Gabriel, o Pensador e Jade Baraldo no clipe de
Foto: Reprodução / Youtube

Sempre polêmico e com a língua afiada. Foi a essa imagem que a música brasileira passou a associar Gabriel, o Pensador ao longo dos anos 90.

Com letras que apresentavam referências ao consumo de drogas (“Cachimbo da Paz“), à violência contra os pobres (“Brazuca“) e à desigualdade social (“Até Quando“), Gabriel dividiu seu sucesso entre a crítica e o bom humor. Isso deu a ele a fama no cenário do hip-hop nacional.

No entanto, nem todos os seus hits envelheceram bem. A faixa “Lôraburra“, lançada em 1993, conta com uma letra que não agrada em nada os importantes movimentos de empoderamento feminino que vemos hoje em dia. A partir de uma iniciativa dO Boticário, a faixa ganhou um remake com novos versos, transportados para um mais atual e amadurecido pensamento.

A nova versão conta com a participação de Jade Baraldo e defende a autonomia de cada mulher, que deve ter a liberdade de fazer o que quiser e como quiser.

 

“Evolua!”

“Lôraburra” era uma música “banida” dos repertórios recentes de Gabriel. Ele mesmo já não se sentia à vontade para cantá-la ao vivo. Apesar de inicialmente a música ser uma “crítica comportamental”, o próprio rapper deixa claro que achou sua narrativa agressiva.

Originalmente, a canção criticava mulheres objetificadas, “à procura de carro e de dinheiro”. A letra reforçava o estereótipo da “loira burra”. No final da canção, no entanto, Gabriel desconstrói o próprio discurso, lembrando que existem “lôraburras” com cabelos de outras cores, e que o problema está “na cabeça”. Mesmo assim, é um discurso que não se mostra aceitável nos dias de hoje (e nunca deveria ter sido).

Pensar na letra original nos remete ao machismo infelizmente enraizado em nossa sociedade. Mas isso não é exclusividade de Gabriel, visto que abordagens consideradas machistas passavam ignoradas ao longo de nossa história musical. Isso levou, por exemplo, à criação do projeto MMPB, que justifica o porquê de algumas músicas de artistas como Raimundos, Biel e Chico Buarque serem problemáticas.

 

“Quem sou eu pra julgar, criticar a escolha de alguém?”

Trocando o título original pela palavra “evolua”, a nova canção defende, entre outras coisas, que o lugar de mulher é onde ela quiser, não apoiando nenhum discurso estereotipado. Gabriel canta, nesta versão atualizada, que o homem de atitude precisa enxergar além de rótulos ultrapassados.

Em relação à crítica à figura da mulher loira, ele crava logo no início da canção:

Liberdade na cabeça e personalidade forte mostra atitude e estilo até no corte de cabelo que é dá cor que ela escolheu. Loiro, negro, ruivo, castanho… Quem sou eu pra julgar, criticar a escolha de alguém?

Gabriel, o Pensador e as novas versões

Vale lembrar que essa não foi a primeira música atualizada de Gabriel, o Pensador. Em 2017, a letra de “Tô Feliz (Matei o Presidente)“, lançada originalmente em 1992, também foi atualizada. Das referências originais ao impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, a música passou a ilustrar a nossa recente crise política.

Iniciativas como essas provam que Gabriel ainda é um grande nome do rap nacional, sempre atualizado e jamais com a língua presa. Uma prova recente disso foi o seu show eletrizante no Lollapalooza 2019.

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