New Radicals - Maybe You've Been Brainwashed Too

1998 foi um bom ano na música. Tivemos Pearl Jam com Yield, Hole e seu Celebrity Skin, The Offspring e Americana, e Without You I’m Nothing, do Placebo. Foi o ano de “…Baby One More Time”, de Britney Spears, “I Don’t Wanna Miss a Thing”, do Aerosmith, e “Iris”, do Goo Goo Dolls.

Foi também o ano em que o projeto de Gregg Alexander tomou forma com o New Radicals e jogou no mundo uma das músicas mais nostálgicas da década de 1990. Presente nas mais diversas playlists que relembram os sucessos da época, “You Get What You Give” foi o estopim para o êxito que Alexander buscava há quase dez anos.

A trajetória do frontman começou em 1989, quando lançou seu primeiro trabalho solo, Michigan Rain, através da gravadora A&M. Embora não tenha tido grande repercussão, isso não impediu que Gregg lançasse o segundo álbum em 1992, Intoxifornication, sob contrato com outra gravadora, a Epic. O disco acabou sufocado pelo domínio do grunge no mercado e, com uma sonoridade bem diferente de bandas como Nirvana e Pearl Jam, o retorno acabou não sendo satisfatório. A gravadora pressionou o músico para que se adequasse ao som às bandas de Seattle, mas Gregg se negou, o que resultou na perda do contrato.

Desacreditado, Alexander apostou na composição e na produção. Em 1993, compôs “Here Comes My Baby” para a cantora Belinda Carlisle, que foi lançada no álbum Real. A oportunidade lhe rendeu uma participação na produção de Arrive All Over You, disco de estreia da cantora Danielle Brisebois, amiga pessoal de Gregg que acabaria colaborando com o New Radicals anos depois. A partir dali, despontava o que seria um caminho promissor para o vocalista.

Foi em Outubro de 1998 que o músico, enfim, encontraria o seu lugar ao sol na indústria, mesmo que por um breve momento. Com novo contrato na MCA e um punhado de críticas à sociedade em geral e à própria indústria da música, Maybe You’ve Been Brainwashed Too foi o primeiro e único lançamento do New Radicals. A ousadia e o tom ácido das letras fez com que críticos musicais apontassem o álbum como “vazio de opiniões”, pecando pelo exagero.

Mas a repercussão foi instantânea: o primeiro single, “You Get What You Give”, pode ser considerado um dos maiores sucessos dos anos 90, e fez parte daquela seleta lista de videoclipes que fizeram parte da programação da MTV norte-americana de forma incessante. O sucesso meteórico do single lhes rendeu o 10º lugar nas paradas britânicas e o 41º na Billboard 200. Um feito e tanto para uma nova banda que fugia do tradicional pop rock num cenário que estava começando a ser dominado por boybands e cantoras pop.

De vez em quando, vemos alguns fenômenos na música que surgem e desaparecem em pouco tempo, deixando um curto rastro em forma de one-hit-wonder. E foi assim com o New Radicals. A gravadora já estava prestes a promover “Someday We’ll Know” como segundo single, na esperança de que tivesse a mesma repercussão de “You Get What You Give”, mas aquilo tudo pareceu suficiente para Gregg Alexander jogar a toalha.

Foi repentino mas calculado e ousado: o músico anunciou o fim da banda através de uma nota, alegando que as entrevistas e turnês exaustivas nunca fizeram parte dos seus planos. Rusty Anderson, atual guitarrista da banda de Paul McCartney, foi um dos nomes envolvidos na produção do álbum e revelou numa antiga entrevista que Gregg era “meio maluco” e, com o orçamento apertado para produzir o disco, acabou colocando suas próprias demos pra jogo e orquestrou o projeto para que saísse do jeito que queria. Acabou sendo um trabalho solitário para Alexander, já que as cobranças que vinham junto com a fama fizeram com que ele mesmo abandonasse a música.

Maybe You’ve Been Brainwashed Too é um disco curioso. Mistura inúmeras influências, fala sobre drogas, modismos e a hipocrisia da sociedade norte-americana. Gregg cutucou nomes influentes da música na época com o primeiro single, se referindo a Beck, os irmãos Hanson e Marilyn Manson como figuras falsas — resultou no próprio Manson procurando o vocalista para tirar satisfações sobre o conteúdo da letra. E, embora existam pontos interessantes ao longo das 12 faixas do álbum, acabou por cair no esquecimento do público em geral, sendo ofuscado pelo único hit que lançou a banda no mundo. “You Get What You Give” e o seu icônico videoclipe, hoje relegado às reprises nostálgicas.

Depois de chutar o balde, Gregg Alexander voltou aos bastidores e, desde então, produziu inúmeros nomes (Rod Stewart, Tina Turner, Enrique Iglesias, Melanie C) e foi responsável por alguns sucessos. O mais conhecido, talvez, seja “The Game of Love”, colaboração de Carlos Santana e Michelle Branch, que chegou ao 5º lugar do Hot 100 e levou o Grammy de Melhor Colaboração Pop em 2002. Em 2012, foi responsável pela trilha sonora do filme Begin Again, estrelado por Mark Ruffalo, Keira Knightley e Adam Levine. Uma das canções, “Lost Stars”, concorreu ao Oscar de Melhor Canção Original em 2015.

Por mais promissora que seja a carreira de Gregg Alexander hoje em dia na produção, o New Radicals permanece como uma sombra e um exemplo de um trabalho megalomaníaco que poderia ter ido além da alcunha de one-hit-wonder, e deixado mais que um gosto de nostalgia na ponta da língua de quem cresceu no fim dos anos 90.

Ainda assim, mostra a determinação de um artista que fez exatamente o que queria: frustrado com a forma como a indústria da música funciona, reuniu diversos músicos, deu vazão ao que sentia e criticou todo o sistema e as hipocrisias da sociedade em que vivia, usando desde o Folk até o Pop passando pelas baladas.

Quando teve o resultado que gostaria e emplacou um sucesso, deixando suas críticas expostas nas principais paradas musicais, mandou tudo para aquele lugar e resolveu seguir outros rumos.

Ainda que o disco não seja lá uma obra de arte (de repente uma nota 6 estaria bem dada), é um registro histórico na música de uma década que produziu muita coisa boa mas também destruiu muitos artistas promissores na corrida pelos grandes hits.

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