e amor através da música, eu estava animada por entregar isso. Quando se sente vazia dentro de si mesma, você não tem muito a dar, e precisa de tempo e autocuidado para consertar isso.

TMDQA!: A gente está na era da playlist, mas sempre vai ter espaço para discos. Aí você vai e faz logo três seguidos, como parte de uma trilogia toda conectada — mente, corpo, alma. Quando a atenção das pessoas é tratada como moeda de troca, como fazer para manter os ouvintes interessados a voltar para ouvir o restante? Está tudo na escrita das canções?

KT: Bom, eu não tenho o mesmo nível de sucesso global que já tive. Meu lugar no panteão de músicos muito conhecidos mudou bastante. Parte disso é porque o que me interessa é explorar algo novo e diferente, e sinto que muitas das pessoas que fazem sucesso estrondoso é porque o público já confia que elas vão entregar sempre o mesmo tipo de material. Nesse tempo, perdi vários fãs e ganhei vários outros. Eu preciso fazer o que me excita, o que me dá vontade de fazer. Algumas pessoas me disseram “ah, mas ninguém ouve discos mais”. E fazer essa trilogia tem sido o meu “foda-se” pra essas pessoas. Porque eu amo álbuns, seja de artistas novos ou antigos. Não importa, eu quero ouvir o disco todo, e não só uma música. Foi uma forma de me rebelar contra qualquer um que pensa que é inútil fazer uma obra mais extensa e consistente.

Sabe, quando eu estava crescendo, séries de TV não eram algo grande. Quer dizer, tinha algumas comédias, mas nada perto do que se vê de consumo de conteúdo de TV hoje em dia. Tem muita gente preferindo televisão a cinema, porque você tem acesso a mais material, mas informação, dura mais tempo. E isso me empolga muito. Eu confio que o público que me acompanha também gosta de ouvir discos, e é por isso que eu continuo a fazê-los. O vinil também está fazendo uma volta, o que me diz que as pessoas ainda se importam com isso.

TMDQA!: Eu vi que você postou esses dias o desenho de um pássaro que dizia que nunca saberíamos seu verdadeiro propósito quando ele canta. Diria o mesmo sobre você? Porque suas músicas sempre foram bem viscerais, e ultimamente sinto que você se tornou ainda mais pessoal nas composições. Dá pra se expor e ser vulnerável, mas ainda assim não revelar muito?

KT: Não, eu não me sinto assim sobre o meu próprio cantar! Eu amo aquele artista, David Shrigley, e eu amo aquele desenho porque ele diz algo muito profundo que eu penso sobre a natureza, de que há muito que não entendemos e que a beleza no mundo não serve apenas para o nosso prazer, pois tem o seu propósito. Ao longo dos anos, aprendi que vulnerabilidade é certamente o aspecto mais importante em uma composição, pois é aquela coisa que todos gostaríamos de poder compartilhar mais. Eu acho que, como espécie, estamos melhorando nisso! A única coisa que eu preciso proteger são as partes da minha vida que eu quero manter privadas, e não tenho achado isso muito difícil, ainda bem.

 

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Just a reminder that @davidshrigley is the best.

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TMDQA!: Sei que não temos muito tempo, mas precisamos falar sobre sua volta ao Brasil, pois já faz 11 anos que você não vem. Sei que fazer turnê internacional é complexo e um investimento alto, então não vou reclamar, já basta que você vai voltar. Você citou no Instagram que estava tentando acrescentar uma data no Rio. Quais as chances de isso rolar mesmo?

KT: Eu vou te contar a história toda, assim você pode transmitir para os seus leitores e todos podem entender porque eu levei tanto tempo pra voltar. Eu fui em 2008 ao Brasil e foi fantástico. Eu queria voltar toda vez que saía um disco novo, mas os meus agentes que fechavam as datas não se empolgavam com essa possibilidade porque diziam que eu não era famosa o suficiente na América do Sul para gerar lucro pra eles. E as pessoas que trabalham nesse meio são assim: se algo não vai dar um bom lucro garantido, elas não vão fazer acontecer. Se dependesse só de mim, eu iria sozinha, por conta própria, sem garantia de muita grana. Eu falava que ia pegar um avião e ir, só queria cobrir meus gastos e tocar para os fãs, porque a minha visão de negócios nesse sentido é bem diferente. Mas é difícil para um artista, por conta própria, bancar os riscos de uma turnê porque há chances de perder muito dinheiro, de agendar um local para shows que não vai conseguir encher… Então ficava sempre nesse papo de “vamos no ano que vem”, e nunca íamos. Agora, 11 anos depois, cá estamos nós!

Eu mudei de agentes e de promotores de turnê. Para o show do Rio, acho que estão aguardando sentir se há demanda na cidade, se as pessoas vão pedir o show para que haja confiança de levar pra lá. Acho que vamos saber em breve, mas é algo que demanda tempo também. Posso dizer que mesmo que não seja dessa vez, com certeza ainda vamos ao Rio, pois nessa turnê os shows de Curitiba e São Paulo estão vendendo bem e isso dá um incentivo para voltar.

[Assessor interrompe a ligação para contar: o show no Rio vai sim acontecer]

KT: Sério mesmo? Uau, isso é maravilhoso!

TMDQA!: Você ouviu aqui primeiro (risos)! Ok, já fico feliz que teremos mais essa notícia boa. Pra encerrar, falando em Brasil, você sempre se envolveu em questões sociais e ambientais e agora que está voltando, nosso país está chamando atenção com incêndios na Amazônia e questões como direitos indígenas, que sei que é algo com que você também se importa. Você sempre usou a música para contribuir com essas causas, mas para muitos, parece que essas questões são um caso perdido. Na sua experiência, como cada pessoa pode fazer a diferença no mundo?

KT: É de partir o coração. Eu sinto muito profundamente pelo Brasil e pelas lindas florestas, e deve ser péssimo estar tão perto e sentir que não há nada a ser feito. Claro que doar para esforços de auxílio local que sejam confiáveis ajuda, mas nós precisamos fazer algo maior e mais profundo que isso.

Recentemente, ouvi o artista e diretor David Lynch conversar com o Russell Brand no seu podcast Under The Skin. Eu acredito muito em autotransformação via meditação, leitura e uma prática diária de consciência mental. David Lynch falava sobre as árvores como uma analogia para a sociedade. Ele disse que uma árvore pode ter folhas morrendo, um tronco doente e você pode tentar dar ar fresco, ou usar tratamentos externos, mas na verdade a saúde precisa vir da profundidade das raízes. E todas as nossas raízes estão conectadas, então podemos ajudar uns aos outros sendo nós mesmos saudáveis. Nós, como humanidade, precisamos mudar nosso comportamento, a forma como pensamos, como tratamos o próximo e eu acredito na gentileza, compaixão, compreensão e nosso próprio aprendizado, para que nos sintamos bem e levemos esse sentimento para os outros. Essa é uma forma muito poderosa de curar o planeta. Se um número suficiente de nós tiver essa compaixão e compreensão, vamos escolher estruturas de poder que apoiem uma sociedade e um mundo saudáveis.

TMDQA!: Muito obrigada por falar com a gente, KT. Espero que você aproveite sua volta ao Brasil.

KT: Muito obrigada, não vejo a hora.

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