Oasis
Foto: Divulgação/Supersonic

Foi na noite de 28 de Agosto de 2009 que mais um desentendimento entre os irmãos Noel e Liam Gallagher foi o estopim para o derradeiro fim do Oasis, após uma trajetória de 15 anos. Uma década depois, o episódio ainda é uma ferida aberta para os fãs de um dos principais nomes da música britânica dos últimos 30 anos.

Mas o que aconteceu naquela noite em Paris? E como foram esses dez anos para os membros e, principalmente, para os infames irmãos Gallagher? Relembre com a gente.

Disputa de egos e uma ameixa

É fato conhecido que a carreira do Oasis foi marcada por inúmeras brigas internas e públicas da dupla de Manchester, e a disputa de egos foi um dos principais pilares para a ruína de um projeto de 15 anos. Mesmo com o tamanho e repercussão que teve, o Oasis ainda era pequeno para a arrogância sarcástica de Noel e Liam. E se tornou insustentável.

O clima entre os irmãos havia piorado quando, em meados de 2009, o vocalista quis aproveitar a divulgação da que seria a última turnê da banda para anunciar sua recém-lançada grife, Pretty Green. Noel foi contra a jogada e aquilo aumentou ainda mais a tensão na relação entre a dupla, já bastante fragilizada a essa altura do campeonato.

Em 28 de Agosto daquele ano, a banda se preparava para uma apresentação no festival Rock en Seine, em Paris, França, quando uma discussão entre os dois estourou. Seria um dos últimos shows da turnê do disco Dig Out Your Soul, lançado em 2008. Liam deixou o camarim revoltado, atirando uma ameixa na parede enquanto saía, e voltou com um violão nas mãos, o empunhando “como um machado”, nas palavras de Noel.

A ameaça física daquela noite foi a gota d’água e, vendo que os outros membros do Oasis apenas observavam a briga em silêncio, Noel abandonou o camarim e saiu do local. Já no carro e pronto para ir embora, pensou “Foda-se, não quero mais fazer isso”. O show foi cancelado e, na mesma noite, o compositor publicou um anúncio no site oficial da banda confirmando sua saída definitiva.

É com tristeza e alívio que eu conto que saí do Oasis hoje à noite. As pessoas dirão o que querem, mas eu simplesmente não podia mais continuar trabalhando com Liam.

A notícia foi recebida com choque e incredulidade pelos fãs, que pensavam ser apenas mais uma briga rotineira entre os irmãos. Mas as palavras de Noel foram um balde de água fria: dessa vez foi diferente e definitivo. Não havia mais Oasis e o sonho havia acabado.

A saída definitiva do principal compositor e figura de liderança do Oasis colocou um ponto final numa história que começou a ser desenhada quase 20 anos antes, que projetou alguns caras sem futuro de Manchester para o cenário da música mundial, mas abriu margem para novos capítulos na carreira dos Gallagher e demais membros da banda.

Beady Eye e Noel Gallagher’s High Flying Birds

Os fãs ainda choravam pelo fim da banda em 2010 quando Noel Gallagher começou a trabalhar em sua carreira solo. À frente do projeto Noel Gallagher’s High Flying Birds, o músico apresentou uma porção de novas composições e uma sonoridade que ainda remetia aos tempos do Oasis em seu primeiro álbum solo, homônimo, lançado em 2011 de forma independente.

Usar seu trabalho com a banda como base foi fundamental para o sucesso do disco, que é tido até hoje como um dos melhores lançamentos de Noel. O Telegraph chegou a considerar como suas melhores canções desde (What’s The Story) Morning Glory?, de 1995, ápice da carreira do grupo britânico.

Para o The Guardian, o músico não conseguiu alçar voo muito longe de suas raízes no Oasis. Mas ele não foi o único: também em 2011, Liam e os integrantes remanescentes da banda lançaram o primeiro trabalho de estúdio do Beady Eye, projeto que nasceu a partir da saída de Noel dois anos antes. Different Gear, Still Speeding tem um pouco de Rolling Stones, um pouco de blues rock e a inconfundível voz de Liam Gallagher.

Foi também em 2011 que o Beady Eye veio pela primeira e única vez ao Brasil, tocando no festival Planeta Terra, em São Paulo, e no Circo Voador, no Rio de Janeiro. O setlist foi inteiramente de músicas da banda, diferente de Noel, que viria para o Brasil no ano seguinte com sua turnê solo, incluindo várias b-sides do Oasis no set.

Em 2012, o Beady Eye teve a oportunidade de participar da cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres com uma performance de “Wonderwall”, hino atemporal do Oasis. Originalmente, o convite foi feito a Noel, que recusou por estar em turnê e por não concordar em se apresentar com playback na ocasião. “Ficar fingindo em um estádio com 80 mil pessoas? Eu consigo tocar ao vivo!”, disse na época.

O playback não foi problema para Liam, que já mostrava problemas com a voz e já tinha um alcance muito diferente de seus anos dourados como vocalista do Oasis. Tanto que BE, segundo disco da Beady Eye lançado em 2013, mostra o quanto Liam perdeu o potencial vocal, e o quanto a banda perdeu o gás depois da estreia efervescente do primeiro álbum. Não foi surpresa quando, em Outubro de 2014, Liam anunciou o fim das atividades da banda pelo Twitter.

Com o fim da banda, Gem Archer se juntou a Noel no High Flying Birds como guitarrista. E, em 2015, saiu Chasing Yesterday, seu segundo trabalho solo, que mostrava uma desvirtuada no tradicional som que o guitarrista faz. Assim como o primeiro álbum, teve boa recepção entre os fãs e a crítica especializada. Noel esteve no Brasil durante a turnê do disco para uma apresentação na edição 2016 do festival Lollapalooza, e voltaria no ano seguinte como convidado do U2 na turnê The Joshua Tree.

E 2017 foi o ano de virada para os dois irmãos. Com o fim da Beady Eye e de seu casamento de 6 anos com a cantora Nicole Appleton, Liam se afastou da música e passou por um período depressivo e acompanhado do alcool. As coisas mudaram com o relacionamento de Liam com Debbie Gwyther, que o incentivou a sair de casa, voltar à ativa e circular entre novas companhias. Com isso, o ex-vocalista do Oasis ganhou novo gás e começou a trabalhar em seu primeiro projeto solo.

As You Were, lançado em Outubro daquele ano, foi uma grata surpresa aos fãs que sentiam falta da arrogância e postura de rockstar de Liam. Com uma habilidade vocal melhor que a da época da Beady Eye, letras que remetiam à relação conturbada com o irmão e a ex-esposa, e a mesma postura desafiadora da juventude, o cantor conseguiu mostrar que tem potencial pra continuar sendo lembrado como um dos grandes nomes do rock. Não é a toa que Why Me? Why Not, lançamento de 2019, é um dos mais esperados pela comunidade de fãs do finado Oasis.

Também em 2017, e um mês após a estreia de Liam, Noel retornou com Who Built The Moon?, seu terceiro e mais inventivo trabalho solo. Mesmo com boas críticas e o primeiro lugar nas paradas britânicas, o disco dividiu os fãs. Muitos torceram o nariz para o pop cósmico proposto pelo cantor, muito influenciado por David Bowie na época. Apesar disso, Noel tem mostrado que pouco se importa com a opinião dos fãs, e continua levando suas músicas para uma sonoridade e estética oitentista, o paraíso dos sintetizadores.

Um retorno impossível

Desde que o Oasis deixou de ser uma unidade, rumores sobre o retorno da banda rodam pela internet. Em 2014, cinco anos depois do fim, Alan McGee — o cara que assinou o primeiro contrato da banda com a Creation Records — profetizou que levaria somente cinco anos para que Liam e Noel fizessem as pazes e reunissem a banda novamente. Apenas para, um ano depois, dizer que os irmãos estavam “felizes demais” para reatar. Apostas foram e são feitas para shows no Glastonbury em diferentes anos. E tudo não passa de delírio dos fãs e da mídia.

O próprio Liam fez menção ao retorno um incontável número de vezes, como a vez que ele enigmaticamente soletrou o nome da banda no Twitter em 2014, além de comentar com frequência que está pronto para voltar à ativa — diferente do irmão mais velho, que se distanciou do trabalho feito com o Oasis, embora ainda toque inúmeras canções da banda em seus shows, e não demonstra intenção alguma de voltar.

Selar a paz entre os Gallagher é uma realidade ainda um tanto longe, considerando os inúmeros ataques e comentários ácidos que se intensificaram conforme os irmãos foram crescendo como artistas solo e dando atenção aos seus próprios projetos musicais. As brigas, agora respondidas através de tweets de Liam e entrevistas de Noel, ganharam novos envolvidos — a família, que não tem nada a ver com a treta além do sobrenome em comum. Isso levou a briga a um nível diferente e mostra a impossibilidade de uma reconciliação pacífica.

Mas apenas o tempo — talvez, o dinheiro — dirá se ainda veremos Noel e Liam Gallagher juntos mais uma vez no mesmo palco, fazendo o que faziam de melhor nos anos 90: um trabalho harmônico que dialogava com uma massa e que definiu um período da história inglesa, o que foi e continua sendo a essência do Oasis, dez anos após o seu fim.

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