Scalene
Foto por Breno Galtier

Recentemente, a banda brasiliense Scalene divulgou seu quarto álbum de estúdio.

Lançado pelo selo slap, Respiro, ao mesmo tempo que celebra o aniversário de 10 anos do grupo, traz novas referências musicais em um álbum ousado. Com o lançamento, ficou comprovada a suspeita de que o grupo exploraria ainda mais sonoridades nas novas músicas.

As referências vão da bossa nova da primeira faixa à base de piano da última, passando por violões de nylon e beats eletrônicos. Mas não foi apenas na estética que a banda resolveu inovar. O disco conta com várias participações especiais, o que foi pouco explorado nos trabalhos anteriores.

E dá para perceber que a Scalene tem tomado gosto pela questão das parcerias. Em 2018, a banda se uniu ao grupo Francisco, el Hombre na ótima “Clareia“. Já este ano divulgaram, às vésperas do Lollapalooza, a canção “Desarma“, em parceria com BK. No novo álbum, o grupo divulgou colaborações com Hamilton De Holanda, Ney Matogrosso, Beto Mejia e Xênia França.

“Chegamos provavelmente no nosso álbum mais competente, musicalmente falando”

Fizemos algumas perguntas para a banda sobre esta nova fase. Quem nos respondeu foi o guitarrista Tomás Bertoni, que explicitou algumas dúvidas sobre o novo disco, sua ambientação e influências.

Vale lembrar que a Scalene se apresenta neste fim de semana no festival CoMA. Eles se apresentarão neste sábado, no mesmo dia de atrações como Filipe Ret e BaianaSystem.

Confira abaixo.

Scalene - Respiro

TMDQA!: “Respiro” deu, como o nome do álbum sugere, uma pausa no peso da banda, em detrimento de um som mais delicado e leve. Como foi esse processo, desde concluir que o novo álbum teria que soar mais calmo até as composições em si?

Tomás Bertoni: Há anos falamos de fazer algo mais leve e acústico, mas sempre fomos pelo caminho mais pesado. Gostamos de sair da zona de conforto e fazemos isso de um álbum pro outro desde sempre, mas, pra realmente sairmos dessa vez, precisava ser algo mais contundente do que só agregar algumas novas referências. Fazendo dez anos de banda e sentindo que encerramos um grande ciclo, sentimos que seria um momento de um trabalho como o Respiro. No desenvolvimento, deixou de ser um álbum meramente acústico, agregamos elementos eletrônicos, passeamos por várias vertentes como gostamos de fazer e chegamos provavelmente no nosso álbum mais competente, musicalmente falando. Foi um álbum todo arranjado em estúdio, ao contrário dos outros, em que já chegávamos com maior parte das ideias prontas para executar.

TMDQA!: O álbum tem uma narrativa estética interessante e bem definida. Passa pela clara influência na bossa nova de “Vai Ver” e passa pela ambientação eletrônica de “Ciclo Senil”, enquanto se desenvolve em meio a sintetizadores e violões de nylon. Como foi inserir essas referências no disco e fazer um resultado tão comovente, tanto lírica quanto instrumentalmente?

Tomás: Sempre nos foi natural misturar estilos e referências que, a princípio, parecem não conversar entre si. E tudo em um mesmo álbum sem deixar de fazer sentido. Como foi um disco muito feito direto no estúdio, arranjos de uma música inspiravam arranjos em outras e tínhamos bem alinhado entre nós essas referências. Temos escutado há alguns anos muita coisa que, com esse álbum, pudemos experimentar e colocar pra fora de formas que não seriam possíveis nos caminhos estéticos dos outros. Liricamente, acho que fomos bem sinceros e vulneráveis. Isso transparece para o público, nos conhecendo de antes ou não, e todo instrumental do álbum foi bem conectado a isso.

TMDQA!: Vocês têm investido bem em parcerias. Lançaram, no ano passado, uma incrível música com a Francisco, el Hombre. Este ano, divulgaram “Desarma” com BK. Isso, é claro, ganhou ainda mais força com as parcerias presentes no álbum. Acredito que as participações de Xênia França e Hamilton de Holanda, ao serem lançadas como singles prévios, foram uma forma de evidenciar essa “veia colaborativa da banda”. O que os levou a investir nisso?

Tomás: Apesar de termos várias colaborações, elas sempre foram fora de álbuns, né, através de singles. A única exceção é “Terra”, com o Mauro Henrique, no álbum Éter. Os singles do álbum serem com as participações foi uma feliz coincidência, já suspeitávamos que eram duas músicas com boas chances de serem singles. Depois das participações, as músicas cresceram ainda mais e se firmaram como as escolhas pra iniciar o lançamento. Colaborar com outros artistas é uma das coisas mais gratificantes do nosso trabalho e faltava fazer mais isso dentro de um álbum. É importante os nichos musicais se misturarem e bolhas estourarem, tudo se fortalece e pode se agregar, ainda mais nos dias de hoje. Acho muito bonito quando isso acontece e foi uma honra ter feito isso com o Respiro.

TMDQA!: Aproveitando o assunto das parcerias, com que outros artistas cogitaram ou ainda desejam gravar?

Tomás: Nossa, tem tantos. Desde fazer novas colaborações com Supercombo e Far From Alaska até artistas como Josyara e Vitor Ramil… Seria incrível! Nos damos bem com a Maria Gadú e já falamos sobre a possibilidade. É uma coisa que tem que acontecer organicamente e ser prazerosa, senão não funciona. Então tem que literalmente ir na vibe “deixa acontecer naturalmente”.

“Estamos felizes em ver a mente aberta do público”

TMDQA!: A cidade de Brasília não tinha Grammy até 2015, quando vocês e Hamilton ganharam seus respectivos prêmios. Isso foi interessante por fugir do eixo Rio-São Paulo. Como analisa a cena local atualmente?

Tomás: Muito rica, mas com as dificuldades clássicas de toda cena. Estrutura, lugar pra tocar, apoio do governo, interesse do público… Brasília tem sido a cidade dos grandes eventos, festivais como o CoMA, Porão do Rock, Favela Sounds e eventos de outros nichos como o Na Praia. Falta o “dia-a-dia” mesmo, coisas menores e mais constantes. Artisticamente, é incrível e é frustrante ver como uma parcela gigante da cidade não valoriza. Precisa ir na Rede Globo pra galera levar a sério. É bem um pensamento de cidade pequena.

TMDQA!: O álbum conta com dois interlúdios, o que é um recurso narrativo interessantíssimo. Como a inserção deles divide a narrativa do disco? Por que foram inseridos naqueles momentos?

Tomás: De “Casa Aberta” para “Esse Berro”, acho que fica bem claro que entramos numa parte do álbum mais densa e “dark”, bem característica nossa. Já o segundo serve como um respiro final antes da faixa que encerra o álbum.

Foto por Aline Krupkoski

TMDQA!: Como as novas músicas estão sendo inseridas na construção dos shows da banda?

Tomás: Nem a gente sabe ainda. Vamos descobrir juntos (risos). Brincadeiras à parte, devemos fazer shows focados no Respiro, em uma pegada diferente dos nossos shows até hoje. Provavelmente a partir de Outubro, para podermos preparar com calma. Até lá, vamos tocando algumas e entendendo como vão funcionar ao vivo. A princípio, a ideia é, em algumas ocasiões, fazer um show mais calmo focado no Respiro, e em algumas nosso show “normal” com algumas do álbum.

TMDQA!: Alguma consideração final?

Tomás: Estamos felizes em ver a mente aberta do público e como a galera tem mergulhado nas músicas. Esperávamos bem mais “reclamações”, mas o pouco que rolou é interessante e uma discussão legal de se ter. Estamos em um momento como sociedade em que todo mundo precisa abrir a cabeça, e espero que esse álbum contribua pra esse exercício.

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