Cena de 'Infiltrado na Klan'. Crédito: Universal Pictures
Cena de 'Infiltrado na Klan'. Crédito: Universal Pictures

Exibido no Festival do Rio 2018 e tendo estreado na última quinta-feira (22) no Brasil, o novo filme de Spike Lee, Infiltrado na Klan, marca o retorno do cineasta norte-americano aos seus grandes trabalhos.

Depois de lançar alguns títulos sem relevância nos últimos anos, Lee provou que continua afiado ao contar uma história que qualquer um diria se tratar de uma mentira, se não fosse de conhecimento geral a veracidade dos fatos.

Famoso por realizar obras com temáticas sociais e raciais, o diretor não poderia deixar de tocar em assuntos espinhosos para os Estados Unidos. Com roteiro desenvolvido pelo próprio Lee junto com Charlie Wachtel, David Rabinowitz e Kevin Willmott, a partir do livro escrito por Ron Stallworth, a trama, ambientada na década de 1970, gira em torno de um policial negro, Ron (o autor do livro em que o filme se baseia), vivido por John David Washington.

Em uma América racista (não mudou muita coisa de lá para cá), ele realiza o sonho de entrar para a polícia do Colorado e precisa lidar com o preconceito dentro da instituição e também da sociedade. Para mostrar o seu valor, Ron sugere que uma missão relacionada a Ku Klux Klan seja encabeçada por ele.

Claro que todos acham a ideia completamente absurda, já que ele, na condição de homem negro, jamais seria aceito para virar membro de uma “organização” (assim é denominada a KKK no longa) de extrema direita que prega a supremacia branca e consequentemente o ódio às outras raças.

Para tornar sua participação funcional, Ron tem a ideia de se aproximar dos líderes da Ku Klux Klan através de conversas por telefone. E de fato é isto que acontece. Entre uma ligação e outra, o protagonista consegue conquistar a confiança de Walter (Ryan Eggold) e David Duke (Topher Grace), se infiltrando na KKK.

Até que chega o momento em que o contato precisa ultrapassar a barreira das linhas telefônicas para chegar ao nível presencial. Aí que as coisas começam a ficar mais complicadas. Para que tudo funcione da melhor maneira possível, e para que a missão não fique comprometida, o chefe Bridges (Robert John Burke) autoriza que o policial branco Flip (Adam Driver) se passe por Ron durante os encontros.

Ainda tem um elemento extra para atrapalhar o êxito da tarefa: Flip é judeu. Esta característica do personagem causará grande desconfiança no também membro da KKK Felix (Jasper Pääkkönen), que não vai largar do pé de Flip (que para Felix se chama Ron). No meio desta confusão toda, o Ron verdadeiro acaba se apaixonando por Patrice (Laura Harrier), uma militante pelos direitos da população negra que o policial conhece sob disfarce.

Com bastante humor e altas doses de sarcasmo, aliado a boas sequências de ação e aventura, Lee entrega um filme irresistível, que consegue envolver o espectador e deixá-lo apreensivo na expectativa pelo desfecho da missão. Nos últimos minutos de projeção, para reforçar seu discurso, o cineasta exibe cenas reais do conflito de Charlottesville em 2017, quando neonazistas invadiram as ruas para protestar contra negros, judeus e imigrantes.

Ativistas contrários à esta onda de ódio também saíram de suas casas e, nestes confrontos, um homem chamado James Alex Fields Jr. foi responsável por um atropelamento em massa, causando a morte de Heather Heyer, de 32 anos, e deixando mais de 30 pessoas feridas. O cineasta, na edição, também não deixou de criticar o presidente dos EUA, Donald Trump, que de certa forma minimizou o ocorrido.

Como conclusão, pode-se dizer que Infiltrado na Klan é um filme capaz de produzir boas reflexões e gerar debates necessários, além de ser forte concorrente para abocanhar algumas categorias no Oscar 2019.

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