The Replacements, Superchunk e Elliott Smith

Há 10 anos, em Junho de 2009, esse que aqui escreve fundo esse site que você está lendo, e daria para escrever um livro falando sobre as dificuldades de se escrever sobre música fora do mainstream no Brasil.

Não à toa, sempre celebramos quando nos deparamos com trabalhos incríveis como o Hits Perdidos, site que também fala de música alternativa principalmente brasileira e está completando 5 anos de existência em 2019.

Hoje na sessão de discos que mudaram as suas vidas, convidamos o fundador do site, Rafael López Chioccarello, para nos contar quais foram os trabalhos que mais o impactaram.

Dá só uma sacada e, claro, não deixa de entrar lá no Hits Perdidos!

Rafael López Chioccarello

“Escolher 10 álbuns é uma tarefa um tanto quanto difícil e por esta razão optei por discos que mudaram um pouco minha percepção.  Não necessariamente são os discos “TOP” da vida mas foram importantes.

De certa forma escolhi como filtro discos que em certo momento “dialogaram” comigo de uma forma e até hoje só de ouvir me trazem memórias. Afinal, não consigo separar o hábito de ouvir das sensações proporcionadas.

É um tanto quanto “Sound & Vision” como diria Bowie.”

Wire – Pink Flag (1977)

É até engraçado notar como este álbum acabou virando “cult”. Ao mesmo tempo que tinha tudo para ser um álbum perturbador, e nada pop, pense bem, são 22 músicas em 36 minutos. Uma hora é punk, outra é experimental, quase post-punk, minimalista, niilista, flerta com a New Wave…..não tem nada de “regular”.

Mas daí aparecem as irreverentes “1 2 X U”, “Ex Lion Tamer” e “Mannequin” para te deixar ainda mais perdido. Mesma sensação que Wipers me passa! Para tentar explicar tudo isso eles rotularam de Art Rock mas ironicamente isso vem justamente deles serem estudantes de arte. Deboche, punk, piada pronta! Eles eram amigos de ninguém mais, ninguém menos que Brian Eno, né?

Para mim eles ouviram o punk na hora certa e quiseram reinventar isso.

Bandas como Franz Ferdinand, Vaccines, Manic Street Preachers, Minutemen, The Cure, Sonic Youth, R.E.M. foram buscar muitas coisas ali, e não foi a toa!

 

The Gun Club – Fire Of Love (1981)

The Gun Club - Fire Of Love

Eu sou fã descontrolado de The Cramps e vindo de uma geração que já tinha internet desde novo, a pesquisa sempre foi uma forma de chegar nas bandas que eu gostava.

Certo dia o Last.FM me apresentou um tal de The Gun Club, e foi paixão instantânea.

Aquele loucura de misturar blues, punk, pós-punk, cowpunk, psychobilly me passou na hora uma sensação de autodestruição, fúria, caos e picadeiro. Como fã de The Adicts, New York Dolls, The Stray Cats e The Stooges, foi como juntar tudo aquilo de uma vez só.

 

Sebadoh – Bakesale (1994)

Sebadoh - Bakesale

Nasci em 90 então os amigos um pouco mais velhos vinham me mostrar uma porrada de sons.

Um dia ouvi “Not Too Amused” em uma mixtape e fui atrás de ver qual era a dos caras. Depois me falaram do Lou Barlow e tudo mais mas para mim esse disco bateu mais forte que qualquer outro do Dinosaur Jr. (perdão aos fãs mais fiéis). Em uma fitinha com Fugazi, Built to Spill e Jawbox, fica difícil não querer conhecer tudo de uma vez, certo?

O show deles no Sesc Pompeia, em 2014, foi inesquecível para mim justamente por poder voltar no tempo.

 

Chris Bell – I Am The Cosmos (1992)

Chris Bell - I Am The Cosmos

Primeiro “disco” póstumo da lista.

Chris Bell, que morreu aos 27 (mais um pro clube!) e mesmo tendo um gênio do lado, Alex Chilton, ainda tinha composições incríveis para mostrar. Mas a coletânea só saiu em 1992 (e ainda tinha faixas de outros projetos do músico. Aliás o azar e o Big Star andam de mãos dadas (basta conferir o doc “Nothing Can Hurt Me”, de 2012).

É power pop e consegue ser bonito, triste e depressivo ao mesmo tempo. A faixa título do disco solo de Chris Bell uma vez que você ouve num dia triste, fica meio que “preso” num looping de bad. Ponto para Bell.

 

The 13th Floor Elevators – The Psychedelic Sounds of the 13th Floor Elevators (1966)

Um dia fui na casa de uma amiga e vi uma pilha de discos de vinil.

Tinha do The Brian Jonestown Massacre, Pixies, Allman Brothers…e um ali de canto todo sujo e todo gasto. Até então eu não era muito chegado no rock psicodélico, peguei o disco e coloquei na vitrola. Foi uma viagem à parte.

Depois disso comecei a acompanhar a carreira do Roky Erickson, e desta vez eu que fui atrás dos discos de vinil dele já em uma outra “pira” mais folk.

Ele continuou inventivo até a sua recente morte.

 

The Breeders – Last Splash (1993)

Acho que é um dos álbuns que mais ouvi na vida.

Daqueles que não pulo nenhuma faixa, mesmo amando igualmente o Safari, é clássico instantâneo. Conheci graças às madrugadas da extinta MTV Brasil, numa era pré-Napster, era a hora do garimpo.

Com Supergrass e The Stone Roses foi da mesma forma. Com esse espírito leve, doce, inocente, rebelde e com acordes lo-fi fica difícil não se apaixonar. No show de 20 anos do disco, em 2013 no Cine Joia, exorcizei uns demônios ali.

Descobrir após vários anos que “Drivin’ On 9” era uma cover foi um choque. Porém a versão delas é melhor. Favoritas: “Divine Hammer”, “Invisible Man” e “Do You Love Me Now”.

 

The Replacements – Let It Be (1984)

The Replacements - Let It Be

Conheci já velho. E esse lado College Rock todo pop, ao mesmo tempo que decadente, me encantou. Aliás o Westerberg é um dos meus compositores favoritos.

Para mim tanto a capa como suas letras sintetizam uma juventude sem futuro que dizia tanto sobre Minnesota (e os “interiores” dos EUA) que ter chegado nas ondas das universidades e pego “de jeito”, não surpreende.

Tanto que diferentes gerações de bandas como Against Me!, The Gaslight Anthem, Yo La Tengo e Nirvana fazem questão de dizer o quanto esse som mudou a vida deles.

O que acho mais legal do The Replacements é que eles nunca tentaram ser a melhor banda. E durante o tempo que durou, os fãs contam em documentário que o show poderia ser incrível ou ruim demais. Dependendo de quão bêbados ou quão à vontade estavam, chegando até a tocar dentro de uma lixeira.

Favoritas: “Answering Machine”, “Favorite Thing” e “Androgynous”.

 

Jawbreaker – Dear You (1995)

Jawbreaker - Dear You

Uma vez vi a capa de um outro álbum deles, acho que era do Unfun (1990), e fiquei curioso. Também via várias bandas citando eles como referência. A curiosidade ficou aguçada. Fui ouvir e tudo fez sentido. Eles trazem uma nostalgia de um tempo que definitivamente eu não vivi mas que dialoga comigo. Algo meio Déjà vu.

Já fazia anos que eu não ouvia quando vi a linda versão da Julien Baker para “Accident Prone”, e me fez lembrar como eu não poderia deixar de revisitar a obra da banda. Logo depois eles voltaram e estão fazendo shows nos principais festivais (ainda não rolou Brasil mas como bom brasileiro, a esperança é a última que morre!).

“Bad Scene, Everyone’s Fault” me fez questionar o rolê indie tantas vezes e “Boxcar” [presente apenas como faixa bônus em novas edições] ainda é uma das minhas favoritas (e certamente me faria ir para a “rodinha punk”).

 

Elliott Smith – From a Basement on the Hill (2004)

Elliott Smith - From a Basement on the Hill

Definitivamente não é o melhor álbum dele. É um álbum póstumo mas que me fez conhecer seu trabalho e querer mais. A obra prima atende pelo nome de Either/Or (1997) mas definitivamente o disco que nos apresenta um artista nunca deve ser desprezado.

Quando eu ouvi pela primeira vez deveria ser 2009/2010, e eu estava passando por um momento de depressão, me sentindo muito mal. Não tinha vontade de sair de casa, de socializar e inevitavelmente vivia enchendo a cara. Então todo aquele universo perturbado, deprê e cheio de melodias bateu forte. Poderia ser Jeff Buckley? Poderia. Mas foi o Elliott Smith e sua vida conturbada que me abraçaram naquele momento. Com belas e tristes melodias, e com a mesma força de te puxar para o buraco que Ben Gibbard (Death Cab for Cutie, The Postal Service) transmite com suas canções… me identifiquei na hora.

 

Superchunk – Foolish (1994)

Superchunk - Foolish

Listas como esta têm um papel de mostrar muitos discos que nunca tínhamos ouvido falar. Uma vez vi em uma matéria o Dan Andriano, do Alkaline Trio, citar Foolish como um dos discos mais importantes da sua vida.

Conhecia Superchunk mas não tinha até então predileção por nenhum álbum, gostava de saltar faixas e brincar de air guitar. Até que dei play. O álbum já começa quebrando suas pernas com “Like a Fool”, que chega com veneno e te deixa até meio mal; como disse eu me afeto demais pelos discos.

Mas também tem canções que te abraçam como “Driveaway to Driveaway”, que me dá vontade de ouvir na sequência Sunny Day Real Estate, e a energética “Why do you Have to Put a Date on Everything” que sempre toco em sets mais “alternativos” quando me chamam para discotecar. O mais legal de se apaixonar por esse disco é que a partir disso você descobre uma porrada de outros que deixou passar batido por anos como por exemplo “Turn Up The Punk, We’ll Be Singing” do Latterman e grupos como The Menzingers.

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